Dead Rising 4 não é de todo um jogo novo. Lançado em dezembro de 2016 na Xbox One e uns meses depois no PC, apresentou uma grande novidade face aos títulos anteriores – removendo o temporizador que era uma das características da série – mas acabando por não se conseguir destacar no grande panorama.
Sensivelmente um ano depois chega-nos à PS4 a versão definitiva de Dead Rising 4: Frank’s Big Package. Para além de todos os DLC’s lançados até à data, esta versão traz ainda um novo modo de jogo que toma partido da nostalgia dos fãs das velhas personagens da Capcom – mas já lá vamos.
Devo desde já confessar que Dead Rising 4 foi a minha introdução à série. Apesar de a possibilidade de poder arrear em hordas de zombies me parecer infinitamente divertida, o facto de estar limitada por um temporizador acabou por me afastar do jogo. Logo, as minhas expectativas eram a bem dizer inexistentes. Às vezes é melhor quando nos lançamos numa experiência de entretenimento às cegas e julgando pelo clamor dos fãs pelo “antigo” Frank West, parece-me que poderia ser benéfico no meu julgamento.
Ainda assim, Frank West não me conquistou de todo. Um pseudo anti-herói, tudo menos politicamente correto e com ares de Ash Williams tem tudo para dar certo naquilo que na verdade é uma experiência de filme de terror de série B, com o bom e mau que isso acarreta. No entanto, Frank West é o típico tipo fixe que não tem tanta piada quanto julga, conseguindo arrancar mais reviramentos de olhos por segundo do que propriamente risos à conta das suas graçolas.
Toda a estética do jogo segue este mote – o que não quer dizer que seja mau. Dead Rising 4 é um jogo que claramente decidiu assumir o seu papel de comédia de terror, desde os nomes das variadas lojas às armas natalícias que podemos utilizar contra os zombies… se há algo que não se pode dizer é que Dead Rising 4 não tem atenção ao detalhe, principalmente quando estamos a falar de um jogo onde tudo (ou quase tudo) serve de arma. Dead Rising 4 quase que chega a lembrar Saint’s Row, no que toca ao seu sentido de humor, mas com um bocado menos de piada. No meio disto tudo, existem várias roupas e acessórios que Frank West pode vestir, dando alguma variedade peculiar às cutscenes e fotografias que podem tirar – o que tem resultados no mínimo bizarros.
Afinal de contas, Frank West é um fotógrafo e uma das mecânicas de jogo é exatamente usar a vossa câmara fotográfica para não só tirar boas fotos do caos e destruição em Willamette, como também tirar selfies com os pobres dos zombies. Apesar de poder parecer uma boa oportunidade para tirar umas boas imagens do jogo (como já acontece com vários jogos), esta mecânica acaba por ser um pouco deitada abaixo pelo facto de existir um limite de fotos que podem guardar e, como a maioria das coisas em Dead Rising 4, acaba por deixar de ser novidade e ter piada num piscar de olhos.
Dead Rising 4 tem alguns laivos de RPG à mistura, com uma skill tree que permite que melhorem as vossas habilidades. Isto seria até de certa forma interessante se os pontos não caíssem quase do céu. Desleixei-me um pouco ao início e fui acumulando alguns pontos, que posteriormente gastei nas minhas habilidades, calculadamente, pensando eu que ainda iria demorar até ganhar mais alguns. Não passaram nem 30 minutos e já tinha mais cinco para gastar. A progressão de nível é um pouco desequilibrada neste aspecto e francamente acaba por reduzir o desafio que o jogo possa apresentar. Ainda assim, para aqueles mais impacientes, será algo que vos vai ajudar a avançar mais rapidamente no jogo, principalmente quando começarem a encontrar Maniacs – humanos que basicamente perderam alguns parafusos e agora querem sobreviver a todo o custo, nem que seja a fazerem picadinho de Frank West (quem nunca).
Entre zombies, sobreviventes e maníacos, parece que todo o mundo está contra Frank West, que se vale de tudo o que encontra no cenário para sobreviver. Como já referi, um dos pontos fulcrais de Dead Rising é a possibilidade de utilizar tudo e mais alguma coisa para se defenderem dos vossos inimigos – sejam bastões, armas de fogo, cadeiras, presentes de Natal, máquinas registadoras… estão a ver a ideia, certo? O que na teoria iria fazer com que Dead Rising 4 tivesse um sistema de combate para lá de divertido. O que até está correcto… para aí nos primeiros 30 minutos. O combate aqui resume-se a toda uma filosofia intrínseca de button mashing. Mais simples e arcaico não há, resultando em algo que reflete o pior pecado de qualquer jogo: uma experiência aborrecida.
Era de esperar que num beat-em-up cujo ponto principal recai em batalhar legiões de zombies o combate fosse a parte mais divertida, com combos e ataques espalhafatosos, mas tal nunca é o caso e apercebi-me disso em três tempos. Rapidamente dei por mim a desviar-me das hordas massivas de zombies, simplesmente porque ir do ponto A ao ponto B se tornava tão entediante à conta da obrigação de carregar nos mesmos dois botões, apenas para poder ultrapassar os pobres mortos.
