No final de setembro fomos convidados pela Nintendo a estar presentes para a apresentação de Quest of Dungeons, um jogo português do género rogue-like criado por David Amador que, após ter sido lançado para outras plataformas, iria chegar na semana seguinte em simultâneo à Nintendo 3DS e Wii U.
Segundo o próprio produtor do jogo, quando lhe perguntavam qual a versão que deveriam comprar, este ficava indeciso e dizia mesmo «ambas», pelo que também o jogo foi disponibilizado em forma cross-buy, isto é, caso comprem uma das versões, ficam também com a outra.
Antes de me dirigir à sede da Nintendo, pesquisei um pouco sobre o jogo e fiquei a saber que já tinha sido lançado para outras plataformas e que tinha sido bastante bem-recebido, tanto por parte da crítica como por parte dos jogadores, que comentavam de maneira quase exclusivamente positiva sobre o mesmo.
Assim, foi com uma boa impressão que parti para o evento, impressão essa que se viria a confirmar tanto pelos breves minutos que aí dediquei à experiência, como (e especialmente) pelas horas que joguei mais tarde na minha Nintendo 3DS.
Quest of Dungeons não é especialmente inovador no género, pelo que não traz grandes novidades em relação ao típico jogo rogue-like, apresentando 5 classes distintas, um sistema de geração de masmorras (que garante que uma nova aventura seja sempre diferente das anteriores) e ainda a característica de, se morrerem, terem de voltar a fazer tudo desde o início, perdendo-se todo o progresso até ao momento.
Um dos melhores argumentos que as consolas portáteis apresentam é poder levar a experiência de jogo para todo o lado. No entanto, como os jogos estão cada vez mais complexos, por vezes estes não são os mais adequados para se jogar fora de casa, principalmente durante viagens mais curtas. Mas, felizmente, jogos como Quest of Dungeons conseguem, não se tornando demasiado simplistas, oferecer uma experiência portátil de excelência, proporcionando experiências divertidas tanto durante um curto período de tempo de 10 minutos como durante um intervalo mais alargado de, por exemplo, 1 hora e meia ou 2 horas.
No início do jogo aparece-nos um acampamento em que as personagens representativas de 4 classes estão reunidas e escolhem (baseando-se na nossa escolha) uma delas para se aventurar sozinha (não voluntariamente) na masmorra, sempre com um bom sentido de humor que, aliás, está presente em todo o jogo. É impossível não rir quando um boss aparece a gritar «Sonic BOOOM» para nos assustar.
Cada uma das classes tem as suas habilidades únicas. O Assassino lança flechas a uma grande distância (basta os inimigos aparecerem no vosso ecrã), o Feiticeiro faz uso das suas diversas magias, enquanto que a Necrodancer (sim, a personagem anda a dançar pela masmorra) e o Guerreiro aparecem como os personagens melee do jogo. Por último, mas não menos importante, há o Xamã, que mistura combate corpo-a-corpo com ataques a longa-distância.
Embora existam diferenças entre cada uma das classes, que visam balancear o nível de dificuldade, como dar menos vida ao Rogue ou ao Mage, ao jogar fiquei, mesmo assim, com a sensação de que existia um certo desequilíbrio entre elas, nomeadamente entre as personagens de high-range (com as quais é mais fácil passar o jogo) e as melee (com as quais o jogo se torna mais difícil explorar até ao fim as masmorras).
Com uma destas classes vamos, então, explorar o sinistro espaço gerado previamente de forma aleatória e descendo cada vez mais, deparando-nos com vários inimigos caricatos e que estão sempre dispostos a nos desafiar. À medida que nela nos vamos aventurando, vamos ganhando uma série de itens, desde equipamentos (que em regra vão ficando melhores, mas nada o garante) como botas e armas até comida e bebida, que nos fazem aumentar o nível da barra de vida, passando por itens que apenas servem para serem vendidos (em pontos específicos) e livros de magia que nos dão novos e úteis poderes, embora muito facilmente esquecidos.
Para além de todos estes itens, vamos também encontrando bosses (em que com alguns teremos de ter muita cautela) e inimigos mais poderosos – que nos são indicados por missões que vamos recebendo ao longo da masmorra (e que também podem ser do tipo «encontra o item X na parte Y do mapa»).
