Análise – Steamworld Heist

Confesso que quando peguei em Steamworld Dig não estava à espera de muito. E ainda bem que assim foi, porque tive a oportunidade de ser agradavelmente surpreendida por um jogo cuja simplicidade estava a seu favor, tornando-o uma experiência viciante. A direcção artística também ajudou, com o aspecto steampunk a dominar o design. Robots humanizados eram as personagens e obter água era indispensável para manter o nosso monte de sucata a funcionar a vapor.

Se gostaram tanto de Steamworld Dig como eu e se querem mais, não tenham medo de pegar em Steamworld Heist. É certo que esteticamente estamos a falar de algo muito similar. O ambiente de western steampunk mantem-se aqui, mas em vez de irem brincar às minas, juntem-se à Capitã Piper e aos seus piratas espaciais. É impossível não nos lembrarmos de algo como Firefly, ao viajarmos na nossa nave de estação em estação, recrutando personagens ecléticas cuja personalidade transparece pelos seus parafusos e porcas.

Em termos de jogabilidade, já não se pode dizer o mesmo. Steamworld Heist troca as picaretas pelas armas e o que aqui temos é um jogo onde a estratégia por turnos impera. Após umas quantas sessões viciantes em Dig, é normal que achem que em Heist as coisas sejam mais pausadas e relaxadas. Se é mesmo isso que acham, não poderiam estar mais errados. A grande variedade de personagens em Heist significa que existe grande variedade nas habilidades de cada um, que apenas são potenciadas pelas variadas armas e itens que podem ir apanhando. Junta-se a isto níveis cuja disposição é gerada aleatoriamente e temos sempre experiências novas em que somos obrigados a tomar decisões rápidas e assumir estratégias que garantam a sobrevivência da nossa equipa.

Um ricochete bem dado é das maiores satisfações que podem ter em Steamworld Heist.

No início de cada missão, podem e devem escolher a dificuldade. Com um maior risco vêm maiores recompensas e podem sempre baixar o nível de dificuldade se acharem que é muita areia para o vosso camião. Podem ainda escolher as personagens que vos vão acompanhar, assim como o respectivo equipamento. Dependendo das missões, poderão escolher três ou quatro personagens ou apenas uma. Tenham apenas em atenção que os pontos de experiência que ganharem apenas se irão aplicar às personagens que escolheram levar convosco… isto se as mesmas sobreviverem. Como num bom jogo de xadrez, cada uma das vossas personagens pode avançar um determinado número de passos. Caso prefiram apenas “andar”, poderão ainda ter uma segunda jogada em que podem disparar. Caso prefiram “correr” e avançar um maior número de passos, esgotam a vossa jogada. Obviamente que podem-se estar a lixar para isto tudo e simplesmente começarem a disparar.

E antes que comecem a disparar à Rambo, mantenham o foco na estratégia. Sejam armas com miras laser, canhões ou simplesmente revólveres, tenham sempre em conta o ambiente que vos envolve. Devem usar e abusar dos perigos do cenário, quer sejam barris que explodem ou superfícies que fazem com que as balas façam ricochete. É certo que este último ponto é muito mais facilitado com miras laser, mas mesmo sem este pequeno auxílio, é uma enorme satisfação quando conseguimos um bom tiro que em tudo parecia improvável. Com o comando da WiiU podem não só ver o mapa, assim como as vossas personagens, permitindo que façam a gestão necessária para levar a vossa missão avante. Caso assim o prefiram, podem jogar apenas no ecrã do comando. Mas garanto-vos que é muito mais divertido observar todos os detalhes num ecrã maior.

Não contem só com raia miúda, vão-se deparar com robots bem grandes e que só vos querem destruir.

A história de Heist é do mais básico possível (já em Dig assim era) mas é mais do que suficiente para providenciar um fio condutor às missões que vão ultrapassando. No entanto tenho de confessar que gostaria de ter uma narrativa mais trabalhada, neste mundo que tanto detalhe interessante tem para oferecer. Infelizmente, este é um ponto que acaba por prejudicar a vontade de voltar a jogar Heist. É certo que os cenários das missões são gerados aleatoriamente, mas sem uma narrativa forte, após terminarmos o jogo acabamos por apenas querer repetir as missões no sentido de querer completar tudo ao máximo. Pegando na questão da geração aleatória, posso desde já afirmar que este é um ponto que apesar de adicionar variedade, acaba por ser um pouco uma maneira de “atirar areia para os olhos”. Mas deixem-me explicar.

A jogabilidade no seu cerne não altera e no que toca a itens, os mesmos podem variar mas nunca serão o foco da variedade das missões. O que varia é a localização dos inimigos assim como o layout do cenário, que irá obrigar a que a estratégia do jogador mude. Ainda assim, houve alturas em que senti que estava sempre a fazer o mesmo, principalmente quando estava a repetir missões antigas para adquirir mais experiência. Felizmente, é algo que não é tão notório numa primeira experiência de jogo – que não é nada pequeno. Podem aqui contar com facilmente 10 a 12 horas. Finalmente, tendo que dar destaque à banda sonora. Para além de temas instrumentais que se adaptam a toda a estética do mundo de Steamworld que nem uma luva, temos ainda temas da banda Steam Powered Giraffe, que deram aqui uma perninha e cujas músicas podem ouvir quando visitarem um dos bares. É daqueles pequenos detalhes que faz toda a diferença e que consegue surpreender e arrancar um sorriso quando nos deparamos com eles.

Steamworld Dig era um jogo fantástico e Heist pega no tema estabelecido e expande-o, criando um jogo totalmente diferente do seu predecessor. O combate por turnos é viciante e o charme de Steamworld é inegável. Façam um favor a vocês mesmos e aproveitem as promoções de Natal da eShop. Garanto-vos que vale todos os cêntimos.

Opinião final:

Tenham jogado ou não Steamworld Dig, devem dar uma oportunidade a Steamworld Heist. Com uma estética steampunk e uma jogabilidade que apela ao estratega em cada um, mantendo-se ainda assim altamente viciante, é daqueles títulos que pode mas não deve passar despercebido.

Do que gostamos:

  • Jogabilidade renovada face ao título anterior;
  • Personagens variadas e com diferentes habilidades;
  • Estética steampunk;
  • Banda sonora.

Do que não gostamos:

  • Missões podem dar a sensação de serem repetitivas… mas apenas após muitas sessões de jogo e re-jogo.

Nota: 9/10