Análise – Middle-Earth: Shadow of Mordor

Da Monolith Productions chega-nos um título retirado de um dos universos mais influentes do mundo da fantasia. Decorrendo no mundo criado por J.R.R.TolkienO Senhor dos Anéis, Middle-Earth: Shadow of Mordor vem fazer a primeira aparência do universo no mundo dos videojogos de há já algum tempo (e a primeira decente desde os jogos para a PS2 e, discutivelmente, Lord of the Rings Online).

Middle-earth-Shadow-of-Mordor-Logo-Wallpaper

Passa-se entre os eventos de O Hobbit, e O Senhor dos Anéis, em Mordor, como nos diz o título do jogo, e os eventos começam durante o re-aparecimento de Sauron na Terra Média, pondo Talion, um ranger de Gondor e a personagem principal, a ser sacrificado juntamente com a sua família num ritual que resulta na junção (acidental) de Talion com o wraith do elfo Celebrimbor, o melhor ferreiro da Segunda Idade e quem forjou os Anéis do Poder. Talion e o elfo fazem então a sua missão quebrar o feitiço que os une, para que possam ambos voltar para o seu “descanso”.

Para a sorte de Talion, ainda que ter a sua morte interrompida seja provavelmente algo não muito agradável, esta ligação confere-lhe algumas habilidades que se irão provar insubstituíveis. Habilidades como velocidade élfica, um modo “wraith”, onde são destacados os inimigos e onde podemos também abrandar o tempo para que, com a ajuda de Celebrimbor, possamos alinhar tiros certeiros do arco do elfo, entre outras compõe neste jogo um combate que lembra as séries Assassin’s Creed e Batman, onde o botão esquerdo do rato ataca e o direito bloqueia (se clicarmos quando aparecem os prompts), e a tecla de espaço nos faz saltar para o lado ou por cima do inimigo. Para além do combate directo com a sua espada e o de longe com o arco, Talion tem à sua disposição uma adaga (que é na realidade uma espada partida) que utiliza para assassinar Uruks a partir de stealth – uma mecânica que novamente evidencia as semelhanças entre Shadow of Mordor e Assassin’s Creed, em que o jogador pode trepar virtualmente todas as paredes do mundo aberto que é Mordor, tanto para infiltrar fortalezas dos Orcs, assassinando-os sem ser detectado, como para lhes fugir quando os planos correm mal. E ainda que a expressão open-world nos faça pensar em títulos como Elder Scrolls V: Skyrim, em Shadow of Mordor estamos confinados a duas zonas de Mordor, que levam, cada uma, no máximo 10 minutos a percorrer de uma ponta à outra, correndo e trepando em linha recta. Estes mapas estão povoados por ruinas antigas e fortalezas Uruk que, recheadas de inimigos provam ser um local indesejável para se ser detectado. No entanto, Talion e Celebrimbor com os seus esforços combinados fazem com que quase todas as outras áreas do jogo se tornem quase triviais.

shadow-of-mordor

Talion, juntamente com Celebrimbor, tornam-se numa máquina de matar capás de enfrentar hordas de Uruks e sair impune.

Mas não é só no combate que os poderes wraith se mostram úteis. Eles permitem também a Talion aceder (e mais tarde controlar) a mente de todos os inimigos do exército de Sauron para saber forças e fraquezas dos seus súbditos. E é aqui que Shadow of Mordor inova e realmente brilha. O Nemesis System cria um elemento que aprofunda o gameplay do jogo, mostrando-nos uma lista de pouco mais de uma dúzia de capitães Orcs, todos eles gerados aleatoriamente e mais 6 Warchiefs, também eles sempre diferentes. Mas, quando digo aleatório, não falo em inimigos ao acaso (ainda que às vezes assim o pareça), mas sim Capitães e Warchiefs que são um resultado directo das acções de Talion – sempre que um Orc mata Talion, este poderá ser promovido a capitão, e, caso este seja já um capitão, aumentará de poder, ganhando novas forças e fraquezas, e podendo até mesmo ser promovido para Warchief. E preparem-se, porque eles vão certificar-se que não se esquecem dos encontros passados, referindo como nos mataram, ou como os deixamos para morrer queimados (juntamente com umas cicatrizes que o provam) – o que, pelos vistos, é motivo para promoções! Estes capitães e Warchiefs têm também os seus próprios humores e feitios, que chocam regularmente, resultando em missões secundárias onde nos é dada a oportunidade de influenciar duelos, invadir sessões de recrutamento ou aparecer de surpresa para um festim. Desbloqueada a habilidade de controlar as mentes dos Orcs, podem imaginar a quantidade de portas que nos são abertas. Subitamente estamos a ajudar Capitães a ganharem duelos que nós próprios mandamos organizar, ou a trair Warchiefs de quem nós próprios mandamos ser guarda-costas.

