Análise – Momodora: Reverie Under the Moonlight

Jogos no estilo Metroidvania e estúdios independentes são como praia e férias de verão, combinam perfeitamente. Essa sinergia já trouxe diversos jogos de grande qualidade nos últimos anos e Momodora vem mostrar que também merece um lugar nessa lista.

O jogo da Bombservice e Playism foi lançado em março de 2016 para PC e chegou recentemente à PlayStation 4 (plataforma cuja versão foi analisada) e Xbox One. Reverie Under the Moonlight é a estreia da franquia, que começou em 2010 e que já conta com três outros jogos, nas consolas, mas não é motivos para preocupação, este jogo funciona como uma prequela, não sendo necessário qualquer conhecimento prévio por parte do jogador, sendo esta uma excelente introdução a este universo para novos jogadores.

Neste jogo seguimos a jornada da sacerdotisa Kaho, que tem como objetivo acabar com uma maldição que dominou a sua vila em Lun e todo o Reino de Karst. De maneira a cumprir os seus objetivos, parte em busca de uma audiência com a rainha, sendo esse o pontapé de saída para todas as suas peripécias.

A estrutura de jogo de Momodora: Reverie Under the Moonlight é muito similar aos clássicos do estilo metroidvania, tendo como principal inspiração Castlevania: Symphony of the Night. É um jogo de ação 2D que traz uma combinação equilibrada entre combates intensos e uma boa dose de exploração, com diversos itens escondidos pelos locais mais improváveis no cenário.

Sinos espalhados por todo o mapa servem como checkpoints e recuperam a utilização de itens de recuperação de vida, elementos que o jogo claramente foi buscar aos estus flasks de Dark Souls. Na verdade, os fãs da série da From Software podem preparar a carteira e o coração pois se existe um jogo no qual vão se vão em casa é este. A Bombservice utiliza o mesmo modelo de narrativa, em que diálogos e descrições de itens constroem todo o lore do jogo, sem a necessidade de cutscenes. Talvez isso seja algo que vá afastar alguns jogadores, mas mesmo aqueles que não estão tão acostumados a este estilo de narrativa devem pelo menos dar uma oportunidade ao jogo, pois muitos dos mistérios são revelados de maneira um pouco mais clara no final da jornada.

Outro elemento que vai fazer os fãs de Dark Souls sentirem-se em casa é a dificuldade, e essa começa já pela principal arma da protagonista: a sacerdotisa Kaho utiliza uma folha de Acer (Bordo) especial como espada para atacar os inimigos. Também faz uso de arco e algumas magias que os jogadores irão conseguindo um pouco mais adiante na jornada. Por não utilizar um escudo, esquivar dos ataques será um recurso determinante durante todo o jogo, sendo inclusive um elemento essencial para derrotar alguns inimigos.

Como um bom jogo que tem como inspiração aquele que é considerado o melhor jogo da franquia Castlevania e Dark Souls, as lutas contra os bosses são um dos grandes destaques de Momodora: Reverie Under the Moonlight. Todas vão exigir do jogador muita destreza e atenção aos detalhes, pois, todos eles possuem alguma fraqueza e possuem um moveset único que, quando bem explorado, pode ser o grande fator decisivo para a vitória.

Mas se pensam que apenas os bosses vão exigir atenção e habilidade, não poderiam estar mais enganados. Mesmo os inimigos comuns podem matar Kaho com poucos golpes, e isto na dificuldade normal. Isto se deve principalmente à fragilidade da protagonista, algo que é muito bem explorado durante toda a história. Pela falta de diversidade de armas, alguns jogadores podem considerar o combate do jogo demasiado simples, já que não vão ter uma grande diversidade de ataques, mas isso pode facilmente ser superado pelas diferentes situações que o jogador irá enfrentar durante todo a jornada, com inimigos a exigir diferentes maneiras de lidar com eles.

Quanto ao mapa do jogo, as regiões do Reino de Karst intersetam-se na sua maior parte, algo que os jogadores vão com certeza poder aproveitar de diversas maneiras, incluindo ao descobrirem atalhos ou encontrarem diferentes caminhos para uma mesma área que já tinham visitado anteriormente. Assim, este jogo recupera um fator muito característico dos jogos desse estilo, em que o jogador irá constantemente voltar a locais que já visitou, descobrindo neles novos segredos, assim como muitos outros nunca antes vistos.

