Como já é tradicional, sempre gosto de trazer um artigo especial para o Halloween, não por ser uma data que leve tão a sério, mas por ser um momento onde é possível fazer indicações de conteúdos mais voltados para o terror e horror, género que sempre gostei desde miúdo e que infelizmente não tem o mesmo destaque de algumas décadas atrás.
Porém, esse ano decidi seguir um rumo totalmente diferente de outros artigos do passado e ao invés de apostar em promoções ou indicações de jogos que estão a fazer eventos temáticos, decidi esmiuçar um pouco o ano de 2019 e trazer 5 indicações de jogos, filmes e no caso desse artigo específico séries que na minha opinião destacaram-se até o momento.
Mas até para limitar um pouco a lista a apenas 5 séries apenas e filtrar produções de qualidade muito inferior, decidi criar algumas regras para essas escolhas:
- 1º A série não precisa ter um episódio dedicado ao Halloween, mas precisa obrigatoriamente ter elementos de Halloween, principalmente na construção da sua narrativa.
- 2º Farei indicações de séries que estão sendo exibidas em diferentes canais e streamings, a ficar então a escolha do leitor decidir como terá acesso a essas séries.
- 3º No top 5 apenas estarão séries que fizeram a sua estreia em 2019, sendo assim, novas temporadas não estão incluídas.
- 4º Apesar de organizado num Top 5 não significa que a primeira série é melhor que a última, ou que uma série que recebeu maior atenção na descrição é melhor que uma série com descrição mais breve, todas possuem qualidades individuais e o tempo dedicado a cada um delas, tem como base principalmente a necessidade de apresentar o seu universo ou não.
- 5º Obviamente é uma lista que tem como base a minha opinião, caso não concorde, tem toda liberdade de deixar outras indicações nos comentários, porém, comentários ofensivos ou depreciativos, serão automaticamente apagados.
1º – Creepshow
É impossível falar de Creepshow sem fazer uma breve viagem ao passado, para entender o peso dessa série. O que, na verdade, é Creepshow? Porque Stephen King e George Romero são fundamentais nessa historia? E principalmente porque podemos dizer que eles “são filhos e ao mesmo tempo pais dessa criação”?
No inicio dos anos 40, foi fundada a Education Comics (EC) por Max Gaines (também fundador da All-American Publications que viria a juntar-se a um grupo que daria origem a DC Comics posteriormente), com a proposta de criar bandas-desenhadas bíblicas. Porém, após a sua morte em 1947, quem assumiu a empresa foi o seu filho, Bill Gaines, que não fazia a menor intenção de dar continuidade ao projeto, pelo menos não aos moldes que o seu pai idealizou. Foi então que aplicou uma estratégia interessante, ao alterar o nome para Entertainment Comics, o que permitiu manter a mesma sigla, EC, mas agora com uma proposta totalmente diferente, ao publicar bandas-desenhadas gore, sujas, sarcásticas, violentas e inclusive com capas questionáveis para a época, tanto que muitos acreditam que foram essas publicações que levaram o governo norte-americano a criar a Comics Code Authority. Infelizmente toda a construção das publicações da Entertainment Comics, tinha como base elementos que foram proibidas pela Comic Code Authority, o que levou a empresa a declarar falência no final dos anos 50.
Caso queiram saber um pouco mais sobre a importância do Max Gaines para o mundo das BDs ou mais detalhes sobre toda a confusão a envolver principalmente a EC com a Comics Code Authority, deixem nos comentários daqui do site ou nas redes sociais).
Mas onde entra o Creepshow nessa historia? George Romero, o pai da terror/horror moderno nasceu em 1940 e Stephen King nasceu em 1947, então eles cresceram a ler Tales from the Crypt, The Vault of Horror, Weird Fantasy, entre outros e após grandes sucessos cinematográficos, em 1982 juntaram-se para produzir Creepshow, um filme que inclusive tinha na sua equipa técnica, Tom Savini, que é considerado até hoje o mestre dos efeitos especiais práticos. O filme era uma homenagem justamente a essas publicações da EC, ao apresentar 5 historias narradas pelo Uncle Creepy uma das figuras mais icónicas do universo de terror e horror e o mais curioso é que, juntamente com o filme, foi publicada uma banda desenhada homónima, produzida por Bernie Wrightson (criador do Swamp Thing) que contava exatamente as mesmas historias do filme, afinal, já que a narrativa era construida com base numa banda-desenhada, nada mais natural que trazer isso fisicamente para o fã do género.
