Warhammer 40k: Dawn of War dispensa apresentações para os fãs do universo Warhammer, sendo um dos títulos mais reconhecidos num universo que tem recebido uma maré de jogos nos últimos anos. Será que está à altura?
Dawn of War III chega-nos 6 anos após a o último lançamento na saga, Dawn of War II: Retribution, em 2011. Quem jogou os títulos anteriores sabe a mudança drástica de jogabilidade entre Dawn of War I e II, o que nos levava a esperar novas mudança nesta nova entrega. O resultado final é um misto dos jogos anteriores e, como não poderia deixar de ser nos tempos que correm, uma pitada de MOBA e alguma crise de identidade.
O jogo abre com uma bela cinemática, que nos introduz ao conflito abordado na campanha. Os suspeitos do costume – Space Marines, Orks e Eldar – andam, como seria de esperar, à porrada. A ação passa-se em Cyprus Ultima, um mundo controlado pelos Império do Homem, que se vê atacado pela horde Ork do Warboss Gitstompa. Em órbita, o Inquisidor Imperial nega ajuda, mas os Blood Ravens de Gabriel Angelos decidem desobedecer e ajudar as forças em terra. O Inquisidor tinha outros planos, havendo rumores de uma tal Lança, daquelas todas poderosas, e um mundo das profecias Eldar prestes a aparecer em órbita. Toda a gente quer pôr as mãos na lança e, durante as 15 missões da campanha, vamos acompanhar cada uma das raças, concorrentemente, nas suas batalhas. A história é essencialmente contada por via de conversas antes e depois das missões, com algumas imagens a ilustrar os momentos e narração. Há algumas cinemáticas e cenas in-game, mas o grosso da narrativa é mesmo transmitida nestas conversas/briefings das missões. Fica a saber a pouco, principalmente porque as cinemáticas que há, ainda que simples, são bem produzidas, notando-se que não houve grande investimento nesta parte. Ainda assim a mensagem passa e as vozes são, em boa parte, expressivas e com qualidade.
O primeiro ponto negativo da campanha foi a escolha de alternar raças em cada missão. Se, por um lado, aumenta a diversidade e nos força a adaptar rapidamente a diferentes estilos de jogo, por outro não fomenta uma ligação narrativa às personagens e raças que controlamos, nem permite que aperfeiçoemos as nuances de cada raça. Andamos a saltar de um lado para o outro, numa história mais ou menos coesa, acabando por nunca ficar satisfeitos. A campanha tem uma duração razoável para o que seria de esperar, principalmente se quiserem o desafio de jogar em difícil. As missões são poucas, mas relativamente longas, a menos que sejam muito bons e impacientes. Ainda assim, se querem o jogo apenas pela campanha, recomendo esperarem por uma baixa de preço, uma vez que o valor é limitado. Em normal, podem contar com cerca de 15 a 20 horas de jogo, mediante o tipo de abordagem.
A nível de jogabilidade, as novidades são bastantes. Importa salientar que a jogabilidade é algo diferente entre a campanha e o multijogador, ainda que as mecânicas base sejam as mesmas. Dawn of War sempre teve uma forte componente estratégica, com o controlo do mapa e pontos de requisição a ter um papel de destaque, deixando a construção de bases para segundo plano. Não é o jogo ideal para o jogador “tartaruga”, que gosta de ficar na base até estar pronto para a ofensiva. Em Dawn of War II a componente estratégica tomou ainda maior proporção, focando-se mais nos heróis e com jogabilidade mais na linha de algo como Company of Heroes, mas o terceiro título volta atrás nalgumas decisões, sendo um meio termo. Os pontos a controlar estão de volta, com a possibilidade de contruir add-ons para capturar pontos de requisição e energia, bem como a possibilidade de construir “Listening Posts” para melhorar a produção e providenciar alguma defesa. As zonas de cobertura foram reduzidas a pontos estratégicos que, após serem controlados, fornecem uma barreira às unidades. Estes pontos podem ser destruídos permanentemente ou podemos entrar com unidades corpo a corpo e derrubar o inimigo. É uma abordagem bastantes mais simplista do que a de Dawn of War II, que tinha diferentes tipos de cobertura e oferecia mais diversidade nos mapas.
