
Depois de oito anos de desenvolvimento, finalmente Jonathan Blow nos traz o seu mais recente título, The Witness, que chegou ao mercado para PC e PlayStation 4 no passado dia 26 de Janeiro.
Neste jogo, tão diferente do que estamos habituados a encontrar nos videojogos, não temos qualquer tipo de narração ou tutorial. Somos «abandonados» numa ilha (que é a totalidade do mundo de jogo) bastante colorida e onde encontramos muitos, muitos puzzles que, ao serem concluídos, nos vão dando acesso a novas partes da ilha.
São assim os puzzles de The Witness
Ao contrário do que acontece com muitos jogos deste género, em The Witness os desafios não se sucedem linearmente, isto é, não temos que concluir os puzzles numa ordem específica para progredirmos. A ilha é um mundo aberto, pelo que podemos explorar o mundo de jogo pela ordem que desejarmos, mesmo sendo necessário concluir puzzles para descobrir novos caminhos, já que existem tantas escolhas possíveis que é muito mais provável que deem por vocês perdidos no mundo de jogo e que percam o fio à meada (de que puzzles vos faltam fazer), do que notarem qualquer tipo de linearidade.
Nos diversos cenários, a maioria deles verdadeiramente deslumbrantes, vamos encontrando vários objetos de diferentes culturas e épocas históricas, desde castelos da Idade Média até templos orientais revestidos de vegetação.
Sem qualquer tipo de tutorial (exceto uma indicação para como correr e uma explicação de como funcionam os puzzles), como dito anteriormente, somos deixados à deriva com vários puzzles por resolver. Esta falta de justificações e de explicações leva a que, não raras vezes, se torne bastante difícil perceber quais os requisitos que devemos completar para concluirmos o desafio que nos é proposto.
Embora se note claramente que é precisamente esta a intenção de Blow com The Witness, o facto de não sabermos quase nada sobre os novos puzzles que nos aparecem à frente pode levar a várias horas de «Mas como é suposto fazer isto?!», seguidas de, quando o conseguimos efetivamente resolver, um enorme «Ah!», enquanto dizemos a nós próprios como era evidente a solução e deixamos de tentar arrancar os cabelos. Assim, especialmente à medida que vamos descobrindo puzzles mais complexos, é inevitável sentir uma certa frustração quando ficamos bloqueados durante muito tempo.
Em The Witness todos os puzzles são construídos sobre uma mesma base, que consiste em traçar uma linha que vai desde um círculo até um segmento final facilmente identificável, à qual vão sendo adicionadas várias dificuldades. Estes desafios encontram-se espalhados por toda a ilha em painéis ligados por fios que, após concluídos os puzzles, se iluminam com a cor do próprio monitor.
Pontos de interesse históricos como este moinho medieval são recorrentes em The Witness.
Tal como referido anteriormente, em diferentes pontos da ilha vemos claras referências a diversas épocas e culturas, como por exemplo a cultura helenística ou a civilização moderna e industrializada. Também os puzzles, por vezes, se vão adaptando a estas mudanças de ambiente e vão aludindo a estes períodos históricos de forma mais ou menos subtil, para além de que a resposta para o puzzle poderá estar em pequenos pormenores à nossa volta.
Para além da presença de várias culturas na ilha, o ambiente conquista logo à partida pela sua mistura de várias cores, num ambiente que faz lembrar jogos como The Legend of Zelda: Wind Waker, o que é reforçado pela grande variedade de paisagens que podemos ver (não contando com as influências culturais de cada espaço), por exemplo, quando subimos a uma montanha nevada e olhamos em todo o redor ou quando passamos por uma praia que faz lembrar o Havai.
Nestes variados locais vamo-nos deparando com diversos ficheiros de áudio que contêm citações de personagens históricas bastante reconhecidas, como por exemplo Albert Einstein, o que nos permite tomar conhecimento de figuras que até então não conhecíamos e ficar a conhecer melhor aqueles com os quais já eramos familiares. Estas citações adequam-se perfeitamente à parte da ilha em que se encontram e enquanto vamos ouvindo estas frases vão-nos sendo apresentadas visões inéditas do local onde nos encontramos, através de várias alterações nos ângulos de visão, mostrando-nos paisagens fenomenais a partir de diversas perspetivas.
No início da análise referi que não existe qualquer tipo de narração ao longo do jogo, o que é verdade. Devido a este facto, não nos é dada qualquer tipo de missão à medida que nos vamos aventurando no mundo de The Witness, o que, ao contrário do que poderão esperar, acaba por se tornar em algo positivo. Com tantos jogos com objetivos delineados e, não raras vezes, um pouco entediantes, é refrescante poder explorar a ilha apenas por explorar, sem quaisquer restrições (menos os puzzles que desbloqueiam outras saídas) e apenas para ver mais dos belos cenários que compõem o mundo de The Witness.
Não há como não ficarmos encantados com o mundo por explorar.
O maior ponto de atração deste novo jogo de Jonathan Blow é mesmo esta característica de exploração em que todos os detalhes foram tidos em conta, resultando num mundo mágico em que cada ponto da ilha é único e deslumbrante à sua maneira. Assim, por muito que me seja tentador partilhar convosco mais pormenores sobre esta ilha, não o posso fazer pois estaria a estragar a experiência a quem esteja a ponderar comprar o jogo e testemunhar na primeira pessoa as maravilhas de The Witness.
Opinião final:
Sem história nem objetivos delineados, oferecendo um modo de jogar invulgar, num mundo também ele único, The Witness é um jogo refrescante e que nos relembra categoricamente como nos podemos divertir através deste meio sem inimigos para enfrentar ou sequer um roteiro para seguir. Consegue, ainda, criar momentos de reflexão e admiração pela conjugação esplêndida entre pensamentos profundos de pensadores históricos e os cenários muito bem trabalhados.
Quanto aos puzzles, embora apresentem todos o mesmo esquema básico, são muito distintos entre si em termos de raciocínio que é preciso seguir. Estas diferenças levam a que, com uma certa frequência, fiquemos presos em certos pontos do jogo e, por isso, pode levar a momentos de frustração recorrentes e que vencem, por momentos, a beleza do mundo de The Witness.
O que gostamos:
- Paisagens ricas em cor e bastante diversificadas;
- Falta de objetivos e história;
- Alusão a várias culturas históricas;
- Citações de diversas figuras reconhecidas;
O que não gostamos:
- Falta de apoio e dificuldade dos puzzles leva a uma certa frustração.
Nota: 9/10