Isto cria uma experiência quase única para cada jogador, quando nos vemos a morrer pela 3ª vez de seguida para o mesmo capitão, e subitamente ele tem armas com veneno e é imune aos ataques do arco, aquele “boss” que em outros jogos é apenas alguém que os eventos do jogo ali puseram, aqui é um inimigo que foi criado pelos nossos próprios erros, tornando-se então muito mais pessoal.

1280x720-qgw

Todas as batalhas contra capitães e Warchiefs são marcadas por eventos passados.

Infelizmente, apesar de toda esta “customização” nos inimigos, a customização do nosso próprio personagem fica um bocado para trás, e não nos é possível alterar as roupas de Talion sem bónus de pre-order ou DLC. Há alguma customização nas runas que podemos colocar em cada uma das suas três armas. Runas essas que substituem o loot, caindo sempre que derrotamos um capitão ou Warchief, têm variadíssimos efeitos, e, pelo que me pareceu, são influenciadas por como matamos o adversário (uma morte de stealth irá provavelmente resultar numa runa para a adaga). Há também três tipos de desafios que podemos fazer, um para cada arma, e onde somos recompensados com um recurso que podemos então utilizar para evoluir habilidades passivas como a vida ou o número de setas disponíveis ou para desbloquear mais espaço para runas, até um máximo de 6 por arma. Para além disso, ao ganharmos experiência evoluímos, ganhando ability points que podem ser utilizados para desbloquear novas habilidades, como uma habilidade que ao invés de disparar uma flecha nos teletransporta para o adversário (podendo evolui-la mais tarde para mata-lo no processo), montar Caragors (animais tipo Wargs), execuções quando fazemos hit-streaks, entre outras.

Com cinemáticas que parecem retiradas directamente do grande-ecrã e uma banda sonora à altura, Shadow of Mordor é visualmente impressionante, e, tendo disponível um pack de texturas Ultra, mesmo com tudo ao mínimo o jogo tem um aspecto agradável (e acima de tudo aceitável, não apenas manchas mexendo-se, como se vê em tantos jogos), máquinas mais antigas (como a minha – com 3 anos corre o jogo com tudo ao mínimo, mas com uma estabilidade que há muito não encontrava num videojogo) vão conseguir ter uma experiência agradável, ainda que muito longe daquela presente nos computador com hardware mais recente. No entanto, claro que as versões das consolas não terão que ter preocupações com hardware e estabilidade!

shadow_of_mordor_black_captain

Todos os Capitães e Warchiefs têm forças e fraquesas, que são muitas vezes consequências das interacções deles com Talion.

Middle Earth: Shadow of Mordor é um jogo que irá agradar a todos os fans das criações de Tolkien, com um lore rico e muito interessante para estes, conta também com uma narrativa muito bem contada. No entanto, ainda que tenha novidades como o Nemesis System, que é realmente interessante, o jogo em si, tanto na vertente de combate (que é a grande maioria deste tipo de jogos) como na de customização, fica bastante para trás, com um combate previsível e entediante que se torna repetitivo ao fim de algumas horas, excepto os primeiros 5 minutos de uma nova habilidade. Se a ideia de um Assassin’s Creed: Lord of the Rings vos agrada, ou se são apaixonados pelo universo, este é um bom jogo para adquirir, caso contrário, ficará um pouco de parte por ser algo já antes visto (e muitas vezes).

O que gostamos:

  • Universo de Lord of the Rings;
  • Cinemáticas excelentes;
  • Nemesis System;
  • Narrativa e storytelling excelentes;
  • Gráficos excelentes que tiram proveito do photo-mode;
  • Como em Assassin’s Creed, é divertido trepar paredes e muralhas.

O que não gostamos:

  • Repetitivo ao fim de poucas horas;
  • Fácil na sua grande maioria;
  • Muito pouca customização;
  • Pouco para fazer para além da campanha principal.

Nota: 7,5/10