Uma das grandes novidades de Dawn of War III é o sistema de Elites, com direito a uma “moeda” própria. À medida que avançamos nas missões e atingimos certos objetivos, vamos sendo recompensados com pontos de Elite, estes pontos podem ser usados para chamar unidades Elite, escolhidas previamente. Estas unidades funcionam quase como os heróis nos MOBAs, começando aqui a comparação com este tipo de jogo. As unidades especiais não são nada novo em Dawn of War, mas agora tornam-se muito mais relevantes e um foco tão grande que muitas vezes as partidas online parecem batalhas entre Elites. Há várias unidades Elite para cada raça, que vão sendo desbloqueadas com pontos que ganhamos ao passar níveis ou jogar batalhas online. O melhor é mesmo passar a campanha em difícil, se querem o maior número de “Skulls” para desbloquear Elites no multijogador. Antes de cada batalha podemos escolher as Elites que queremos ter ao dispor, bem como personalizá-las – há aqui muito a explorar se é o vosso tipo de coisa. As Elites têm ainda habilidades (Doctrines), também escolhidas nesta fase e também desbloqueáveis com Skull Points, que resultam na expressão diferente das unidades no campo, mesmo dentro do mesmo personagem. As Elites vão desde esquadrões especializados a enormes heróis lendários e são sempre muito poderosos, capazes de virar lutas num instante e dizimar unidades “normais” com as suas habilidades. O “sumo” visual do jogo vem muito daqui, sendo extremamente recompensante distribuir porrada com animações extravagantes.
As três raças – sim, só estão disponíveis as 3 raças do modo campanha – são bastante diferentes de controlar. Como seria de esperar, os Space Marines são os mais simples de compreender: humanos, armas, esquadrões, tiros; simples e eficazes. Os Eldar são os matreiros, com a sua deslocação rápida e escudos regeneráveis. O hit-and-run é o seu forte, podendo também transportar as suas estruturas pelo campo de batalha. Já os Orks são a mais deliciosa surpresa deste jogo, com uma mecânica de “reciclagem” muito interessante e com as personalidades hilariantes. A construção de torres WAAAGH! está de volta, bem como o seu marcante grito de guerra, e temos uma nova economia paralela de sucata que pode ser muito importante nas batalhas. Estão a ver a sucata deixada para trás quando um tanque ou uma estrutura é destruída? Agora os Orks têm a possibilidade de pegar nestas pilhas de lixo e transformá-las em máquinas mais ou menos funcionais, muito ao seu estilo. As unidades construídas a partir de sucata são mais rápidas a construir e custam menos recursos do que nas estruturas normais, o que as torna apetecíveis.
No modo campanha a jogabilidade é bastante standard para um RTS e para um Dawn of War. Temos objetivos a cumprir, alguém para salvar, alguma base para destruir, cuidar da nossa base, conquistar pontos. Os mapas são esteticamente agradáveis, mas assim que começamos a ter em conta os movimentos propriamente ditos, a variedade não é muita. Os mapas não são propriamente grandes, salvo algumas exceções, e por vezes vamos desbloqueando porções do mapa à medida que cumprimos objetivos. Algo que me incomoda é a limitação a nível de câmara que, apesar de ser ajustável, não permite ter uma boa visibilidade do campo de batalha. Da mesma forma, com o máximo zoom não vemos grandes detalhes. Ficámo-nos num meio termo que nem sempre é prático.
Gostam de mapas enormes, variados e com diferentes abordagens? Então o multijogador não é para vocês. O modo multijogador, apesar de parecer o grande foco, é extremamente limitado. Há apenas um modo de jogo, com as variantes 3×3, 2×2 e 1×1. Para ajudar, há um conjunto muito limitado de mapas, todos bastante semelhantes. Foi tirada muita inspiração dos MOBAs, o que é bastante óbvio: os mapas têm lanes, torres e um núcleo para destruir. No meio disto temos Dawn of War, com os pontos de controlo e cobertura, bases, exércitos e elites.
