Xenoblade Chronicles chegou finalmente à eShop da Wii U e quem preparar para a sequela. O jogo é longo, muito longo e irá manter-vos ocupados até ao lançamento de Xenoblade Chronicles X, a 4 de Dezembro de 2015 no Ocidente. Se o perderam na Wii devido à sua raridade e passaram ao lado da versão portátil na New 3DS, folguem em saber que estarão bem entregues pois este é um jogo para ser jogado num grande ecrã e confortáveis no sofá para verem horas de história, reviravoltas, missões e bosses secretos. Há muito para ver e fazer, mas será que isso melhora a experiência de jogo?
Sim e não. Xenoblade pode abusar da sua estadia e se tiverem pouco tempo para jogar, poderão acabar por se aborrecer ou achar que não estão a evoluir. Mas quando está algo a acontecer, quando a história se está a desenvolver, o jogo é sem dúvida brilhante. Começa devagar, introduz personagens e o mundo, mas assim que apertamos o cinto de segurança partimos numa viagem alucinante com batalhas eternas entre humanóides e máquinas, conspirações e reviravoltas de tirar o fôlego. O início até é bastante simples, encontramo-nos em Bionis, um dos titãs em constante batalha com o seu rival, Mechonis. Após o que parece uma eternidade a batalharem, eis que sucumbem e, sobre os seus corpos floresce vida. As nossas personagens vivem em Bionis e as máquinas em Mechonis. Quando as máquinas atacam a Colónia 9, onde se encontra o protagonista Shulk, algo acontece que fará com que este adquira a única arma capaz de danificar as máquinas, a Monado. Com ela na sua posse, Shulk e os seus companheiros lideram uma demanda para se vingar do ataque. Simples e direto, uma história de vingança, mas à medida que avançamos no enredo, as coisas não são bem o que parecem.
Admito que às vezes sentia que a história avançava demasiado devagar com pontos mortos até ao próximo desenrolar do enredo, mas a existência de missões secundárias colmata essa falha, mas o que é demais sempre chateia. Estas missões são já bem conhecidas dos fãs de RPG e assemelham-se mais às dos MMORPG… Não variam muito das missões de “mata este monstro, vai buscar esta pessoa, vai buscar este item”. E isso até faz sentido naquele contexto, mas quando todas as missões secundárias são só isso, cansa e desmotiva o jogador a continuá-las. Os melhores desafios fogem disso, claro, e passam por nos fazer descobrir pontos de interesse no mapa ou enfrentar bosses poderosos, talvez mais fortes que o boss final. Isto já nos desafia e não nos deixa cair na monotonia. Às vezes tinha mais olhos do que barriga e acabava por ver o ecrã de Game Over mais vezes do que queria.
O todo do Xenoblade desfaz-se em várias partes. Essas partes permitem aos jogadores extraírem centenas de horas de entretenimento e explorar diversas maneiras de abordar e vencer no jogo. Uma da qual que não me tornei fã foram as gemas que já referi brevemente. Perto do início, e muito rapidamente, somos convidados a experimentar a criação de gemas.
Consoante as propriedades destas poderão evoluir determinadas habilidades como vitalidade, ataque, resistência e outros bónus mais ativos em batalhas ou outros passivos (como por exemplo, para correr mais rápido). A mecânica não é muito intuitiva à primeira vista; para termos as melhores gemas temos de combinar personagens e ter em conta a sua relação, juntar várias gemas da mesma família e torcer pelo melhor. Não é para desanimar, mas se não entenderem nada à primeira, o jogo tem um guia tutorial bastante compreensivo sobre este e outros aspetos do jogo feito mesmo para ser usado e abusado.
Além da história principal, cada personagem tem o seu próprio desenvolvimento e motivações; existem vários pontos ao longo do jogo, chamados de Heart-to-Heart, onde poderão desenvolver as relações entre membros da equipa, aumentando assim os seus pontos de afinidade. Afinidade que, por sua vez, contribui para uma melhor relação entre as personagens.
Quanto mais elevada for a afinidade entre duas ou mais pessoas, estas podem ganhar novos blocos de habilidades e combinações em combate, permitindo começar ataques em cadeia devastadores. Noutro plano, também poderão estabelecer ligações com quase todos os NPC espalhados pelo mundo do jogo; quanto mais gostarem de vocês, mais missões irão desbloquear e até poderão receber presentes. Ou dar. Caso exista alguma confusão, podem sempre consultar no menu um vasto mapa de relações com todas as personagens com que interagiram, garantindo que nunca se sintam perdidos. Xenoblade Chronicles é um jogo de histórias, tanto a um nível global de jogo como a um nível pessoal e íntimo entre todas as personagens. É bom ver um estúdio que se preocupa com estes detalhes que acabam por ajudar à imersão e que são muitas vezes descurados.
