Análise – Shadow Warrior 2

A espera para os jogadores das consolas finalmente terminou, após sete meses desde o lançamento para PC, Shadow Warrior 2 finalmente foi lançado para PlayStation 4 e Xbox One, e traz doses generosas de violência, sangue, humor negro e um protagonista que definitivamente parece o Deadpool, se este tivesse nascido num país asiático.

Quem jogou o reboot de 2013, com certeza se lembra que a história tinha início com Lo Wang, um assassino que trabalhava para uma poderosa indústria japonesa liderada por Orochi Zilla, a ser enviado numa missão para comprar uma antiga katana de um colecionador. Mas como nada poderia ser assim tão fácil, a transação não corre nada bem e tem aí início a relação nada normal de Lo Wang e Hoji, um espírito demoníaco que estava pronto a ceder uma parte do seu poder ao protagonista para que esse recuperasse a espada Nobitsura Kage.

Shadow Warrior 2 tem início cinco anos após os eventos do primeiro jogo, e novamente o protagonista não está sozinho. Ao seu lado tem a jovem Kamiko, que foi utilizada em experiências pela já conhecida Zilla Enterprises, com o seu corpo passando a ser dominado por demónios. Para então salvar a alma da “pobre” jovem, é iniciado um ritual que a transfere para o corpo de Wang, que agora terá de conviver com essa modesta e sempre simpática jovem… definitivamente de simpática nem mesmo a alma, mas também há que lembrar que estamos a falar de Lo Wang, uma pessoa que com certeza não será nada fácil de se estar no corpo.

Este sem dúvida será um dos pontos altos da história, já que claramente nem Kamiko, nem o próprio Lo Wang estão felizes de partilharem um mesmo corpo, então podem esperar diálogos sempre com grande humor e inúmeras situações únicas durante o gameplay.

Porém, ao contrário de Hoji, Kamiko não tem realmente uma grande importância na história do jogo, servindo mais como um motivo adicional para a história fluir. Shadow Warrior 2 tem uma estrutura muito diferente da do primeiro jogo, quase como se fosse um outro jogo dentro do mesmo universo, partilhando apenas alguns elementos característicos.

O reboot de 2013 trouxe aos jogadores uma experiência muito tradicional, um jogo com uma história linear e com uma grande variedade de armas, gameplay intenso, bosses desafiadores e muito sangue e membros a voarem por todos os lados. Já Shadow Warrior 2 ainda mantém esta quantidade generosa de armas, mas agora as opções são ainda maiores, continua como uma movimentação sempre rápida e uma grande variedade de habilidades, mas deixou para traz a linearidade e tornou-se quase um jogo de RPG.

Agora os jogadores vão ter a sua área segura que se conecta a vários locais no mundo, onde haverão NPCs que serão responsáveis por atribuir missões, aos quais poderão comprar armas e munições e até receber missões de caça com recompensas sempre únicas. Ao contrário de outros jogos, as missões secundárias em Shadow Warrior 2 não estão ali só para prolongar o gameplay, mas são realmente importantes e sempre vão oferecer recompensas que vos vão ajudar em muito no decorrer do jogo.

Além disso, o jogo traz algumas boas dezenas de loots e baús espalhados por todos os lados e, ao contrário do primeiro jogo, em que tal significava mais e mais munições, dinheiro e itens de cura, em Shadow Warrior 2 eles trazem também runas e podem preparar para uma quantidade indescritível de runas. Essas podem ser colocadas nas armas para melhorar os atributos e até adicionar elementos e efeitos aos ataques.

Há que reservar um espaço especial justamente para falar das armas. Se no primeiro jogo já era uma experiência única experimentar em quantos pedaços era possível fatiar um inimigo antes dele morrer, em Shadow Warrior 2 ter uma arma em mãos é quase como beber um belo sumo numa esplanada durante as férias com a família (eu poderia optar por dizer aquilo que o Lo Wang diria, mas temos crianças por aqui, então é melhor não). Cada arma tem um peso e física próprios, o que torna a experiência de desmembrar e explodir crânios sempre gloriosa. Além disso, cada uma possui a sua própria função especial, seja abrir espaço naquelas situações em que estamos cercados, execução rápida e limpa, desmembramento estratégico, simplesmente ver sangue a voar ou…

Façam uso da vossa criatividade e pensem qual poderá ser o uso dessa arma.

Outra novidade desta sequela são os cenários procedurais, ou seja, locais onde o jogador será colocado e não possui exatamente um fim, com objetivos que vão fazer o protagonista andar de um lado para o outro no mapa enquanto enfrenta, fatia, explode e incinera hordas de inimigos que surgem de todos os lados, sendo que este tipo de local será mais comum nas missões secundárias e de caça.

Talvez seja nos cenários que apareça um dos pontos mais negativos do jogo, não diria que é suficiente para estragar a experiência, mas algumas vezes pode deixar o jogador um pouco frustrado. Ao inicio tudo será uma grande novidade neste nível, porém, à medida que forem avançando na história, as missões vão voltar a levá-los novamente para um mesmo cenário uma, duas, três ou até quatro vezes, e isto não está reservado à missões secundarias, mas também acontecerá durante as missões principais. No entanto, como foi dito, não é suficiente para prejudicar por completo a experiência, apesar de tornar o jogo um bocado repetitivo.

