Análise – Danganronpa V3: Killing Harmony

Um dos géneros de jogo mais aclamados no Japão é o conhecido Visual Novel, que se foca na narrativa de uma história, auxiliada por personagens e gráficos no estilo de anime, onde cada personagem tem uma personalidade única e bastante característica deste estilo. Este género aparece muitas vezes associado a um público jovem, onde poderão sair com várias personagens, femininas ou masculinas, em encontros, dependendo das vossas escolhas. Este não é, no entanto, o caso da série Danganronpa.

Depois do grande sucesso de Danganronpa 2: Goodbye Despair, com o seu final totalmente inesperado para as personagens, eis que a Spike Chunsoft nos apresenta o novo capítulo desta famosa franquia de Visual NovelsDanganronpa V3, onde Monokuma planeia um jogo mortal com a ajuda dos seus filhos, os Monokubs.

Como referimos, Danganronpa V3 é um jogo deste género, mas não é um jogo de encontros, apresentando, ao invés disso, um mundo pós-apocalíptico onde 16 personagens com talentos especiais estão sujeitas a um jogo chamado Killing Game, onde terão de se matar uns aos outros, se quiserem escapar das grades que rodeiam o edifício da academia dedicada a jovens com talentos especiais, a Ultimate Academy for Gifted Juveniles.

Ultimate Academy for Gifted Students é o local onde a história de Danganronpa V3 decorre.

Depois de uma breve introdução aos capítulos anteriores, ercarnamos Akamatsu Kaede, a protagonista de Danganronpa V3, uma jovem que adora tocar piano, intitulada de Ultimate Pianist. Depois de se soltar do armário onde estava trancada, Kaede ajuda uma outra personagem que se encontra na mesma situação, Shuichi Saihara, um tímido jovem com um senso fantástico para descobrir todos os pormenores nos locais em que se encontra, sendo, por isso, intitulado de Ultimate Detective.

Depois de trocarem impressões um com o outro, como o “porquê” de não se lembrarem de nada a não ser dos seus talentos e o porquê de se encontrarem naquela sala de aula, ambos decidem explorar a academia e tentar escapar daquele sítio, esforço em vão, visto que Monokuma começa a pôr o seu plano em marcha para começar um novo jogo de matança entre os 16 Ultimates presentes na academia. Cada personagem tem uma personalidade única e apelativa, escondendo cada um e todos em conjunto um grande mistério que interliga todos os presentes na academia e explica o “porquê” de estarem sujeitos aos planos de Monokuma.

Feitas as introduções dos filhos de Monokuma, os Monokubs, e conhecidos os 16 personagens deste novo capítulo, Monokuma aparece e começa a pôr o jogo em marcha, apresentando motivos para os 16 amigos suspeitarem uns dos outros e até terem intenção de se matar. Monokuma fornece a cada uma dos personagens 1 tablet, denominado “Monopad“, dispositivo que permite ao jogador aceder ao menu de pausa, onde se pode verificar o mapa, verificar as informações de uma investigação (se esta estiver a decorrer), ver todos os pormenores dos personagens e o respetivo nível de amizade (cada nível de amizade adquirido irá permitir desbloquear habilidades das quais irei falar mais tarde) e, por fim, aceder às opções, onde poderemos gravar, mudar o aspeto do menu, ver a história que já decorreu, etc.

O mapa da academia está detalhado e poderemos utilizá-lo para transportar-nos directamente para os locais que desejarmos.

Cada capítulo de Danganronpa está dividido em três partes (excepto capítulos especiais que possam conter outros pormenores). A primeira destas partes corresponde à Exploração dos locais da academia em busca de um método para escapar às garras de Monokuma, sendo nesta fase que podemos interagir com as personagens enquanto descobrimos mais e mais sobre a academia e os diversos locais que a rodeiam, tais como hotéis, casinos e laboratórios dedicados aos talentos de cada uma das 16 personagens.  Estes laboratórios, no entanto, não servem qualquer fim no jogo, excetuando em partes específicas da história, o que deixa bastante a desejar, visto que era uma boa adição se existissem pequenas atividades neles presentes, como por exemplo tocar piano no laboratório da Ultimate Pianist.

Outra funcionalidade que deixa a desejar é a Reaction Voice, que foi implementada no analógico direito, e que nos permite concordar ou discordar do que a personagem que está a dialogar connosco acabou de dizer. Infelizmente, esta funcionalidade em nada altera as reações ou falas do diálogo em que dela fazemos uso, tornando-se dispensável e inútil, o que é uma pena, pois poderia ser uma forma de tornar únicos certos diálogos que não afetassem a história principal do jogo. Este é um pormenor que a Spike Chunsoft poderá melhorar num futuro jogo desta franquia.

