Análise – Shadow Puppeteer

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Shadow Puppeteer, uma das mais recentes adições à Nintendo eShop da Wii U, é um jogo com um tema e apresentação negros que conta a história de um rapaz que, devido a um homem misterioso – o Shadow Pupeteer (que faz lembrar bastante o personagem Guru-Guru de The Legend of Zelda) –, se separa da sua sombra. Este vilão desconhecido, com a sua caixa de música, tenta roubar todas as sombras das pessoas do pequeno vilarejo onde mora o rapaz, tendo apenas faltado uma – a do protagonista – devido à sua máquina sofrer uma avaria de última hora.

Após esta sucessão de eventos, o menino e a sua sombra partem à procura do Shadow Puppeteer, com vista a recuperar a paz na pequena aldeia e a se reunirem de novo. Como poderão imaginar, neste jogo controlamos então tanto o rapaz como a sua sombra, sendo estes dois considerados personagens distintos.

Ao longo da aventura vamos sendo acompanhados por várias cutscenes, em que, sem quaisquer palavras ou diálogos, é nos dado conta do enredo do jogo, que, diga-se, não é nem muito original nem muito entusiasmante, lembrando pequenas histórias de terror que se contam em noites de campismo ou Halloween. Embora o modelo de não apresentar nenhuma fala seja interessante, o facto de o enredo ser pouco original e simples, aliado a certos problemas de compressão do formato do vídeo, fazem com que este perca um pouco da sua magia.

Ei-lo, o grande vilão, o Shadow Puppeteer.

Ei-lo, o grande vilão, o Shadow Puppeteer.

É com base na distinção entre rapaz e sombra que Shadow Puppeteer esconde o núcleo de todo o jogo, que se vai manifestando de várias formas. Neste jogo de plataformas controlamos o rapaz no mundo real, em 3D, com uma câmara fixa de lado (e que por vezes dá aso a algumas imprecisões em termos de profundidade) enquanto controlamos a sua sombra num plano de duas dimensões situado nas paredes em que as sombras dos objetos estão projetadas.

Deste conceito de controlar a ação através de duas perspetivas muito distintas, resultam várias mecânicas, que vão constituindo os puzzles de todo o jogo. Pode ocorrer, por exemplo, que tenhamos que movimentar, com o rapaz uma caixa ou baixar uma corda para que as projeções desses objetos ajudem a nossa sombra a alcançar lugares mais altos. De igual modo poderão ainda pegar em objetos com a sombra e que servirão para movimentar o objeto real no mundo 3D, permitindo que o rapaz o utilize de forma a ultrapassarem os obstáculos.

Ao longo dos níveis vão ainda aparecendo gemas (tanto no plano das sombras como no mundo real) que servem aqui o propósito de colecionáveis e que apresentam ao jogador um maior desafio, quer de coordenação (que é explicada numa fase posterior desta análise) quer de estratégia, uma vez que estão situadas em sítios mais difíceis de aceder.

A alternância entre sombra e rapaz leva a níveis muito distintos para ambos.

A alternância entre sombra e rapaz leva a níveis muito distintos para ambos.

Assim, a ação vai-se desenrolando através de pequenos níveis repletos destes simples puzzles, que acabam por nunca se tornar demasiado desafiantes, em que temos de chegar com a sombra e o rapaz à meta. Muito devido ao facto de os puzzles pedirem por cooperação entre estes dois e ainda devido ao facto de que estes não se poderem afastar muito (uma vez que caso o fizerem, perdemos e voltamos ao último checkpoint), devemos ter em atenção a coordenação de movimentos entres ambos.

O maior problema de Shadow Puppeteer reside precisamente aqui, na coordenação necessária entre o menino e a sua sombra. Na esmagadora maioria das situações, o jogo tem um ritmo lento, em que podemos controlar sem qualquer problema a ação descontraidamente, ora movimentando a sombra, ora movimentando o rapaz. No entanto, a Snow Cannon Games quis levar o jogo a um outro nível e em certos pontos, como por exemplo no encontro com bosses, temos de ser bastante rápidos se queremos conseguir escapar das suas garras, o que, escusado será dizer, não correu bem.

