Lançado a 13 de Junho de 2012, na Europa, para a Playstation Vita, Gravity Rush foi sendo reconhecido como um dos melhores exclusivos da atual consola portátil da Sony. Com a chegada desta versão remasterizada para a Playstation 4 tudo muda e a Vita perde (mais uma) das suas principais atrações.
Comparando com a versão original, Gravity Rush Remastered apresenta claramente melhor aspeto, tendo a BluePoint Games, equipa responsável por este relançamento, feito um bom trabalho em tornar Hekseville (cidade do jogo) ainda mais viva. No entanto, tirando estas melhorias em termos visuais e de performance, nada foi feito para introduzir fatores que diferenciassem esta edição daquilo que os utilizadores da Vita já podem experienciar desde 2012.
Caída num largo e sem recordação alguma de o que está ali a fazer, uma rapariga a quem posteriormente lhe atribuem o nome de Kat é acordada por uma maçã que percorre um longo caminho descendente desde uma árvore até parar mesmo à sua beira, numa alusão à famosa história em que Newton terá formulado as Leis da sua teoria da Gravitação após uma maçã lhe ter caído em cima da cabeça.
Aqui descobre um gato misterioso e fora do comum a que dá o nome de Dusty e juntos partem à descoberta de Auldnoir, a parte velha da cidade de Hekseville. Passados poucos instantes deparamo-nos com um homem muito aflito. A sua casa, juntamente com o seu filho, está a ser sugada por uma tempestade gravitacional.
Caso não seja claro pelo seu título e pela clara referência à história da maçã de Newton, Gravity Rush rapidamente nos faz perceber como a gravidade é o centro das atenções. Conhecendo (melhor que nós) as nossas habilidades, este senhor recém reconhecido ordena que usemos os nossos poderes para alcançar a casa e impedir um fim trágico. Aqui Kat fica surpreendida pelo que lhe está a acontecer: do nada, unindo-se a ela, Dusty altera-lhe o aspeto e confere-lhe uma grande dádiva – o poder de controlar a gravidade.
Fazendo uso desta nossa habilidade passamos rapidamente de plataforma em plataforma e chegamos finalmente ao nosso destino, conseguindo salvar o dia pela primeira de muitas vezes.
A mecânica por detrás deste conceito de controlar a gravidade é bastante simples. Com um toque no botão R1 começamos a flutuar, como se estivéssemos num meio de gravidade 0, não sendo atraídos para qualquer plano específico. Com o analógico direito escolhemos a direção para onde queremos que Kat caia, e, tocando novamente no botão R1, a protagonista começa o seu movimento descendente (dependendo da perspetiva). A qualquer momento podemos ainda pressionar o botão L1 que nos faz parar de controlar a gravidade e somos atraídos, tal como todos os objetos em nosso redor, para o centro gravitacional comum. Enquanto jogamos uma barra circular no canto superior do ecrã vai-nos indicando o tempo restante de controlo de gravidade de que dispomos, ao fim do qual ficamos sem poderes, durante um curto intervalo de tempo, período em que começamos a cair para desamparadamente no sentido original.
O controlo da gravidade irá ser, ao longo de toda a aventura, algo de extrema importância, já que com ele podemos, por exemplo, «voar», colocando o centro de atração gravitacional num edifício distante ou mesmo no ar. Através desta funcionalidade podemos percorrer grandes distâncias em intervalos de tempo curtos e ganhar vantagem contra os Nevi.
Os Nevi são monstros de origem desconhecida e também os nossos adversários nesta aventura e teremos de os defrontar inúmeras vezes ao longo do jogo. Embora sejam distintos entre si, todos eles têm algo em comum: um (ou mais) núcleo(s), que são os seus pontos fracos. Aproveitando a atração gravítica, apontando para estes núcleos podemos utilizar o «Pontapé de Gravidade», que consiste em utilizar a aceleração da gravidade para atingirmos os nossos opositores com mais força.
Kat consegue, é claro, combater no solo, mas o poder dos seus ataques, a sua agilidade e, inclusive, o próprio sistema de combate ficam bastante reduzidos, sendo estritamente necessário dominar a «arte» do controlo de gravidade.
Relativamente à variedade de movimentos, tirando o Pontapé de Gravidade e três ataques especiais (que vamos desbloqueando à medida que avançamos na campanha) não temos mais nenhum modo de atacar os Nevi, o que resulta na sensação, embora não seja muito incomodativa, de que estamos sempre a fazer o mesmo. Gostaria, por isso, de ter visto mais variedade no sistema de combate, algo que, pelo que foi mostrado, acontecerá em Gravity Rush 2.
Outra das críticas que tenho a fazer ao sistema de controlo da gravidade, e que se faz notar especialmente em locais mais apertados, é que, com tantas alterações na direção do campo gravitacional, acabamos por ficar perdidos, sem saber para onde eramos atraídos originalmente, ou ainda a tentar sequer perceber o que estamos a fazer realmente. Isto não quer dizer, é claro, que a Japan Studios tenha feito um mau trabalho, apenas que em certas circunstâncias torna-se difícil acompanhar o que se está a suceder.
Logo a seguir aos eventos narrados, vamos descobrindo, ao mesmo tempo que a protagonista, o mundo à nossa volta e quem realmente é Kat, tendo conseguido, a equipa de Gravity Rush, transportar-nos realmente para o mundo de jogo e a partilhar das dúvidas e surpresas da protagonista como se fossem as nossas próprias.
