The Escapists foi apresentado na E3 de 2014, seguindo um pouco a moda do estilo retro com gráficos pixelizados à moda dos 8-bit. No entanto o que poderia ser “apenas mais um jogo pixelizado” acabou por surpreender um pouco pelo seu trailer que apresentava aos jogadores um objetivo diferente do usual: escapar a prisões. Ora, meses mais tarde e após já ter sido lançado nos PC, eis que o jogo tem a sua versão Xbox One pronta, sendo esta a ser analisada. A frase de apresentação indica-nos simplesmente que “tudo o que se encontra entre ti e a tua liberdade é um plano perfeito de fuga”. Estaremos perante uma bela escapatória? Ou ficamos pela solitária?
De facto, The Escapists trata-se de um jogo onde passamos o dia-a-dia no papel de prisioneiro a tentar cumprir tarefas diárias como tomar o pequeno almoço. trabalhar etc, enquanto que, através de meios mais ou menos duvidosos e do poder de alguma paciência engrendrar o nosso escape ao longo de várias prisões cada vez mais difíceis de onde fugir. É um jogo que aborda levemente o tema mas que o faz de uma maneira interessante e crescentemente difícil tal que ao atingirmos o nosso objetivo sentimo-nos verdadeiramente realizados.
The Escapists conta com uma ambientação e estética, além de retro, com odes ao estilo RPG. Apesar do seu estilo muito pixelizado tudo está muito bem definido e com cores vibrantes quanto baste para que sejam bem perceptíveis os cenários e objetos. A música omnipresente apesar de bem charmosa pode eventualmente aborrecer um pouco após longas sessões de rotina prisional diária. Podemos criar objetos ao estilo de Minecraft, misturando outros objetos ou elementos, para nos defendermos de outros companheiros de celas ou mesmo dos guardas, e também ferramentas que nos ajudarão no plano de escape.
O jogo é intencionalmente provido de muita seriedade. Podemos, por exemplo, construir uma navalha para espetar outros prisioneiros, no entanto ao atacarmos apenas ficam abalados e o veremos segundos depois a passear “alegremente” pelas instalações. Claro que este já não irá estar tão satisfeito connosco e poderá procurar vingança. Apesar de algumas pitadas de uma temática mais obscura, como o escapar da prisão, traição etc, o jogo mantém as coisas sempre de forma “alegre” e com boa disposição com piadas constantes, seja em forma de objetos encontrados como dos diálogos entre os personagens.
O jogo apresenta um leve tutorial, que também nos acompanha ao longo da primeira prisão. Digo leve pois ainda leva algum tempo a entender toda a mecânica do jogo e podemos andar um pouco “ás aranhas” de início sem saber bem o que fazer além da rotina diária. No fim o que interessa é a fuga e temos de ter em conta 3 aspetos muito importantes: amealhar ferramentas essenciais, tentar ser o mais discretos possível e planear bem tudo para executar a ação final de escape. Honestamente e na minha opinião pessoal, por vezes a rotina diária pode aborrecer um pouco. O que salva estes momentos de repetição são as horas livres do dia onde podemos aproveitar para colocar o nosso plano em ação interagindo com os outros prisioneiros e até com os guardas.
Nestas interações, como já mencionei, podemos então colocar o nosso plano em marcha dando início a boas (ou más) relações com outros fazendo servicinhos para os mesmos tais como distrair os guardas na hora do jantar ou roubar um objeto a outro prisioneiro. Isto leva-nos, após entendermos que não podemos fazer tudo o que pedimos, a ter de escolher muito cuidadosamente o que queremos fazer pois por vezes basta um deslize e deitamos o plano todo por água abaixo. Inclusivé os nossos “inimigos” podem mesmo nos denunciar “dando á lingua” aos guardas resultando em inspeções à nossa cela e consequentemente à solitária (isolamento numa cela) do nosso personagem.
Tudo o que fazemos tem uma consequência e cedo percebe-se que não se trata de um jogo de 8-bits assim tão simples. O sistema de crafting é um pouco rudimentar onde misturamos 2 ou 3 elementos e a partir destes uma arma ou ferramenta nova, porém até estes novos equipamentos são uma oportunidade para algo. Ou então, de novo, temos de pensar bem o que fazemos: um sabonete e meia dá uma bela arma que sem metal não é detetada nos detetores porém pode não ser suficiente se de repente nos confrontamos contra alguém com uma arma mais poderosa.
Estamos perante um jogo no qual não não abrimos simplesmente caminho por um monte de guardas até ver a liberdade. Teremos de cumprir rotinas diárias, travar boas relações com uns e rivalidades com outros, subornar, treinar e construir o equipamento necessário para planear a nossa possível fuga. Digo possível porque nem sempre poderemos ser bem sucedidos. O jogo envolve, efetivamente, algumas doses de paciência da parte do jogador, contudo (ao contrário de muitos) o premeia por executar o plano com sucesso. Não com muita festa mas com o próprio sentimento com que ficamos quando o conseguimos.
Eventualmente após o lançamento do jogo haverão os guias e truques e dicas habituais porém garanto que teremos melhor proveito do mesmo se nos mantivermos “no escuro”. Existem tantas formas de escapar à prisão não sendo nenhuma delas virtualmente impossível mas também nada fáceis. O jogo adequa-se a sessões algo curtas pois um periodo prolongado pode, de facto, aborrecer. O sentimento de ter alguns elementos RPG também perde-se pois sempre que começamos numa nova prisão começamos tudo de novo apenas com a oportunidade de descobrir novas formas de escapar.
O jogo apesar da sua aparência simplista oferece um sistema profundo e bem elaborado devido ás várias possibilidades de escape e das consequências dos nossos actos. O jogo poderá punir-nos por algum deslize e isso pode até frustrar alguns porém a determinação de fazer ainda melhor e tentar de novo faz-nos ceder o que torna o jogo algo viciante.
Opinião final:
Boa parte da genialidade de The Escapists é o paradoxo da liberdade e quantidade de coisas que podemos fazer dentro de uma prisão. A variedade de elementos tais como a interação com outros personagens, items criados e múltiplas possibilidades de lidar com a fuga à prisão, algumas bem criativas, oferecem ao jogo uma experiência diferente, quase única. Este é um jogo para quem gosta de pensar e para quem tem alguma perseverança pois nem sempre a lógica vence, porém não deixa de ser imensamente satisfatório e bem entretido quando jogado em doses relativamente pequenas.
O que gostamos:
- Surpreendentemente complexo;
- Sistema de interação com outras personagens;
- Variadíssimas formas de escapar ás prisões.
O que não gostamos:
- Progressão interrompida em cada prisão;
- Rotinas e repetição podem levar ao aborrecimento para alguns;
- Envolve alguma experimentação e ás vezes menos lógica.
Nota: 8/10