Faz quase três anos que Yo-kai Watch – um RPG de aventura ao estilo de Pokémon – foi lançado no Japão, tendo um sucesso tal que se criaram mangas, temporadas de anime, filmes e vários produtos de merchandising alusivos à série, para além de uma dança que se tornou viral no país. Entretanto, mais jogos da série foram sendo lançados, mas, ao contrário da tendência registada nos últimos anos em relação aos jogos japoneses, o primeiro continuou disponível exclusivamente no mercado japonês e apenas no próximo dia 29 de abril é que chegará ao mercado europeu, data em que fãs e curiosos poderão jogá-lo pela primeira vez.
Também nós no Portugal Gamers estávamos desejosos de saber como é que uma nova propriedade intelectual conseguiu, sem mais nem menos, alcançar valores equiparáveis aos de lançamentos mais recentes de séries estabelecidas como Digimon ou Pokémon, desejo esse que foi prontamente satisfeito após alguns minutos de jogo. Assim que iniciamos Yo-kai Watch nos damos conta de que estamos perante um jogo prometedor, tanto pelo ambiente alegre, calmo e divertido, que nos conquista nos primeiros segundos, de Springdale – cidade onde decorre o jogo – como pela excecional banda sonora que acompanha harmoniosamente a ação e pelos vários diálogos e cinemáticas engraçados.
Durante o Verão, os estudantes de Springdale devem realizar um projeto para a escola, com um tema à sua escolha. O do(da) protagonista é, tal como o dos seus amigos, apanhar insetos e fazer uma coleção, sendo que quanto mais raros forem os bichos, melhor. Este mesmo projeto leva-nos até ao Mount Wildwood, a montanha mais alta da cidade e onde encontramos uma grande variedade de insetos, incluindo alguns muito raros.
Enquanto exploramos a área, encontramos subitamente uma antiquíssima máquina de bolas encostada à maior árvore da floresta, de onde sai uma voz sombria que pede, de maneira misteriosa, que metamos uma moeda na mesma. Depois de um momento de sobressalto e incredulidade, o(a) protagonista precipita-se para a máquina e executa o que lhe foi pedido, retirando uma bola e abrindo-a. Desta sai, nada mais nada menos que Whisper, um mordomo Youkai que nos acompanhará durante toda a aventura.
Com a ajuda deste personagem vamos conhecendo cada vez melhor o mundo destes espíritos (os Youkai), inspirados no folclore japonês e que, neste jogo, são responsáveis por várias situações caricatas do dia-a-dia de Springdale que afetam quer os vários NPCs que vamos encontrando, quer nós próprios. Por exemplo, encontramos uma Youkai de nome Tattletell, que faz com que digamos tudo o que nos vem à cabeça, o que leva a que o nosso protagonista – possuído por este espírito – reclame fortemente por ter um fantasma estranho sempre atrás de si.
Todos estes espíritos têm uma personalidade e tarefa específicas, levando a que não sejam apenas «mais um», mas sim um personagem completamente diferente dos restantes, embora, como é claro, os personagens mais recorrentes sejam tratados com um maior detalhe. Estes espíritos reguilas estão, por isso, na origem de muitas situações cómicas e com várias referências a provérbio, piadas e até mesmo memes da internet, como o Captain Obvious. Com cada um destes vamos travando amizades depois de os combatermos ou, se for caso disso, de realizarmos algum pedido ou tarefa.
Quanto ao sistema de combate, Yo-kai Watch não é brilhante, mas proporciona uma maneira divertida e frenética (talvez até demais) de jogar. Enquanto no ecrã principal os Youkai se defrontam num espetacular ambiente 3D, no ecrã tátil conseguimos ver a sua disposição num disco (os três Youkai que se encontram na parte superior do disco são os que ficam em combate), atacando automaticamente, mesmo sem a nossa ajuda. No entanto, esta ação automática não leva a que fiquemos simplesmente parados a ver o combate, mas sim a que tenhamos de ter em mente vários fatores.
O primeiro deles e mais simples é o Soultimate (Soul + Ultimate) que corresponde a um ataque ou movimento mais forte ou, pelo menos, com mais impacto e que podem mudar, de um momento para o outro, o destino do combate. O segundo é o Target, que nos permite escolher um inimigo específico para atacar ou, num encontro com bosses – Youkai maiores, mais fortes e mais resistentes -, uma determinada parte do seu corpo, o seu ponto fraco, que é fulcral para sairmos vitoriosos. O terceiro é o Item, em que recorremos ao que compramos ou encontramos anteriormente para curar ou reviver os nossos Youkai ou então para aumentar a probabilidade de o Youkai que estivermos a combater se tornar nosso amigo. Finalmente temos o Purify, que nos permite «curar» os Youkai que foram possuídos pelos nossos inimigos e que, por isso, atacam menos e ficam mais vulneráveis. Apenas podemos fazer purificar espíritos que se encontrem na linha da retaguarda, tal como podemos apenas usar o Soultimate de espíritos na linha da frente.
Embora possa parecer simples e o contrário de frenético, o sistema de Yo-kai Watch não é o que parece à primeira vista, sendo que para realizarmos o Soultimate ou purificarmos os Youkai devemos fazer um conjunto de ações no painel tátil. O problema é que enquanto realizamos estas ações não podemos estar com atenção ao que está a acontecer no ecrã superior e perdemos grande parte da ação, deixando o combate de ser uma experiência tão aprazível como poderia, uma vez que os ambientes coloridos e bem trabalhados com magníficos efeitos 3D, deixam de ser o foco da ação para dar lugar a um não tão rico painel tátil de menus.