E ai chegamos a 2019, onde Greg Nicotero (Fear the Walking Dead) que inclusive foi aprendiz do próprio George Romero e de Tom Savini decidiu produzir uma série original distribuída pelo canal de streaming norte-americano, Shudder e que segue essa ideia de apresentar contos de terror e horror através de um formato de antologia, no caso dois contos por episódio, onde cineastas e autores do género são convidados a escrever o argumento de cada conto. Obviamente que não vou descrever cada conto até porque a série ainda está em exibição, mas basta dizer que é uma série perfeita para quem gosta do género e acompanhou toda a saga da EC e/ou viu o filme de 1982.
Infelizmente acredito que não seja uma série para todos os públicos, quem procura jumpscare, monstros a fazerem aparições fantásticas, uma série que perde horas e horas com explicações desnecessárias e expositivas vai se dececionar muito com Creepshow, pois a ideia por detrás da maioria dos contos não é assustar o espetador com situações pontuais e na sua maioria previsiveis é na verdade manter uma tensão constante, com a série a apostar em mergulhar esse espetador numa narrativa tão densa, que ao terminar um conto, ele ficará alguns minutos a refletir sobre o que viu e sobre o que cada um deles quis trazer. Além disso, aqueles que assistiram o filme de 1982 ou são fãs do género, vão identificar muitas referencias e easters eggs desde o primeiro episódio, que inclusive possui um conta escrito pelo próprio Stephen King.
2º – NOS4A2
NOS4A2 é uma série do canal norte-americano AMC (inclusive é transmitida no AMC Portugal) que adapta o livro homónimo escrito por Joe Hill.
A primeira temporada possui um total de 10 episódios e segue a historia de Victoria “Vic” McQueen (Ashleigh Cummings), uma jovem que descobre ter habilidades sobrenaturais que a permitem rastrear o imortal Charlie Manx (Zachary Quinto) uma criatura que alimenta-se da alma de crianças que ele sequestra e depois deposita na Christmasland, uma aldeia gélida e sinistra criada a partir da imaginação de Manx. Vic então inicia uma jornada perigosa para derrotar Manx e salvar as suas vítimas, ao mesmo tempo que precisa preocupar-se em não se deixar apanhar por essa criatura.
NOS4A2 já foi renovada para uma segunda temporada.
3º Kingdom
Kingdom é uma série sul-coreana de terror e horror, produzida pela Netflix que fez a sua estreia logo no início de 2019.
A primeira temporada possui um total de 6 episódios e caso tenham curiosidade para saber mais sobre a série, a minha opinião e até o contexto narrativo e técnico, poderão ler a análise que fiz pouco tempo após a estreia.
Sem revelar grandes spoilers, Kingdom é uma série de “zombies” onde o espetador precisa esquecer um pouco o conceito criado nos últimos anos, já que os zombies possuem características próprias da historia e em determinado momento, eles apenas servem como um elemento adicional de uma narrativa cheia de intrigas políticas e criticas sociais.
Kingdom foi renovada para uma segunda temporada que estreia em março de 2020.
4º Black Summer
Black Summer é uma série norte-americana, também produzida pela Netflix e que de maneira surpreendente é um spin-off da série Z Nation, porém, aqueles que não assistiram à série principal não precisam o fazer (nem aconselho), pois a historia é totalmente independente e não há personagens de Z Nation em Black Summer.
Black Summer não é uma série linear e muito menos há um protagonista fixo ou traz uma grande apresentação sobre os zombies e sobre a origem do surto, ela parte logo do princípio que os espetadores conhecem essas criaturas, as suas características e principalmente a maneira como podem ser mortas.
Apesar de não inovar no seu conceito base, ou seja, uma série de sobreviventes a um apocalípce zombie, não espere uma versão Netflix de The Walking Dead, já que as criaturas em Black Summer estão mais próximas dos zombies do filme 28 Days Later graças a sua incrível velocidade e não são criaturas frágeis, muito pelo contrário, então não basta chegar ao lado delas e cravar uma faca, os zombies em Black Summer vão exigir um esforço e estrategia considerável dos sobreviventes.
