Quando é anunciado um novo título de um bem amado franchise, a reacção pode tanto ser positiva como negativa. As emoções tanto podem ser efusivas ao assistirmos ao anúncio de uma muito aguardada sequela, como de desilusão. O último grande exemplo desta segunda reação foi Metroid Federation Force, e quando Hey! Pikmin foi anunciado, o receio foi geral. Principalmente quando se soube que seria feito pela mão da Arzest, cujo catálogo não é muito convidativo…
Tive a oportunidade de experimentar Hey! Pikmin pela primeira vez a convite da Nintendo e admito que algum do receio inicial foi substituído por curiosidade. A simplicidade e utilização maioritária do stylus para levar o Capitão Olimar a bom porto parecia adivinhar o que poderia bem ser um jogo com puzzles interessantes… mas o que na verdade acabámos por ter foi algo tão superficial que acaba por cometer um grande pecado: não ser divertido o suficiente para ser memorável.
Hey! Pikmin conta com algumas componentes interessantes: temática bem conhecida dos jogadores e apelativa, gráficos coloridos e límpidos, jogabilidade simples e acessível, mecânicas engraçadas… mas a soma de todas estas partes resulta num todo com pouca variedade. Em todos os momentos, sempre que avançava para um outro nível de Hey! Pikmin pensava “será que é desta que isto vai arrancar e vai sair algo diferente?”.
Se algum de vocês já tiver pegado neste título, decerto que me vão questionar esta afirmação. É certo que temos vários tipos de Pikmin, é certo que estes servem para ultrapassar certos obstáculos, mas não é de todo suficiente para colmatar a sensação de que estamos a fazer o mesmo uma e outra vez. Como já mencionei, a jogabilidade é bastante simples. Controlamos o Capitão Olimar, que apenas consegue andar para a frente e para trás e elevar-se uma pequena altura com o seu jetpack. O movimento é controlado com o analógico da 3DS e tudo o resto é feito através do stylus e do touchpad.
Se há algo que se pode dizer de positivo de imediato, é o quão acessíveis são os controlos de Hey! Pikmin. Rapidamente se torna numa segunda natureza a utilização simultânea do analógico e do stylus, contribuindo para uma experiência de jogo fluída e sem grandes soluços.
Um dos objetivos do jogo é obter o máximo possível de “Sparklium”, um material que podem conseguir ao apanhar diversos objetos espalhados pelo jogo – coisas raras como telefones e chaves de fendas. Este material é indispensável para que o Capitão Olimar consiga reparar a sua nave e será uma constante durante a vossa aventura. Em cada nível existem sempre três objetos que podem recuperar e nem sempre conseguirão apanhá-los todos de uma vez na vossa primeira visita a um nível. Isto cria alguma motivação para os revisitar, mas não é o suficiente para querer revisitar o jogo após o completarem.
À medida que vão avançando, vão conhecendo os diversos Pikmins de forma gradual, cada um com a sua cor e cada um com a sua capacidade. Os Pikmins seguem o Capitão Olimar e são controlados através do stylus, sendo “lançados” para onde nós quisermos. Neste sentido, ajudam-nos não só a derrotar inimigos, como a resolver puzzles, empurrando objectos do cenário ou até puxando plataformas. Mas no fundo, rapidamente começamos a sentir que são nada mais do que armas de arremesso, quase indiferenciados uns dos outros – a não ser pelas cores variadas. A culpa não é dos Pikmin, mas sim do design dos níveis, que acaba por nunca tomar verdadeiramente partido das possíveis diferenciações dos Pikmin, que poderiam ser utilizados para solucionar puzzles de várias maneiras.
Hey! Pikmin tem mais do que apenas a aventura principal. O Pikmin Park é o local para onde vão os Pikmins que vão salvando ao longo da vossa aventura e que podem direccionar para vários locais no parque – de acordo com as respectivas habilidades – para irem em expedições e recolherem Sparklium. Esta é uma funcionalidade que no fim acaba por ficar esquecida uma vez que a interacção do jogador acaba por ser mínima e a recompensa também. Adicionalmente têm acesso a um compêndio onde o Capitão Olimar vai registando toda a informação sobre as criaturas e objetos que vai encontrando. É uma pequena curiosidade engraçada e que contribui para a personalidade do jogo, mas que de pouco mais serve.
E Hey! Pikmin está cheio de personalidade. Valendo-se do encantador franchise que lhe dá o nome, Hey! Pikmin consegue agarrar o jogador com o seu encanto em cada momento. Apesar da linearidade do jogo, é comum encontrarmos algumas breves cutscenes em que podemos observar os Pikmin na sua vidinha, em situações caricatas. O mundo colorido de Pikmin decerto ajuda a transformar o jogo numa experiência agradável (pelo menos visualmente) e os gráficos conseguem geralmente cumprir o seu propósito, mantendo a componente visual fiel à série. Infelizmente, tive alguns momentos com quebras de FPS, mesmo não se passando grande coisa no ecrã naquele determinado momento.
Como seria de esperar e é já usual, podem utilizar os vossos amiibos de Pikmin. Com estes, podem de imediato chamar alguns Pikmin (o que dá jeito quando todos os que vos acompanhavam se perderam ou “morreram”). Os outros amiibos podem também ser usados para obter Sparklium. Existem também alguns níveis especiais que apenas podem ser desbloqueados através de amiibos. Caso ainda sejam os orgulhosos donos de uma antiga 3DS ou 3DS XL e caso não tenham um leitor NFC, esqueçam alguma vez aceder a estes níveis. Não são necessários para terminar o jogo mas acaba por ser uma demonstração do quão dedicada a Nintendo está em tornar os amiibos cada vez mais necessários.
Hey! Pikmin consegue ser uma experiência agradável, calma, relaxada até. Ao iniciar o jogo tive alguma esperança e curiosidade de ver até onde conseguiriam levar os puzzles e a jogabilidade. Mas ao longo do jogo, senti sempre que ainda estava nos níveis iniciais, naquela fase em que ainda nos estamos a adaptar ao jogo, a perceber as mecânicas – em que tudo é um pouco fácil de mais. Mas acabei por nunca passar dessa fase, por mais níveis que fizesse. A esperança de que o desafio e puzzles mais difíceis acabassem por surgir rapidamente desapareceu. E a sensação de que não “saímos da cepa torta” acaba por ser uma constante , o que é uma pena. Apesar de não ser desta que temos um título de Pikmin para as portáteis que agrade aos fãs, Hey! Pikmin continua a ser um jogo que oferece uma aventura agradável e sobretudo acessível a jogadores de todos os tipos. E mesmo podendo ser um título passável e pouco memorável, sobretudo para jogadores mais experientes, Hey! Pikmin poderá muito bem fazer as delícias de muitos outros jogadores e até introduzi-los ao mundo maravilhoso de Pikmin.
Opinião final:
Hey! Pikmin poderia ser a introdução perfeita da série às portáteis da Nintendo. Com uma jogabilidade simples e extremamente acessível a qualquer jogador, tinha o potencial de poder ser um excelente ponto de partida. Infelizmente, a simplicidade acaba por ser uma constante e não deixa Hey! Pikmin passar de um estado superficial, chegando ao fim do jogo parecendo que mal começámos. Um título que não é de todo um mau jogo, mas que empalidece face aos restantes jogos da série.
Do que gostamos:
- Jogabilidade acessível;
- Pikmins!
Do que não gostamos:
- Simplicidade excessiva;
- O potencial de puzzles e design de níveis nunca é explorado;
- Utilização obrigatória de amiibos para desbloquear níveis extra.
Nota: 6/10