Tal como os ambientes e Youkai que encontramos, toda a cidade de Springdale está muito bem desenhada, tendo-se dado grande enfase aos pormenores e ao ambiente pacífico e em comunhão de um Verão relaxado numa cidade tão alegre. Nesta, a Level-5 (equipa responsável por Yo-kai Watch e outras séries conhecidas como Professor Layton ou Ni no Kuni) teve em atenção vários pormenores que fazem deste jogo uma experiência ainda mais agradável sendo muito satisfatório, por exemplo, tocar num interruptor igual aos que vemos nas cidades e passarmos quando a cor do semáforo muda, sendo «recompensados» com um pequeno toque musical, do que simplesmente atravessar a estrada, sem ter em atenção o trânsito. Claro que não são estes aspetos que fazem de um jogo bom ou mau, mas são estes que ajudam (e bastante) a criar um ambiente imersivo e no qual é um prazer aventurarmo-nos.
Mesmo nos diálogos podemos encontrar situações engraçadas e pormenores, começando os personagens a moverem-se ou a expressar uma determinada emoção consoante o que estiver a acontecer. No entanto, mesmo durante os diálogos, enquanto lemos as falas dos personagens perdemos muitas destas reações e situações cómicas, voltando a aparecer o mesmo problema que encontramos no sistema de combate: o facto de com tanto a acontecer ao mesmo tempo, acabarmos por perder um ou outro pormenor a que gostaríamos de dar maior atenção.
À medida que vamos encontrando novos Youkai, vamos tendo a necessidade de treinar ainda mais os que já temos para que possam competir com os espíritos mais fortes. Assim, vamos evoluindo os nossos Youkai que vão melhorando em velocidade de ataque, força e resistência. Há de notar, no entanto, que não apresentam qualquer variância nos seus Soultimate, pelo que tanto um Jibanyan de nível 1 como um Jibanyan de nível 30 tem exatamente os mesmos ataques o que, por um lado, promove o uso de vários Youkai, mas, por outro, faz com que o jogo se torne um pouco repetivivo.
Nesta aventura, as missões vão-se sucedendo umas às outras sem interrupções, tal como em praticamente todos os jogos do género, mas existem sempre várias missões secundárias (que só podem ser feitas uma vez) e favores (que podem ser feitos várias vezes) que podemos completar sempre que quisermos, tendo de falar com os NPCs espalhados por Springdale e ter sorte de encontrar o que precisam.
Haverão ainda algumas que nos levam até locais interiores específicos e de grande dimensão onde (numa mistura de The Legend of Zelda com Pokémon) devemos percorrer vários pisos e defrontar vários Youkai até esbarrarmos contra o boss da masmorra. Em algumas destas masmorras e alguns pontos do jogo, contrastando com o resto do jogo, encontramos efeitos 3D não tão bem trabalhos e que se notam bastante bem uma vez que tudo o resto, desde as cinemáticas espantosas para a 3DS ou os próprios cenários estão um primor. Assim, Yo-kai Watch perde alguns pontos devido ao facto de, embora perfeito em quase todos os efeitos 3D e detalhes apresentados, apresentar alguma inconsistência em certas partes do jogo.
Ainda durante as missões reside o principal ponto negativo de Yo-kai Watch e que contrasta profundamente com o ambiente relaxante, alegre e divertido de Springdale, capaz de acalmar mesmo nos momentos mais frustrantes: o facto de que, sempre que perdemos voltamos à casa do(a) protagonista.
Pode não parecer muito, mas este facto leva a que, mesmo que estejamos muito longe da nossa casa, tenhamos de repetir todo o percurso (e que muitas vezes não é nada pequeno) até voltarmos ao ponto em que perdemos. É algo que simplesmente não faz sentido e que nem se trata de proporcionar maior desafio ao jogador, apenas faz com que tenhamos de passar mais tempo a correr até podermos continuar a história.
Opinião final:
Yo-kai Watch fez furor no Japão há já quase 3 anos e é fácil de perceber porquê. Com uma banda sonora e um ambiente fantástico, personagens carismáticos, diálogos engraçados, cinemáticas esplendidamente executadas e muitos pormenores que enriquecem a experiência, torna-se difícil não ficar apaixonado por Springdale e os seus insólitos habitantes. Mesmo com alguns aspetos negativos (que resulta, um deles, do facto de o jogo ser muito completo, por aqui se vendo a ambição da Level-5) como o combate demasiadamente frenético, Yo-kai Watch não deixa de ser um jogo espetacular e obrigatório para os detentores de uma 3DS que apreciem jogos como Pokémon.
O que gostamos:
- Muitas cinemáticas, situações e diálogos engraçados;
- Efeitos 3D dos melhores que existem na 3DS;
- Yo-kai muito carismáticos e todos com a sua própria personalidade;
- Springdale conquista pelo seu ambiente calmo e pela sua beleza;
- Cinemáticas espetaculares para uma 3DS;
- Grande atenção dada aos pormenores.
O que não gostamos:
- Inconstância na qualidade dos efeitos 3D;
- Sempre que perdemos temos de voltar a nossa casa;
- Invariância de ataques.
Nota: 9/10