The Bridge é uma daquelas raras instâncias em que temos um jogo que atinge na sua plenitude o seu potencial como meio artístico, sem sacrificar aquilo que o torna um bom jogo. É uma experiência, um jogo todo ele conceptual mas sem ser pretensioso. Criado por Ty Taylor, envolve o jogador de imediato assim que o começam. Aqui não há tutoriais, não são de todo necessários. É fácil de perceber exactamente o caminho que temos que percorrer, como o percorrer mas o motivo não é assim tão óbvio. Mas como já foi referido, The Bridge é uma experiência. E em qualquer boa experiência, o que mais marca não é o fim mas sim o caminho para lá chegar.
Este jogo de puzzles, muito inspirado por M.C. Escher e Isaac Newton, conta com uma narrativa simplista mas que não é imediatamente aparente e que tanto poderá parecer inexistente como até motivar discussão no que toca à sua interpretação. Graficamente, é um jogo lindo. Sem cor, baseando-se em diversos tons de cinza num ambiente desenhado à mão que remete imediatamente para a arte de Escher, com os seus diversos planos que desafiam a lógica e a gravidade – e que desafiam igualmente os jogadores.
A jogabilidade é simples e passa apenas por irem girando os cenários (tanto à moda antiga como virando o comando da WiiU) e fazendo com que a nossa personagem vá transformando os tetos em chão, para que consiga chegar à porta. É claro que existem obstáculos, que vão tornando a vossa jornada mais difícil, mas nunca fazendo com que a mesma se torne frustrante. Uma estranha rocha com uma face que parece troçar do jogador ou mesmo o abismo infinito são os vossos principais inimigos, não sendo suficiente livrarem-se da rocha para que consigam facilitar a vossa vida. Esta é igualmente perigo e companheira, significando tanto a vossa morte como sendo muitas das vezes a chave para que consigam ultrapassar outros obstáculos, algo que não será possível se a perderem no abismo. Caso cometam algum erro, podem sempre fazer uma espécie de rewind, sendo possível sempre testarem novas hipóteses com toda a calma do mundo.
As paisagens de Escher são aqui belamente retratadas com a arte de Mario Castañeda e complementadas com uma banda sonora composta por Kevin MacLeod. Ambos estes artistas contribuíram na perfeição para que The Bridge tenha uma identidade muito própria, remetendo para um ambiente obscuro mas sem ser de todo desconfortável.
Infelizmente não há bela sem senão. The Bridge é um jogo muito, mas mesmo muito curto. A sua narrativa, que facilmente podemos considerar como quase inexistente, é apenas revelada aos poucos através de pequenas frases que nos vão surgindo. E tudo isto nos leva a querer mais e mais quando terminamos. Com o potencial de contar uma história de uma forma tão perfeita, é fácil e difícil imaginar The Bridge como um jogo mais longo, mais focado na narrativa. O que faz, e faz tão bem, é a sua jogabilidade e a maneira como a apresenta. E apesar de querer mais, existiria sempre a pequena sombra que poderia ameaçar o equilíbrio que foi aqui estabelecido de forma tão exímia nos seus puzzles que obrigam a pensar mas nunca fazem com que queiramos desligar a consola devido à frustração.
Opinião final:
The Bridge é um jogo que consegue proporcionar uma experiência conceptual que se destaca de entre os inúmeros títulos indie presentes na eShop da WiiU. Obrigando o jogador a pensar com os seus puzzles, é simultaneamente uma experiência extremamente interessante, conseguindo atingir um delicado equilíbrio entre o desafio e uma jogabilidade agradável. Apesar da sua curta duração, muitas vezes mais vale pouco e bom e The Bridge é todo ele isso mesmo.
O que gostamos:
- Estética visual e gráficos bastante polidos;
- Banda sonora perfeitamente adequada, criando um ambiente que remete na perfeição às paisagens de Escher;
- Puzzles desafiantes sem serem excessivamente difíceis.
O que não gostamos:
- Jogo muito, muito curto;
- Narrativa tão subtil que é fácil nem dar por ela.
Nota: 8/10