Existe uma grande evolução gráfica de Danganronpa 2: Goodbye Despair para Danganronpa V3: Killing Harmony, sendo possível explorar sem qualquer problema os arredores da academia, com gráficos 3D pormenorizados enquanto vemos vários robôs a trabalhar no espaço, assim como estes a realizar uma variedade de outras atividades. Em comparação ao modo de ilhas de Danganronpa 2, existiu uma evolução astronómica tanto em termos gráficos como em termos de flexibilidade, misturando ainda a todos estes detalhes uma soundtrack fantástica.  Em conjunto, estes aspetos formam um ambiente adequado à situação, clima e emoção em questão, cujo nome irá ser disponibilizado no canto superior esquerdo do HUB. Embora os gráficos sejam fantásticos, não são nada por aí além, pelo que não deveria ser necessário um ecrã de loading sempre presente quando mudamos de área e que acaba por aborrecer um pouco e estragar a imersão sentida durante a exploração.

Vários destes locais introduzem minijogos em que podemos ganhar moedas, como é o caso do casino e as suas slots, que nos permitem depois trocar as moedas por objetos especiais para oferecer a outras personagens, quando interagimos com elas. Oferecendo-lhes estes objetos, podemos aumentar o nosso nível de amizade com as mesmas, o que poderá vir a ser útil em momentos mais tardios. Além do casino, é possível apostar nas famosas máquinas monomono machine, que se encontram na “loja” da academia, estas máquinas permitem trocar moedas que ganhamos ao retirar objetos dos locais, ou no fim de julgamentos, por prendas que podemos oferecer às outras personagens.

Os momentos em que podemos dialogar com as personagens presentes na academia (claro que Monokuma e os seus Monokubs não fazem parte do grupo de personagens com quem podemos interagir),  são ótimos para ficar a conhecer melhor a personalidade de cada uma, como o que gostam de fazer, ou alguns pormenores do seu passado. Claro que ao interagirmos seremos recompensados, ao subir o nível de amizade com a personagem (alguns apenas são possíveis de aumentar se lhes entregarmos presentes) recebemos pontos de habilidade que poderemos trocar por vários upgrades para utilizar durante o julgamento, como aumentar o tempo de foco, stamina, etc.

Foi um salto enorme de Danganronpa 2 para Danganronpa V3 em termos gráficos e sonoros.

A segunda parte dos capítulos de Danganronpa V3 ocorre sempre que um corpo é descoberto, iniciando-se assim a Investigação – fase em que devemos recolher informações e pistas, que serão fulcrais para nos prepararmos bem para o Class Trial que Monokuma irá realizar (Julgamentos). Quando iniciamos a primeira InvestigaçãoMonokuma oferece-nos uma ficha detalhada do assassinato, onde podemos verificar o corpo, os objetos em seu redor, e ainda uma breve explicação de qual a causa da morte, local e hora do homicídio. Este ficheiro, denominado Monokuma File, é claro que não nos irá dar pormenores importantes, pois esses só serão descobertos durante a Investigação ou mesmo no decorrer do julgamento. Aliás, por vezes, algumas pistas importantes, como o momento em que ocorreu o homicídio, podem ser ocultadas, o que torna tudo mais misterioso.

Algumas personagens irão utilizar os seus talentos para ajudar nas investigações.

Cabe ao jogador interrogar as outras personagens por alibi, o que sabem do assassinato e o que descobriram nas suas investigações. Mas não é só isso que temos de fazer, temos ainda de observar bem o local (ou locais) em busca de pormenores, tentando identificar como aconteceu o crime, pois só assim seremos capazes de apontar o assassino na próxima parte do capítulo.

A última parte de um capítulo em Danganronpa V3, e a mais importante, visto que é a essência do jogo em si, são os julgamentos (a que Monokuma dá o nome de Class Trials), no final do qual cada uma das 16 personagens terá de votar em quem suspeitam ser o assassino, para tentarem sobreviver, porque caso todos errem em adivinhar quem é o suspeito, apenas este irá sobreviver, sendo as restantes personagens executadas. Claro está que, se o suspeito for apanhado, será ele a ser executado por Monokuma, sendo-nos mostrada uma cutscene da execução do suspeito de maneira a terminar o julgamento.

Antes de cada julgamento, poderemos modificar as habilidades que temos, mudar o grau de dificuldade do jogo e relembrar o caso que iremos debater.

De maneira a chegarmos à conclusão de quem é o real culpado, teremos de convencer os restantes participantes, através da apresentação de provas (as pistas que recolhemos na Investigação), estas provas estarão em formato de “balas”, as Truth Bullets, que teremos de disparar para as acusações sem nexo dos participantes, servindo estas como uma maneira de invalidar o que acabou de ser dito. Caso concordemos com uma acusação, no entanto, poderemos utilizar uma bala para concordar com o que foi dito. Dependendo das situações e do nível de dificuldade escolhido, teremos de evitar alguns “pensamentos” que bloqueiam as acusações que queremos disparar, estes “pensamentos” permitem-nos aumentar o tempo disponível que temos para concluir este argumento, tal como temos stamina que diminui com os erros (corações rosa) e focus, que nos permite abrandar o tempo. Apenas podemos utilizar o focus durante alguns segundos, dependendo de quantas estrelas verdes temos disponíveis(estas restauram automaticamente), o que nos permite margem de manobra para pensar melhor e ver bem as balas disponíveis que temos em nossa posse.

