
O mercado de jogos indie já deixou bem claro para a indústria dos videojogos que não tem qualquer intenção de parar de crescer e obviamente, por ser um mercado mais acessível, um grande número de estúdios surgiram nos últimos anos, alguns com projetos simples, outros, mais complexos. Mas, infelizmente os estúdios portugueses não têm, em regra, conseguido reconhecimento a nível mundial. Até agora, poucos foram os projetos que mostraram que Portugal tem capacidade e é justamente isso que a Camel 101 e a Big Moon Entertainment querem mudar com Syndrome.
Syndrome é um jogo de survival horror que desde os primeiros minutos já mostra que foi buscar inspirações em jogos como System Shock e principalmente Alien Isolation. O jogo tem início com o protagonista a acordar do seu sono criogénico, com a sua memória totalmente distorcida graças aos efeitos desse mesmo sono e a começar a explorar a SPS Valkenburg, uma nave de exploração e pesquisa científica equipada com tecnologia avançada, percebendo rapidamente que algo terrível aconteceu naquele lugar.
Algo importante a se dizer desde já aos jogadores é que Syndrome não é um jogo de jumpscares, tendo optado por seguir um caminho que raramente é utilizado atualmente em jogos de survival horror e que é a construção do medo através do ambiente. A qualquer momento o jogador irá ouvir sons estranhos ao seu redor (é extremamente aconselhado que joguem com phones), caminhar por locais com pouca iluminação e encontrar apenas o resultado de algo que em momento algum poderia ser considerado uma luta, e sim uma caçada, onde muito provavelmente o protagonista será o prato principal.

Outro elemento a que os estúdios recorreram para trazer ao jogador um sentimento de presa é a nível de defesa, apesar do jogo dar opções e armas para se defenderem, caso queiram realmente sobreviver a primeira escolha será sempre fugir, pois munições são muito limitadas e nenhum inimigo irá morrer com a primeira. No início dá-se a falsa sensação de ser possível lutar, mas não se enganem, o predador nunca foi o protagonista. Um exemplo básico disso é que, para matar os inimigos mais comuns dentro do universo do jogo, vão precisar de, pelo menos, quatro disparos, o que, consensualmente, todos os jogadores de survival-horror concordam que é demasiada munição para ser gasta com frequência, principalmente quando essas quatro munições podem ser as únicas que terão durante um tempo considerável de gameplay.
E talvez aqui apareça também o primeiro ponto fraco de Syndrome. Do começo ao fim, o ambiente será sempre aquilo que vai causar mais tensão e medo aos jogadores, isto é, apesar da nave estar infestada de criaturas prontas a matar sem muita dificuldade, senti a falta de um inimigo principal, alguma criatura que estivesse no topo da cadeia alimentar dentro daquele universo. Felizmente, e por isso deixei em aberto esta falha, a variedade nunca será um problema e todos possuem fraquezas que podem ser exploradas, algo sobre o qual, obviamente, não vamos entrar em detalhes para não vos estragarmos a experiência, apenas vale citar que justamente por ser um jogo onde a melhor opção será sempre evitar o combate, é muito importante estarem atentos a essas fraquezas e explorarem-nas ao máximo, tanto para evitar o combate como para escapar dele.
Com base em tudo isso, o jogador tem essencialmente três objetivos no jogo: encontrar informações sobre o que aconteceu naquele lugar; tentar resgatar os últimos sobreviventes ainda humanos; conseguir colocar a SPS Valkenburg novamente em funcionamento e, claro, o principal é sobreviver aos inimigos.
Um ponto positivo a se ressaltar em Syndrome é um pequeno detalhe, mas que faz toda a diferença, na imersão do jogador dentro daquele universo, que é o facto do ecrã estar «limpo». Por ter uma ausência de ícones e informações constantes, os estúdios conseguiram dar ao jogador uma sensação constante de claustrofobia, por estar realmente preso num universo onde ninguém o poderá salvar a não ser ele mesmo, algo que é essencial num survival horror, pois o jogador sentir-se-á, em diversos momentos, impotente e a querer simplesmente abandonar a sua missão. Ao mesmo tempo, no entanto, irá sentir-se desafiado a pelo menos chegar a um local seguro, o que traz outro fator importante, que é a preocupação com o protagonista, pois em diversos momentos o jogador irá sentir que não é apenas uma personagem, e sim ele mesmo.

Um fator importante que merece destaque é que a SPS Valkenburg é um gigantesco parque de diversões totalmente aberto (apesar de limitado em alguns pontos), com o único porém de, nesse parque, o jogador ser o rato e praticamente toda a restante tripulação dentro da nave ser um predador. Sendo assim, aqueles jogadores mais dedicados à exploração poderão explorar os vários pisos, salas, corredores e assim sentirem que estão num ambiente dos filmes Saw, onde terão de encontrar peças fundamentais para sobreviver e escapar. E lembrem-se do mais importante: algo aconteceu naquele lugar e a vossa memória é quase zero (o que acaba por aumentar o fator imersivo, afinal protagonista e jogador têm a mesma visão daquele universo), então mesmo quem ainda permanece humano não é totalmente confiável.
Syndrome acaba por sofrer de dois problemas principais: o primeiro são os gráficos que, apesar de no geral serem bem agradáveis e satisfatórios para um jogo indie, a nível de feições e aparência de alguns inimigos deixa muito a desejar, com texturas que algumas vezes levam o jogador a questionarem-se se talvez não seria necessário um tempo de produção necessário para corrigir essas imperfeições; o outro problema são os bugs constantes e casos isolados onde o jogo simplesmente tem uma queda drástica de FPS, para alguns segundos depois voltar a estabilizar, e, no entretanto, acontecem os inevitáveis momentos onde o jogador tem de respirar fundo e aguardar que o jogo volte a estabilizar para voltar a mergulhar naquele universo, mas, sendo um jogo onde a imersão é essencial, talvez isso, para alguns jogadores, seja um problema demasiado grave, mas que, em breve, deverá ser solucionado com um patch.

Opinião final:
Em resumo, Syndrome é aquele jogo que vem mostrar que a indústria portuguesa de videojogos não é limitada pela sua tecnologia ou capacidade financeira. A única limitação real está na capacidade de arriscar e procurar superar-se. Syndrome, apesar de não ser perfeito, ter problemas gráficos, bugs, quedas de fps e talvez não agradar a todos os jogadores de survival horror (pelas escolhas de condução da história feitas pelos estúdios), consegue na perfeição definir-se não como um jogo indie de «5ª categoria», mas sim como um jogo indie capaz de competir com qualquer jogo AAA sem medo de parecer pequeno ou deslocado. Os seus pontos fracos é que realmente são pequenos, quando comparados à grandiosidade da história e dos elementos que o definem como um survival horror, onde o verdadeiro medo não é oferecido de maneira gratuita, mas sim construído por tudo aquilo que cerca o jogador durante o gameplay, é conquistado e é entregue ao jogador de maneira magistral.
Do que gostamos:
- Imersão total dentro do universo do jogo;
- Construção do clima do jogo e medo através do ambiente;
- Historia bem construída;
- Inimigos que constantemente te lembram que é uma presa e não o predador.
Do que não gostamos:
- Bugs;
- Quedas de fps;
- Gráficos e texturas fracos.
Nota: 8/10