Análise – Letter Quest: Grimm’s Journey Remastered

Letter Quest: Grimm’s Journey Remastered é um daqueles jogos que frustram as categorizações em géneros, comuns nesta indústria. De facto, o jogo fica entre um RPG e um jogo de puzzles/quebra-cabeças e combina os dois géneros de uma forma bem peculiar e que não nos deixa ficar mal.

No início desta aventura, conhecemos Grimm, um pequeno ceifeiro com um forte desejo de comer uma boa fatia de pizza. No entanto, infelizmente para este sombrio personagem, as pizzarias mais próximas estão em lugar muito pouco amigáveis. Mas não só os lugares são de poucos amigos, também o caminho até lá o é, e é nesse caminho que se desenrolam todas as nossas peripécias.

Ao longo do jogo  (e é isto que faz com que este jogo possa ser considerado um RPG) vamos ganhando cristais, tanto por matarmos os vários monstros como por concluirmos estágios e tarefas, dos quais podemos fazer uso para conseguir novos itens ou extras para ajudar  Grimm na sua missão, como aumentar a sua vida, a probabilidade de fazer um ataque crítico ou de se esquivar de um ataque, etc.

Ganhem mais cristais, aumentem a vossa resistência, o dano que causam e muito mais.

Na verdade, existem uma única loja no jogo, dentro da qual vamos desbloqueando secções que nos permitem conseguir ainda mais extras, extras esses que temos de escolher ponderadamente, pois os cristais são escassos. Começamos apenas com a possibilidade de conseguir upgrades, passando depois a ter disponíveis livros, feitiços e até ainda um outro personagem, Rose, uma versão feminina e um pouco menos sombria de Grimm.

O que faz de Letter Quest: Grimm’s Journey Remastered um título peculiar e divertido (viciante, leia-se) é a sua jogabilidade. Neste jogo não defrontamos os nossos inimigos premindo botões que correspondem a movimentos específicos do personagem que estamos a controlar. Nada disso. É nos dado, como o título do jogo já indica, um conjunto de letras espalhadas aleatoriamente por um retângulo, conjunto esse a partir do qual temos de formar uma palavra existente na língua inglesa. Quanto maior for a palavra e quantas letras mais raras no Inglês a palavra tiver, mais dano provocam no inimigo. Assim, «Quotes» faz mais dano do que «River», tanto por ter mais uma letra, como por ter a letra «Q», que sendo mais rara provoca mais dano. Desta maneira, acontecem ainda situações bastante caricatas em que palavras que representam objetos mais letais, como «Sword», causam menos dano do que outras que representam objetos que são exatamente o oposto. «Bunny», por exemplo.

It’s a trap!!

Em cada um dos 40 níveis do jogo temos 4 estrelas prontas a serem colecionadas. A primeira delas corresponde sempre à passagem do nível de maneira «normal», isto é, sem qualquer alteração da fórmula padrão, que consiste no confronto com um ou mais monstros, assim como uma recompensa final em cristais, agrupados num monte (recompensa comum a  todos os níveis e a todos os modos de serem concluídos). A segunda corresponde a um time trial, em que têm de pensar rapidamente em novas palavras numa luta contra o tempo. A terceira é sempre algo de novo, em que existe algum género de restrição, como apenas se poder escrever duas palavras, ou não se poderem usar certas letras, como «I», «O» e «U» ou  até mesmo todas as letras do abecedário a seguir ao «M». Por fim, a 4ª estrela é especial e é consideravelmente mais difícil de ser conseguida do que as restantes 3, os monstros são muito mais resistentes e mais ferozes, para além de terem propriedades especiais às quais é (muitas das vezes) bastante difícil conseguir corresponder.

Como poderão imaginar, o jogo tem de ter registadas inúmeras palavras, todas elas com um dano correspondente. Isto, ou então o catálogo do jogo está incompleto e, portanto, muitas das palavras em que possamos pensar podem não constar no jogo e, por isso, não podemos atacar os monstros com elas. O que se passa aqui, felizmente, não é o último caso e o jogo está bastante completo neste aspeto.

Rose também se junta à festa para… atacar com uma torrada?

Porém, existe um mas. E um mas que embora não seja esmagador, é de tomar nota. Mesmo tendo vários vocábulos, o jogo tem alguns verdadeiramente impensáveis e outros que, embora sejam comuns no dia-a-dia, não está presentes. É claro que não falo de calão ou linguagem inapropriada a todas as idades. Falo sim de nomes próprios ingleses, tanto dos mais comuns dos das celebridades, que, por algum motivo, não estão presentes. Para além de tudo isto, cada palavra tem uma pequena descrição – como nos dicionários – que explica o significado da mesma, e a maioria destas descrições causa estranheza. Por exemplo «golf» não significa o próprio desporto, mas sim jogar golfe [«to golf»], sendo que as várias formas verbais são possíveis, como «golfed» ou «golfs» e que aumentam, é claro, o dano causado pela palavra. Apesar desta ajuda, é tanto estranho como por vezes incapacitante o facto de Letter Quest: Grimm’s Journey Remastered considerar esta e outras palavras como verbos e não como nomes, que é a maneira mais intuitiva como pensamos nelas, para além de não ser possível formar algumas palavras por serem nomes.

Com tudo isto, é pena que neste jogo a seleção das palavras não tenha sido sempre a melhor, pois tanto existem letras do alfabeto hebraico como existem moedas da Moldávia, sem existirem, no entanto, nomes comuns como «David».

Graficamente, o jogo não está nada mal, tendo um estilo artístico que, embora não muito sofisticado, é colorido e que confere ao jogo uma boa apresentação, que, aliada ao tom de humor bem colocado, fazem deste jogo e da sua (simples e cómica) história algo com que podemos passar bons momentos de diversão e de aprendizagem, ganhando familiaridade com a língua inglesa.

São 40 níveis, cada um com 4 maneiras distintas de ser completado. Conteúdo é o que não falta.

Por fim, resta apontar que embora existam 4 modos de concluir cada nível e ainda variadas dificuldades causadas por diferentes inimigos, como tiles envenenadas (que nos causam dano ao serem utilizadas) ou bloqueadas, o jogo não apresenta uma variação suficientemente grande para nos manter com vontade de o jogar durante grandes períodos de tempo. É um título próprio para sessões curtas, o que poderá afastar os que procuram uma experiência de quebra-cabeças que os distraia, digamos, durante uma tarde inteira.

Opinião final:

Letter Quest: Grimm’s Journey Remastered é um bom título na Nintendo eShop da Wii U neste momento em que a chegada da Switch é quase iminente e que embora possa aborrecer durante sessões de duração média-longa, é um título que entretem em períodos mais curtos e que com certeza o faz de maneira muito positiva e mais capaz do que muitos outros com a mesma pretensão e com o mesmo preço, ou até mais elevados.

Assim, recomendamos que se o jogo, o seu estilo e a duração das sessões se adequam a vocês, que se juntem a Grimm e a Rose em busca de uma deliciosa fatia de pizza, combatendo fantasmas, serpentes e outras criaturas não mais amigáveis, tudo isto enquanto descobrem novas palavras inglesas, assim como outros significados das que corriqueiramente usam(os).

Do que gostamos:

  • Jogabilidade interessante e viciante;
  • Quantidade de conteúdo bastante aceitável;
  • Boa apresentação no geral;
  • Diversidade de desafios em cada nível.

Do que não gostamos:

  • Falta de algo que estimule mais o ritmo de jogo para sessões mais longas;
  • Algumas escolhas no sentido e na catalogação das palavras.

Nota: 8/10