Análise – Dragon Quest VIII: Journey of the Cursed King


Dragon Quest VIII: Journey of the Cursed King encantou-nos quando foi lançado na Playstation 2, há muito tempo, no ano distante de 2006. Era todo um novo mundo acabado de lançar na Europa, aliás, foi o primeiro da série a chegar até nós. E o jogo foi tão bem recebido que explodiu o interesse e levou a um aumento da procura pelos primeiros jogos. E eis o resultado, remakes na Nintendo DS, versões para iOS e Android, a estreia de Dragon Quest VII no ocidente e vários spin offs.

Dragon Quest é todo um mundo que consegue rivalizar com Final Fantasy e aguentar-se em pé. Partilham as bases que os fãs do género JRPG adoram, mas são bastante diferentes para não saturarem. Final Fantasy aposta em histórias épico-dramáticas, Dragon Quest é um jogo mais simplista, quase como um conto de fadas. Não vejam isto como uma crítica negativa, muito pelo contrário, até por que é algo que distingue a série e que, pessoalmente, me apela mais.

Então, que versão é esta que temos em mão? Uma cópia da versão da Sony, das versões móveis?, ou algo feito de raiz para a consola da Nintendo? A resposta mais acertada seria um pouco das duas. A base é sem dúvida a versão móvel com algum trabalho adicional e alguns sacrifícios inerentes de terem reduzido um jogo massivo para um cartucho da Nintendo 3DS. O primeiro suspeito são os gráficos, que apesar de continuarem fantásticos e coloridos e ricos em detalhes, sofreram um pouco, mas coisinhas mínimas que só os mais atentos irão implicar. É normal que num ecrã grande consigamos ver mais coisas, mais detalhes naquele e noutro arbusto ou parede, mas num ecrã pequeno isso desapareceu e há quem diga que tenha havido um downgrade visual. Não devemos ir por aí. As cores continuam fortes, as personagens e cenários detalhados e vivos e continua a haver aquela profundidade de um mundo enorme – mas claro, em ponto pequeno. Um ponto positivo é que esta versão não faz uso do 3D da consola o que poupa a memória da mesma e permite direcionar recursos para outras coisas importantes.

De volta estão também os Slimes.

No departamento sonoro não posso não ficar desiludida, a versão PS2 continha uma banda sonora orquestrada, mas a versão 3DS trocou-a para música digital o que não faz grande diferença para quem não souber, mas quem adorou o trabalho de Koichi Sugiyama no passado, não pode ficar um pouco triste por esta ausência. Ainda assim, nem tudo é cinzento. Se a música deu um passo atrás, a localização foi aumentada para incluir o conteúdo adicional exclusivo para esta versão. Talvez tenha sido uma questão de espaço? Tenho ainda que destacar o trabalho fantástico da equipa de dobragem inglesa, que resultou numa das localizações mais ricas que já ouvi num videojogo. Os sotaques, os regionalismos, as piadinhas, tudo serve como mote para dar ainda mais personalidade às personagens que vivem no mundo de DQ.

Dragon Quest VIII para a 3DS está repleto de conteúdo adicional. Desde mais história, mais roupas, mais personagens, mais fatos, mais sidequests e masmorras adicionas. Se acabaram na PS2 e não viam razão para começar de novo, desenganem-se. Para além de novas cenas adicionadas ao longo da história, temos ainda novas personagens que acabam por uma ajudinha nas masmorras adicionais. Infelizmente, em termos de narrativa já chegam demasiado tarde para terem qualquer importância. Cada personagem tem novos fatos se quiserem enganar os olhos e terem uma experiência fresca. Um mini-jogo novo engraçado passa por tirar fotografias a diversos elementos do jogo e até há uma surpresa, mas xiu. A Monster Arena e o Casino continuam lá se quiserem enterrar mais horas naquele mundo.

Não é por terem cabelo estiloso que vão deixar de apanhar na boca.

Ainda nas novidades, já não há combates aleatórios. Os inimigos, tal como no DQ VII surgem no ecrã e podemos escolher lutar ou fugir. Para mim é uma evolução. Lutas aleatórias numa masmorra causam-me pequenas (grandes) flutuações no coração quando só quero chegar àquela porta para sair da masmorra. E existem novos inimigos para testarem as vossas habilidades, mas acho que não os vi a todos.

