Análise – Gran Turismo Sport

A geração atual de consolas tem sido agraciada por um conjunto de jogos dedicados ao desporto automobilístico nas suas várias vertentes. A PlayStation 4 apresenta um conjunto respeitável de títulos dedicados às corridas, jogos como Driveclub, Project Cars 1 e 2, a franquia DIRT e F1 2017 apresentavam-se até agora como as melhores apostas de qualidade nas competições automobilísticas. Dia 18, porém, juntar-se-á a este grupo a mais recente edição de uma franquia de sucesso da Sony: Gran Turismo SPORT, desenvolvido pela Polyphony.

Gran Turismo SPORT apresenta-se como um título principal dentro da franquia GT, o que o separa de outros jogos de concept que, embora tenham qualidade, apenas demonstravam o que a Polyphony conseguia fazer num novo hardware (GT Concept, GT Prologue e GT HD). Portanto, não falamos aqui nem de concepts, nem prologues, mas de um título principal cuja filosofia deve ser compreendida dentro daquilo que é a serie Gran Turismo. A série de licenças dos fabricantes que GT SPORT apresenta, Porsche incluída, exige um compromisso verdadeiro para com o mundo do desporto automóvel e a Polyphony cumpre com as expectativas.

A visão do criador de GT SPORT é de tornar qualquer jogador num piloto de automobilismo.

Antes de mais, Gran Turismo SPORT (GT SPORT), em bom nome da série que representa, é um jogo de simulação automobilística. Isto significa carros com peso, comportamento e física realistas, para além, é claro, do já famoso push pelo fotorrealismo e, por fim, da possibilidade de afinar ao ínfimo detalhe a motorização e hidráulica dos mesmos. Não dizemos aos fãs das experiências arcade mais acessíveis para fugirem, mas apenas que saibam gerir as suas expectativas – GT SPORT possui ferramentas para adaptar os iniciantes ao seu ritmo – mas estamos perante um simulador automobilístico e não um mero jogo de “prego a fundo”.

Esta filosofia que premeia a série GT é notável no primeiro momento em que iniciamos o jogo: para além das configurações técnicas obrigatórias, somos recebidos pelo menu principal, que embora pareça bastante complexo, na verdade consegue apresentar tanto os modos principais de jogo como outros atalhos úteis relacionados com a nossa garagem, carros e a personalização dos mesmos. No fundo do menu principal existe uma apresentação de carros em diversas paisagens, pedaços de informação histórica do automobilismo e mesmo sobre a sua história atual. Existe sempre a possibilidade que uma destas imagens nos chame a atenção, pelo que pressionando o triângulo podemos ir imediatamente para o modo que estava em exposição. GT SPORT é um simulador que celebra a história do automobilismo e isto está mais que patente nas peles que veste.

O jogo possui apenas pouco mais de 160 carros, mas são todos um sonho de alta definição em 4K e HDR.

Mais vale a pena arrancar este penso de uma só vez: GT SPORT possui pouco mais de 160 veículos distribuídos em cerca de 25 marcas. Sim, passámos de um valor superior a 1100 (GT6) para centena e meia, mas nem tudo é mau. Por muito cliché e batida que possa parecer esta justificação, os 160+ veículos que o jogo apresenta são um sonho de alta definição e HDR, cujo fotorrealismo é algo merecedor de reconhecimento. Preferimos ter uma escolha sólida de bólides que mereceram individualmente um tratamento cuidado e meticuloso do que versões standard de vários veículos sem interiores, por exemplo, e que não mereceram tanta atenção, incluídos apenas para aumentar uma lista numa corrida imaginária sobre que jogo possui mais carros.

