Lançado originalmente em 2008 para a PSP, LocoRoco 2 foi um dos jogos que mais me marcou enquanto jogador, tendo-lhe dedicado imensas horas da minha vida, na tentativa de completar tudo o que o jogo tinha a oferecer. Foi, por isso, com grande entusiasmo que recebi a notícia de que o jogo estava a caminho da PlayStation 4, agora com visuais melhorados e troféus.
Tirando estas duas componentes, o jogo está exatamente igual a como (por vezes apenas vagamente) me lembrava dele, com a sua música alegre de ficar no ouvido por horas, com os seus cenários e personagens de fazer derreter os corações mesmo dos mais sisudos, com as interações que têm entre si e as situações caricatas em que acabam por se envolver, e muito mais. Toda a diversão que este me proporcionou estava de novo presente, e por isso foi bastante divertido voltar a fazer os Locorocos rebolar, saltar e cantar enquanto limpam a sujidade que os Moja (os vilões do jogo), com a ajuda dos Bui Bui (versões demoníacas dos melhores amigos dos locorocos – os Mui Mui), espalharam pelo mundo.
Tal como explicámos na nossa análise à versão remasterizada do primeiro LocoRoco, a jogabilidade desta série é muito simples. Com os botões L1 e R1 inclinam o mundo de jogo para a esquerda e para a direita, respetivamente, o que faz com que os Locorocos comecem a rebolar nessa direção, já se premirem os dois botões em simultâneo, o Locoroco salta. Ao longo do jogo os Locoroco vão ganhando algumas habilidades, como saltar mais alto em certas secções, ou agarrar em plantas que permitem chegar a áreas antes inacessíveis, no entanto o sistema básico de inclinar e saltar permanece completamente inalterado. O jogo é, portanto, bastante acessível, pelo que qualquer um, seja qual for a sua experiência com videojogos, pode pegar no DualShock 4 e divertir-se a explorar desde os altos e baixos gelados de Shamplin, ao negro e aterrador cenário de domínio dos Moja em Dolangomeri.
Um infeliz lugar comum dos jogos com o nível de acessibilidade de LocoRoco 2 é o de se tornarem demasiado acessíveis para jogadores mais experientes, pois ao garantirem que mesmo os menos habilidosos podem ser bem-sucedidos, tornam-se em passeios no praia para os veteranos no género, neste caso o de plataformas. Contudo, parece-me que LocoRoco 2 consegue evitar bem cair nesse erro. De facto, é bastante fácil acabar a campanha de LocoRoco 2, bastante mesmo. Contudo, o mesmo não se pode dizer de verdadeiramente o completar. Se o jogador ignorar todos os extras que o jogo contém – selos, Mui Mui, minijogos, mapas secretos, desafios extra, casa Mui Mui e até mesmo um verdadeiro final – acabará a sua experiência com LocoRoco 2 num par de horas. Mas se realmente se dedicar a tudo o que jogo oferece, estão garantidas várias horas de diversão. Por enquanto, e ainda bastante longe de completar tudo e aceder ao verdadeiro final do jogo, vou com quase 20 horas de jogo (19.35), e o jogo promete-me talvez outras tantas até o concluir verdadeiramente. Mas o jogo não se torna apenas longo, mas mesmo mais desafiante. Descobrir todos os segredos é já desafiante por si, pois alguns dos mesmos não estão apenas bem escondidos, mas o próprio acesso aos mesmos envolve alguma perícia.
Estes elementos que acabei de referir, por muito distintos que sejam, encontram-se todos interligados. Completar uma certa folha de selos, ou construir algo na casa Mui Mui pode ser exatamente aquilo de que precisavam para receber uma peça de um mapa, que vos permitirá por sua vez, por exemplo desbloquear um novo nível secreto. E isto apenas para dar um exemplo. LocoRoco 2 é o clássico fácil de passar, mas difícil de completar. Não muito difícil, é certo, apenas requer uma dedicação um pouco maior, mas suficiente para nos manter agarrados à procura de todos os extras, que não estão lá apenas por estar, mas que procuramos para desbloquear mais conteúdo interessante.
Toda esta diversão já estava presente no lançamento original, e os quase dez anos que entretanto se passaram não lhe fizeram moça – LocoRoco 2 continua a ser um jogo bastante divertido e uma das melhores experiências deste género no catálogo da PSP, e agora da PS4. Os defeitos que encontrei ao longo destas quase vinte horas de jogo devem-se praticamente apenas à adaptação do jogo para a PlayStation 4, que no geral não faz jus à qualidade do próprio jogo. O único defeito que poderia colocar ao jogo em si, e que se mantém desde o seu lançamento para a PSP, é de que algumas secções tornam-se mais desafiantes, mas num sentido frustrante, não por serem realmente difíceis, mas pelo controlo dos Locorocos. Quando se aproximam de algo com o qual possam interagir (por vezes até apontando para áreas secretas escondidas), os Locorocos começam a tentar dirigir-se de encontro a esse mesmo algo, mesmo contra as nossas ordens, o que pode provocar momentos de frustração, tais como avançarem no nível ficando uma área por explorar, ou não conseguindo limpar alguma sujeira moja, ou apanhar algum item.
