Como a Capcom não apostava (e não tinha planos de o fazer num futuro próximo) na série Mega Man, o criador da série, Inafune, resolveu começar o seu próprio projeto, levando-o para o Kickstarter, onde facilmente conseguiu o apoio financeiro pretendido, tanto para os planos originais como para lançar o jogo em mais plataformas e acrescentar extras que inicialmente não estavam previstos.
No entanto, um problema recorrente destes pequenos projetos é que muitas vezes se tenta dar um «passo maior do que a perna» e o resultado acaba por ficar abaixo das expectativas. Um dos exemplos recentes é No Man’s Sky, em que muito do que foi prometido pela Hello Games acabou por não corresponder ao que foi apresentado na versão final. Outro dos casos em que a desilusão foi clara é precisamente este projeto de Inafune, Mighty No. 9, cuja versão para a Wii U é aqui analisada.
Partindo de um desentendimento entre Inafune e a Capcom, Mighty No. 9 tenta ser exatamente o que o criador imagina dever ser um Mega Man na atualidade, pelo que tudo neste jogo é idêntico ao que foi sendo apresentado na famosa série da Capcom. Desde o ambiente futurista até ao facto de se poder escolher a ordem dos inimigos, passando por várias parecenças nas mecânicas e entre os protagonistas, tudo neste projeto relembra a clássica série japonesa de aventura, plataformas e shooting numa sociedade superdesenvolvida.
Embora se perceba o culto feito à série da Capcom, pedia-se uma maior diferenciação entre as duas, pois já muitos jogos mostraram, ao longo das sucessivas gerações, como não é preciso imitar/copiar quase todas as características de uma série para se fazer um jogo no mesmo estilo e que tenha a sua própria identidade. Mighty No. 9, infelizmente, não se separa o suficiente e não o tenta omitir, apresentando igualdades descaradas. No meu ponto de vista, o facto de ser Inafune quem está por detrás do mesmo não serve como desculpa.
De entre todas as versões disponíveis, a versão para a Wii U tem sido a mais severamente criticada… e infelizmente aqui não será diferente. Quedas de frame-rate, loading-screens demorados (inclusive em ações simples como ir ao menu de opções) e texturas que ficam (muito) aquém do que a Wii U pode oferecer foram problemas que encontrei constantemente durante a minha experiência com Mighty No. 9, o que revela uma certa falta de preocupação na conceção deste port ou, numa alternativa ainda menos feliz, a chegada de mais um jogo tecnicamente inacabado ao mercado.
Tal como referi na análise a Kick & Fennick, estes problemas podem até a vir ser desculpados no caso de jogos com uma quantidade enorme de conteúdo, como RPGs que oferecem centenas de horas de conteúdo, como Skyrim ou o mais recente No Man’s Sky (que se compreende ainda melhor devido a ter sido criado por uma equipa bastante reduzida). No entanto, em jogos com pouco conteúdo e bastante simples como este, é difícil de imaginar o porquê de tantos problemas técnicos, a não ser uma ambição desmedida ou uma eventual falta de cuidado.
Mas, claro, nem tudo é mau em Mighty No. 9. Não obstante todos estes problemas, a jogabilidade (idêntica em muitos sentidos à de Mega Man) é boa e a mecânica de absorver os inimigos é engraçada e original, resultando especialmente bem quando derrotamos os outros robots Mighty (os bosses do jogo) e ficamos com os seus poderes, de que podemos fazer uso para derrotar os restantes.
Mas… Eu apenas queria ir ao menu de opções por um momento… (Cortesia do canal GamerBlue53)
O modo história, no entanto, é bastante curto, consistindo em 8 níveis nos quais encontram sempre um dos robots Mighty no final. Esta missão é nos dada porque todos os robots foram afetados por um vírus que fez com que começassem a ter comportamentos agressivos e a, desenfreadamente, destruir tudo o que lhes aparecesse à frente. Assim, temos de lutar contra os robots mais fortes que conhecemos para estudar a maneira como o vírus se espalhou.
Embora curto, este modo é bastante desafiante o que é positivo e faz reviver o espírito dos jogos clássicos de plataformas. O problema é que, devido a todos os problemas técnicos relatados, são vários os momentos frustrantes causados pelos loadings demorados ou pelas abruptas quedas de frame-rate.
De maneira a complementar o relativamente curto (mas desafiante) modo história, Mighty No. 9 apresenta vários desafios que, embora divertidos no início, acabam por se tornar repetitivos, levando a que rapidamente percamos o interesse. E se já durante o modo história é preciso ter força de vontade e ignorar certos problemas flagrantes para poder aproveitar o que de bom este jogo tem a oferecer, o que dizer quando este se torna repetitivo e não temos qualquer objetivo ulterior.
Opinião Final:
Mighty No.9 é, em suma, uma deceção, a todos os níveis e a prova de que nem todos os projetos bem sucedidos no Kickstarter acabam por ser bons jogos, não obstante a credibilidade dos seus responsáveis. Com vários problemas técnicos, como quedas abruptas e claramente visíveis no rácio de fotogramas por segundo, tempos de loading excessivos e gráficos muito aquém do que seria esperado de um jogo para a Wii U, torna-se impossível recomendar este jogo. É, portanto, com pena que verificamos que esta alternativa à série Mega Man falhou redondamente em cumprir com os seus objetivos.
Do que gostamos:
- Jogabilidade divertida e com alguns elementos originais;
- Desafios extra que complementam o modo história;
- Feeling dos jogos clássicos de plataformas, nomeadamente Mega Man.
Do que não gostamos:
- Quedas de frame-rate notáveis;
- Tempos de loading massacrantes;
- Gráficos muito abaixo ao que a Wii U pode oferecer;
- Modo de história bastante curto;
- Momentos frustrantes causados pelos problemas técnicos e level-design;
- Desafios acabam por se tornar repetitivos;
- Cópia de muitos pormenores de Mega Man.
Nota: 4.5/10