O enredo está construído de tal maneira que rapidamente me dei conta de estar perante uma situação de querer continuar a jogar para ficar a conhecer melhor o que se passa e ao mesmo tempo não querer acabar o jogo por estar a adorar a experiência. No entanto, tenho de criticar alguns pontos da estória em que os acontecimentos me pareceram demasiado repentinos e a ligação com as personagens não foi tão bem estabelecida como era pretendido e como era necessário.
O mundo de Gravity Rush é uma cidade sobre as nuvens, associada a um pilar que a sustenta. Nesta terra de fantasia, lembrando mundos como os que vemos em filmes de animação japonesa, encontramos vistas bastante agradáveis, sendo facilmente percetível, nos primeiros momentos, de que se trata de um jogo japonês. Especialmente as bandas desenhadas entre os episódios (capítulos do jogo), que nos vão explicando o que está a acontecer, mostram como a Japan Studios conseguiu criar algo que, não sendo inovador, é consistente e mistura várias influências, criando algo único.
Com o lançamento da versão Remastered, estas paisagens e o aspeto agradável das personagens ficaram ainda mais acentuados, o que realça ainda mais as qualidades do original neste quesito.
Este mundo colorido e vivo não está confinado às áreas que exploramos exclusivamente durante as missões da história. De facto, existem vários distritos (que aqui se apresentam como ilhas) da cidade que vamos descobrindo ao avançarmos na campanha e os quais podemos explorar livremente antes de prosseguirmos na campanha.
Neste mundo aberto vamos encontrar várias pessoas dispostas a falar connosco e a partilhar informações; Desafios para testar as nossas habilidades, por exemplo, de combate; Monumentos locais não operacionais que podemos reparar e ainda algumas missões secundárias.
Ao concluirmos os desafios, ao repararmos os monumentos mencionados e ao explorar o mundo de jogo vamos encontrando pedras preciosas de três tipos. Gotas com o valor de uma unidade, um prisma que equivale a 5 unidades e ainda um cilindro de 10. Com estas pedras preciosas vamos podendo melhorar os vários atributos de Kat em diversas categorias.
Podemos, por exemplo, prolongar o tempo em que podemos ignorar e controlar a gravidade, aumentar a barra de saúde de Kat, aumentar o poder do Pontapé de Gravidade e dos ataques espaciais, entre outros. Este sistema de progressão irá ser bastante importante em fases mais avançadas do jogo em que os inimigos, como é costume nos videojogos, passam a tirar mais vida e a ser mais desafiantes. Devido à sua simplicidade, o que é positivo, visto que Gravity Rush não tem como objetivo ser um jogo de estratégia ou muito virado para o desenvolvimento de personagens, este acaba por funcionar muito bem, sendo rápido e, em certos momentos, um game-changer.
Ainda relativamente ao mundo de jogo, as missões secundárias anteriormente referidas, na versão Gravity Rush Remastered, correspondem a todas as que estavam presentes na versão original para a PlayStation Vita mais as que foram sendo lançadas como DLC. Estas missões, no geral, não adicionam nada de novo e, tirando uma ou outra, não são tão divertidas como as missões que compõem a campanha, tornando-se, em certos casos, inclusive um pouco enfadonhas.
Embora a arte de Gravity Rush seja bastante bela e o mundo seja cativante, a banda sonora não se fica nada atrás e facilita bastante a nossa imersão no mundo de jogo, estando adequada aos acontecimentos do jogo e tendo várias peças únicas que procuram manifestar diversos estados de espírito.
Algumas das músicas agradaram-me tanto durante o percurso do jogo que inclusive parei em certos momentos para fruir exclusivamente do acompanhamento musical. Desde o tema do ecrã inicial, com um tom mais épico, até músicas mais relacionadas com a diversão, o jogo e o entretenimento, em Gravity Rush podem encontrar um vasto leque de temas que, não raras vezes, me fez lembrar da banda sonora de filmes como A Viagem de Chihiro ou outros dos Studios Ghibli.
Opinião final:
Em suma, Gravity Rush Remastered é exatamente igual à versão original, tirando o facto de ser mais competente a nível visual e de incluir os DLC´s que entretanto foram sendo lançados. Serve para aqueles que, não tendo jogado a versão da PS Vita, pretendem jogar o segundo jogo da série, que deverá ser lançado ainda este ano, mas precisam de saber o que aconteceu no original. Assim, recomendamos vivamente esta edição àqueles que nunca jogaram o original na PS Vita já que a Japan Studios conseguiu, realmente, apresentar um produto que merece ser experienciado e que foge, com o seu toque único, à monotonia de lançamentos que se faz notar em muitos lançamentos atuais. Da nossa parte resta apenas desejar que Gravity Rush 2 consiga, pelo menos, manter a qualidade do seu antecessor e, se possível, que corrija os eventuais erros que este teve.
O que gostamos:
- Mundo de jogo vivo e bem trabalhado;
- Mecânica de controlo de gravidade;
- Sistema de progressão;
- Banda sonora harmoniosa;
- Enredo interessante;
- Ligação criada entre Kat e o jogador.
O que não gostamos:
- Algumas missões secundárias repetitivas;
- Partes do enredo muito repentinas;
- Certos embaraços no controlo da gravidade;
- Falta de variedade no sistema de combate.
Nota: 8/10