Se a Level-5 é atualmente reconhecida como uma das mais capazes equipas na indústria dos videojogos, muito o deve à série de puzzles que lhe deu fama com a sua estreia na Nintendo DS: Professor Layton. Desde o lançamento do jogo original – Curious Village -, os vários títulos da série em conjunto já passaram a marca dos 16 milhões de unidades vendidas, estando decisivamente entre as séries mais vendidas do género.
Quem já teve, entretanto, a oportunidade de jogar um destes títulos, saberá que a série se trata de muito mais do que um simples agrupamento de vários quebra-cabeças. Nos vários jogos, toda uma história é apresentada em cenários coloridos, relaxantes e animadores, trama em que nos são apresentados vários mistérios, personagens curiosas, e puzzles, muitos puzzles.
Em Lady Layton, tudo isto se mantém, mas a maneira como nos é apresentado muda bastante. Em primeiro lugar, como deverão notar pelo título, desta vez o protagonismo não vai para o famoso professor Layton, mas para a sua filha – Katrielle (Kat para os amigos) -, que acaba de montar a sua agência de detetives.
Enquanto nos clássicos jogos Layton temos uma história contínua em que um mistério ganha destaque e outros vão surgindo e resolvendo-se ao longo da jornada, em Lady Layton, como somos uma detetive, temos vários casos isolados por resolver. Continua a existir uma história e objetivo principal (encontrar Hershel Layton, que desapareceu sem deixar rastro) é certo, mas não é bem o mesmo.
Esta popular série de jogos de quebra-cabeças tem sido mais popular entre o público feminino do que entre o masculino, e parece ter sido por esta razão que a mudança de protagonista trouxe extras mais virados para este: poder personalizar a agência e escolher as roupas de Katrielle. Estas opções, em conjunto com outras já habitualmente presentes na série – como um registo dos vários puzzles já concluídos (e que podemos a qualquer momento repetir) ou a opção de poder rever as cinemáticas – são ótimas para descontrair um pouco após um puzzle mais exigente.
Infelizmente, embora tal fosse fulcral nos primeiros jogos desta série – em que havia uma relativa abundância de quebra-cabeças, e muitos deles até bastante complicados – já não o é tanto nos últimos jogos lançados, e Lady Layton não foge a esta tendência. O nível de dificuldade baixou, e, para além disso, o jogo parece no geral muito mais ocupado com diálogos e movimentações de cenário do que anteriormente. Não é rara a ocasião de termos de esperar vários minutos até encontrarmos o próximo puzzle.
Temos ainda segredos escondidos nos cenários e hint coins à espera de serem apanhadas (e que nos permitem pedir aquela ajuda extra tão necessária num puzzle mais complicado), mas o processo de procura por uns e por outras é bastante simples e corresponde basicamente a um processo de tentativa-erro em que tocamos em vários objetos no cenário, como já acontecia nos títulos anteriores. Não é, por isso, um estimulante suficientemente interessante para ocupar os períodos de tempo entre os puzzles.
Outra das situações em que se nota este baixo nível de dificuldade é na maneira como os casos são resolvidos. Ao longo da investigação, Katrielle vai recolhendo evidências que apontam para a correta solução do caso, e o nosso trabalho é simplesmente colocar estas evidências (que nos aparecem em forma de peças) no lugar certo de uma silhueta alusiva ao caso em questão.
Assim que todos os factos estão reunidos e as peças dispostas corretamente, Katrielle anuncia-nos o que realmente aconteceu, tal como acontece nos clássicos livros policiais, e nomeadamente nas aventuras de Sherlock Holmes (em que o jogo claramente se baseia). Este desvendar do mistério é realizado no mesmo estilo com que Hershel Layton o fazia e neste sentido, para além de resolver os puzzles com que nos vamos deparando, pouco mais fazemos para ajudar na descoberta da solução do caso. O que nos resta é simplesmente movimentarmo-nos de um lado para o outro e interagir com as personagens, o que dá a sensação de não estarmos realmente a participar no processo de investigação e descoberta, mas a ser meros observadores de uma história.
Muitos dos casos disponíveis têm um final que parece ser demasiado apressado e não fazer jus à trama e mistério que levam àquele momento. O mesmo se passa com algumas cinemáticas, que são relativamente raras (embora bem mais comuns do que nos jogos da DS) e que por isso muitas vezes nos fazem esperar que tenham diálogos, ou conteúdo no geral, mais dinâmico ou de maior importância… o que pode muitas vezes não ser o caso.
Mas não fiquem com a ideia errada, as cinemáticas e a apresentação do jogo estão mais uma vez ambas muito bem executadas e mantêm o aspeto relaxante e uplifting dos restantes títulos da série. Simplesmente acontece que algumas delas são demasiado rápidas ou não se percebe bem o porquê de estarem ali.
Outro ponto um pouco estranho continua ser o modo como alguns dos puzzles nos são apresentados. É paradoxal, mas a verdade é que existem momentos em que pensamos para nós “de certeza que vem aí um puzzle” e não vem, e outros em que subitamente “aparece” um puzzle numa planta de um museu. Este é um ponto que tem sido constante na série e que retira um pouco a imersão ao jogo, embora não de uma maneira tal que impacte demasiado a nossa experiência.
Opinião final:
Layton’s Mistery Journey: Katrielle and the Millionaires’ Conspiracy não é um mau jogo, muito longe disso… mas é das entregas mais fracas dentro da série em que se encontra. Os diálogos, cenários, estilo artístico, música e situações continuam no seu tom característico e de que tanto gostamos. Os puzzles também continuam presentes e embora tenham uma dificuldade mais baixa, alguns deles continuam a fazer-nos puxar pelos cabelos e a dar voltas à cabeça. Infelizmente, perpetua algumas falhas já presentes em iterações anteriores e falha em manter a qualidade num ou dois pontos.
Layton’s Mistery Journey: Katrielle and the Millionaires’ Conspiracy já se encontra disponível para a família de consolas Nintendo 3DS, tanto em versão na Nintendo eShop como em versão física nas lojas.
Do que gostamos:
- Personagens carismáticas, incluindo uma nova protagonista com uma personalidade única;
- Puzzles que nos fazem puxar pela cabeça e pensar fora da caixa;
- Apresentação fenomenal e ao nível dos restantes títulos da série;
- Várias opções extra para nos distrair da aventura e dos puzzles.
Do que não gostamos:
- Algumas cinemáticas e puzzles parecem estar fora do lugar;
- Nível de dificuldade mais baixo pode dececionar fãs de longa data;
- Pouca participação por parte dos jogadores na resolução dos vários casos.
Nota: 7/10