A Naughty Dog sempre foi reconhecida pela entrega de jogos extremamente divertidos e de grande qualidade, sendo considerada por muitos como uma das melhores produtoras da indústria de videojogos. Na era da PlayStation 3, em vez de apostar num novo Jak and Daxter, por exemplo, decidiu arriscar numa nova propriedade intelectual, e lançar para o mercado aquele que seria o primeiro Uncharted, o Drake’s Fortune. Desde logo marcou impacto na indústria, tendo sido extremamente elogiado pelos visuais fantásticos, momentos cinematográficos como nunca antes visto, enredo bastante interessante, com personagens bastante carismáticas, e uma aventura épica do princípio ao fim.
O sucesso foi tão grande, que a Naughty Dog não parou por ai e apostou em sequelas, tentando a cada entrega superar-se a si própria, até que chegou Uncharted 4: O Fim de um Ladrão. A série de ação e aventura sempre foi linear, mas com esse jogo, feito exclusivamente para a PlayStation 4, foram mais longe e apostaram em mapas com um espaço considerável, aberto a exploração, tornando-se assim num jogo semi-open world. Com isso vieram uma série de mecânicas novas, como se esconder nas ervas altas para matar os inimigos ou passar por eles sem ser detectado, utilizar o gancho para se saltar de uma saliência para uma zona afastada para continuar a aventura, ou para ganhar ímpeto para saltarmos contra um inimigo e abatê-lo dessa forma.
Em todos os Uncharted controlamos o Nathan Drake, uma personagem com uma grande personalidade e sempre apto para uma boa aventura, mostrando a cada momento e a cada jogo uma evolução na relação com Elena Fisher e Victor Sullivan. No entanto a Naughty Dog decidiu fazer algo que nunca tinha feito antes com Uncharted: lançar uma expansão com um novo enredo. E pela primeira vez, não iremos controlar Nathan Drake, mas sim a Chloe Frazer, personagem que se estreou em Uncharted 2: Among Thieves, que desde logo captou a atenção dos jogadores por ser atrevida e imprevisível.
Além do regresso de Chloe Frazer, a Nadine Ross também está de volta. E o enredo é este: a Chloe Frazer tem o objectivo de encontrar as ruínas do Império Hoysala e recuperar o lendário artefacto Presa de Ganesh, no entanto está a ocorrer uma guerra implacável liderada por Asav, um militar insurgente que tenciona destruir monumentos culturais e desenterrar tesouros valiosos, acabando por lucrar com esse estado de guerra. A Chloe sabia que não poderia lidar com essa situação sozinha, motivo pelo qual requisitou os serviços de Nadine, ex-lider de uma organização paramilitar sul-africana designada de Shoreline, sendo agora uma mercenária independente. Apesar de terem personalidades muito diferentes, com a Chloe a ser impulsiva e gostar de improvisar, e a Nadine gostar de ter uma abordagem calma e calculada, haverá momentos de discórdia, mas irão aprender a trabalhar juntas e lutar contra uma oposição feroz. Ao longo do tempo será notória a evolução na relação entre Chloe e Nadine e iremos descobrir mais sobre as personagens.
Literalmente, diga-se, pois em várias ocasiões, quando a Nadine está em apuros, podemos ir ajudá-la e desencadear animações de combate conjunta, ou ser ela a vir-nos ajudar. Apesar do sistema de combate ser o mesmo de Uncharted 4, a Chloe tem os seus próprios movimentos e truques na manga, ou nas orelhas, já que esconde dois lockpicks atrás das mesmas para abrir portas, mas que também serve para abrir caixas que estejam fechada a trinco, por exemplo, o que é uma novidade na série.
De resto, é o mesmo Uncharted que conhecemos a nível de jogabilidade. Correr, esconder, saltar, disparar, lutar, escalar e toda uma dinâmica de mecânicas invejável e de grande qualidade, que é explorada em Uncharted: O Legado Perdido como se pretendia. Como referido anteriormente, o gancho está de volta, tal como as mecânicas a ele associadas, como saltar de um local para outro local mais distanciado, ou usar essa ferramenta para subir até um certo sitio e depois balançar para se poder saltar para uma extremidade numa parede, e continuar essa sequência a escalar. Depois dessa escalada podemos dar de caras com uma paisagem fantástica e tirar uma foto com o telemóvel da Chloe, sendo que a qualquer momento é possível ver as fotografias tiradas, sendo essa outra das novidades num Uncharted da Naughty Dog. Diria que esse foi um aspecto inspirado no Uncharted Golden Abyss, desenvolvido pela Sony Bend.