No que respeita aos modos de jogo, temos 3 modos principais: Arcada, Campanha e Sport, cada um dedicado a uma faceta diferente, mas igualmente importante, do automobilismo. Em Arcada, tal como o nome indica, está o modo de jogo offline, que pode ser jogado livremente sozinho contra o CPU, em contrarrelógio, Drift ou contra um amigo em multijogador local. Grande parte dos carros terão de ser comprados e as pistas desbloqueadas, pelo que a seleção que nos é dada inicialmente é diminuta. Nada que o abrir os bolsos (de CR) ou a experiência ganha através da condução não possam resolver. No total ficamos com 17 pistas que se desdobram em cerca de 40 percursos. Incluído neste modo temos também uma Tour VR para os gamers que possuam o PlayStation VR, juntamente com os seus acessórios. Este modo coloca-nos contra outro carro controlado pelo CPU, não sendo possível jogar nos outros modos usando o PSVR. Aliás, dada a excelente imersão atingida através deste modo – acreditem, só mesmo vendo para crer – temos pena que o resto do jogo não possa ser jogado assim pois, a combinação da PSVR com o volante Thurstmaster T-GT serão a experiência mais próxima que alguma vez terão de conduzir uma maquina destas. Existe também o modo de Campanha, com importância acrescida para a filosofia da série Gran Turismo, pois aqui aprendemos não só a conduzir (a sério, com todas as suas peculiaridades, como lidar, por exemplo, com a física da aceleração vs. o peso do veículo, como curvar, como travar, etc.) e cumprimos missões que nos obrigam a aplicar o que aprendemos nessa escola de condução, mas também temos a oportunidade de passar por uma experiencia de condução em circuito. O jogo não esconde que os principiantes devem dirigir-se à escola de condução, e tendo em conta a visão que GT SPORT, tal como a franquia a que pertence, pretende conseguir dentro do desporto automobilístico, só podemos concordar.

É impossível não ficar boquiaberto com alguns momentos de pura beleza de GT SPORT.

O modo Sport, porém, é o “modo” principal do jogo, é aqui onde está o multiplayer online com as suas corridas diárias e campeonatos. É importante indicar que estes são feitos em tempo real, durante os quais podemos preparar as bólides, fazer voltas de classificação e, por fim, entrar nas corridas principais. Conseguimos fazer uma corrida online antes do servidor entrar em manutenção (possivelmente para o lançamento), mas tal não diminui a sua importância. Isto tudo por causa de a franquia deter a licença desportiva digital oficial da FIA (Federação Internacional do Automóvel), o corpo internacional que regula todas as competições desportivas de automobilismo. Os melhores jogadores receberão uma licença digital que os permitirá participar em campeonatos como o Gran Turismo Championship FIA (de Países e de Fabricantes) a ser agendado no futuro, para além do seu vencedor também receber um troféu na gala de prémios da FIA, juntamente com as grandes estrelas do automobilismo mundial. Neste modo é muito importante o nível de desportivismo (Sportsmanship) que vamos acumulando, ou perdendo, dependendo da nossa forma de conduzir, pelo que para jogar online sequer, é necessário que assistamos a dois vídeos sobre desportivismo no desporto automóvel.

GT SPORT possui um método de progressão interessante. Para além do desportivismo do modo SPORT, existe ainda o nível de piloto e milhas conduzidas. O nível de piloto, como já dissemos, permite desbloquear novas pistas, mas as milhas por sua vez permitem-nos desbloquear opções de customização para os nossos veículos, e até para o nosso piloto. Além disto, também temos as conquistas, cujo feito contribui para o nosso nível. Tudo isto nos dá imenso por onde levelar, pelo que os fãs de progressão se sentirão em casa.

O modo Paisagens (Scapes) deixa-te soltar a tua veia fotográfica pelo automobilismo. É um gosto ver as ruas portuguesas incluídas nesta edição!

Todavia, nem tudo é bom, pois toda esta dedicação aos campeonatos online culminou no abandono do modo de carreira (competitivo contra o CPU) offline. É uma omissão grave, mas esta faz parte do conceito que Kazunori Yamauchi tem para o jogo – transformar o jogador num piloto de campeonatos – e não há melhor maneira de o fazer do que o colocando em campeonatos a sério, contra outros pilotos a sério. No entanto, GT SPORT deixa parte do seu legado para trás. Aliás, o cenário agrava-se quando consideramos que é necessário ter uma conexão online a todo o momento para poder sequer gravar o progresso.

