Análise – Xenoblade Chronicles X

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O tempo parece que passou a voar. Ainda há pouco estava a escrever sobre o Xenoblade Chronicles e agora já estou com a sua sequela. No entanto, desenganem-se aqueles que pensam que aqui vamos ter uma continuação da história do anterior. Xenoblade Chronicles X (XCX) é aquilo que se considera de sequela espiritual, não tem ligações diretas com o anterior – assim como um Final Fantasy não se relaciona com o anterior – mas tem algumas piscadelas que apenas os fãs irão apanhar.

Apesar de em termos de narrativa, não existir uma relação entre os dois títulos, XCX aguenta-se firmemente nas suas pernas e ainda bem. Viver na sombra do sucesso dos anteriores não é positivo e não augura um bom futuro para uma nova série a estabelecer-se na Nintendo. A fim de evitar estragar-vos a história, irei passar a correr sobre esta e falar apenas do essencial, o necessário para vos aliciar a pegar no jogo. A história passa-se no futuro, no nosso planeta Terra, e somos apanhados no meio de uma guerra entre duas espécies alienígenas. Na verdade, não nos queremos nada meter, mas infelizmente a coisa não corre bem para o nosso lado e os humanos acabam por sofrer por tabela. Como consequência, temos de abandonar o planeta que é imediatamente destruído no meio dos conflitos. Sem lar e para onde ir, o que resta da nossa espécie acaba por se limitar a deambular pelo espaço em enormes naves espaciais. Algum tempo depois, somos emboscados por uma das espécies que combatiam junto à Terra. Este ataque-surpresa obriga a nossa nave White Whale a aterrar de emergência no planeta mais próximo, Mira, e é aí que a narrativa se irá desenrolar.

Após termos sido encontrados numas das muitas cápsulas de emergência e de sermos levados até à nova cidade de New Los Angeles, ficamos a conhecer a nossa missão: ajudar o que resta da espécie humana a estabelecer-se no seu novo planeta. Há que encontrar mais sobreviventes, melhorar as nossas infraestruturas de tratamento de água, ar, defesas, entre outros e defender a cidade das espécies nativas. Mas XCX não se resume apenas a isto. Ao bom estilo de Takahashi, podem encontrar voltas e reviravoltas no decorrer da história. Quem conhece os jogos desta equipa está a par dos temas, às-vezes-não-tão-subtis, religiosos, morais ou filosóficos e este não é diferente. Não quer dizer que os jogos de Takahashi valem apenas por esta razão, mas digamos que ajuda e muito. Até um enredo simples é muito bom se for bem feito, mas as nuances de cinzento ao invés de um simples preto e branco adicionam uma outra dimensão à narrativa.

Escolhe a tua equipa e parte à descoberta de Mira.

Escolhe a tua equipa e parte à descoberta de Mira.

É tudo o que tenho a dizer sobre a história, mas convém avisar, se esperam mais do mesmo em relação ao anterior, procurem noutro lado! XCX é diferente em todos os aspetos e, na minha honesta opinião, melhor. Um dos pontos diferenciadores de XCX é apresentado logo ao início quando criamos a nossa personagem e não me parece que tenha sido bem-sucedido. O resultado final, seja ele qual for, destaca-se das restantes personagens e não de uma maneira positiva. Enquanto as restantes estão bem animadas e têm expressões, a nossa parece um boneco sem vida. O facto de ser silenciosa, não ajuda. As únicas reações que temos vêm de uma pausa na ação com duas opções de escolha; não são falas, mas reações mesmo, algo que não se pode dizer que tenha sido bem implementado.

Ao contrário de Xenoblade Chronicles, não temos um grupo fixo de personagens do início até ao fim, mas um rol de personagens importantes que vivem em NLA. No entanto, existem duas que ficam para sempre na vossa equipa, Lin e Elma, com o quarto membro sendo rotativo. Este último tem a sua vida na colónia e as suas próprias missões. Ou seja, além do enredo principal (Story Missions) com 12 capítulos, temos missões com essas personagens (Affinity Missions) para as conhecer, fortalecer relações e relacioná-las com o enredo principal. XCX não é movido por um único enredo, mas também pelas suas personagens e respetivas missões intercaladas. Há tanta vida em NLA, que é impossível querer despachar tudo de uma vez. Não o façam, explorem a cidade, vejam o que as pessoas estão a fazer e conheçam as suas histórias. Se investirem nelas, serão recompensados a longo prazo. Além de que alguns capítulos principais requerem que terminem determinados capítulos Affinity.

