Análise – God Eater Resurrection

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Durante a época alta da PlayStation Portable, em pleno 2010, a série Monster Hunter da Capcom estava a fazer furor na portátil da Sony, sendo que não existia nenhum jogo do mesmo género na altura. Foi aí que a Bandai Namco viu um espaço para uma nova série, que seria baptizada como God Eater.

God Eater foi alvo de um remake depois do primeiro jogo ter sido lançado, adicionando um capítulo de história totalmente novo e várias melhorias, abrindo caminho para God Eater 2, que seria lançado alguns anos mais tarde para a PlayStation Vita PlayStation Portable.

Bandai Namco decidiu aproveitar o potencial da PlayStation 4 para lançar uma versão remasterizada de God Eater 2: Rage Burst para a PlayStation 4 PlayStation Vita, tendo esta sido lançada apenas no Japão, durante o mês de fevereiro de 2014. Um ano mais tarde, decidiram lançar o primeiro jogo, também este remasterizado e sob o nome de God Eater : Resurrection. No entanto, só dia 30 de agosto de 2016 recebemos ambos os jogos no resto do mundo.

God Eater conta-nos a história da humanidade à beira da extinção, devido a seres monstruosos, os Aragami, que vagueiam nas ruínas do mundo outrora pertencente à humanidade. Porém, os humanos construíram uma organização mundial para combater as criaturas,  chamada Fenrir, utilizando para seu proveito tecnologia à base das “oracle cells“, fornecidas a partir das células dos Aragami. Devido à descoberta destas células, foi possível criar armas, que ficaram conhecidas por God Arc, para ripostar nesta guerra sem esperança. Mas restrições é o que não falta a estas, visto que apenas é possível utilizar uma quando se injeta algumas células provenientes das criaturas (sendo um processo fatal caso não seja bem sucedido), daí o facto de a maioria dos personagens do jogo utilizar uma espécie de bracelete para essas células não os infetarem e os transformarem os em Aragami.

Estas armas podem ser utilizadas como armas de fogo ou armas brancas, juntando ainda um escudo para ser possível defender de um ataque inesperado. Existem dois tipos de God Arc, o género comum, em que apenas se utiliza arma de fogo OU arma branca, sendo este o menos efectivo contra certos Aragami, ou os New-Type God Arc, onde é possível utilizar ao máximo a potência das armas de fogo e das armas brancas em conjunto.

O protagonista do jogo foi o primeiro a possuir uma New-Type God Arc, possibilitando uma flexibilidade em combate nunca antes vista com o género comum. Ambos os tipos de God Arc possibilitam uma habilidade para “devorar” os Aragami inimigos e os seus “core”, que permitem obter materiais para melhorar a nossa God Arc.

As God Arc são a única esperança que a humanidade tem para sobreviver

As God Arc são a única esperança que a humanidade tem para sobreviver.

A ação desenrola-se na base Este da Fenrir, onde o protagonista acaba de se tornar um God Eater (recebeu as oracle cell de uma God Arc), sendo o primeiro possuidor do novo tipo destas armas, tornando-se imediatamente num dos membros do 1º esquadrão dessa base. É, por isso, um dos que tem mais potencial para desvendar os segredos da sua God Arc e aniquilar a ameaça dos monstros.

A base da Fenrir é o “lobby” do jogo, onde podemos interagir com os diferentes personagens da trama tanto no LaboratórioLiving QuartersExecutive Quarters ou no hall principal, onde se encontra a maioria das funcionalidades que nos acompanharão ao longo do jogo, sendo as mesmas:

  1. Terminal: que permitirá ver a base de dados, onde estão todas as informações disponíveis sobre o jogo, tal como os diversos tipos de Aragami, as God Arc, as personagens, locais e até a história até ao momento. Além disso, irá ser possível personalizar as personagens que nos irão acompanhar  nas diversas missões em termos físicos e de habilidades, sendo que, para o nosso personagem, poderemos também escolher as partes da God Arc que queremos levar. Em termos de armas brancas, temos as seguintes hipóteses personalizáveis: Knife, Long, Burst, Mace, Spear e  Scythe, e cada um destes tipos tem muitas variações que podemos “criar” com as peças que arranjamos nas missões, e a maioria deles pode pertencer a um elemento (Blaze, Spark, Freeze, Divine), tornando o jogo mais equilibrado para dar mais dano ao elemento oposto. Em termos de armas de fogo, a única diferença são as balas que se podem utilizar, que variam de acordo com o tipo de arma, sendo os tipos: Gun, Automatic Gun, Blast, Shot Gun, cada um deles com balas exclusivas e efeitos diferentes.
    A juntar a isto, o Terminal permite ainda manobrar os nosso itens e fazer craft de tudo o que podemos vir a precisar para sobreviver às lutas, sendo possível criar partes das God Arc como referido em cima, roupas exclusivas, poções de restauração de vida, entre outros utensílios úteis para os combates. A variedade de itens e criação dos mesmos é um dos pontos fortes do jogo, pois podemos jogar como nos apetecer, sem restrições de armas. Fica tudo ao nosso critério e nada é fixo

    Variedade e personalização do nosso personagem é o que não falta em God Eater Resurrection

    Variedade e personalização do nosso personagem é o que não falta em God Eater: Resurrection.

     

  2. Recepção: aqui estará uma personagem do jogo para nos ajudar – Hibari – que nos irá fornecer todas as informações de que precisamos para avançar no mesmo, como recados para ir ter com X personagem ou sobre as diversas missões. Se quisermos ir para as missões, estas estarão divididas em dificuldades, onde será necessário prosseguir na história para desbloquear a dificuldade acima, visto que alguns monstros aparecem primeiro nas missões de história.
    Antes de avançarmos para a missão, ela irá apresentar-nos um ecrã onde podemos escolher quem queremos levar para nos ajudar. No entanto, nem todos os personagens estão disponíveis, pelo que alguns podem estar designados para ir na missão obrigatoriamente e outros simplesmente indisponíveis. Tudo depende da história. É aqui que nos é introduzida uma funcionalidade engraçada, o “backup character“. Estas personagens são “inativas” durante as batalhas, no entanto, no fim das mesmas, irão fornecer a possibilidade de “ignorar” alguns requisitos para receber certos itens nas missões, ou simplesmente aumentar os prémios que recebemos por completar a mesma. É claro que os personagens ativos nas lutas também podem fornecer estes bónus, mas ter sempre mais uma ajuda não é mau.Uma vez que estou a falar das missões, vou elaborar um pouco o que se pode esperar das mesmas. À primeira vista, pode parecer tudo fantástico, com mapas dentro do esperado para o tema do jogo (com cenários em ruínas, sem vida, etc.),e têm até mesmo os monstros designados nas missões para matarmos, pelo que sabemos de antemão com o que contar. As mecânicas de luta e de sobrevivência são muito boas, rivalizando mesmo as de Monster Hunter, visto que se trata de um jogo tático, apresentando letras no mini mapa e ordens para os nossos aliados, para podermos derrotar os monstros “sozinhos” ou em conjunto, usando truques como as granadas de luz ou armadilhas para paralisar.  No entanto, sendo este um jogo que apela à recuperação de vida, muitas vezes devido aos altos danos que os monstros nos causam, e até mesmo pelas “ordens” que a Hibari nos fornece para nos curar a nós próprios ou aos nossos aliados, deixa um pouco a desejar visto que apenas podemos receber vida através dos nossos aliados com armas de fogo, ou através de poções muito limitadas que podemos comprar, tornando as lutas muito limitadas e obrigando os jogadores a pensarem muito bem antes de atacar os monstros. Pode-se dizer que é positiva esta dificuldade e a falta de regeneração ao princípio, no entanto, à medida que vamos avançando no jogo, percebemos que com apenas 2 “hits” dos inimigos somos deixados inconscientes, e, visto que teremos que ter mais cuidado, teremos que ser muito restritos com as poções ou então ficamos apenas com 1/10 da vida contra um monstro, e, se quisermos mais vida, temos de morrer (limitadamente) para a receber através dos nossos companheiros de guerra, o que deixa a desejar.