Fora da pista, o jogo apresenta-nos mais três modos. A Central da Marca, que se liga com todo o aspeto celebrativo do desporto. É aqui onde podemos comprar mais veículos das cerca de 25 marcas disponíveis, mas não só, pois também nos é possível visitar o museu de cada marca (salvo algumas exceções) e adquirir veículos especiais de conceito, assim como visitar alguns lugares ligados à história das marcas. Também existe o modo Sala, que nos permite juntar um grupo de amigos para fazer corridas online. Por fim, temos o modo Paisagens (Scapes) dedicado ao automobilismo através da objetiva dos fotógrafos, modo em que podemos fotografar os nossos veículos, preparando meticulosamente os mesmos em diversos fundos, com uma ampla escolha – aliás, Portugal está muito bem representado com fotos do Porto, Lisboa, Faro, Aveiro, Óbidos e Cabo S. Vicente. O leque de opções de fotografia ultrapassa completamente as expectativas que possamos ter relativamente a este modo, só experimentando é possível compreender o quão amplas são as possibilidades oferecidas.

A nossa Análise em vídeo que inclui gameplay de GT SPORT.

Por fim, falta cobrir aquilo que os fãs de Gran Turismo tanto adoram na série: a dedicação obsessiva à fidelidade gráfica. Neste ponto temos a dizer que o jogo é um monstro gráfico. Com funcionalidades exclusivas na PS4 PRO em 4K, para não esquecer o HDR, que aliás é a estrela de todo o espetáculo – amplamente utilizado no modo Paisagens (Scapes) -, que, não sendo obrigatório, dá um ar totalmente diferente ao jogo. É impossível afastar a ideia de que GT SPORT é um jogo preparado para o futuro. Tudo neste jogo aponta para o futuro – afinal a grande maioria dos gamers de consola ainda não adotou a tecnologia 4K nem o VR, além de jogar com um gamepad. GT SPORT será provavelmente o primeiro jogo merecedor do investimento louco quer numa televisão 4K, quer no mais recente volante. O modo de Tour VR também nos conseguiu convencer dos seus méritos, pelo que a combinação de um volante e o PS VR poderá abrir novos modos de entrar no mundo do automobilismo. A nível de áudio, o jogo apresenta uma banda sonora bastante ampla, com um estilo de música ambiente bastante chillout, com algumas batidas eletrónicas, acompanhando perfeitamente toda a ambiência deste desporto. Porém, a grande estrela da sonoplastia é o rosnar e o gritar dos motores a ser puxados ao máximo. A sessão de gravação dos motores deve ter dado um trabalhão daqueles e ficámos surpreendidos pela positiva.

Opinião final:

GT SPORT mais que um jogo, é um desporto. É uma porta para um mundo dedicado ao automobilismo, à sua história e à paixão automóvel, dedicação sem compromisso que transborda em todos os poros do seu ser. Com uma jogabilidade fiel e realista, é simplesmente um jogo que nos vemos a querer jogar completamente artilhados com a melhor televisão 4K, ou então se calhar com o PS VR e um volante para uma experiência totalmente imersiva. Infelizmente, não traz consigo um modo carreira offline, remetendo a prática do desporto largamente para as competições online, para além de requerer uma ligação constante para grande parte das suas funções. Isto dito, GT SPORT é o primeiro passo para transformar o jogo Gran Turismo numa pratica desportiva de vida real, e tal feito terá inevitavelmente de ser merecedor do nosso reconhecimento.

Do que gostamos:

  • Gran Turismo na PS4, com a sua clássica simulação automobilista;
  • Gráficos lindos de morrer, suporte para 4K, HDR e PS VR;
  • GT transformar-se-á em desporto de vida real com campeonatos regulados pela FIA e com prémios verdadeiros.

Do que não gostamos:

  • Não há modo carreira offline contra CPU;
  • O jogo exige uma conexão online para várias funções, entre as quais gravar o progresso.

Nota: 9,5/10