Para finalizar a secção de novidades, o jogo agora traz agora um modo co-op online em que até quatro jogadores se podem reunir e jogar a campanha inteira juntos. Um dos fatores interessantes disto é que todos eles, na visão do próprio jogador, serão o protagonista, porém para o amigo ao lado serão ninjas aleatórios.

Um bom Shadow Warrior também se faz de inimigos, e talvez este seja o ponto menos interessante do jogo. Os inimigos no jogo, especialmente os robôs, têm uma inteligência artificial muito fraca. Em determinados momentos uma simples caixa ou estar atrás de uma porta é suficiente para eles ignorarem o protagonista por completo. Porém, isto é rapidamente compensado pelos demónios., animais e outros inimigos que têm um comportamento extremamente feroz e utilizam o seu número como um dos fatores fundamentais para tornar a vida de Lo Wang um inferno (literalmente!!). Enquanto jogava para a análise, não faltaram momentos em que eles se uniram em investidas contra o protagonista, optaram por um comportamento mais defensivo ou atacaram em banda com uma ferocidade assustadora.

A nível visual, Shadow Warrior 2 volta a não dececionar: os cenários possuem um grande riqueza de detalhes e cores, e em que alguns são até exageradamente coloridos e iluminados, sendo uma experiência única a primeira vez que o jogador chega a um cenário da Zilla Enterprises, já que este é dominado pelo neon, que confere aos locais uma iluminação fora do comum. Mas o jogo não é totalmente futurista, pelo que também haverão florestas e templos antigos, com cenários abertos e até alguns locais mais fechados como cavernas.

A nível de banda sonora, o jogo continua a merecer aplausos, com músicas instrumentais que se adaptam a cada momento do jogo. Quanto mais frenético for o combate, mais rápida é a música, enquanto que em momentos de exploração, a música traz uma aparente calma, com especial destaque para a que foi especialmente feita para Shadow Warrior 2 pelo cantor Stan Bush, que não apenas é uma homenagem com todas as honras merecidas aos anos 80, mas que também está destinada a um momento muito especial no jogo. Intitulada Warrior, ela não é a única musica do cantor no jogo, que também inclui a icónica “The Touch”, “Never Surrender” e um remix de “The Touch”, mas com certeza Warrior merece um grande destaque.

 

Lo Wang também contribui muito para a parte áudio do jogo, mantendo-se sempre como uma gatling gun de piadas sexuais e humor negro característicos.

Shadow Warrior 2 também traz consigo muitas referências, algumas bem visíveis e fáceis de perceber, enquanto que para entender algumas das outras será necessário um pouco mais de conhecimento doutras obras e até um pouco mais de idade (podem esperar muitas referências sexuais). Mas talvez a referência mais especial esteja destinada aos coelhos, que no primeiro jogo já reservavam um desafio considerável a quem os tentava matar e nesse trazem uma clara referência a The Witcher 3: Wild Hunt…obviamente que não vamos estragar a surpresa.

Opinião final:

Shadow Warrior 2 muito provavelmente irá dividir opiniões. Por um lado haverão os jogadores saudosistas que vão considerar o jogo um “monstro de Frankenstein” já que trouxe muitas novidades quase como se a Flying Wild Hog tivesse tentado inserir a maior quantidade e diversidade de conteúdos possíveis. Já outros vão apreciar cada momento, já que essas adições funcionam perfeitamente para prolongar a experiência, além de permitirem experimentar um pouco de tudo, até realmente “criarem” o vosso Lo Wang ideal a nível de armas e habilidades, mostrando como de facto as mecânicas de RPG tiveram um grande destaque neste jogo.

Shadow Warrior 2 deixou um pouco para trás o hack and slash e trouxe aos jogadores uma experiência mais parecida com um RPG de ação ao estilo Borderlands, com uma grande variedade de loots com várias raridades e habilidades especificas, além, é claro, de uma grande variedade de armas, desde as mais realistas às mais insanas que possam imaginar ou nunca sequer sonharam.

Do que gostamos:

  • Grande variedade de armas, runas e habilidades;
  • O jogo dá a possibilidade de praticamente “criarmos” um Lo Wang que melhor se adapta ao nosso estilo de jogo;
  • Cenários com grande qualidade gráfica e variedade de conteúdos;
  • Banda sonora espetacular, com destaque para uma grande homenagem aos anos 80;
  • Protagonista sempre pronto a quebrar o clima com humor negro e momentos que vão dar até ao próprio jogador uma certa vergonha de o estar a controlar.

Do que não gostamos:

  • Cenários por vezes repetitivos;
  • Inteligência artificial de alguns inimigos extremamente fraca;
  • Falta de um conteúdo exclusivo para as consolas, para compensar os sete meses de espera.

Nota: 9/10