Através da Virtual Console – uma iniciativa que traz jogos de consolas antigas da Nintendo para as suas consolas mais recentes – vários jogos de plataformas como a NES, a SNES ou portáteis como o GBA e a Nintendo DS foram chegando ao longo destes últimos anos à Wii U.
Wave Race 64, lançado originalmente para a Nintendo 64 em 1996, é um dos mais recentes jogos a chegar à consola doméstica da Nintendo provenientes deste programa, estando disponível na Nintendo eShop desde o dia 31 de Dezembro de 2015.
Em Wave Race 64, tal como o nome indica, estamos perante um jogo de corridas no mar, um jogo semelhante a títulos como Mario Kart ou Surf’s Up, ao contrário da tendência atual de tentar simular o mais fielmente possível o desporto real.
Equipados com uma das quatro motas de água disponíveis (que apenas variam na cor), a que está associado um atleta específico podemos participar em três modos disponíveis: Championship; Time Trials e Stunt Mode.
No modo Championship participamos num campeonato constituído por 6 rondas em que precisamos de acumular um dado número de pontos (ou seja, alcançar um certo lugar na tabela classificativa) para conseguirmos passar à ronda seguinte. Ao longo destas rondas os pontos que vamos obtendo vão se somando e, no final, dependendo do lugar que conseguimos alcançar nas diversas rondas, é nos dado um lugar comparativo aos esforços dos outros três competidores.
Em Time Trials escolhemos um dos circuitos disponíveis e tentamos, em semelhança a muitos jogos do género, demorar o menor tempo possível estabelecendo novos recordes.
Finalmente, no modo Stunt Mode o objetivo passa por fazermos acrobacias com a mota de água enquanto estamos no ar (após termos subido uma rampa) ou mesmo movimentos mais simples enquanto flutuamos no mar. Neste modo encontramos ainda anéis pelos quais temos de passar para ganharmos bónus de pontos, sendo o objetivo atravessar o maior número de anéis e realizar as mais diversas acrobacias de maneira a conseguir mais pontos e batermos recordes estabelecidos.
Nos primeiros dois modos enunciados vamos encontrando, ao longo do percurso, balões vermelhos ou amarelos em forma de bola com um triângulo anexado com as letras R e L, respetivamente. Ao passarmos à direita dos balões vermelhos ou à esquerda dos balões amarelos (daí R e L, simbolizando Right e Left (em inglês direita e esquerda)) vamos ganhando Power, o que resulta num aumento de velocidade. Após passarmos por um dado número de balões sempre pelo lado indicado, o poder vai-se acumulando e chegamos ao ponto máximo, que resulta em galgarmos as ondas a grande velocidade. Pelo contrário falhar em passar pelo lado correto destes balões resulta numa diminuição deste poder e, por isso, é dada vantagem aos nossos adversários, que rapidamente a aproveitam para nos ultrapassarem.
Dada esta descrição poderão ficar com a ideia de que este desafio de Wave Race 64 é opcional, apenas se tornando necessário para alcançarmos a vitória em dificuldades mais elevadas o que, de todo, não se verifica. Na margem inferior do ecrã, no modo Championship, é nos apresentado um contador em que, após cinco balões em que falhamos em passar pelo lado correto, somos desclassificados e ficamos automaticamente em último na ronda em que nos encontramos. Já no modo Time Trials, sem o auxílio deste aumento de velocidade, é estritamente impossível conseguir bater o recorde de tempo estabelecido.
Esta mecânica torna-se bastante divertida e leva um pouco do sistema de barra de vida de outros géneros para os jogos de corridas de forma elegante, e que, no total do jogo, se adequa perfeitamente.
Não obstante a diversão proporcionada por Wave Race 64, o facto de estes balões se encontrarem sempre nas mesmas posições nos circuitos leva a uma sensação de que estamos sempre a fazer o mesmo, o que, após algumas horas, leva a uma certa saturação.
Quanto aos efeitos visuais, em Wave Race 64, surpreendentemente, ainda hoje conseguimos encontrar certos efeitos que agradam, e que conseguem, mesmo não estando ao nível (obviamente) dos jogos de grande porte das últimas gerações, captar a nossa atenção. Aqui a água assume facilmente o papel principal já que, com a sua ondulação e a reflexão da luz solar, cria efeitos visuais verdadeiramente impressionantes para a época em que este jogo foi publicado, há 20 anos.
