Análise – Dead Rising 4

A série Dead Rising sempre foi uma das porta-estandarte da Capcom que, apesar de alguns capítulos terem sido lançados também em outras plataformas, quase se pode reconhecer que a sua “casa” é a Xbox. Esta série sempre cresceu de forma evolutiva, com cada jogo trazendo algo de novo em relação ao anterior, sendo estas alterações mais ou menos drásticas. Tendo iniciado a sua “vida” na geração anterior de consolas, foi Dead Rising 3 que veio à luz juntamente com uma nova geração, desta feita na Xbox One como jogo de lançamento do hardware. O jogo impressionou muitos gamers com os gráficos melhorados, apesar da resolução não ser a esperada, mas com vários pormenores que seriam quase impossíveis de serem conseguidos na Xbox 360 ou PS3.

A receção crítica em geral ficou um pouco aquém, no entanto, isso não impede de ser considerado um dos melhores e mais divertidos jogos de lançamento da consola da Microsoft. Neste Dead Rising 4 temos o retorno do icónico personagem original, Frank West, que está de volta ao centro comercial de Willamette mesmo na época festiva perfeita: o Natal. Mas será que este novo capítulo volta a mexer com as fundações da série, ou será que joga pelo seguro, mantendo a mesma fórmula de sempre com apenas algumas novidades?

Frase que terão de colocar no nosso Passatempo Dead Rising 4:

“Preparem as vossas armas para poderem eliminar todos os zombies que vos irão aparecer. A estratégia será fundamental para os derrotarem.”

Cortar zombies a meio continua tão divertido como sempre.

Passando-se 16 anos desde o primeiro jogo, Dead Rising 4 coloca-nos (como já tinha mencionado) no papel do jornalista fotógrafo Frank West que repentinamente se vê a regressar a Willamette, justamente ao local onde tudo começou: o centro comercial. Desta feita, Frank tem por missão investigar um novo surto que se iniciou no dia de Black Friday nesse mesmo centro comercial, justamente no dia da sua inauguração após recuperação dos eventos anteriores. Escusado será dizer que os visitantes deste “novo” espaço estavam “mortinhos” por lá voltar. Contudo, este não se trata de um simples surto de zombies, tendo alguns contornos muito mais obscuros ao bom e velho estilo de um Dead Rising. O objetivo final é, afinal de contas, o mesmo de sempre: encontrar a origem da pandemia e trazer o responsável por esta à justiça. Por sorte, não vamos limitar-nos a explorar apenas o centro comercial, sendo que boa parte da história se passa também nos exteriores, nas ruas de Willamette.

Poderia haver uma certa preocupação em termos de entender as origens de toda a história, sendo um jogo passado anos após os incidentes originais, e caso esteja a ser jogado por alguém novato na série, no entanto a forma como se desenrola dá para entender minimamente os eventos, tornando-se um jogo acessível. Obviamente veteranos da série irão compreender muito mais rapidamente a maior parte dos eventos e referências aqui contidas. Em todo o caso, como é conhecido, o foco principal em Dead Rising não é propriamente a história, mas sim a jogabilidade. Jogabilidade essa que se centra no divertimento que se pode obter em massacrar centenas de mortos-vivos que se atrevam em aparecer à nossa frente seja de qual for a maneira: desde o mais simples soco até ao cortar, martelar, perfurar, atropelar, encenar e tudo o mais possível e imaginável. A jogabilidade hilariante de podermos despachar zombies de “mil e uma” maneiras está lá e melhor do que nunca.

Claro que estão incluídas armas alusivas à época.

Uma palavra de atenção sobre o sistema de seleccionar a nossa arma: neste, ao contrário de Dead Rising 3 (onde tínhamos tudo à nossa disposição), temos três menus distintos usando o Dpad direccional para selecionar cada tipo de arma: de arremesso, de fogo ou de ataque físico que, no meu ver acaba por ser um pouco mais confuso do que em Dead Rising 3, pelo menos inicialmente. A condução de veículos parece estar um pouco melhorada e com mais sensibilidade, se bem que sinceramente este não é um simulador automóvel, mas conduzir os muitos veículos do jogo pode ir do muito divertido ao algo estranho.