Depois ainda existem as missões normais ou básicas que passam por matar monstro X ou apanhar item Y. Se as primeiras aparecem no mapa para nos facilitar a vida, as segundas já não são indicadas, deixando o jogador a adivinhar onde se encontra o item. É frustrante, é uma tarefa que pode demorar horas porque temos de ter em conta a área, monstro e hora em que o item aparece e, se for raro, temos de andar até aparecer. Horrível.

Nem tudo é positivo. Infelizmente XCX demora a largar a mão do jogador e consegue passar ainda alguns capítulos a servir de guia. Isto é bastante chato porque não podemos explorar livremente ou jogar à vontade. Durante estes capítulos de introdução é despejada tanta informação que só nos apetece desligar. Admito, fartei-me. É perfeitamente compreensível a necessidade de ser necessário introduzir o jogador ao mundo, personagens e mecânicas, mas rapidamente pode-se tornar maçador levar com tanta informação, chegando a tornar-se excessivo. Queremos ter liberdade de descobrir sozinhos e de explorar à vontade. Depois passa, depois estamos sozinhos sem ajudas, mas temos um manual e guias que podemos sempre aceder no menu. Nunca a frase “show, don’t tell” (mostra, não digas) fez tanto sentido.

As batalhas conseguem ser caóticas, mas com uma boa preparação conseguem vencer.

As batalhas conseguem ser caóticas, mas com uma boa preparação conseguem vencer.

A mecânica de jogo não mudou de um Xenoblade para o outro, e ainda bem. Assim sentimo-nos em casa desde o primeiro momento, mas não pensem que isto é uma reciclagem de mecânicas. Apesar de a jogabilidade ser a mesma da prequela, foi bastante refinada, existindo mais detalhes e uma melhor micro-gestão tanto de equipamento, habilidades e mesmo em batalha. Retiraram a criação de gemas, mas substituíram pela criação de augments que visam a melhorar partes do equipamento com slots (ranhuras) disponíveis. Há uma imensa coleção de equipamento para comprar, aperfeiçoar e experimentar que é impossível usar apenas um durante muito tempo. E ainda, se não gostarem de nada (é possível) existe uma funcionalidade de Fashion Gear que vos permite alterar o aspeto de qualquer armadura para uma roupa que vos agrade, e isto sem perder quaisquer benefícios à defesa, ataque, etc. Portanto, podem passar o jogo inteiro de calças de ganga, top e óculos de sol sem problema. Estilo acima de tudo. Ou de biquíni. E aqui jaz uma polémica que tem vindo a assombrar o lançamento deste jogo. Na versão ocidental de XCX retiraram a opção de vestir uma criança de 13 anos só com biquíni, assim como a opção de aumentar os nossos seios.

Fala-se em boicote, censura, desrespeito e que não vão comprar o jogo e isto deixa-me a pensar. Se estas são as únicas preocupações da comunidade então fico com imensa pena destas pessoas. Passa a imagem de que a comunidade é constituída por jogadores imaturos ou pior, mas isto seria uma conversa para outra altura. Ignorar um excelente jogo por estas razões, é triste, principalmente quando algo cuja influência no jogo é, a bem dizer, nula acaba por ser sobrepor a tantas outras coisas que de facto fazem XCX naquilo que ele é.

Há muito para explorar cujo impacto no jogo é mais notório, como por exemplo nas batalhas. Nestas foi introduzida uma nova funcionalidade de Soul Voices que faz com que as personagens gritem comandos durante as lutas e se usarmos as Arts certas, estas infligem mais dano ou recuperam mais pontos de energia. Podemos personalizá-las ao mais ínfimo detalhe. Há outros comandos que surgem no ecrã e que temos de carregar no botão no momento exato para levantar a moral, agilizar esses Soul Voices e tornar as batalhas mais dinâmicas. Uma batalha não é igual, então com a introdução de Classes, as opções são quase ilimitadas. Podem ser o que quiserem, aprender Arts e Skills e misturar as últimas em classes diferentes. Também as armas serão diferentes entre classes; querem causar mais dano? Curar? Apoiar a equipa à distância? Ser o mais rápido a atacar? As opções são imensas. Outra inovação que adorei experimentar foi a mecânica dos Skells, robots gigantes que podemos comprar, construir de raiz e utilizar no mundo para andarmos mais rápido, aceder a locais difíceis ou usar em combate. É um fantástico espetáculo visual ter quatro robots gigantes a defrontar monstros igualmente enormes que nos esmagariam sem os Skells. Há limites para não abusarmos, como o preço da gasolina ou seguros para danos. Tal e qual como na vida real.

