Tales of Kenzera: ZAU – Análise

Tales of Kenzera: ZAU é uma belíssima entrega da Surgent Studios, que partilha uma história íntima sobre alguém que está a passar por um luto e respetiva jornada emocional.

Um dos destaques dos Game Awards foi a revelação deste Tales of Kenzera, e não apenas devido ao trailer, mas pela introdução de Abubakar Salim, que ouvimos em Assassin’s Creed: Origin.

Abubakar fez um discurso apaixonado sobre o seu pai, falecido há algum tempo, e como foi educado para considerar que os videojogos são uma forma de expressão e arte. Para continuar a processar esse luto, lançou-se a Tales of Kenzera: ZAU.

Tales of Kenzera: ZAU é uma história dentro de outra história, ao acompanharmos o jovem Zuberi, que perdeu recentemente o pai, num livro que o progenitor escreveu para o guiar nesta jornada. Essa história, dá-nos a conhecer Zau, um jovem xamã que também acabou de perder o pai e está determinado em recuperá-lo. Para tal, faz um acordo com Kalunga, a representação da Morte: se Zau lhe entregar três espíritos específicos, terá o seu pai de volta. Esta premissa é a verdadeira força deste Tales, uma vez que muitos se podem identificar, para o bem e para o mal.

Todos, eu bastante incluído, lidamos com a morte de maneiras diferentes. Perdi a minha mãe há 14 anos e recentemente fui confrontado com a possível perda iminente do meu gato de 18 anos. São diferentes escalas de dor, de luto, de tempo, com todas as memórias e experiências, mas o caminho é, e será, semelhante: em frente.

O que mais apreciei, foi relação com Kalunga, que se apresenta como um ancião e guia de Zau nestas curtas horas de jogo. Os diálogos são bonitos e nota-se um igual desenvolvimento e cumplicidade nesta química através dos conselhos partilhados com o protagonista e connosco.

Zau leva-nos por uma viagem inesquecível.

Tales of Kenzera quis ser um Metroidvania, com a típica progressão e desbloqueio de habilidades para aceder a novas áreas. Não encontramos tantos inimigos pelo caminho, mas em pequenas arenas. Admito que estes confrontos quebram um pouco o ritmo, mas é uma escolha a lidar. Pelos níveis, ainda temos pequenos segredos para descobrir, como Ecos que desenvolvem a relação entre pai e filho. E para quem tenha uma paciência mais reduzida para mapear tudo, os mapas já surgem abertos a cada nova área.

O combate é rápido e simples, mas tramado de dominar. Desde início, podemos alternar entre duas máscaras: a da Lua que nos permite atacar à distância, ao passo que a do Sol nos aproxima da acção. Cada uma com os seus especiais devastadores. Não basta atentar ao adversário, como ao próprio cenário, com os seus perigos naturais que lixam para os dois lados, a nós e a eles!

O melhor de ZAU, também é o seu calcanhar de Aquiles: os visuais são impecáveis, detalhados, ricos de todas as cores, só que infelizmente, e numa televisão de grandes dimensões, o protagonista perde-se no cenário, o que atrapalha um bocadinho. Tive uma melhor experiência, e mais íntima, quando fiz stream da consola para uma Steam Deck. Senti-me mais perto da acção e mais em controlo.

Esta intimidade, continua no misticismo no tom dos diálogos que ajuda a aprofundar esta mensagem de dor e de legado.

Os cenários são coloridos e detalhados.

Tales of Kenzera: ZAU ainda me lembrou das melhores partes de Black Panther, quando T’challa encontra o seu pai T’Chaka no Plano Ancestral, uma cena emotiva e uma força para o resto do filme.
E reforçou a narrativa de que existem tantas maneiras de nos expor e de partilhar a nossa experiência. E se mais se relacionar, então valeu a pena.

Opinião Final:

Tales of Kenzera: ZAU, é um testemunho de luto, uma partilha de experiências que consegue atingir a empatia com uma boa dose de adrenalina. Afinal, Tales também é um jogo que não se esquece do fundamental: divertir.

Do que gostamos:

  • Premissa do luto;
  • Visuais;
  • Interpretações.

Do que não gostamos:

  • Dos soluços no modo qualidade.

Nota: 8/10

Análise efetuada com um código PlayStation 5 cedido gentilmente pela distribuidora.