Graficamente vemos melhorias em relação ao jogo anterior, especialmente ao nível da resolução e suavidade. Infelizmente, sendo Dead Rising 3 um título de lançamento, notavam-se algumas imperfeições nesse campo, especialmente na suavidade que por vezes caía um pouco. Aqui essas caídas são muito menos notórias, porém, não posso evitar deixar uma nota muito importante: no meu ver os zombies estavam melhor conseguidos no jogo anterior. Há algo nesta horda que me fez aperceber disso, penso que talvez se note mais a repetição de modelos do que antes ou então aparentam estar com uma cor algo “deslavada” e com pouca variedade nas roupas que vestem. No entanto, a nível de ambientação está delicioso, cheio de ornamentação alusiva à época, como as luzes e outros enfeites, estando os efeitos de luz em grande parte bem conseguidos. Em termos de apresentação, os menus são claros, mas inicialmente um pouco confusos. Finalmente, uma última nota vai para o sangue, que não parece tão real ou tão bem conseguido como no jogo anterior, parecendo este por vezes um pouco “plástico”.

Os fatos e vestimentas continuam ridiculamente hilariantes.

De nota também é o pormenor delicioso das melodias de Natal que começam a tocar sempre que pausamos o jogo ou quando nos é dada alguma dica, sendo temas imediatamente reconhecíveis como por exemplo a música do “Quebra-Nozes” ou outras natalícias que dão um toque de genialidade e humor ao jogo. A nível de trabalho sonoro, além destas músicas, temos atores de voz que vão desde o bom ao completamente esquecível. Os personagens principais na sua maioria têm um bom trabalho vocal, no entanto alguns dos secundários que eventualmente participam em missões secundárias ou no enredo são simplesmente medíocres. Sabemos que o jogo não leva nada demasiado a sério mas há que ter um certo cuidado para não cair no exagero.

Até agora tudo muito semelhante a títulos anteriores, o que nos leva então a passar ao que realmente há de mais significativo em termos de mudanças. Para começar, e algo que foi muito requisitado por um grande número de fãs, foi o fim das restrições de tempo. Nos jogos anteriores normalmente havia um certo limite de tempo dado, como três dias, para terminar o jogo e em cada missão havia sempre a urgência de estar a lutar contra o relógio além da horda zombie, o que causava a impossibilidade de fazer todas as missões ou de estar um bom bocado a matar mortos-vivos ao nosso bel-prazer sem preocupações de olhar para o relógio. Assim sendo, temos “todo o tempo do mundo” para andarmos a nos preocupar com o que mais interessa: diversão. Existe, no entanto, um reverso da medalha, que é neste caso a sensação de perigo, urgência e de pressão constante presente nos jogos anteriores desvanecer-se quase por completo. Isto tem causado também com que muitos dos fãs mais fervorosos da série reclamem com esta decisão por se ter perdido, desta forma, um dos fatores mais icónicos da sére. No meu ver, a solução ideal para agradar a todos seria a implementação opcional desse limite de tempo. Ao começar o jogo deveria existir a opção de desativar ou manter ativo esse mesmo relógio. Pessoalmente, também já senti a “necessidade” que em jogos anteriores não houvesse o limite de tempo para melhor poder desfrutar a matança, porém concordo que se perde um pouco a “magia” da série soltando-se as algemas dessa imposição.

Frank defronta um novo tipo de zombies: os “Evos”.

Outra alteração foi a reintrodução do uso da câmara fotográfica de Frank que enquanto em tempos tratava-se apenas de um extra dispensável, desta vez trata-se de uma ferramenta necessária no progresso em vários segmentos do jogo, pois eventualmente entramos em modo de investigação, no qual temos de procurar pistas usando os filtros especiais das lentes para encontrar palavras-chave, objetos específicos, pistas e afins que ajudam no progresso desta investigação. Já não se trata de um simples extra com o qual podemos brincar, mas sim algo essencial no progresso do jogo. Além do mais, a possibilidade de poder tirar “selfies” inclusivamente com zombies está hilariante. Foram introduzidos também alguns novos tipos de zombies como os “Frescos”, acabados de se transformar e que se movimentam mais rapidamente, e os “Evos”, uma estirpe mais “inteligente” e forte, além de mais ágeis também e que ainda por cima chamam amigos à festa. Se em Dead Rising 3 se sentia uma certa “restrição” a nível de mundo aberto, aqui ainda se nota essa situação, e muito mais no início, por se passar no interior de um centro comercial, mas as coisas mudam drasticamente ao chegar ao exterior. No entanto, estando em lugares mais fechados começam também os problemas de visão de câmara, que talvez fossem resolvidos ao afastar-se um pouco do protagonista.

