Análise – Sunset Overdrive

sunset-overdrive-facebook

Como começar a escrever uma análise a este jogo? Hum… que tal uma breve história sobre alguns factos do mesmo? Ok, vamos a isso! Ao terminar Resistance 3 a Insomniac Games começou logo a pensar em ideias para o seu novo jogo. O projeto visionava influencias do comic Tank Girl, the “I am Legend” e da série televisiva The Young Ones. A ideia inicial acabou por gerar pouco interesse por isso foi pedido aos programadores que apresentassem algo de forma jogável. Dentro de uma semana apresentaram um jogo de fluidez e ação rápidas com o mote de “os dias do fim ao estilo rock and roll” o qual gerou alguma confusão na equipa. Depois da luz verde a Insomniac apresentou o jogo a várias distribuidoras sendo a condição principal a de reter os direitos de detenção da marca o que causou muitas delas por desistir da distribuição. Foi a Microsoft quem acabou por aceitar os termos da Insomniac após uma apresentação de Bill Murray a imitar como seria o jogo estando de pé numa cadeira.

O jogo, pelas palavras de Ted Price da Insomiac, reflete a irreverência e estilização da empresa comparando o seu humor com o de Spyro e Ratchet & Clank. O estilo é impulsionado pelo tema de “liberdade e auto-expressão” da estória do jogo e honra alguns saudosos jogos da SEGA tais como Crazy Taxi e Jet Set Radio. Sunset Overdrive foi finalmente apresentado na conferência E3 de 2013 da Microsoft com um trailer explosivo e como exclusivo Xbox One gerando, também, desde então uma onda de interesse ascendente além de alguma controvérsia, não esquecendo o facto de que a Insomniac Games sempre foi até à data um estúdio maioritariamente com jogos para os sistemas da Sony. Terá sido esta uma boa aposta por parte da Insomniac e pela Microsoft? De que estás à espera? Lê o resto desta análise!

sunset_overdrive_review_train_shocker

Uma das fantásticas armas em ação

Comecemos então pela apresentação do mote do jogo. 2027, Sunset City. Uma bebida energética contaminada transformou a população em mutantes tóxicos chamados de OD. Bem, para muitos isto significa o fim do mundo mas para nós, o nosso personagem, um sonho tornado realidade. Com o chefe morto e o velho e horrível emprego perdido somos de repente confrontados com um parque de diversões de mundo aberto onde podemos fazer grind, saltar e correr paredes pela cidade toda ao mesmo tempo que dispomos de um arsenal devastador e nada convencional. Somos desde muito cedo ajudados por Walter que nos apresenta a base de operações e Floyd (entre outras personagens) que nos vão ajudar a juntar o necessário para fugir desta cidade bloqueada pela maléfica Fizzco – inventora de Overcharge, a tal bebida energética que te dá tudo menos energia.

Desde cedo é notório o “dedo” da Insomiac no jogo. A apresentação inicial e a maneira como somos introduzidos no jogo trata-se de algo nada mais nada menos genial e o humor, que está presente durante o jogo todo do principio ao fim recorda-nos que o estúdio é realmente único e continua em boa forma ao longo destes anos. É curioso que, ao descrever o jogo de “mundo aberto e com possibilidade de usar poderes e fazermos “tudo o que bem entendermos” vem logo à baila nomes sonantes como GTA, Watch Dogs, Saints Row, etc. Por isso é natural termos uma certa dúvida sobre Sunset Overdrive, se realmente poderá trazer algo de novo neste género com concorrentes de “peso”. Na minha honesta opinião a resposta é SIM. A forma como foi elaborado, a cidade toda construída com o pensamento nos movimentos e habilidades do jogador e toda a genialidade que o jogo apresenta posso dizer que estamos perante uma pérola. Sem querer levantar muito a ponta do véu posso dizer que certas, não, muitas “barreiras” presentes na maioria dos jogos são aqui quebradas e não sendo no design da cidade ou nas habilidades ou armamento à nossa disposição, é na forma como é-nos apresentado na sua totalidade.

