Custa a crer que Monster Hunter, uma franquia tipicamente japonesa, na qual caçamos monstros selvagens, já possui mais de uma década de existência. O anúncio da E3 feito pela Capcom, na conferência de imprensa da PlayStation, certamente surpreendeu grande parte dos observadores da indústria, com a promessa de que o próximo Monster Hunter seria literalmente um “mundo”. Passado cerca de meio ano e após uma open beta, podemos com toda a certeza dizer que foram dados passos definitivos para a evolução da série, alguns em virtude da ultrapassagem de limitações técnicas das plataformas nas quais os anteriores títulos estavam disponíveis, outros através do abandono voluntário de algumas mecânicas.
Mas antes de explorarmos aquilo que é a evolução da franquia, olhemos para o contexto histórico daquele que é o mais recente episódio da série. Neste, somos lançados para um esforço migratório ao estilo dos descobrimentos, em que os habitantes do Old World ou Velho Mundo, lançaram enormes expedições marítimas para o New World, de modo a descobrir a razão pela qual os Elder Dragons – os monstros antagonistas principais da série – visitam o Novo Mundo uma vez em cada década. Desta vez a monstruosidade antagonista é Zorah Magdaros, um ser gigante feito de pedra e lava, muito ao estilo de um vulcão, e que por onde quer que ele passe consegue influenciar os outros monstros, tornando-os violentos e perigosos. Para a finalidade de estudar o porquê do aparecimento de Zorah Madgaros e a razão da sua travessia para o Novo Mundo, a Fifth Fleet, ou 5.ª Armada, faz essa mesma travessia para se juntar e apoiar o esforço exploratório de investigação dos mistérios desse novo mundo. Pelo caminho, somos ajudados pela nossa Handler, a agente que faz a ligação entre o Comando expedicionário e as diferentes armadas, o nosso palico – um felino bem fofo – e o Líder da equipa de campo, tudo aliados na nossa missão de explorar este novo mundo.
A acessibilidade de novos jogadores à série, que tem tanto de fascinante como de complexo, foi uma prioridade para os responsáveis da nova edição de Monster Hunter. Após uma reavaliação das bases da franquia com vista naquilo que deveria ser o seu futuro, chegou-se à conclusão que era necessário quebrar com alguns elementos que estagnavam a jogabilidade da mesma. A principal novidade é a quebra no sistema de zonas. Embora o mundo continue separado por diferentes regiões com diferente terreno e clima, cada uma destas é agora a sua própria sandbox – um mundo aberto, em que podemos ir livremente de um lugar para o outro sem a necessidade de mudar de “zona”. Sim, é verdade, já não é possível fugir de um monstro para outra zona, aproveitando a mudança de ecrã para curar as nossas feridas. Todavia, tudo isto resulta num mundo com um feeling bastante mais coeso e vivo, em que os monstros se movem entre os diferentes lugares conforme lhes apetece, ou, como costuma ser o caso, para fugir dos jogadores quando se sentem feridos, sem nunca quebrar o ritmo de jogo que se impõe durante uma caçada.
Outra das grandes novidades é a possibilidade de gerir os aspetos secundários da aventura muito mais facilmente: a obtenção de itens, plantas e outros recursos é agora bastante facilitada pela utilização de Scoutflies, um tipo de pirilampo que nos indica em que sentido se encontra o que desejamos encontrar, ao estilo GPS – basta para isso marcar no mapa os itens que queremos recolher; o crafting de poções mais fortes e outros recursos pode ser agora feito automaticamente, por exemplo se tivermos uma green potion e mel no inventário, o jogo vai automaticamente fazer uma mega green potion; já não é preciso ter picaretas individuais ou até mesmo canas de pescas para poder minar os veios de minério ou pescar, esses itens já estão na posse da nossa personagem e podem ser utilizados de forma ilimitada, uma influência dos MMO’s, sem dúvida. Estas pequenas alterações fazem com que o jogo se torne mais fácil de pegar pela primeira vez, tornando alguns processos cuja execução requeria uma certa preparação – e o tempo exigido para a mesma – num procedimento mais acessível. É tudo feito em nome do progresso, portanto, e a nosso ver a franquia sai mais forte em razão disso.
Da mesma forma que as mecânicas base se atualizam, também o multiplayer recebe aqui bastantes alterações. Regra geral, estamos sempre ligados online a um lobby de 16 jogadores, sendo que podemos ir em aventuras com 4 desses jogadores. O multiplayer não é obrigatório, mas é bastante claro que o jogo foi definitivamente desenhado tendo em vista essa componente. Por exemplo, sendo possível outros jogadores entrar na nossa quest sempre que utilizamos um S.O.S. Flare para pedir ajuda, pois pode aparecer um monstro para o qual não estamos preparados para lidar sozinhos!