Uma acusação estará sempre com uma das 2 cores, amarela ou azul.

Além das trocas de argumentos já características de Danganronpa, que acabei de pormenorizar, e que se denominam por Non Stop Debate, existem vários argumentos que irão modificar totalmente as mecânicas deste, tornando o jogo numa experiência dinâmica e pouco repetitiva. Alguns argumentos vão mesmo dividir as personagens em dois lados: atacantes e apoiantes de um suspeito. Outros argumentos irão disponibilizar ainda vários pormenores interessantes ao Non Stop Debate, como o uso de mentiras ou 3 personagens a tentarem convencer o jogador de que nenhum deles é o culpado.

Se alguém discordar com o nosso ponto de vista, este irá começar um Rebuttal Showdown connosco, onde teremos de enfrentar a personagem com várias provas (simbolizadas por espadas neste caso) para cortar as acusações dessa personagem. Se conseguirmos ganhar “terreno” no ecrã, poderemos cortar a acusação chave e ganhar o Rebuttal Showdown. Este tipo de argumento é comum nos jogos de Danganronpa e pode-se dizer que é a “luta” dos julgamentos.

É nos Rebuttal Showdown que está o maior desafio dos julgamentos.

Por fim, mas não menos importante, existem os jogos mentais que ocorrem quando a nossa personagem tenta chegar a uma conclusão através de certas palavras-chave. Estes jogos estão na “mente” da personagem, e poderão aparecer no formato de jogo da forca, onde teremos de acertar nas letras que estão espalhadas no ecrã para formar a mesma. Poderá ainda  ser no formato de uma corrida de velocidade, onde teremos de apanhar “passageiros” que tenham as palavras-chave corretas, entre outros jogos interessantes com o objetivo de conseguir criar uma nova “visão” sobre o homicídio em questão, permitindo avançar com o tema do atual  julgamento.

Conseguirás aguentar 3 personagens a argumentar ao mesmo tempo?

Por fim, quando o suspeito estiver desmascarado, este não irá admitir com facilidade a sua culpa. Teremos de o forçar a admitir através de um mini-jogo específico, onde teremos de acertar ritmicamente nos botões que aparecem no ecrã, para podermos destruir a barra de vida do suspeito.

Para terminar o caso, iremos ter no ecrã várias cutscenes do caso em questão e de como foi elaborado em banda desenhada, no entanto, alguns quadrados de cada página irão estar com um ponto de interrogação, onde teremos de colocar 1 das diversas peças que temos disponíveis para completar a banda desenhada e esclarecer como o homicídio foi elaborado, podendo assim proceder para a votação de quem é o suspeito, onde, pela primeira vez na franquia  Danganronpa, podemos votar livremente em quem quisermos.

Os Monokubs têm frases fantásticas, neste caso a frase perfeita para terminar esta análise é mesmo: “So long! Bear Well!”

 

Opinião final:

O quarto jogo da franchise dedicada ao urso mais psicopata de sempre, Danganronpa V3 é um dos melhores jogos do género Visual Novel disponíveis para a PlayStation 4 PlayStation Vita, oferecendo uma história cheia de personagens interessantes e misteriosas, que escondem um segredo bastante obscuro. Por cada minuto que passa em Danganronpa V3, o jogador é levado a querer mais e mais descobrir tudo sobre  a “origem” deste jogo mortal entre 16 alunos de elite. Quem adora uma história complexa e uma narrativa esplendorosa aliada a um mundo pesado e humorístico, Danganronpa V3 é sem dúvida um dos jogos que não pode deixar escapar.

Do que gostamos:

  • Existência de funcionalidade cross-save, permitindo jogar o mesmo jogo tanto na PlayStation 4 como na PlayStation Vita;
  • Personagens misteriosos e cheios de personalidade, aliados a uma história obscura e surpreendente;
  • Melhorias gráficas e sonoras, envolvendo o jogador no clima do local, como se estivesse a viver o que vê;
  • Acesso ao Monopad (menu de jogo) durante os julgamentos, permitindo gravar em qualquer altura do jogo, mesmo em alturas fora dos diversos checkpoints;
  • Implementação de vários minijogos e interações, como a possibilidade de votar no assassino durante o Julgamento, ou a possibilidade de mentir durante a realização destes;
  • Várias horas de suspense, aliados a uma excelente narrativa cheia de mistérios deliciosos para amantes de Thrillers, com vários tipos de humor e cutscenes fabulosas.

Do que não gostamos:

  • Mudanças de local  fazem surgir sempre um ecrã de loading;
  • Inexistência de atividades nos Research lab;
  • Inserção da funcionalidade reaction voice sem funcionalidade alguma, embora pudesse ter sido aproveitada para melhorar a interação com as personagens;

Danganronpa V3 já se encontra disponível na PlayStation Store por um preço base de 59.99€ para a PlayStation 4, estando a versão PlayStation Vita disponível por 39.99€, também na PlayStation Store.

Nota: 8,5/10