Uma das características de Momodora: Reverie Under the Moonlight que deve ser destacada vai justamente de encontro a isto. O jogo apresenta uma progressão não linear, apesar de não se tratar de um jogo de mundo aberto. A progressão no jogo tem como base um avançar por regiões, em que irão avançar por caminhos que nem sempre se irão revelar os mais corretos, e isso será claramente demonstrado ao estilo clássico, com algum obstáculo que apenas poderá ser ultrapassado com determinada habilidade (que ainda não têm), pelo que passa a ser necessário procurar por rotas alternativas para progredir.

Em relação à ambientação do jogo, apesar de inicialmente a protagonista se localizar num cenário cheio de cores e extremamente alegre, rapidamente Momodora: Reverie Under the Moonlight mostra que na verdade possui uma narrativa escura e sinistra. À medida que o jogador avança pelo Reino de Karst percebe bem o quanto este reino foi corrompido pela maldição.

Momodora: Reverie Under the Moonlight inclusive merece um grande destaque na área de direção artística, com locais comuns de jogos ao estilo Metroidvania, como cidades abandonadas, catacumbas, castelos em que foi dada uma atenção incrível aos detalhes… entre outros cenários, o que torna cada exploração única.

O estilo pixelart dá ao jogo uma característica bem diferenciada, e atribui uma identidade própria a todo o universo de Momodora. De facto, embora a animação de Kaho e dos seus inimigos seja bastante simples, está de tal modo executada que fará os jogadores apaixonados por este estilo quererem parar por alguns minutos só para apreciar.

A banda sonora do jogo é algo com que novamente os fãs da franquia Souls se vão identificar rapidamente, algo até peculiar de se mencionar, já que é justamente na quase ausência de sons que ambos se conectam. Apenas os inimigos e a interação com os cenários vão quebrar o silêncio, algo que acaba por ajudar a complementar toda esta ambientação sombria.

Algo que merece com toda a certeza uma menção é o facto de o jogo estar totalmente traduzido para português (felizmente ou infelizmente, vai depender da pessoa, é português brasileiro). Todos os textos, itens, menu principal e elementos escritos estão em português e é uma tradução que merece longos aplausos, já que ao contrário doutros jogos independentes, esta não possui quaisquer erros ortográficos.

Isto só se tornou possível devido a um dos desenvolvedores de Momodora ser o estudante de 22 anos, Guilherme “rdein” Martins, que não apenas trabalha na Bombservice como diretor e game designer, como é também o responsável por toda a série Momodora.

Infelizmente, um dos pontos negativos deste jogo (e para mim o pior) é a sua longevidade, já que em menos de 8 horas é possível terminar a campanha, mesmo explorando os cenários a fundo. Mas, mesmo sendo uma experiência curta, é bem longa em diversão, sendo este um jogo quase que obrigatório para todos os fãs deste estilo.

Opinião final:

Momodora: Reverie Under the Moonlight é um jogo indie que facilmente pode ser confundido com uma franquia de um grande estúdio, já que tem uma jogabilidade que não deixa a desejar a um metroidvania em nada. A adicionar a esta incrível jogabilidade, os cenários que são simplesmente de fazer brilhar os olhos e a narrativa está incrível, apesar de talvez difícil para quem não está acostumado a uma história contada por outros meios que não as cutscenes. Todos estes aspetos positivos fazem do jogo uma grande experiência que, infelizmente, termina rapidamente, deixando claramente os jogadores a querer explorar mais e mais do universo de Momodora. Se é fã do género, se gosta da franquia Souls e procura um jogo indie que lhe oferece excelentes horas de diversão, não precisa de procurar mais, Momodora: Reverie Under the Moonlight é o jogo.

Do que gostamos:

  • Narrativa de grande qualidade;
  • Um jogo desafiante sem cair em exageros;
  • Progressão não-linear;
  • Exploração do estilo metroidvania na sua essência;
  • Cenários de grande qualidade técnica.

Do que não gostamos:

  • Demasiado curto;
  • Estilo de narrativa pode ser um obstáculo para alguns jogadores;
  • Movimentação limitada pela pouca diversidade de armas.

Nota: 9/10