No jogo principal, embora a história do mesmo se vá desenrolando através de Quests principais que nos são atribuídas, é possível fazer quests opcionais que nos dão mais recursos ou buffs, através dos quais podemos temporariamente melhorar a nossa personagem. Existem também os Bounties, um tipo de missões secundárias que podem ir desde recolher um certo número de recursos, até caçar vários espécimes de uma criatura. Este tipo de missões secundárias podem ir sendo feitas à medida que vamos progredindo nas Quests, até porque, como as bounties não estão dependentes das quests, é possível continuarmos a progredir nos nossos objetivos entre quests diferentes. Por fim, temos também as Investigations, que adaptam o que seria uma caçada normal a algo bastante diferente. Nestas, o objetivo é estudar os monstros, e embora muitas vezes este estudo passe por combater com estes, o progresso nestas é importante para desbloquear recompensas importantes a nível de equipamento.
Falando no equipamento, tal como nos outros Monster Hunter, o equipamento utilizado pela nossa personagem é feito com base nas partes dos monstros que caçamos, sendo que à medida que vamos caçado monstros mais fortes, mais forte também se vai tornando o nosso equipamento – existindo aqui, portanto, um certo elemento de crafting envolvido, apenas somos mais fortes quanto as bestas que vamos abatendo. O mesmo se aplica ao nosso Palico, o gatinho adorável que nos acompanha nas nossas missões. Este consegue combater, curar-nos e recolher itens bastante úteis, tornando-se por isso importante que nos certifiquemos de que ele está bem equipado para as caçadas! A jogabilidade aqui é rainha e senhora, pelo que temos acesso a 14 tipos de armas diferentes – espada samurai hurray!! – cada uma criada para satisfazer os vários gostos a nível dos combates!
Em momento nenhum do jogo nos sentimos presos ao que temos de fazer, uma vez que é sempre possível dedicarmo-nos mais a certos aspetos por forma a tornar outros mais fáceis. É um sistema de progressão bastante agradável, pois somos recompensados pela nossa dedicação às diferentes facetas do jogo.
No prato principal do jogo estão as caçadas aos monstros! Cada monstro tem o seu próprio comportamento, pelo que é necessário estudar muito bem a forma como este se mexe e combate, as suas características especiais e as suas fraquezas. É importante estarmos bem preparados, se bem que nem tudo nos prepara para algumas surpresas que podem surgir a meio dos combates, tal como um monstro bastante mais forte nos interromper a meio de uma caçada e atacar a nossa presa! Há que saber utilizar esses elementos imprevisíveis em nossa vantagem, pelo que também esse elemento reforça a ideia de que estamos perante um mundo cheio de vida e de perigos! Da mesma forma, o terreno em que nos encontramos pode possuir várias vantagens para os combates, sendo por exemplo possível criar armadilhas tóxicas e até mesmo inundações, de modo a dificultar a vida às monstruosidades com que estamos a combater.
Graficamente, o destaque vai exatamente para esse mundo e para a fauna que o habita. Os detalhes na vegetação e em pequenas coisas como o comportamento da água ou até mesmo as plumas de algumas criaturas relembram-nos que estamos a jogar um Monster Hunter da nova geração. Por sua vez, o detalhe dado à cidade, que é constituída por uma amalgama de navios, criando uma verdadeira selva de tábuas de madeira e outras estruturas feitas pelo homem, é simplesmente espantoso, pelo que as vezes é relaxante simplesmente estar na cantina a comer as delícias preparadas pelos chefs palico, que fazem sempre uma festa cada vez que se trata de preparar as refeições!
Aqui fica a nossa video-análise a Monster Hunter World que inclui também gameplay do jogo.
No departamento do áudio, a música acompanha o jogo com peças grandiosas que fazem correr o sangue nas veias! Embora largamente inspirada nos outros títulos da franquia, o acompanhamento sonoro é simplesmente fabuloso, pelo que a apresentação sairia bastante mais fraca sem este.
Opinião final:
Monster Hunter World é um passo na direção certa! Neste caso, um passo destemido num novo mundo cheio de magia e excitação! O abandono de algumas mecânicas é um sacrifício aceitável e até compreendido, pois impõe-se um paradigma de abertura naquilo que continua a ser um jogo bastante metódico e complexo. Não temos medo que estas alterações afastem os veteranos da série, muito pelo contrário, esperamos que a abertura a este novo mundo faça com os veteranos e os iniciantes deem as mãos naquilo que é sem dúvida o melhor Monster Hunter de sempre!
Do que gostamos:
- Monster Hunter World acaba com o sistema de zonas, um elemento clássico e antiquado da franquia;
- Mundo irradia vida e aventura! Estamos pasmados com o realismo da fauna e da natureza em nosso redor!
- Gameplay está melhor que nunca, pelo que é agora mais prático partir em Quests de modo a caçar monstros, obter recursos ou até mesmo apenas explorar o território!
- Possibilidade de transformar uma aventura a solo numa demanda multiplayer, chamando outros jogadores para nos ajudar!
Do que não gostamos:
- Não temos nada a apontar!
Nota: 10/10