À medida que vamos avançando na masmorra, Quest of Dungeons vai-nos apresentando obstáculos cada vez mais difíceis de superar… ou assim o esperávamos. A verdade é que, se se dedicarem a explorar a fundo cada um dos pisos, (geralmente) os inimigos que irão encontrar no seguinte serão facilmente derrotados, sem grandes dificuldades.
O problema é que é nas missões (opcionais) já referidas que se encontram os problemas e poderá acontecer que tudo esteja a ser bastante fácil e, de um momento para o outro, em dois turnos morre-se de forma inesperada. devido a um poderosíssimo inimigo de uma missão secundária. Assim, o jogo começa com um nível de dificuldade médio-alto que vai diminuindo (ao contrário do que seria de esperar) à medida que se segue em relação às profundezas da masmorra, tirando momentos de picos de dificuldade.
Eis, pois, o segundo ponto negativo que aponto a este jogo: o facto de não apresentar um aumento gradual na dificuldade, mas sim o contrário com situações momentâneas de aumento inesperado e que nos apanham completamente de surpresa e que frustram justamente pelo facto de se ter de começar tudo de novo. Para colmatar este problema (embora não completamente, longe disso) existe uma opção no ecrã inicial que nos permite escolher o nível de dificuldade, pelo que este jogo da Upfall Studios (estúdio de uma só pessoa: David Amador) recebe tanto jogadores casuais como os mais acérrimos.
Quanto ao ambiente, o jogo porta-se bastante bem, apresentando, ao mesmo tempo, situações caricatas e inimigos divertidos e uma atmosfera sombria e de solidão temerária que, embora possam parecer anti climáticos, resultam e ajudam a tornar Quest of Dungeons numa experiência sólida e que vale a pena ser repetida.
O estilo de jogo é excelente, tratando-se de um jogo por turnos que, devido às suas características, permitem que o jogador possa jogar de uma maneira pausada, como um jogo por turnos tradicional, ou de uma maneira mais fluida, como se fosse um jogo de aventura tradicional. Claro que isto não implica que um jogador tenha de permanecer fiel ao mesmo estilo de jogo de início ao fim. Pode (e deve) facilmente mudar entre as duas maneiras de jogar consoante a sua vontade.
Após se passar esta primeira masmorra, é nos apresentada a opção de explorar uma outra ou então de escolhermos como queremos jogar Quest of Dungeons, através do modo Custom, em que podemos (de entre opções pré-estabelecidas) escolher quantos níveis deverá ter a masmorra, entre outros pormenores interessantes e que farão – aliados ao sistema de geração já referido – com que a experiência seja sempre diferente cada vez que se aventurem na masmorra.
Opinião final:
Quest of Dungeons representa exatamente aquilo que se procura numa experiência portátil, e não poderia ter encaixado melhor num sistema como a Nintendo 3DS. Simples de controlar, mas nem por isso simplista, contendo elementos de RPG que prometem deliciar os fãs mais dedicados, e divertido tanto em sessões mais curtas de poucos minutos como em mais longas de mais de 1 hora, este é um jogo que certamente vos irá divertir tanto fora como dentro de casa, seja qual for a versão.
Infelizmente, tem dois pontos que não podem ser deixados de lado, a saber: falta de equilíbrio entre as classes e uma dificuldade que não desafia mas que, em certos momentos, pode frustrar. No entanto, para colmatar estas falhas existem vários pontos positivos como a banda sonora que acompanha o ambiente sombrio das masmorras, o sentido de humor sempre presente, o estilo de jogo viciante, entre outros.
Do que gostamos:
- Jogo por turnos que permite vários estilos de jogo;
- Bom sentido de humor;
- Banda sonora e ambiente complementares e bem-adequados;
- Ótimo para experiências de curta e longa-duração.
Do que não gostamos:
- Falta de equilíbrio entre as classes;
- Falta de continuidade e aumento do nível de dificuldade.
Nota: 8,5/10
Quest of Dungeons já está disponível através da Nintendo eShop por 6.99 euros e , embora as imagens estejam em inglês, o jogo encontra-se totalmente em português.
Nota: Esta mesma versão do jogo encontra-se em preparações para ser lançada no mercado japonês, tendo marcado presença no Tokyo Game Show 2016, pelo que desejamos boa sorte ao David Amador e a todos os que estão a trabalhar neste lançamento.