Um simples toque numa fonte de luz leva a grandes alterações no mundo das sombras.

Um simples toque numa fonte de luz leva a grandes alterações no mundo das sombras.

O sistema de controlos de Shadow Puppeteer é relativamente simples: com o analógico direito e esquerdo controlamos o rapaz e a sua sombra; os botões L e R correspondem aos botões de ação, que servem para interagirmos com os vários objetos presentes nos cenários; e com os botões ZR e ZL saltamos. Embora simples, é comum ocorrerem enganos, por exemplo, ao escolhermos com qual personagem queremos saltar ou andar, levando a que tenhamos que pensar um pouco no botão a utilizar. Ora, transportando esta dificuldade para estes momentos de maior velocidade, torna-se recorrente controlarmos o personagem errado num momento crucial, o que resulta, num elevado número de vezes, na nossa morte.

Shadow Puppeteer, nestas ocasiões, não perdoa e, pegando no exemplo dos bosses, voltamos com um simples erro ao início de toda a batalha, pelo que estes se tornam frustrantes (e até entediantes), não por serem difíceis de abater, mas devido a esta dificuldade de controlar os movimentos de ambos os personagens em simultâneo. Este jogo revela-se, portanto, fácil nas partes (que constituem a maioria do jogo) em que temos de resolver puzzles relativamente simples, e difícil (num mau sentido) nas partes em que nos coloca desafios que implicam coordenação. Há, por isso, uma má gestão da dificuldade do jogo, o que leva tanto a uma sensação de «isto afinal até é fácil» como a uma exclamação do género: «Não me digam que tenho de passar isto tudo de novo», quando os checkpoints (embora em boa medida) estão mal posicionados.

Descer uma colina a alta velocidade enquanto controlamos a sombra e o rapaz não costuma resultar muito bem.

Descer uma colina a alta velocidade a controlar a sombra e o rapaz não resulta muito bem.

Existe, no entanto, um modo cooperativo em que estes problemas são muito mais facilmente ultrapassados uma vez que o esforço de coordenação entre os movimentos do rapaz e da sua sombra deixa de existir, podendo os dois jogadores comunicar e decidir como ultrapassar os puzzles.

Para finalizar há ainda que referir que, embora proporcione esta panóplia de sensações, Shadow Puppeteer é um jogo curto, muito curto, mesmo para os 15€ pedidos na Nintendo eShop, tendo apenas uma durabilidade de 2 ou 3 horas, ou pouco mais, dando apenas para uma tarde, uma vez que não existem motivos para repetir a campanha e não existem modos adicionais.

«Porque é que a minha sombra não me está a imitar?»

Quase o ouvimos dizer: «Porque é que a minha sombra não me está a imitar?»

Opinião final:

Depois de ter saído para o PC já em 2014, Shadow Puppeteer chega agora no início de 2016 à loja digital da Wii U. Com ele vêm ainda problemas técnicos como a compressão do vídeo durante as cinemáticas ou algumas quedas de frame-rate, mas onde o jogo sofre mais é em algumas más decisões quer a nível de controlos quer a nível de design, que acabam por tirar algum mérito a outros pontos bem desenvolvidos. Assim, Shadow Puppeteer, infelizmente, não consegue ser mais que uma boa forma de entretenimento para uma tarde com um amigo.

O que gostamos:

  • Apresentação consistente;
  • Relação entre mundo das sombras e mundo real;
  • Puzzles divertidos, embora relativamente fáceis;
  • Modo cooperativo.

O que não gostamos:

  • Sistema de dois personagens por vezes não funciona como pretendido;
  • Certos problemas técnicos;
  • Curta duração.

Nota: 6,5/10