Muito se tem falado ultimamente entre os fãs de títulos da Nintendo sobre a forma como a gigante japonesa presta homenagem aos seus criadores, nas suas várias iniciativas, seja mais claramente através dos jogos que lança, seja através do seu mais recente serviço de streaming de música – o Nintendo Music -, seja ainda no seu recentemente inaugurado Nintendo Museum, em Quioto, no Japão.
Também nós participámos de alguma forma nesta onda, quando criticámos o recém-lançado Donkey Kong Country Returns HD, apresentado pela Forever Entertainment, na nossa análise (aqui) por não apresentar os nomes dos desenvolvedores originais e apenas agradecer à equipa original (o que se lê, mais exatamente é: “Based on the work of the original development staff”).
A falta de referência aos compositores no Nintendo Music começou uma discussão ainda em curso sobre créditos.
Por volta da altura em que terminei esta aventura com Donkey Kong, terminei outros dois relançamentos da Nintendo, e mais especificamente da série The Legend of Zelda: Skyward Sword HD, da Tantalus, e o remake de Link’s Awakening, pelas mãos da Grezzo, que nos trouxe mais recentemente o original Echoes of Wisdom. Dada a recente comoção, resolvi prestar atenção mais de perto aos créditos. Para minha surpresa, em Skyward Sword HD a equipa de desenvolvimento original era creditada inicialmente de forma completa, ao passo que em Link’s Awakening a Grezzo empregava uma mensagem praticamente igual à que tinha visto em Donkey Kong Country Returns HD. Fiquei, então, com a pulga atrás da orelha: não tinha ouvido falar de nenhuma outra polémica semelhante à do recente lançamento, mas poderia ser este um fenómeno recorrente em títulos relançados para esta e outras consolas da Nintendo?
Pus, então, as mãos à obra, e fui ver os créditos de vários outros remakes e remasters que a Nintendo tem lançado, de forma a verificar se existia um padrão. Comecei por Luigi’s Mansion 2 HD, e constatei que neste trabalho da Tantalus apenas encontravamos de novo uma curta mensagem de agradecimento à equipa original: “Based on the work of the development team from the original Nintendo 3DS version”. Tal poderia levar-nos a concluir de forma tentativa que as equipas externas que trabalham com a Nintendo nestas empreitadas deverão receber como diretiva apenas incluir este agradecimento rápido. Afinal de contas, o ponto em comum entre os lançamentos que incluem apenas esta menção rápida é que não foram feitos pela própria Nintendo, mas sim por estúdios contratados. Mas tal não parece ser uma boa forma de dividir os casos: tanto Skyward Sword HD como Luigi’s Mansion 2 HD foram feitos pela Tantalus, e o primeiro vem com a equipa original creditada, ao passo que o segundo não. Mais ainda, recuando aos tempos da Wii U, a Tantalus foi também responsável por Twilight Princess HD, o qual inclui também referência completa à equipa de desenvolvimento original.