Gosto do uso que esta versão dá aos dois ecrãs, ficando o debaixo para o mapa, alquimia (neste modo, podem criar, com o rei Trode, itens e armas poderosos) e outros controlos ou para pedir conselhos à equipa livrando o ecrã de jogo de algum entulho visual. Os dois analógicos controlam a câmara, mas admito que esta não é a coisa mais intuitiva.

As batalhas continuam o ponto forte em DQ VIII. Já devem conhecer, mas para os novatos fiquem a saber que o modo Tension é a perfeita homenagem a Dragon Ball (não partilhassem muitos elementos entre si…), permitindo que a nossa personagem fique em “Super Guerreiro” durante algum tempo com incríveis bónus de ataque. Com novas personagens jogáveis e para não ficarem de banco, sempre que uma morrer, automaticamente entrará outra para a substituir, dando outra dinâmica ao combate. Existem também novos modos: Auto e Hyper. Num os combates desenrolam-se sozinhos e em Hyper o tempo passa rápido. Juntem as duas e os combates contra inimigos mais fracos passam a voar. E olhem que vão ter de lutar muito para aumentarem de nível. Para o bem ou para o mal, Dragon Quest é uma série que requer treino, paciência e algum tempo a lutar. No geral, vale bastante a pena porque permite avançar pelo enredo e chegar ao fim.

Não Yangus, isto não é uma discoteca.

E por falar nisso, a história não começa no início. Quando o jogo abre, já estamos com o Herói (ao qual podemos dar o nome que quisermos), o rato Munchie (favorito dos fãs), Yangus, o rei Trode e a filha, a princesa Medea, na sua jornada. A história de DQ VIII não é uma demanda para salvar o mundo, mas é algo mais íntimo. O rei Trode, do reino de Trodain, é amaldiçoado e transformado num ogre. A princesa é transformada numa égua que puxa a carroça durante o jogo inteiro. A nossa missão é caçar o bobo Dhoulmagus e restituir a forma ao nosso monarca e quebrar a maldição que perdura em Trodain. Claro que durante esta expedição, os eventos desenrolam-se para lá do nosso controlo e acabamos por salvar o mundo no processo à custa de alguns sacrifícios e revelações interessantes. A nós junta-se um leque de personagens caricatas, o cavaleiro templário e mulherengo, Angelo. Jéssica, uma feiticeira mimada em busca de vingança. Yangus, é um ex-ladrão que se alia ao Herói. Red e Morrie, outrora NPC juntam-se agora a nós. Há novos finais alternativos nesta aventura que servem como motivação para acabar o jogo várias vezes, mas se o fizerem são os meus heróis.

Dragon Quest VIII é a celebração de tudo o que é bom na série, tem o design de personagens amado (ou odiado) de Akira Toriyama, a narrativa simples, mas bela, a complexidade do combate por turnos e toda a leveza, trocadilhos, piadas que nos deixam com um sorriso nos lábios. O único pecado é a mão pesada da Nintendo ao censurar algumas cenas. Alguém deve achar que não podemos ver as roupas mais reveladoras da Jessica sem termos pensamentos impróprios. E algumas cenas mais violentas foram domesticadas para não ferir a inocência dos jogadores, principalmente uma cena onde uma personagem tem de comer comida de cão de uma maneira humilhante. Não menciono onde e quem para não estragar mais o momento. Ainda assim são detalhes que não estragam a experiência global.

Fora isto, Dragon Quest VIII: Journey of the Cursed King é uma aposta vencedora e quem não comprar é igual ao rei Trode.

Opinião final:

Dragon Quest VIII: Journey of the Cursed King é um título que apela não só aos fãs da sua versão PS2, como a novos jogadores que agora podem ter em mão esta versão da 3DS. Com alguns melhoramentos e mantendo o encanto que o faz ser o clássico que é, temos aqui uma excelente adição ao crescente catálogo de RPG’s da portátil da Nintendo e que não vos deve passar despercebido.

Do que gostamos:

  • História;
  • Gráficos coloridos e arte de Akira Toriyama;
  • Conteúdo adicional, diferenciando da versão PS2.

Do que não gostamos:

  • Pequenos toques de censura.

Nota: 9/10