Earthbound Beginnings, ou Mother, nasceu numa altura linda quando os RPG japoneses, ou JRPG, estavam a surgir. Vivia-se a altura dos primeiros Final Fantasy, Dragon Warrior e o género dava os primeiros passos de bebé. Earthbound não inventou a roda quando surgiu, mas era suficientemente original para se destacar e criar um culto que até hoje, em 2015, não esmoreceu, nem parece que vá acontecer tão cedo, pelo contrário, há cada vez mais fãs. Agora, com o lançamento deste jogo na Virtual Console da Nintendo, é bem provável que mais pessoas conheçam este jogo, mas nem tudo são rosas.
Infelizmente, quando Mother foi lançado a realidade de localização era muito diferente da atual. Quando um jogo era lançado no Japão, nem sempre era garantido que saísse nos Estados Unidos, e nem vamos falar da Europa. Aconteceu com Final Fantasy que saiu primeiro o IV com o título de II e, claro, aconteceu com esta saga, saindo primeiro Mother 2 nos EUA. Para não confundir os compradores com a falta de prequela, alteraram o título para Earthbound e assim ficou até hoje. Os fãs andaram todos estes anos a jogar o 2 e nada de Mother 1 ou Mother 3, pelo qual ainda se espera há muito. No entanto há esperança renovada com este lançamento de Mother, renomeado para Earthbound Beginnings – de que isto signifique que finalmente Mother 3 veja a luz do dia no Ocidente.
No entanto, estamos aqui para falar de Beginnings. Earthbound foi lançado na velhinha NES, em 1989, para aproveitar a onda de RPG da altura, mas precisava destacar-se para ter sucesso. O estúdio decidiu descartar o mundo medieval partilhado por muitos jogos e optou por um mundo “real”, situando o jogo numa América contemporânea e fictícia. Earthbound partilha diversos elementos dos jogos da altura: a vista aérea, os combates, aleatórios e por turnos, mas em vez de lutarmos contra dragões, ogres e monstros tais, lutamos com objetos do quotidiano que estão possuídos como carros, lâmpadas e ainda sem-abrigos e hippies, entre outros (sim, leram bem, possuídos).
A história é simples: há muitos, muitos anos, antes do início da história do jogo, um casal, George e Maria, são raptados por extraterrestres. Dois anos depois, apenas George regressa, mas não há sinal de Maria. O tempo passa e chegamos a 1980, à casa de Ninten que se vê envolvido com um incidente paranormal. O pai, que não é mais do que um telefone, explica-lhe que poderá estar relacionado com o seu bisavô e com o seu estudo de poderes psíquicos. Após derrotar um candeeiro possuído, munido do diário do bisavô que lhe ensina ataques psíquicos e com a barriga cheia (a vossa mãe pergunta-vos a vossa comida favorita e eu escolhi lasanha!), partem para recuperar as oito melodias espalhadas pelo jogo. E assim começa a aventura.
O jogo toma muitas notas do companheiro Dragon Warrior, ou Dragon Quest, para nós. As batalhas por turnos são executadas na primeira pessoa e com uma grande componente de texto para descrever a ação. Não temos espadas, bastões e escudos, usamos tacos de beisebol, frigideiras e bumerangues. Não bebemos poções para nos curarmos, comemos batatas fritas, hamburgers e bebemos sumo de laranja ou elixir oral para curarmos constipações. Não há estalagens ou templos, há hotéis e centros de saúde, há uma miríade de piscadelas a outros jogos e piadas internas. A jogabilidade tenta ainda algo diferente da altura, piscando os olhos aos jogos de computador. Sempre que quisermos interagir com elementos do cenário ou pessoas, temos várias opções disponíveis, como Talk (falar), Check (ver), Use (usar) ou Give (dar), entra muitas outras. Tais mecânicas permitem-nos interagir com o mundo de Earthbound de várias maneiras e nunca sabemos o que poderá acontecer.
Os olhos e ouvidos saem saciados depois de uma sessão de Earthbound Beginnings. Os gráficos deste jogo de 1989 envelheceram tão bem que, quem não conheça diria que este jogo seja algo independente saído de algum Kickstarter, mas aconselho a jogarem no Gamepad da Wii U ou poderão ter uma surpresa desagradável. Pode-se dizer que foi uma oportunidade perdida não terem lançado este jogo também na Nintendo 3DS, pois um ecrã de menores dimensões favorecia muito mais um jogo destes. O departamento sonoro não fica atrás com a típica sonoridade de um jogo retro, as músicas são oportunas e adequadas a cada situação no jogo. Enquanto jogava, alguém comentou a música assustadora que estava a tocar e mal sabia que estava num cemitério repleto de zombies. Quando a música consegue transmitir a mensagem, então está bem feita.
No entanto, nem tudo é perfeito. É um jogo antigo, feito para mentalidades diferentes e é importante ter em conta o contexto da época em que o mesmo saiu. Os combates aleatórios podem ocorrer com (demasiada) frequência o que pode frustrar alguns jogadores que querem ir do ponto A ao B e avançar com a história. E não sendo fáceis, podem contar com vários regressos à cidade para visitar o centro de saúde, e isso frustra ainda mais… Uma masmorra, ou melhor, uma fábrica porque aqui não há masmorras pode demorar três visitas até ser completada. Para isso, é melhor trazerem um pão para seguirem as migalhas porque irão perder-se. E vão lutar muitas vezes e perder. Mas… se jogarem Earthbound com uma mente aberta e deixarem tudo o que sabem de lado, conseguem ultrapassar essas lombas. No entanto, se derem por vocês a consultar um guia para verem o vosso destino, não se preocupem nem pensem que são maus a jogar, é um jogo de 1989, o seu objetivo não é dar-vos a mão e muitas vezes andarão a adivinhar o que fazer a seguir. Se tiverem paciência vão descobrir um jogo cheio de charme como poucos e que muitos tentam recriar, em diversas tentativas de apelar à estética retro. Se gostarem, têm a sequela na Virtual Console. Depois é esperar pelo Mother 3… e não desesperar.
Opinião final:
Earthbound Begginings conseguiu cumprir a sua missão, destacando-se dos jogos da época e sobreviveu até hoje sem nunca perder a sua chama, estando agora disponível para todos na Wii U. Se puderem adquiri-lo não se vão arrepender, é um bom jogo. Mais do que isso, é um legado.
O que gostamos:
- Cenários que se afastam dos mundos medievais e fantasiosos do típico RPG;
- Mecânicas de jogo diferentes do esperado;
- Gráficos e música da época mas que envelheceram bem.
O que não gostamos:
- Dificuldade pode ter picos injustos e frustrantes;
- É fácil perder-mo-nos.
Nota: 9/10