    Os monstros têm um design muito bem elaborado e ataques fabulosos e estratégicos, o mesmo se podendo dizer sobre os nossos colegas God Eaters. Tanto uns como os outros contam com uma inteligência artificial muito boa, oferecendo um grau de dificuldade agradável ao jogo. No entanto, a partir de uma certa quantia de missões, raramente vemos novos modelos de monstros, passando os mesmos a ser reciclados à força toda, mudando apenas o elemento ou um ataque, tornando-se cansativo e enjoativo de jogar todas, afetando até algumas partes da história em que nos mandam derrotá-los e esperamos por um modelo novo e brutal chamado “Susanno’o“, isto para apenas dar de caras com um modelo reciclado pintado de cor de rosa e com elemento divine.

    O design e os ataques dos monstros estão muito elaborados, roçando o perfeito para um jogo deste género

    O design e os ataques dos monstros estão muito elaborados, roçando o perfeito para um jogo deste género.

  3. Por fim, temos o Vendedor, que nos fornece alguns materiais para fazer craft nos terminais, peças para a nossa God Arc, poções de vida e alguns utensílios. No entanto o vendedor apenas vende itens iniciais, deixando a desejar a partir de 1/4 da história terminada, como é o caso das God Arc que podemos criar estarem muito mais evoluídas das que podemos comprar. Embora por um lado seja perfeito o vendedor não vender peças melhoradas e poções que se pode obter através do sistema de craft do terminal.

No que toca à história do jogo, pode-se dizer que tem uma longevidade enorme (demorei cerca de 50 horas só para terminar o 2º ato do jogo), contando com 3 atos no total (no entanto, o 3º ato não é considerado história principal, apenas um bónus), sendo que cada dificuldade fornece cerca de 5-9 missões de história, e, contando que cada ato, tem aproximadamente 5-6 dificuldades, pode-se dizer que é um jogo para durar meses, caso o queiram terminar a 100%. A história está muito bem desenvolvida, fornecendo emoções a cada personagem do jogo em cada um dos seus problemas face a esta “guerra” constante com os Arigami (de notar que a história sem ser bónus termina na dificuldade 10, incluindo).

Opinião final:

God Eater Resurrection é uma alternativa a Monster Hunter, tratando-se de um jogo baseado em personagens de anime num mundo pós-apocalíptico onde os monstros Aragami vagueiam pelo mundo afora, ameaçando a humanidade. Embora o jogo tenha muito potencial, flexibilidade na personalização de tudo o que é possível, o mesmo deixa a desejar quando se trata de variedade de monstros e de algumas funcionalidades de gameplay. No entanto, não deixa de ser um grande jogo com dezenas de horas de diversão.

Do que gostamos:

  • História profunda e emocional, deixando o jogador a sentir na pele os problemas da humanidade;
  • Personagens carismáticas e com histórias bastante interessantes, podendo dizer-se o mesmo em relação aos monstros;
  • Flexibilidade e liberdade na personalização de todos os personagens activos nas lutas, sendo que o nosso personagem pode ainda contar com a criação de itens e partes para a God Arc;
  • Gráficos muito superiores às antigas versões do jogo, com funcionalidades mais eficientes e menos quedas de frame-rate e glitches nos monstros.

Do que não gostamos:

  • Modelos dos monstros tornam-se reciclados e repetidos, faltando variedade aos mesmos;
  • Muitas missões repetidas, trocando apenas 1 ou outro pormenor;
  • Grau de dificuldade elevadíssimo a partir de um certo momento, sendo que seria necessário recuperação automática.

Nota: 7,5/10