No geral podemos, portanto (e embora os atletas sejam um pouco quadrados e o público plano), afirmar que Wave Race 64 envelheceu bem e que, mesmo existindo atualmente jogos com um nível de detalhe impressionante, consegue ainda hoje captar a atenção para alguns dos seus aspetos, nomeadamente os efeitos atribuídos à água.
A acompanhar estes efeitos visuais espantosos para o seu tempo, Wave Race 64 apresenta-nos com a graciosidade da vida marítima com a presença de uma orca e de um golfinho ocasionais, também eles muito bem desenhados tendo em consideração a plataforma original do jogo, que ajudam a criar o ambiente pretendido por Shigeru Miyamoto e a restante equipa da Nintendo EAD.
Para além destes efeitos e detalhes que tornam, ainda hoje, Wave Race 64 divertido, a banda sonora que acompanha o decorrer dos eventos, embora não muito variada, adequa-se perfeitamente ao ambiente de Verão junto à praia que o jogo quer transmitir, estando perfeitamente de acordo com os restantes detalhes e criando uma ainda maior imersão.
No início da análise, embora tenha sido referido que temos quatro motas de água à escolha e que a única diferença entre elas seja o seu aspeto, a verdade é que podemos modificar cada uma delas (independentemente de qual seja) em três aspetos – Handling; Engine e Grip – que terão grandes repercussões na maneira como controlamos a nossa mota de água, tendo o jogador de fazer testes para encontrar o tipo de controlo que melhor se adequam à sua maneira de jogar. É, por isso, importante referir que Wave Race 64 é um jogo muito complexo também neste aspeto de customização já que, ao contrário do que acontece em muitos jogos de corrida, os efeitos são notórios mesmo com pequenas variações, o que é bastante positivo.
Foi ainda referido que após um certo tempo Wave Race 64 tende a tornar-se repetitivo já que, um pouco como todos os jogos de corridas deste género, o facto de repetirmos o mesmo circuito várias vezes, mesmo que com veículos com características diferentes, acaba por se tornar saturante. No entanto gostava de frisar este ponto ao referir que apontei esse mesmo defeito devido ao facto de que Wave Race 64 apresenta um número pequeno de circuitos, levando rapidamente a este ponto comum nos jogos deste género.
Para combater este fator resta-nos a opção multijogador em que, localmente duas pessoas podem competir num modo de jogo semelhante ao Championship mas que, tal como muitos jogos competitivos, fica mais viciante devido ao desafio de bater, mesmo que amigavelmente, o nosso adversário.
Opinião final:
Embora Shigeru Miyamoto e a Nintendo EAD sejam reconhecidos mais por séries como The Legend of Zelda ou Super Mario, a verdade é que as equipas que constituem esta divisão da Nintendo vêm lançando vários jogos ao longo das décadas que, embora menos conhecidos, são igualmente brilhantes. Wave Race 64 é um desses casos. Para muitos um dos melhores jogos da Nintendo 64 e o melhor jogo de watercraft alguma vez feito, é impressionante como ainda hoje este jogo consegue divertir e surpreender pelos seus efeitos visuais e pela maneira como o ambiente é construído de forma perfeitamente coerente.
São vários os jogos de corrida, o que pode chegar a um ponto de saturação, Wave Race 64 é, atualmente, um jogo de Virtual Console, pelo que deve ser analisado como tal, e, tendo isso em conta, os jogos desta iniciativa da Nintendo têm como propósito entregar aos jogadores um produto com que possam se divertir em curtas sessões de jogo enquanto aguardam por lançamentos de maior peso, e, nesta missão, Wave Race 64 é perfeitamente bem-sucedido, sendo talvez o melhor jogo que tive o prazer de experimentar através desta iniciativa da Nintendo.
O que gostamos:
- Mecânicas originais para jogos de corridas;
- Ambiente muito bem construído;
- Modo multijogador;
- Certos efeitos espantosos para a altura do lançamento original.
O que não gostamos:
- Falta de mais circuitos;
- Balões com posições fixas nos vários circuitos.
Nota: 9/10