Skyward Sword HD é um dos raros exemplos recentes de como fazer bem as coisas em títulos publicados pela Nintendo.
Poderão pensar que os jogos de The Legend of Zelda sejam, no entanto, uma exceção, talvez por mandado da própria equipa da Nintendo EPD 3 (a equipa responsável por produzir os jogos The Legend of Zelda). Mas nem isso parece ser exatamente o caso. Recuando um pouco mais ainda, reparamos que os créditos de The Wind Waker HD apenas contêm uma linha em que mencionam “The Wind Waker Original Staff”. Porventura tal se deva a alguma sobreposição entre os desenvolvedores responsáveis pela versão HD e os da equipa original, e talvez tal também seja a razão para o mesmo acontecer em Metroid Prime Remastered, em que lemos “Based on the work of Metroid Prime (Original Nintendo GameCube and Wii Versions) Development Staff”. Tal, é claro, não justifica quaisquer possíveis omissões, e continua a ser difícil de compreender a diversidade de formas como as equipas de desenvolvimento originais têm sido tratadas.
Embora a minha incursão se tenha maioritariamente focado na Nintendo, uma vez que era em torno desta que recentemente polémicas tinham surgido, também em relação a falta de créditos no Nintendo Music, ou na falta de maior história a ser partilhada no seu museu, resolvi averiguar se este era realmente só um problema com a “Big N”, ou se era algo que afetava a indústria de forma mais geral. Ainda mais notavelmente do que no caso da Nintendo, apenas pude averiguar um conjunto muito limitado de títulos, que poderão não pintar um quadro representativo da indústria em geral.
Demon’s Souls é talvez o golden standard de como creditar a equipa original num remake.
Comecei por analisar os esforços da Sony. Aqui, felizemente, os resultados são muito mais positivos. Os relançamentos da Bluepoint Games, como a Nathan Drake Collection ou o mais recente remake de Demon’s Souls apresentam a equipa de desenvolvimento original devidamente creditada. Os esforços internos das equipas da Sony Interactive Entertainment por vezes não dividem os créditos, o que torna a situação mais confusa, mas parecem creditar todas as pessoas envolvidas, ao passo que relançamentos mais espaçados no tempo, como o mais recente The Last of Us Part 1 apresentam os créditos originais.
A Ubisoft também parece ter um bom track record nos seus remasters (de facto, a Ubisoft é conhecida pelos seus créditos com imensos nomes). Por exemplo, Assassin’s Creed III Remastered dá crédito tanto à equipa responsável pela nova versão, como à equipa original. As versões dos três títulos da Ezio Collection apresentam em primeiro lugar a equipa original e a seguir a equipa da Virtuos responsável pela nova versão. Exatamente a mesma estratégia é adotada pela Ubisoft Sofia para Assassin’s Creed Rogue Remastered.

Justiça seja feita: os créditos de jogos da Ubisoft são bastante extensos e completos.
Em termos de remakes, a indústria tem sido menos simpática para os desenvolvedores originais. Por exemplo Final Fantasy VII Remake e Final Fantasy VII Rebirth apenas dão um agradecimento especial ao “staff e fãs” do Final Fantasy VII original, agradecendo logo de seguida também a todos os membros do staff e fãs da Square Enix. Não me sentiria especialmente reconhecida desta forma caso tivesse trabalhado originalmente em Final Fantasy VII. É o mesmo reconhecimento que merecem Shinji Mikami e os desenvolvedores da versão original de Resident Evil 4 nos créditos da versão lançada no ano passado. Tal, no entanto, sempre foi melhor do que a ausência de reconhecimento total das equipas originais nos REmakes anteriores: Resident Evil 3 Remake e Resident Evil 2 Remake. Tais formas de agradecimento não são comuns apenas em remakes de jogos japoneses, no entanto. Lançado em 2023, o remake de Dead Space dá crédito à música do lançamento da versão original de 2008 e à versão de 2023, mas de resto apenas contém a seguinte mensagem: “With thanks to the development team of the original Dead Space, for inspiring us every step of the way”. Outro caso é o de Crash Team Racing: Nitro Fueled, que dá agradecimento especial à Naughty Dog, listando alguns membros de forma não-exaustiva, e agradecendo posteriormente a todos os membros da equipa que contribuíram para o Crash Team Racing original (um erro, uma vez que o título original era Crash Tag Team Racing).
Remakes, é claro, são uma área cinzenta: a nova equipa terá, em vários destes casos, refeito completamente estes títulos. Algumas vezes, como no caso dos remakes de Final Fantasy VII, estes reimaginam até de forma substancial o conteúdo dos títulos originais. No entanto, como vimos no caso da Sony Interactive Entertainment e Demon’s Souls não deixa de ser de bom tom dar crédito à equipa que criou o título original.

O remake de Dead Space é um pouco inconsistente no que toca a dar créditos.
Dada a variedade de formas de como jogos relançados – seja em novas versões, remasters ou remakes – são tratados no que toca a dar crédito à equipa de desenvolvimento original, não parece haver um padrão geral que emerge entre os vários lançamentos, a não ser estes: as equipas de desenvolvimento originais têm sido muitas vezes tratadas como algo que se pode ignorar ou não dar muita atenção no momento de atribuir créditos, especialmente em remakes. Das recentes polémicas em torno da Nintendo devemos retirar uma conclusão mais geral e começar a exigir mais coerência em termos de dar crédito aos desenvolvedores que nos trouxeram as histórias e mundos de jogo originais.