Em termos de missões, temos uma variedade boa que, no entanto, acaba por ser algo insuficiente. Com a boa variedade de zonas disponíveis por Willamette era de esperar também uma maior variedade no tipo de missões ao longo do jogo. Vendo bem, a esmagadora maioria envolve capturar zonas ou tentar salvar alguém em particular. Fora os segmentos de investigação usando o equipamento fotográfico, não há realmente muita variedade, o que dá muita pena. É notório um grande esforço na variedade de interação com objetos e afins, com inúmeras armas, veículos, as suas vertentes combinadas, fatos ridiculamente hilariantes e afins para Frank, pois parece que tudo o resto foi posto um pouco de lado. Até os zombies, como já tinha mencionado, parecem repetir muito as mesmas roupas. Entende-se que tenha iniciado num “black friday” mas não me parece que tanta gente tenha comprado as mesmas 10 ou 15 peças iguais a todos os outros. A variedade consiste realmente na forma de matar zombies mas até isso após algum tempo começa a desgastar um pouco. E isto leva-nos à terrível decisão de não ser possível jogar cooperativamente online com os nossos amigos no modo campanha. Seria uma opção muito melhor do que simplesmente colocar missões feitas à parte para quatro jogadores. Atenção, este modo cooperativo não deixa de ser muito bom, frenético e divertido, mas faz-nos questionar o porquê de não ser simplesmente possível fazer o mesmo na campanha principal.

Apenas um carro da polícia mas também podem ser feitos carros especiais cheios de armas para matar zombies.

Fora isso, a Capcom consegue aqui refrescar a série na mesma ao mesmo tempo que mantém ainda algumas das suas raízes. O jogo continua extremamente divertido e, acima de tudo, satisfatório porque nos permite concretizar alguns dos maiores sonhor de gamers: matar zombies de todas e mais algumas maneiras e feitios. É um jogo que marca em certa parte um “regresso às origens”, ao mesmo tempo que renova e lhe injeta um pouco de ar fresco, e nada melhor que o mesmo lugar e o protagonista original para o fazer. É impressionante a quantidade (e qualidade) de objetos que podemos usar e combinar como armas e todas as maneiras inventivas com que podemos nos livrar de ondas e ondas de zombies ao mesmo tempo, e tudo o que podemos fazer que induza um sorriso na cara dos jogadores. E a introdução do “Exo-suit“, um fato robótico à lá Elisium ou Call of Duty: Advanced Warfare é brilhante, pois aumenta consideravelmente a quantidade de maneiras de matar zombies.

Opinião final:

Dead Rising 4 é uma evolução em retrospectiva da série. É um jogo que de facto evolui e que introduz um número de novidades importantes mas que porém o faz fazendo questão de relembrar as suas raízes. A nível visual está muito bom e com framerate bastante estável apenas desiludindo um pouco os zombies que pecam pela repetição. A nível de divertimento volta a manter a qualidade que já vem vindo a ser reconhecida pela série com toda a parafernália que dispomos para matar zombies das maneiras mais ou menos inventivas. É com alguma pena que digo que a campanha não pode ser jogada cooperativamente com outros jogadores online no entanto o modo presente acaba por colmatar isso um pouco estando cheio de diversão para dar e vender. Mais um título com bastante qualidade que, incluindo o temporizador de missões para o modo campanha, de forma opcional e também mais alguns inimigos psicos seria quase perfeito. Uma boa opção para passar algumas horas,  sozinho ou com amigos no meio de centenas de zombies, nestas noites festivas que se aproximam.

Do que gostamos:

  • Muito divertido a entretido;
  • Visuais melhorados a nível geral em relação ao jogo anterior;
  • Quantidade de armas e veículos bastante variada e extensa;
  • Modo cooperativo online até 4 jogadores;
  • Ausência de restrição de tempo permite maior liberdade para vaguearmos pelo mapa sem preocupação.

Do que não gostamos:

  • Remoção de tempos limite nas missões retiram um pouco aquele toque Dead Rising;
  • Nível de dificuldade está um pouco abaixo de jogos anteriores
  • Pouca variedade no visual dos zombies “normais” com muita repetição de vestuário;
  • Não poder jogar modo campanha com os amigos cooperativamente.

Nota: 8,5/10