Os jogos são relativamente longos, chegando facilmente aos 30, 40 minutos. Começamos com uma pequena base, perto do nosso núcleo – essencialmente a fountain dos MOBAs, e vamos expandido a partir daí. A ação começa a sério quando as primeiras Elites entram em jogo, podendo ser devastador perder uma destas unidades ou um trunfo fazer um deploy na altura certa. Há também ações que afetam o mapa, como ataques aéreos, que trazem o caos e podem virar batalhas. O objetivo é destruir o núcleo do adversário, tendo para isso que primeiro destruir os 2 geradores de escudo e 2 canhões de defesa. As batalhas conseguem ser frenéticas e espetaculares, principalmente com Orks e algumas das Elites mais pomposas ao barulho. Quando funciona, Dawn of War III é um RTS competente e os jogos conseguem ser bastante divertidos, principalmente nos 3×3, mas a verdade é que alguns jogos depois a fórmula cansa. A verdadeira diversidade está em explorar as Elites e as suas diferentes habilidades, pois a nível de modo de jogo e mapa não há muito por onde pegar, pelo menos por agora. É expectável que isto seja explorado pela Relic, mas só o tempo o dirá.
No que toca a grafismo, houve alguma receção negativa ao estilo mais cartoon apresentado, quando comparado aos títulos anteriores. Não acho que seja um ponto negativo e há muita arte fantástica para apreciar neste jogo, a interface é decente e as animações mais rebuscadas conseguem ser um regalo visual. Uma nota positiva para o melhor, mais frenético e espectacular WAAAAGH! até agora, simplesmente delicioso.
A performance é bastante aceitável, sendo que o jogo parece correr numa versão atualizada do motor de Dawn of War II e Company of Heroes. Há uma ferramenta de benchmark incluída e podemos ver os FPS em tempo real ao mudar as opções. Nada é demasiado exigente e parece decentemente otimizado. Um ponto negativo é a adoção de um sistema “always-on” de rede, que se tem mostrado instável e inconveniente. Apesar de ser possível jogar offline, ficamos impossibilitados de ganhar skulls e outras recompensas, aparecendo um menu para salvar, sair ou continuar offline, assim que a ligação é perdida. O mal é que este ecrã teima em aparecer mesmo quando a ligação existe e não é estável, ou só porque sim, não faltando pela Internet relatos de jogadores insatisfeitos. O sistema de guardar jogo também deixa bastante a desejar, sem auto-saves ou quick-saves, sendo ainda por cima bastante lento na hora de guardar.
Requisitos mínimos:
- Sistema Operativo: Windows 7 ou superior (64-bit);
- Processador: i3 quad core 3 GHz ou equivalente;
- Memória: 4 GB de RAM, 1 GB de VRAM;
- Placa gráfica: NVIDIA GeForce 460, AMD Radeon 6950 ou equivalente (DirectX 11)
- Espaço no disco: 50 GB;
- Outros: Requer ligação à internet contínua. Processador i5 quad core ou equivalente recomendado para multijogador 3v3.
Requisitos recomendados:
- Sistema Operativo: Windows 10 (64-bit);
- Processador: Intel Core i5 quad core 3Ghz ou equivalente;
- Memória: 6 GB de RAM, 2 GB de VRAM;
- Placa gráfica: NVIDIA GeForce 770, AMD Radeon 7970 ou equivalente (DirectX 11);
- Espaço no disco: 50 GB;
- Outros: Requer ligação à Internet contínua.
Opinião final:
Warhammer 40,000: Dawn of War III tem todos os ingredientes de um bom jogo e de um bom Warhammer, mas a verdade é que me deixa confuso. Se por vezes dou por mim a adorar o jogo e a agradecer por ter mais um bom RTS, por outro há decisões que me deixam perplexo. Podia ser um grande jogo mas, como está agora e a preço integral, é difícil de recomendar se não forem fãs. O futuro está nas mãos da Relic, que tem boas fundações para suportar, melhorar e expandir este jogo, que podia ser excelente, mas é só mediano.
Do que gostamos:
- Jogabilidade divertida, desafiante e eficaz;
- Arte e ambiente sempre atrativos de Warhammer;
- Campanha decente, com arco narrativo simples mas cativante;
- Personalização;
- WAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAGH!
Do que não gostamos:
- Falta de conteúdo – poucos mapas, poucas raças, modos de jogo…
- Campanha alternar de raça todas as missões;
- Balanço das elites e sistema de cobertura;
- Proteção intrusiva, falta de auto-saves, falta de personalização de teclado…
Nota: 7/10
Warhammer 40,000: Dawn of War III está disponível para PC por 59.99€ no Steam.