Em outubro de 2016 a Nippon Ichi Software começava a afastar-se dos jogos JRPG que entretanto já se tinham tornado característicos do estúdio e lançava Yomawari: Night Alone, um jogo de terror com gráficos minimalistas e “enganosamente fofinhos” para PC (Steam) e PlayStation Vita. E eis que um ano depois, o estúdio, em parceria com a NIS America, volta a apostar neste universo com uma sequela, intitulada Yomawari: Midnight Shadows.
Yomawari: Midnight Shadows segue os passos do seu antecessor e é um jogo de puzzles numa ambientação de terror psicológico que não necessariamente tem como objetivo – como é comum nos conteúdos de terror japonês – provocar sustos, mas sim deixar o jogador desconfortável e com uma sensação de vulnerabilidade.
Esta sequela não traz grandes inovações e com certeza grandes mudanças não era o que os fãs esperavam, porém, traz uma ambientação mais obscura, que contrasta ainda mais com o estilo gráfico aparentemente inocente, mas que esconde acontecimentos cruéis e sombrios. Ao contrário do seu antecessor, onde tínhamos uma única protagonista, este segundo jogo traz duas personagens principais, Yui e Haru, que decidem ir até um local alto para ver o fogo de artificio. Após um momento de grande cumplicidade, decidem regressar à cidade por um bosque, sendo neste caminho de regresso que começam a ver sombras e a ouvir barulhos estranhos, que as deixam preocupadas. Lamentavelmente, algo acontece e elas acabam por se separar, cabendo agora ao jogador reuni-las de novo.
Durante todo o jogo vamos encontrando espíritos e criaturas inspirados no folclore japonês a andar pelos cenários, alguns sem o menor receio de se mostrar ao jogador, enquanto outros apenas serão visíveis através da utilização de uma lanterna, que muitas vezes será a única fonte de luz no cenário.
Por se tratarem de duas crianças, na grande maioria das situações a primeira opção será sempre fugir ou tentar escondermo-nos, já que as protagonistas não têm armas capazes de causar danos massivos a estas criaturas. O sistema de ocultação está de regresso também, permitindo ao jogador interagir com arbustos ou objetos que irão ocultar as protagonistas até que estas criaturas desapareçam. Nesses momentos, haverá um indicador que irá mostrar a posição e o quão próximos estão estes monstros.
Apesar de fugir ser sempre o mais indicado, correr não será uma opção tão simples assim, já que existe uma barra de cansaço que irá ser influenciada pelo medo que a personagem sente. Quando numa situação de tranquilidade, esta barra é gasta num tempo considerável, ao passo que, numa situação de tensão, se esgota muito mais rápido, deixando o jogador numa situação de ainda maior vulnerabilidade.
Desta forma, por mais que Yomawari: Midnight Shadows fuja dos padrões de survival-horror ocidentais e até orientais, traz uma experiência clássica dentro do género, colocando o jogador numa situação de inferioridade em relação aos inimigos, além de trazer um sistema de save limitado a moedas e locais específicos, como templos ou telefones.
Basicamente, o jogador vai explorar cenários repletos de espíritos e criaturas “assustadores” (aqui o assustador é muito mais pelo conceito do que realmente pela criatura), recolhendo no processo pistas e objetos que irão ajudar a avançar e conhecer mais da história do jogo. Esta sequela traz um mapa duas vezes maior do que o do seu antecessor e uma longevidade ainda maior, com uma novidade interessante: agora é possível explorar o interior de certos locais.
Por termos agora não uma, mas duas protagonistas, o jogador irá alterar durante a história entre elas, pelo que enquanto uma em determinado momento está a explorar as ruas do Japão, a outra poderá estar a enfrentar um desafio de grande tensão na biblioteca municipal cheia de fantasmas – local que, e por ser mais fechado, irá exigir do jogador uma maior atenção aos sons que produz enquanto se movimenta e que pode chamar a atenção dos seus “predadores”.
Esta possibilidade de explorar ambientes mais fechados também trouxe em momentos pontuais da história a mecânica de mudança de câmara para uma visão isométrica, o que irá permitir ao jogador ver toda aquela situação de uma perspetiva completamente diferente, o que se pode revelar ser um desafio acrescido.
Ao longo dos vários cenários vão surgindo puzzles simples, como mover objetos ou interagir com os mesmos. Não esperem nada de demasiado complicado, e o próprio jogo trata de facilitar ainda mais este trabalho com avisos para o jogador através de objetos que brilham e se destacam no cenário, ou através de um sinal de interrogação em cima da cabeça da personagem, que avisa o jogador de qual objeto com que deverá ou não interagir. Haverão ainda talismãs, que, ao serem equipados, darão vantagens únicas aos jogadores e ajudarão a “enfrentar” os perigos deste mundo tenebroso.
Yomawari: Midnight Shadows, ao contrário do seu antecessor, trouxe um maior foco também para os momentos de maior tensão, com o jogador a não estar seguro em nenhum momento. A qualquer momento uma criatura pode surgir mesmo à vossa frente, uma vez que, embora algumas criaturas estejam fixas no mapa, a posição de outras é totalmente aleatória. Isto aumenta a imprevisibilidade e causa muitas vezes mortes inesperadas, o que de certa maneira é algo de bom dentro do género, já que aumenta a sensação de perigo e faz o jogador querer guardar o seu progresso sempre que for possível (o que, como dissemos antes, não pode ser feito sempre que o jogador quiser).
Um dos pontos fortes do jogo está na banda sonora, que ajuda de maneira notável a criar uma imersão do jogador neste mundo, tudo isto feito de uma maneira bem subtil, de tal modo que podemos nem reparar em como o faz. Sons de vento, passos, movimentações em arbustos ou o lamento dos espíritos, são alguns exemplos de efeitos sonoros que ajudam a imergir o jogador neste Japão sombrio e de monstros à solta. Com estes efeitos, o jogador nunca estará realmente num ambiente silencioso, o que prova que nem sempre o silêncio é o que traz maior medo.
Opinião final:
Em resumo, Yomawari: Midnight Shadows é um jogo com um estilo muito similar ao do seu antecessor, sendo que visualmente não trará grandes novidades para além de momentos em que a câmara assumirá uma perspetiva isométrica. Se por um lado esta opção de se manter fiel ao primeiro jogo tem pontos positivos, também tem as suas falhas, sendo a principal a perda substancial do fator de surpresa de que o primeiro jogo se fazia acompanhar.
Definitivamente não é um jogo para quem está a procura de um jogo assustador e que irá testar o coração, é muito mais um jogo de introdução ao género, colocando o jogador em situações onde se irá sentir desconfortável com alguns acontecimentos mais tenso. Deste modo, é praticamente obrigatório para aqueles que, já estando habituados a jogos mais assustadores, procuram uma imersão ainda maior, seja através da escolha de um local completamente escuro para jogar, de headsets ou até mesmo de uma pesquisa prévia sobre o folclore japonês.
Do que gostamos:
- Mantém os momentos de tensão até ao final;
- Maior variedade de cenários;
- Maior longevidade;
- Banda sonora que ajuda na imersão do jogador.
Do que não gostamos:
- Mortes por vezes gratuitas;
- Não é um jogo que irá conquistar todos os fãs do género;
- Perda do fator surpresa em relação ao primeiro jogo;
- Puzzles demasiado simples.
Nota: 7/10