Os restantes defeitos devem-se à remasterização para a PS4, e são estes: as cinemáticas e o rácio de fotogramas. Nenhum deles é demasiado incomodativo, mas de um ponto de vista crítico, há que tomar nota dos mesmos. Quanto às cinemáticas, há a lamentar que estas não foram alteradas o mínimo que seja, ficando a imagem horrível numa televisão HD ou 4K. As cinemáticas são raras, até porque muitos dos momentos de avanço na história não recorrem às mesmas e continuam o aspeto fantástico conferido ao resto do jogo, pelo que esta falha não está muito presente. Ainda assim, não se percebe como momentos que, sendo raros, no jogo original representavam momentos de destaque (aliás, é possível voltar a ver as cinemáticas e desbloquear mais umas quantas) acabam por ser os momentos mais baixos da experiência na PlayStation 4.
Já quanto ao framerate, a maneira como referi que era um problema poderá ter causado uma impressão de ser algo de mais grave, contudo não é bem esse o caso. Existe sim uma queda no framerate, mas apenas no minijogo Bui Bui Bwoon, numa secção do minijogo em que existem mais objetos no ecrã e tiros a serem disparados em todas as direções. A queda é acentuada e prolonga-se, não tendo sido ocasional, repetindo-se quando se volta a essa mesma parte do nível. Não é algo que estrague de todo a experiência, quer do jogo no geral, quer do minijogo, no entanto é imperdoável e incompreensível como é que um port de um jogo da PSP pode ter problemas destes, mesmo que mínimos. Que jogos como The Witcher 3 tenham alguns problemas de framerate na PlayStation 4, compreende-se, pois é um jogo bastante pesado e com uma enorme quantidade de conteúdo. Agora… LocoRoco 2? Um jogo que mesmo para os padrões de “complexidade” dos títulos disponíveis para a PSP era bastante simples? Não se compreende nem se pode aceitar.
Em contrapartida, tudo o resto está com muito melhor aspeto, o que, aliado ao espetáculo de cores que é o mundo de Locoroco, vem proporcionar uma experiência visual incrível. Esta versão, como já referido, traz consigo ainda troféus, o que, se como eu, gostarem de colecionar, servirá para descobrirem ainda mais peculiaridades e segredos divertidos no mundo de LocoRoco 2, dando uma motivação extra para que completem o jogo na sua totalidade.
Opinião final:
LocoRoco 2 faz este ano dez anos de vida, no entanto continua tão divertido como quando foi lançado originalmente para a PSP. Agora com suporte para troféus e gráficos melhorados, a sua versão para a PlayStation 4 mantém tudo aquilo que o tornou num excelente jogo do catálogo da primeira consola portátil da Sony: os níveis variados e divertidos; a música contagiante; as explosões de cor constantes; e, principalmente, o tom sempre querido e cheio de vida deste universo. Infelizmente, em alguns pontos a conversão para a PlayStation 4 falha redondamente, o que não pode deixar de ser mencionado e criticado. O tratamento que LocoRoco 2 recebeu para esta versão não acompanha, em raros, mas decisivos momentos, o jogo em termos de qualidade. Esse é o grande motivo da nota que o jogo recebe de nossa parte. Se as considerações feitas não tiverem um grande peso naquilo que procuram num videojogo, e se apesar das mesmas, se focarem – tal como eu – na diversão que o jogo proporciona, sintam-se livres para acrescentar dois pontos à nota final deste que é um dos melhores jogos da PSP.
Do que gostamos:
- Cenários variados, vivos e cheios de cor, que ficam deslumbrantes no grande ecrã;
- Personagens carismáticas de um grande humor e que se envolvem em situações caricatas;
- Bem adaptado a jogadores de vários níveis de experiência;
- Muito a explorar, mesmo após os créditos “finais”;
- Vários minijogos, que variam a experiência e controlo de jogo;
- Troféus oferecem uma motivação extra para explorar tudo o que o jogo tem a oferecer.
Do que não gostamos:
- Pontuais momentos frustrantes devido aos controlos;
- Cinemáticas não foram alteradas;
- Problemas de framerate no minijogo Bui Bui Bwoon.
Nota: 7,5/10