Inicialmente lançado para PC em 2011, The Binding of Isaac começou como um jogo indie que rapidamente viu o seu sucesso crescer, culminando num remake intitulado The Binding of Isaac: Rebirth. No fundo, este título é mais do que um remake, incluindo muitas das características que não foi possível incluir inicialmente devido às limitações de Flash. Assim, pode-se dizer que aqui temos a versão definitiva de Binding of Isaac, com tudo o que os seus criadores idealizaram ao longo destes anos, dando oportunidade aos jogadores de consola pegarem neste título.
Rebirth tem também a honra (dúbia?) de ser o segundo exclusivo da New 3DS, podendo inicialmente parecer estranho – tendo em conta que não aparenta ser um jogo cujo conteúdo exija um sistema mais poderoso – mas a quantidade de caos que rapidamente se instala no ecrã é o suficiente para fazer uma z engasgar-se. O que acaba por ser uma má noticia para quem decidiu não fazer o upgrade para a mais recente consola da Nintendo.
O enredo mantêm-se: Isaac vivia feliz com a sua mãe, até que esta ouve a voz de Deus a dizer-lhe que Isaac foi corrompido, devendo tomar várias medidas para o salvar – o que inclui matá-lo. Isaac descobre um alçapão para a cave e por aí decide tentar escapar, começando então a aventura do jogador. A estética visual de Rebirth é uma mistura de fofice um pouco perturbadora, sendo impossível não adorar a arte mas ao mesmo tempo ir torcendo o nariz (de forma positiva) aos pequenos detalhes que vão surgindo como a quantidade de cocós que permeiam as salas. Sim, leram bem. Para além das lágrimas que servem de arma a Isaac, Rebirth encontra-se repleto de inimigos e itens que vão para lá do estranho – desde as já referidas fezes até ao soutien da mãe de Isaac, este sim deveras assustador.
Os controlos são bastante simples e para quem nunca teve a oportunidade de experimentar Binding of Isaaac noutras plataformas, é difícil imaginar jogar de outra forma. Não existe um botão para disparar e os botões ABXY servem basicamente para disparar as lágrimas de Isaac nas respetivas direções. Ao princípio este esquema de controlo parece um pouco estranho mas rapidamente nos habituamos ao mesmo, que francamente acaba por dar jeito quando nos tentamos esquivar a todo o custo dos inimigos enquanto os atacamos. Existe ainda a possibilidade de usar o C-stick mas sinceramente, dá mais dores de cabeça do que o que ajuda, pelo que não recomendo. No ecrã touch podem sempre ver o mapa e também os itens que têm em vosso poder.
Apesar de ser um jogo em que rapidamente se pega e se apanha o jeito, Isaac consegue ser bastante desafiante por alguns motivos. Aqui nada é explicado, sendo tudo deixado à descoberta do jogador – o que pode tanto ser interessante e motivar a exploração como pode ser frustrante, principalmente quando apanhamos um item e não sabemos o que fazer com ele. Parte do desafio advém também do facto de que, quando morrem em Rebirth, a morte é permanente. Sendo um dungeon crawler, as ameaças são constantes e rapidamente podem ver-se a braços com uma morte inesperada e não existem saves. Sim, se morrerem terão de voltar ao início do jogo, deparando-se com uma dungeon completamente diferente da que enfrentaram.
Rebirth, com a sua enorme variedade consegue expandir e muito o seu tempo de jogo ao oferecer aos jogadores níveis gerados de forma aleatória – algo que pode ser contornado pela utilização de seeds, códigos que podem inserir e assim recomeçarem de novo mas no mesmo layout em que estavam antes – mas sejamos francos, isto tira um pouco a piada. Cada iteração em Rebirth é uma novidade e os desafios são constantes, quando pensamos que já sabemos tudo existe sempre alguma coisa que nos tira o tapete dos pés e obriga a readaptar. Esta mecânica introduz um elemento de potencial frustração uma vez que muitas vezes poderão ver-se a braços com um jogo cuja dificuldade é excessiva, quer pelos itens gerados (ou até inacessíveis) como pelos inimigos que encontram mas na verdade Rebirth não seria o jogo que é sem esta componente. Algo aparentemente simples consegue acabar por ser complexo e oferecer horas e horas de jogo tomando partido de algo tão simples. Mesmo que isto signifique por vezes encontrarem baús mas chaves nem vê-las – ou itens apetecíveis rodeados por rochas com as quais é impossível rebentar porque não têm bombas.
No fundo, basta dizer que The Binding of Isaac: Rebirth é um jogo imensamente divertido. Consegue equilibrar o desafio que advém de um jogo deste género de modo a que a diversão que se retira do mesmo se sobreponha a todo e qualquer tipo de frustração. E, se se chatearem, basta começarem de novo.
Opinião final:
À primeira vista, The Binding of Isaac: Rebirth aparenta ser mais um de tantos jogos indie que permeiam o mundo dos videojogos. Ao pegarmos nele, rapidamente nos apercebemos do quanto algo tão pequenino tem para oferecer. Mesmo com a sua temática religiosa e estética visual com toques de filme de terror, Rebirth é um jogo que cumpre tudo aquilo que um jogo deve ser, proporcionando um desafio à altura mas também horas e horas de diversão.
O que gostamos:
- Visual mórbido mas ao mesmo tempo engraçado;
- Jogabilidade fácil de aprender;
- Elevada variedade de conteúdo.
O que não gostamos:
- Falta de informação acaba por ser um pau de dois bicos, tanto motivando a curiosidade do jogador como a frustração.
Nota: 9/10