O sistema de batalha é inovador e foge ao cliché dos combates por turnos dos RPG. Bastante ativo, o tempo não pára enquanto lutamos, a menos que utilizem a Monado, tendo assim a habilidade de controlar o tempo. Com a personagem principal poderão ter visões do futuro e ver como e quem é que o inimigo vai atacar. Mecânica bem útil e original que nos permite preparar com antecedência para um possível ataque poderoso. Avisar a personagem, preparar uma cura ou contra-ataque é imperativo para evitar o pior. O segredo é antecipar e não fazer as coisas de cabeça quente. Independentemente da personagem que estejam a controlar, o modo de lutar poderá ser bastante diferente: lutar à distância para evitar ser tocado? Optar por uma estratégia mais pesada e feroz para dar espaço aos colegas? Investir em habilidades que colocam o adversário a dormir, imóvel no chão ou a arder? Como quiserem, vai depender de como querem jogar, mas há truques que terão definitivamente de aprender para avançar.
Xenoblade é um jogo enorme, tanto em número de horas para terminar como a nível de mapas. É possível abusar da mecânica de fast travel, mas ao início vão percorrer muitos campos, vales e pântanos e todos diferentes dos anteriores. E o mundo é todo ele maravilhoso! O mundo é mágico e seja dia ou noite, vão ver que está cheio de vida. Também poderão contar com elementos meteorológicos para introduzir alguma imprevisibilidade à demanda. Nada é igual durante muito tempo. Existem inimigos que apenas aparecem quando chove, outros que surgem à noite (cuidado, à noite são muito mais fortes…) e isto exige que o jogador esteja sempre preparado. Há um cenário, não vou revelar onde ou em que ponto da história o encontram, que é dos mais belos que já vi num jogo. É um pântano completamente vulgar à primeira vista, mas isto durante o dia; à noite, as árvores iluminam-se, criando um espectáculo de luzes mágico e, isto, com a banda sonora do mapa resulta numa serenidade bonita que nos leva a queremos ficar ali só mais um bocadinho. Não só de momentos visuais vive o jogo, a música complementa bastante o que vêem. Facilmente os fãs irão reconhecer o toque de Yoko Shimomura com os seus pianos tão caraterísticos de Kingdom Hearts. Há músicas para qualquer contexto, com especial ênfase para as cenas mais épicas e emocionais, servindo para nos envolver no momento, dentro do próprio jogo. Existem algumas peças que nos marcam, mas falar delas seria tocar em pontos de intrínsecos à história.
No entanto, nem tudo é bom. O excesso de conteúdo e coisas a fazer é abismal e, se por um lado é bom para aqueles que querem sentir o seu dinheiro investido, por outro pode cansar aquele jogador que queira completar tudo. É que não existe muita variedade nas missões e chegamos a um ponto que estamos a fazer o mesmo só porque sim. Um dos efeitos secundários é ficarmos aborrecidos com Xenoblade quando este não merece. O segredo é arranjar um equilíbrio ou deixar alguma (muita) para trás e avançar com a história porque é isso que interessa. Outro ponto menos bom, mas não mau, são os gráficos.
Estamos na geração da alta definição com gráficos quase-realistas e, por isso, muitos poderão ficar de pé atrás com o aspeto de Xenoblade que se assemelha a um velho jogo de PS2. Não que isso seja mau para quem cresceu nessa geração e a jogar RPG, mas serve como aviso para não esperarem um portento gráfico. Se isto não vos incomodar, então terão um jogo visualmente atrativo, mas com as suas limitações. Acredito que mais vale ter bom conteúdo que apelar visualmente e Xenoblade vence neste ponto. Para terminar este lado, é possível que haja picos de dificuldade que exigirão um treino mais feroz para passarem um determinado inimigo, mas com a dose certa de missões secundárias, habilidades, equipamento e gemas equipadas, qualquer boss é ultrapassado. Não é uma questão de forçar, mas ser-se criativo. E se funcionar, melhor!
Xenoblade é um jogo que apenas e somente apelará aos fãs do género RPG. Se este for o vosso primeiro, cuidado, mas não desistam. Invistam o vosso tempo e serão recompensados com uma história épica. Se a história não for o vosso forte, divirtam-se com o sistema de batalhas e combinem estilos para uma melhor experiência de jogo.
Opinião final:
No final de contas, ainda bem que temos este jogo entre nós. Podemos agradecer a todos os envolvidos na operação Rainfall por Xenoblade, e outros, por terem chegado à Wii, à New 3DS, por termos o Shulk no novo Smash Bros para a Wii U. É bom ver que ainda há procura pelo género e que existem bons RPG nas consolas da Nintendo. Xenoblade Chronicles é um bom jogo, ficará connosco durante muito tempo, principalmente porque há demasiadas coisas boas para referenciar como chavões ou frases de personagens e as memórias tão cedo não irão desaparecer. Fazemos figas para que a “sequela” seja tão boa e memorável, mas até lá tudo pode acontecer.
O que gostamos:
- História épica e memorável;
- Gráficos saudosistas da época dourada dos RPG;
- Sistema de batalha dinâmico.
O que não gostamos:
- Missões secundárias aborrecidas e repetidas;
- Picos de dificuldade.
Nota: 9/10