Análise – Life of Pixel

 

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Nos dias que correm, com a popularidade crescente do retrogaming, é cada vez mais comum o lançamento de jogos que parecem capitalizar com esta tendência, apelando ao fator nostalgia – tanto acabando por daí resultarem jogos que são verdadeiras homenagens aos títulos de outrora como outros que se servem da simplicidade gráfica e do saudosismo dos jogadores como desculpa para apresentar algo que é feito em três tempos com meia dúzia de pixeis.

Infelizmente, Life of Pixel não sabe bem onde se quer encaixar. Se por um lado, a recriação dos ambientes próprios de diversas consolas ao longo dos anos, tanto graficamente como sonoramente, é irrepreensível e consegue sem dúvida apelar à nostalgia dos jogadores, por outro rapidamente percebemos que apesar das roupinhas diferentes, Life of Pixel nunca foge à mesma fórmula.

Todo o jogo tem uma premissa extremamente simples. Somos um pequeno pixel verde que embarca numa aventura através das diversas eras dos videojogos, desde a ZX81 até à SNES, passando por muitas outras. Os detalhes e as referências a diversos mundos de videojogos famosos são bastantes, se bem que algumas parecem querer martelar-nos na cabeça o que referenciam (Forest of Selda… a sério?), mas é impossível não sentir que Life of Pixel poderia ter sido uma experiência muito mais completa do que aquilo que é.

Habituem-se a estes morcegos. E a estes cristais. Porque vão vê-los muitas vezes.

Habituem-se a estes morcegos. E a estes cristais. Porque vão vê-los muitas vezes.

Cada etapa, representa uma consola, dividida em oito níveis. Nestes o objetivo será sempre o mesmo: apanhar todos os cristais espalhados pelo mapa, para que se abra a porta de saída e evitar os inimigos e outros perigos que rapidamente (e não estou a brincar quando digo que é rapidamente) podem levar a que sejam obrigados a repetir todo o nível. Life of Pixel é fiel à sua inspiração no que toca à dificuldade. A curva de aprendizagem é baixa, mas a dificuldade pode ser imensa. Um salto mal calculado pode levar à morte imediata se tiverem o azar de tocar, por exemplo, em espinhos fatais – que não são poucos.

Apesar do visual simples, não pensem que vão aqui ter uma experiência fácil. Life of Pixel consegue ser imperdoável em alguns dos seus níveis, podendo gerar frustração. Apesar de existir sempre a componente de querer fazer mais e melhor, filosofia que aqui está mais do que implementada com a existência da possibilidade de partilhar os tempos online e assim comparar os nossos resultados com outros jogadores, não existe um objetivo definido para além de ir terminando níveis.

Os níveis e os gráficos são feitos mesmo a contar despertar as memórias dos jogadores.

Os níveis e os gráficos são feitos mesmo a contar despertar as memórias dos jogadores.

Não estamos aqui a seguir grande história, nem é isso que se pretende. Life of Pixel foca-se na experiência e no evocar de memórias, mas acaba por pecar no design dos níveis. Torci o nariz mais vezes do que gostaria de admitir ao ver os mesmos inimigos nível após nível, consola após consola, assim como os mesmos espinhos, entre outras componentes. Não quero com isto dizer que Life of Pixel vive única e somente do copy paste. Existe de facto alguma variação no design, de acordo também com a consola a que se refere, existem itens diferentes que podem ser apanhados e adicionam à variedade da jogabilidade, até como inimigos bosses que vão aparecendo. Mas apesar de conseguir ir variando um pouco e ir mascarando a repetição com alguns detalhes diferentes (quer seja nos inimigos como na própria estrutura e plataformas), na sua essência os níveis resumem-se muito ao mesmo, deixando-me com muito pouca vontade de tentar uma e outra vez os níveis de Life of Pixel.

Após a reação inicial e magia se desvanecer, todo o entusiasmo passou ao perceber que poderia selecionar qualquer uma das consolas a jogar, existindo algumas para desbloquear. Para além do desbloqueio destas etapas, não existe motivação para o jogador continuar, para além de se superar a si mesmo. O jogo não providencia grande recompensa e para além da experiência inicial em que nos perdemos nos visuais e nos efeitos sonoros de outrora, Life of Pixel acaba por não ter muito para oferecer que não seja oferecido mais e melhor por outros jogos.

Opinião final:

Life of Pixel consegue ser algo interessante e que consegue com pouco juntar as experiências e memórias de muitos jogadores que acompanharam a evolução dos videojogos. No entanto, o seu apelo não consegue estender-se para lá da nostalgia que decerto se fará sentir quando pegarem no jogo pela primeira vez. Com uma dificuldade que consegue rivalizar a dos jogos que o inspiram, Life of Pixel poderia ser mais do que o que é. É fácil olhá-lo com óculos cor de rosa e deixar-nos levar pelo recriação das eras dos videojogos que representa mas o que é certo é que dificuldade nunca deveria ser desculpa para um design demasiado simples e repetitivo.

O que gostamos:

  • Recriação da experiência gráfica e sonora de várias consolas até à era da SNES/Genesis.

O que não gostamos:

  • Design repetitivo;
  • Tenta colmatar as falhas no design dos níveis com dificuldade elevada.

Nota: 5,5/10