Análise – Crime no Hotel Lisboa

Inspector Zé e Robot Palhaço em Crime no Hotel Lisboa é o primeiro título lançado pelo estúdio português Nerd Monkeys. O título longo é bastante explicativo, estamos perante um jogo de detectives, e a acção desenrola-se na capital portuguesa. A sua premissa é simples: ocorreu um suicídio no Hotel Lisboa, onde o falecido morreu com 14 facadas nas costas enquanto tomava um café, e o Inspector Zé foi chamado para investigar o caso.

O jogo é como uma peça de teatro, com direito a plateia

Como podem ver pela premissa do jogo e qualquer material promocional, este é um jogo que prima pela palermice. Palermice do melhor tipo, com humor bem português, piadas fáceis e estupidez q.b. É um jogo que não se leva a sério, e que o faz de forma exímia.

A acção decorre na Lisboa dos anos 80, com direito a uma loja de arcades (os mais atentos reconhecerão o nome PressPlay da vida real), o típico táxi preto e verde, o eléctrico e muitos outros miminhos que só os portugueses ou por quem cá passou entenderão. A trama é em torno do alegado suicídio do Senhor Sebastião Love, encontrado no Hotel Lisboa com 14 facadas nas costas. Durante o jogo acompanhamos o carismático Inspector Zé, que é por sua vez acompanhado por um Robot Doméstico, que na verdade quer ser palhaço.

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A fachada do Hotel Lisboa, ela própria um local de trabalho

Em termos de jogabilidade, estamos perante um Point&Click, que também permite mover o personagem com as setas direccionais ou WASD. O tipo Point&Click era dos mais bem sucedidos nos anos 80, pelo que se enquadra bem no espírito do jogo. Não esperem nada muito complexo, o jogo é bastante simples e não vão precisar de investigar muito para chegar às pistas; uma coisa é certa: vão-se divertir a fazê-lo. O jogo conta ainda com 3 “saidequestes” fora da história principal, bem como um mini-jogo com o Robot Palhaço, onde podem fazer stand-up comedy.

O mini-jogo acrescenta alguma longevidade e é bastante engraçado. Pena são os recorrentes erros gramaticais...

O mini-jogo acrescenta alguma longevidade e é bastante engraçado. Pena são os recorrentes erros gramaticais…

Um dos pontos fracos, se não o pior ponto do jogo, é  o facto de estar recheado de erros gramaticais. Tratando-se de um jogo português, ver erros torna-se extremamente desagradável. A maioria destes erros, assim como alguns bugs que não permitiam a progressão do jogo, foram já corrigidos no patch lançado pouco depois do jogo sair. Ainda assim, o erro ocasional aparece. O jogo está também disponível em Inglês, onde os textos são adaptados, bem como as piadas, de forma a que façam sentido. Não jogamos o jogo todo neste modo mas, do que vimos, achamos que foi feito um bom trabalho de adaptação, de forma a que o jogo faça sentido a quem não estiver dentro das piadas tipicamente portuguesas.

Para além de andar dum lado para o outro a falar com pessoas e à procura de pistas, há secções do jogo que são entrevistas a personagens, em si um mini-jogo bastante interessante. É pena que a escolha nunca tenha muito impacto e que a resolução seja simples, mas queremos sempre responder mal com curiosidade pela reacção do personagem a certas perguntas.

Já foste Garcia!

Durante o desenrolar da acção podemos chamar um táxi para nos transportar para outras localizações, mas recomendamos que vejam bem todas as paisagens a pé. O jogo tem uma arte estupenda, dentro do estilo de pixel-art. A resolução do jogo é de uns fantásticos 256×192 píxeis, uma resolução ousada, mesmo sendo um jogo retro. O porquê da resolução? Fácil, era a resolução da velhinha e muito amada ZX Spectrum. É uma resolução que faz o trabalho e o pessoal da Nerd Monkeys leva um A+ no seu trabalho visual. Infelizmente nem tudo são rosas, e o texto por vezes fica num estado demasiado pixelizado e, não sendo muito difícil de decifrar, torna-se incómodo.

Um ponto forte do jogo é a música, que é absolutamente deliciosa. Vão dar por vós a abrir o jogo só para minimizar e ouvir a música, acreditem. O jogo não e grande suficiente para se notar uma grande repetição e fatiga da música e há bastantes temas para diferentes ocasiões. Uma nota especial para o fado que se pode ouvir no restaurante Noitadas, interpretado pela fadista Alexandra Martins (esta é a única música cantada do jogo).

Um belo fado ao jantar

Um belo fado ao jantar

Findo o jogo, fica a vontade de jogar mais. Este é um jogo que vale pela exploração, pelo tom leve mas também sátiro, pela música e pelo ambiente. Os personagens principais conseguem cativar e os personagens secundários são uma panóplia de estereótipos, desde o gordo Agente Garcia à atrevida Senhora Love, a jovem esposa brasileira do falecido. Recomendamos o jogo a todos os nossos leitores, conseguem acabá-lo numa tarde mas será uma tarde bem passada. Aproveitem todos os bocadinhos e explorem tudo, vão encontrar umas belas surpresas aqui e ali.

 

O que gostamos:

  • Arte e música do jogo
  • Tom cómico
  • As portuguesices

O que não gostamos:

  • Erros ortográficos

 

Crime no Hotel Lisboa é um jogo diferente, que nos traz um sorriso à cara pela sua excelente apresentação, música, cenário e palermice. É um título bem Tuga e que merece ser jogado. Tem as suas falhas e é uma aventura bastante curta, mas o que faz bem supera ao largo o que faz mal. Ficamos ansiosos pelos próximos trabalhos da Nerd Monkeys!

Nota: 7.5



Inspector Zé e Robot Palhaço em: Crime no Hotel Lisboa está disponível para PC, Mac e Linux por 9.99€. Podem comprar no site oficial ou no Desura. Podem também ajudar o jogo a ser lançado no Steam, votando no Steam Greenlight.

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