Os primeiros 10 minutos de Ori and The Blind Forest são, provavelmente (e se formos de personalidade mais sentimental) dos mais difíceis e profundamente belos de se assistir. É uma perfeita mistura melancólica de um conto sem palavras por parte de duas personagens com afecto notóriamente mútuo e puro. De uma inocência de entreajuda e convivência que poucos conseguem transmitir em jogos. É difícil, não ficar emocionado com o começo deste jogo. É de um impacte brutal e de tal maneira atordoante que no meu ver tornou-se uma das melhores apresentações de sempre. O restante do jogo… corresponderá a este emocionante e elegante começo?
Ori and The Blind Forest mantém, de facto, toda a sua elegância inicial transmitindo-a desde logo para o controle da nossa personagem: Ori, um espírito da floresta que na sua aventura irá tentar descobrir as suas raízes e o seu papel no universo onde se encontra. Trata-se de uma espécie de símio luminoso que controlamos neste belo jogo 2D estruturado com muitas semelhanças aos míticos Metroid ou Castlevania, no qual só conseguiremos progredir para novas áreas após desbloquearmos novas habilidades. Á medida que estas habilidades são desbloqueadas, também o prazer de atravessar este mundo aumenta consideravelmente. Especialmente quando aprendemos a subir ou saltar em paredes ou dar o duplo salto e mesmo onde subtis movimentos e precisão são necessárias onde o jogo corresponde fantasticamente.
Mais tarde desbloqueamos habilidades essenciais tais como utilizar os próprios projécteis dos inimigos para “saltar deles” ou mesmo atirar-se num salto enorme que pode ser disferido do chão ou de paredes. E digo essenciais porque na maior parte das vezes os inimigos são incansáveis e com ataques variados que, sem habilidades dessas seria muito mais complicado, do que já é, progredir. Os inimigos muitas vezes também são algo imprevisíveis apesar de ser possível estudar o padrão dos seus ataques, isto porque alguns disferem ataques que propagam-se em várias direções e muitos até ainda permanecem “colados” no chão ou parede durante alguns segundos.
Devido à natureza quase aleatória dos ataques dos inimigos e outros perigos presentes ao longo do jogo o nível de dificuldade é acima do normal e desafia os nossos reflexos especialmente em fases mais avançadas. Felizmente o controle de Ori é maravilhoso, suave e muito preciso. Algumas das mais frustrantes fases contam com o percorrer de um nível em forma de escape onde o mais pequeno erro leva eventualmente à morte e à necessidade de refazer tudo de novo. Nestas fases não é possível gravar o progresso por isso alguns dos momentos mais frustrantes dos jogos são justamente estas fases. A sensação de as conquistar é verdadeiramente fantástica. Nas zonas, digamos, normais é possível gravar o jogo a qualquer altura utilizando células de energia, uma forma genial de apaziguar os níveis de frustração. Temos de as gerir, porém, pois não temos sempre essas células disponíveis a qualquer momento.
Estas escapatória caóticas e frenéticas são complementados na perfeição com momentos de calma e realização de paz. Todos aqueles momentos de quase morte certa são recompensados com Ori a ser apresentado com um novo desenvolvimento da narrativa acompanhados pelo excelente trabalho de voz seja do narrador principal como do pequeno companheiro de viajem que nos guia até ao nosso objetivo final. Muitas foram as vezes em que dei por mim a admirar os visuais excelentemente cuidados e com enorme profundidade. Outras tantas foram as vezes que dei uso à nova funcionalidade da Xbox One de poder gravar imagens, tal assoberbado com a beleza do jogo eu estava. A variedade de cenários conta com os normais níveis aquáticos, de lava, vento etc. No entanto a Moon Studios mesmo tendo pegado um pouco no tema de elementos da natureza (também, fazia todo o sentido) conseguiu conferir brilhantemente uma ambientação mágica desde o primeiro vislumbrar do imenso colorido do jogo até ao seu mais que emocionante final.
É efetivamente como se de um conto de fadas tratasse com cada zona nova, cada salto, cada árvore ou inimigo que ultrapassamos, os efeitos de luz, a água, os planos de fundo, as animações e a atenção ao mais ínfimo detalhe a contribuirem para um dos jogos 2D mais visualmente impactantes dos últimos tempos, quiçá de sempre. Foi com muita pena minha que ao terminar o jogo e tentar entrar novamente no ficheiro de jogo gravado verifiquei que não podia. Por isso, quando estiverem perto do final façam um favor a vós próprios e gravem o jogo.
E que bela fábula estaria completa sem uma banda sonora digna da arte conseguida em Ori? Só o tema inicial é um prenúncio do restante do jogo com tons clássicos e voz quase angelical. A banda sonora, pelo compositor britânico Gareth Coker, é outro elemento do jogo que induz também a sensação de magia e de algo especial. Os momentos alegres são acompanhados por flautas e notas mais agudas e em alturas de maior tensão é possível “sentir” ainda mais através da música muito “pesada” com os rufares de tambores e os violinos como se a apressarem-nos e a criar um ambiente de urgência fantástico.
O progresso e todos os elementos do jogo estão tão bem em união que, no final do jogo nos apercebemos que o desejo de o terminar era tão grande porém o de o jogo nunca acabar é maior ainda. É notório o trabalho de amor aplicado pela Moon Studios durante os 4 anos do seu desenvolvimento. Trabalho esse inspirado, é certo, por jogos clássicos no entanto é notório o respeito pelos mesmos e, como já disse, pela genialidade da disposição dos níveis. Nota-se claramente todo o cuidado empregue a todos os níveis mantendo aquela jogabillidade clássica mas injectando pormenores deliciosos e raramente vistos em outros do género.
Opinião final:
Ori and The Blind Forest é uma montanha-russa emocionante e emocional desde o menu inicial até aos últimos créditos terem desaparecido do ecrã. É uma obra-prima desta nova geração e automaticamente, e discutivelmente, um marco na história dos videojogos. A Moon Studios consegue aqui um soberbo produto do que foi, claramente, um trabalho de amor. Trata-se, de um dos melhores exclusivos da consola da Microsoft, mas que também pode ser jogado nos PC. A “quase” perfeição técnica é notória através de toda a aventura e é uma ode à arte de bem se fazer jogos. Muito melhor que muitos jogos chamados “AAA” e um preço pedido que impõe o apelido de “imperdoável” a todos os que deixem passar esta obra-prima.
O que gostamos:
- Visuais soberbos;
- Banda sonora inesquecível;
- História emocionante;
- Jogabilidade irrepreensível.
O que não gostamos:
- Não propriamente negativo mas… o nível de dificuldade pode frustrar alguns;
Nota: 9,5/10