Como referido, Uncharted: O Legado Perdido deixa para trás a linearidade em favor de um mundo semi-open world, tal como Uncharted 4: O Fim de um Ladrão o fez. Isso traz benefícios na própria jogabilidade, havendo mais liberdade e opções de ataque, mas também nos incita a aventurar pelo mundo à procura dos mais de 100 tesouros. Sendo que os mapas são enormes, uma boa parte da aventura será atrás do volante de um jipe, sendo que há até uma mecânica dedicada ao mesmo, ou seja, é possível puxar um tipo de gancho do jipe, levá-lo até uma porta que está bloqueada e prender o gancho na porta, ir para o jipe e fazer marcha-atrás para que a porta caia.
Tudo isso é muito interessante, mas não é nenhuma novidade, já vimos isso em Uncharted 4. Além disso sente-se que grande parte do mundo de jogo não é explorado como se devia dado o tamanho do mesmo, ou seja, devia haver uma boa quantidade e variedade de quests secundárias, mas a verdade é que não é o caso. No fundo, são mapas enormes e belíssimos, cheios de detalhes, mostrando o que a consola é capaz e surpreendendo nesse aspecto, pois é sem dúvida o jogo mais bonito do mercado, no entanto é “vazio” porque tirando o facto de procurar por colecionáveis, não há muito ou nada a fazer. Por vezes ainda há o facto de não se saber para onde ir, e por ai se vê o grande tamanho dos cenários e os diversos caminhos existentes, no entanto se houvesse missões secundárias que justificassem isso, seria algo compreensível, mas dada a situação, e em alguns momentos, acaba por ser mais um atrapalho do que propriamente um beneficio. Para defesa do próprio jogo, quando se está algum tempo á procura para onde se ir, é-nos perguntado se queremos uma dica para nos ajudarem a direcionar para o objectivo. De qualquer das formas, não deveria ser necessário isso para sabermos para onde ir. No que toca aos puzzles, o jogo tem-nos e alguns são de fácil resolução, não afectando assim o “pace” de Uncharted: O Legado Perdido, embora os mais complicados acabem por quebrar um bocado o ritmo do jogo, tal como em qualquer jogo em que isso aconteça.
E embora falte uma grande novidade que trouxesse frescura à expansão, e haja muitas das vezes a sensação de déjà-vu, quase tudo o que Uncharted: O Legado Perdido faz, faz com grande qualidade. A forma como a história é contada, a relação entre a Chloe e Nadine e a evolução da mesma, as paisagens fantásticas e as mecânicas de jogo, tal como os momentos á lá Uncharted como o meio ambiente a desfazer-se e termos que nos safar daquilo, isso tudo num estilo bastante cinematográfico embora sejamos nós a controlar a ação, tudo isso conjuga-se de forma magistral. E o jogo tem uma banda sonora adequada para cada situação. De referir ainda que Uncharted: O Legado Perdido inclui acesso a todo o conteúdo multiplayer de Uncharted 4, incluindo o modo competitivo, o modo Survival cooperativo e todos os DLC disponibilizados através de actualização desde o lançamento de Uncharted 4. Uncharted: O Legado Perdido inclui também um novo modo chamado de Survival Arena que só estará disponível nos servidores públicos no dia de lançamento, pelo que não nos foi possível jogá-lo até à escrita da análise.
Opinião final:
Existem muitas expansões, mas dentro do género, não se encontrará nenhum produto tão completo e com tamanha qualidade como Uncharted: O Legado Perdido. Apesar dos poréns, o jogo oferece uma aventura tão épica e com uma profundidade tão abismal no que toca a mecânicas, que na verdade nem parece uma expansão, mas sim um jogo novo, até porque a longevidade ultrapassa a de Uncharted: Drake´s Fortune, Uncharted 2: Among Thieves e Uncharted 3: Drake´s Deception. Além disso, também prova que embora Nathan Drake tenha sido um excelente protagonista, que será lembrado para sempre, Uncharted não está propriamente dependente dele, havendo mais histórias para contar e personagens para explorar, o que significa que a Sony e Naughty Dog poderão e deverão continuar a apostar na série.
Do que gostamos:
- Relação entre Chloe e Nadine;
- Grafismo de topo;
- Enredo bastante interessante;
- Diversidade de mecânicas;
- Cutscenes fantásticas;
- Momentos frenéticos que injectam adrenalina à aventura;
- Banda sonora muito competente;
- Todo o pacote multiplayer de Uncharted 4.
Do que não gostamos:
- Falta de uma grande novidade;
- É semi-open world, mas é algo que não foi aproveitado como devia;
- Alguns puzzles quebram um bocado o ritmo de jogo.
Nota: 9/10