sunset_overdrive_review_chaos_squad

A caminho de mais destruição

Sunset Overdrive quebra muitas vezes a barreira do comodismo e das regras básicas e atira-nos constantemente toques de genialidade tais como gozar com o próprio jogo ou apresentação dos vídeos de Sunset TV já conhecidos pelos fãs em placares espalhados pela cidade. Não foram poucas as vezes que me deparei de boca aberta ou com um sorriso quase constante devido ao seu humor genial. Poderá dizer-se que algumas missões podem parecer algo repetitivas no entanto foram raras as ocasiões que fiquei com essa sensação pois o jogo tem sempre algo de novo e fresco que nos faz surpreender. E o facto de ainda autocriticar-se por vezes quando isso acontece é de louvar e uma prova de como a produção do jogo foi feita com amor.

A cidade de Sunset é vibrante e tão colorida que nem nos lembramos que o jogo tem uma resolução de “apenas” 900p, e a fluidez com que nos movimentamos e tratamos de despachar tudo o que é mutante faz-nos acreditar que os 30 frames por segundos ainda são mais que suficientes se estivermos perante um estúdio competente. Sejamos sinceros, apesar de um visual soberbo não é o melhor jogo de sempre graficamente porém a sua apresentação visual é fantástica e extremamente agradável e, como poderei dizer, super convidativa. É um mundo apelativo que nos compele a estar dentro dele e a querer explorar cada vez mais. Muitos dos efeitos especiais estão espantosos e, uma vez mais, alguns contribuem para a tal surpresa e inconformismo perante os shooters tradicionais pós-apocalípticos. Um desses exemplos é o facto de algumas das explosões das armas “acontecerem” ao estilo de banda desenhada  sendo frequente ver “POP” quando um inimigo explode ou “BRRRR!” quando congelamos uma data deles. Genial.

sunset-overdrive-mugger-OD-jpg

Ficamos no chão muito tempo e vamos ter “miminhos”

Sendo um jogo muito “americano” apesar de passado numa cidade fitícia esperava ficar algo desiludido com o desempenho sonoro, por exemplo, ao nível da caracterização das vozes ou da banda sonora. Uma vez mais estava enganado, contamos aqui com uma série de boas prestações a nível vocal muito bem conseguidas contribuindo muito bem para o tom leve e descontraído apesar do apocalipse. O mais curioso é que temos as típicas e muito clichés vozes tais como de um tipo muito “bro”, ou de um afro-americano. Podíamos torcer um pouco o nariz perante isso no entanto sabemos que em parte é um propósito do jogo e uma vez mais a Insomiac está de parabéns. Os diálogos são, na maior parte das vezes, interessantes com constantes sátiras ao estilo de vida atual e ao mundo dos videojogos e não só. Nota um pouco menos positiva vai para a música que mesmo sendo muito boa pode não agradar a todos. A maior parte da banda sonora é provida de músicas muito rock que apesar de encaixar perfeitamente no jogo podem cansar um pouco por serem algo constantes ou semelhantes entre elas.

A ação é quase sempre frenética e o controlo da nossa personagem é muito bom. De início é confuso, sim, o grind, os saltos e afins baralham um pouco porém após algum tempo e depois de “encaixar” a sensação de estarmos um pouco perdidos desapareceu e cedo estamos a saltar e a navegar pela cidade como profissionais. Ao fazermos essas acrobacias e ao mesmo tempo matando inimigos vamos enchendo um medidor de estilo que ao atingir certos níveis “ativa” extras nas nossas armas ou mesmo no nosso personagem dando azo a espetaculares tiroteios e explosões de arregalar a vista. Devido à acção ser tão frenética podemos por vezes nos enganar e cair de lugares ou ficar em situações complicadas. As armas são outro marco típico da Insomniac de tal geniais são. Uma das minhas favoritas é a TNTeddy que lança um ursinho explosivo mas existem outras tantas que nos fazem dizer “uau!” que tendo isso em conta deixarei esse prazer para vocês descobrirem.