Xenoblade não é um jogo fácil, mas assim que nos habituarmos às mecânicas, torna-se num dos jogos mais intuitivos de sempre. É fácil de jogar, mas difícil de aperfeiçoar e vão regressar várias vezes ao manual digital no menu. Dias depois e dou por mim a reler pontos que não entendi bem. Não há problema nisso, a meio da história ainda estarão a aprender coisas novas. Um jogo que não deixe de surpreender é um bom jogo.

O mundo é grande, mas não estão sozinhos, apenas tenham cuidado por onde andam

O mundo é grande, mas não estão sozinhos, apenas tenham cuidado por onde andam

Estando na Wii U é de esperar que que a sequela seja superior ao nível gráficos e sonoro, ou pelo menos equiparável ao primeiro. Quanto a isso não há problema. Xenoblade X aumentou a fasquia em relação ao anterior e é uma maravilha de se ver. É sabido que a consola é menos potente que as rivais no mercado, mas isso não impede de o jogo ser um dos mais bonitos que já agraciou a plataforma da Nintendo. O mundo é gigante e está cheio de belos detalhes, a natureza está viva, vibrante e cheia de cores. Há cascatas enormes, árvores gigantes, escarpas, oceanos, tempestades, gelo e fogo no ar e toda uma fauna dinâmica a viver nesse mundo. Não estranhem os gigantes a saciarem a sede em lagoas, os monstros voadores a sobrevoarem as copas das árvores ou os pequenos a caçar. Muitos não vos ligarão nenhuma, mas outros atacarão assim que vos virem. E isto tudo ao som das fantásticas composições de Hiroyuki Sawano, uma opção bem distinta da compositora anterior, Yoko Shimomura, Ace+ e restantes. Podem conhecer o nome dele de séries anime como Attack on Titan, Kill la Kill, Aldnoah.Zero e, se o conhecem, já sabem como é o estilo do seu trabalho. Contem com músicas rápidas, orquestras e coros, muitos coros. As peças orquestrais adicionam uma outra dimensão ao ambiente do jogo e não há nada como andarem a explorar ao som das peças de XCX. No entanto, algumas das músicas podem ter o efeito oposto e tornar-se repetitivas. Um bom exemplo é a música da cidade principal, que é absolutamente pavorosa e apenas resulta numas quantas “reviradelas” de olhos de cada vez que a ouço. Fora alguns percalços, a banda sonora é definitivamente um dos pontos fortes de XCX. Não digo que a música é melhor face ao anterior, digo que é diferente. São pessoas e estilos opostos, vale o que vale e apreciem por isso.

À data desta análise, as opções do online ainda não estavam operacionais, daí não falar muito delas. Apenas deu para me juntar a um Squad e cumprir alguns objetivos no meu jogo sem a presença de outros jogadores. Isto só serve para apimentar uma sessão de jogo e, no fim, há recompensas consoante os resultados da caça.

Para terminar, Xenoblade Chronicles X não é um jogo perfeito, mas não está longe desse galardão. Tem muito de bom e pouco de mau, mas se a Wii U se vai despedir em breve, então este jogo é uma grande despedida. Não podiam ficar melhor servidos – Isto até sair o novo Zelda, se sair…

Opinião final:

Xenoblade Chronicles X consegue assumir-se como um forte exclusivo da Wii U, ainda que se pudesse ter deixado ficar na sombra do seu antecessor. Não se encostou às glórias passadas e apresenta-se como um excelente título, conseguindo inovar e apresentar uma experiência de jogo imersiva que certamente não irá desiludir os fãs da série.

O que gostamos:

  • Mundo enorme;
  • Jogabilidade aperfeiçoada face à prequela;
  • Gráficos bonitos e detalhados, criando algumas das paisagens mais bonitas já vistas em videojogos;
  • Banda sonora épica (a maior parte das vezes);
  • História apelativa.

O que não gostamos:

  • Missões secundárias repetitivas;
  • Colecionar itens torna-se um fardo;
  • Podem fartar-se das músicas rapidamente;
  • Dificuldade acentuada que pode desmotivar.

Nota: 9/10