Dead Rising 4 tinha todo o potencial de abraçar as suas origens e inspirações. Durante várias vezes esperei ver desmembramentos e gore a rodos (quantas vezes podemos escrever estas palavras sem nos olharem de lado, han?) mas acaba por ser nada mais do que uma oportunidade perdida. Não existe muita diferença ou satisfação na utilização de uma caixa registadora ou um bastão. Apesar de se poder introduzir melhorias, e consequentemente variedade, com algumas armas (como eletrificar uma grinalda de Natal), na verdade acaba tudo por dar ao mesmo, coincidindo com a tendência de mediocridade que permeia o jogo. A diversão de descobrir as diversas combinações bizarras de armas eventualmente deixa de ser novidade – em grande parte devido ao já mencionado sistema de combate arcaico. Uma nova arma ou mesmo veículo (sim, podem atropelar os inimigos) ao início faz a diferença ao introduzir variedade, mas quando os resultados acabam por não diferir muito em termos da intervenção do jogador, mesmo o facto de podermos usar uma besta com fogo de artifício acaba por deixar de parecer tão aliciante. As animações e gráficos não são nada de especial, destacando-se apenas pela performance fluida mesmo com dezenas de zombies no ecrã – que coitadinhos, devo dizer, são quase todos iguais uns aos outros.
O jogo torna-se cansativo e mesmo com a promessa de desvendar o grande mistério do regresso da praga zombie, simplesmente torna-se difícil como jogadora ter uma motivação para avançar no jogo. Algo que não é ajudado pelos checkpoints por vezes irracionais, principalmente quando estamos a falar de batalhas contra bosses. Em vez de diversão sem pensar muito, Dead Rising 4 torna-se numa tarefa árdua – algo que um jogo nunca deverá ser. Não me interpretem mal, não estamos aqui a falar de um jogo difícil, de todo. Muito pelo contrário, não existe desafio, apenas um mar de zombies chato que acaba por atrapalhar o progresso do jogador ao invés de contribuir para a diversão. É a pura definição de estilo ao invés de substância, sendo que mesmo o estilo é seco e sem grande piada.
Para além do modo de campanha principal, temos ainda o novo modo Capcom Heroes, que dá nada mais nada menos que a possibilidade de explorarem o modo história de Dead Rising 4, mas como uma espécie de cosplayer – munidos de fatos representativos das mais famosas personagens da Capcom. Felizmente, a alteração não é apenas cosmética, permitindo ainda que o jogador tome partido de determinadas habilidades de acordo com cada fato. Estas acabam por substituir as armas e respetivos combos, anulando a necessidade de procura e aquisição de armamento. Estes fatos dão também acesso a side-quests especiais, assim como veículos adicionais – o que adiciona uma muito bem vinda variedade ao jogo e potencia ainda mais o mundo bizarro de Dead Rising 4. Para quem não foi fã do final do jogo, podem descansar (mais ou menos) uma vez que a Capcom decidiu também incluir um DLC que expande um pouco a história e tenta fechar algumas pontas.
No final de tudo, podem estar a pensar que detestei Dead Rising 4. Garanto-vos que não é o caso. Como fã assumida de tudo aquilo que advém do mundo do terror, queria mesmo muito gostar deste jogo, principalmente sem a limitação do temporizador. Queria muito desfrutar da possibilidade de dar enxertos massivos de porrada em hordas de mortos-vivos. Queria muito gostar da personagem de Frank West, filho da mãe assumidíssimo que vê os zombies como apenas sacos de pancada. Mas enquanto jogava, apenas conseguia pensar que poderia estar a fazer qualquer outra coisa com o meu tempo, como rever Night of The Living Dead, por exemplo. Convosco o caso pode ser completamente o oposto, é certo, mas a mim Dead Rising 4 não me conquistou, nem tão pouco o velho e secante Frank West, que apesar da sua idade tem muito a aprender com os seus colegas anti-heróis de terror.
Opinião final:
Nunca tendo jogado Dead Rising, estava à espera que o quarto título da série fosse o tal que me fizesse render. Tinha tudo para dar certo, um ar de comédia de terror com uma personagem de moral no mínimo questionável e legiões de zombies a abater. Todo o seu potencial caiu por terra com um jogo que acabou por não se conseguir comprometer com nenhuma das suas mecânicas e aprofundá-las. Podendo perfeitamente ser divertido para alguns e mesmo para fãs da série, será igualmente superficial para outros jogadores. Nem o Big Package de Frank West é suficiente para dar vida a Dead Rising 4.
Do que gostamos:
- Mundo sandbox com hordas de mortos-vivos a abater;
- Variedade de armas amplificada pela possibilidade de as combinar com outros itens;
- Modo Capcom Heroes.
Do que não gostamos:
- Sistema de combate demasiado simples e arcaico;
- Neste Dead Rising (pelo menos) Frank West não é uma personagem carismática;
- Maior parte das mecânicas de jogo são demasiado superficiais e pouco exploradas.
Nota: 6,5/10