sunset_overdrive_review_las_catrinas

Um trio de raparigas “simpáticas” que encontramos

Além do usual modo história podemos, é claro, participar em desafios espalhados pela cidade sendo alguns deles de atravessar certos edifícios em um dado tempo ou outros de estarmos a ser filmados e termos de matar inimigos de várias formas diferentes. De vez em quando somos também presenteados com uma espécie de mini jogo de defesa da nossa base onde também podemos colocar armadilhas variadas, algumas delas hilariantes, para nos ajudar a impedir que os OD cheguem à nossa base. Estas armadilhas também podem ser melhoradas tais como as nossas armas e personagem. Este modo de jogo está também presente no multijogador com o nome de “Night Defense”.

O multijogador permite-nos juntar a 7 pessoas em “Chaos Squad” onde se causa destruição pela cidade cumprindo missões com uma mecânica arriscada. Podemos aumentar o nível de caos da cidade aumentando assim a dificuldade e a possibilidade de recompensas melhores ou então optar por melhorar a equipa num todo sacrificando um pouco as recompensas mas tornando as coisas mais fáceis. Isto porque culmina no tal “Night Defense” onde temos, com os nossos companheiros, de defender a base e aí a dificuldade será imposta pelas nossas ações anteriores. Apesar de muito divertido peca um pouco pela não muita diversidade por isso recomendaria este modo jogado mesmo com amigos. De salientar que a transição entre single e multi é quase “instantânea”, ou seja, não temos de sair do jogo para o menu principal (que nem existe) só temos de entrar em cabinas fotográficas espalhadas pela cidade e aí sim, entrar numa sessão ou criá-la.

Sunset-Overdrive-Is-the-Opposite-of-The-Last-of-Us-Breaks-Fourth-Wall-460911-2

A fazer grind é que vamos conseguir melhores ataques

Poderia estar a falar sobre todas as genialidades presentes no jogo mas sinto que esse prazer deve ser do jogador, do comprador de Sunset Overdrive. Esta é a prova que não é só de “números” que se faz um belo jogo. Alguns poderão até criticar por ser… repetitivo? Sinceramente poucas vezes foram as que me aborreci. As personagens são “queridas”, os bosses são fantásticos, o humor é quase sempre genial e imaginativo muito poucas vezes passando a linha do “abusivo”. Este jogo tem de ser visto pela sua alma e não só pelo seu corpo. No final do dia poderá realmente ser considerado mais um a se juntar ao grupo cada vez maior. Mas este consegue se desviar o suficiente desse grupo para não ser meramente considerado “mais um”. Precisamos de mais jogos destes, “refrescantes” e que nos divirtam genuinamente.

Opinião final:

Sim, é um shooter de terceira pessoa passado num futuro pós-apocalíptico. Sim usamos “poderes” como em muitos outros jogos. Sim tem ruas, tem carros, mutantes infetados, tem pontos de venda de armas e roupas, tem segredos, tem desafios, tem objetos específicos para encontrar para nos ajudar a perceber mais a estória. Mas não, este jogo não segue todas as regras típicas. É um jogo tipicamente atípico. É uma espécia de filme que dizes “ah já vi tantos filmes assim” mas que depois te prende por este ou aquele toque genial que depois te faz querer assistir outra vez. É aquele barzinho que olhas para a montra dos bolos e te parecem todos iguais, mas depois provas e “hummm” notas algo diferente nele. E se diferencia dos outros bares por isso. Isto é Sunset Overdrive e perdoem-me quem não consegui me fazer explicar, a esses só posso dizer: provem-no, dêm-lhe uma chance pelo menos. O jogo merece ao menos isso.

O que gostamos:

  • Visual soberbo e apelativo;
  • Viciante e divertido;
  • O humor, a personalidade do jogo.
  • As “quebras” das regras, o pensar “fora da caixa”

O que não gostamos:

  • Multijogador com poucos modos;
  • Tenho de dizer mais alguma coisa?

 

Nota: 9/10