Black Summer possui até o momento apenas 1 temporada com 8 episódios.
5º Swamp Thing
Swamp Thing, é uma série que foi transmitida pelo serviço de streaming, DC Universe, sendo a única série dessa lista que não tem como género o terror ou horror, porém, a sua ambientação por mais incrível que pareça, consegue ser mais tensa, do que muita série idealizada dentro do género.
A série foi desenvolvida por, James Wan (Insidious; Aquaman), outra surpresa nessa lista já que definitivamente 95% das obras na qual ele está envolvido, não entra em nenhuma lista de terror que faria, já que não sou grande fã de filmes que seguem uma formula de terror com base em jumpscares, pois é a mesma coisa que estar a conversar com um amigo e do nada ele simplismente dar uma chapada em ti, não será um filme de terror, mas por ser algo inesperado para o momento, o susto será inevitavel, então jumpscare com um elemento principal, na minha opinião transforma a obra numa mecanica de susto demasiado facil e que subestima o espetador.
Swamp Thing possui 10 episódios que narram a historia de Abby Arcane, um mulher que trabalha no CDC em Atlanta, até que um dia precisa regressar a sua terra natal em Houma, Louisiana para investigar um suposto vírus mortal e extremamente misterioso. Durante as suas investigações, ele conhece Alec Holland, um homem que aparentemente sabe a origem dessa infeção e que misteriosamente durante uma noite sofre um atentando. A medida que a investigação avança, Abby irá descobrir mais sobre os segredos de Houma, sobre os mistérios que envolvem o pântano da cidade e sobre o destino de Alec.
Infelizmente surpresa é uma palavra que define em muitos níveis essa série, já que é uma produção de grande qualidade, com uma ambientação espetacular, uma adaptação bastante fiel ao personagem e que infelizmente, foi cancelada antes mesmo do seu final, algo que surpreendeu aos fãs e a critica especializada. Porém, mesmo a limitar-se a uma temporada, ainda assim é uma excelente indicação para quem procura algo totalmente diferente para o Halloween.
Menção Honrosa
Lore
Sei que já gastei bastante tempo ao apresentar a historia por detrás da série Creepshow, mas aqui também convém uma breve introdução, para entender a minha escolha, afinal é uma série de 2017, numa lista de indicações de 2019.
Como mencionei no início do artigo cresci com conteúdos relacionados a terror e não estou a falar apenas de filmes ou séries de terror e muito menos um conteúdo que seria hoje considerado indicado para a idade, muito pelo contrário, os filmes de terror que cresci a ver tinham nudez, sexo, sangue a jorrar no ecrã, desmembramentos, entre outras coisas e por vezes nem eram conteúdos tão assustadores e que tiravam o sono, por vezes era uma experiencia de humor negro muito intensa. Mas havia um conteúdo em específico que fazia gelar a espinha, os sites que compilavam supostas imagens reais de fantasmas, criaturas, demónios, contos macabros e até mesmo de acidentes terríveis onde os corpos estavam expostos. Porém, esse tipo de conteúdo nos dias atuais já não faz tanto sentido e não assusta tanto como antigamente, porque existem tecnologias para desmistificar esses conteúdos (além do bom senso é claro no caso dos acidentes) e é justamente ai que Lore faz toda a diferença.
Lore é uma série da Amazon Prime Video produzida com base num podcast norte-americano, homónimo de grande sucesso em todo o mundo criado por Aaron Mahnke e que já possui mais de 120 episódios já publicados, com uma média de 5 milhões de ouvintes e que em 2015 ganhou o prémio iTunes de melhor podcast da plataforma. O podcast tem um conceito simples, apanhar as historias e mitos mais inacreditáveis ao redor do mundo e esmiuçar até onde é verdade, qual a origem dessa historia ou mito, em que contexto ele surgiu e sempre a respeitar tanto a visão daqueles que acreditam, quanto aqueles que são mais céticos sobre esses temas.
E a série segue esse mesmo rumo, só que a escolher historias com uma base mais próxima da realidade e a criar uma combinação bastante completa de uma narração feita pelo próprio Aaron Mahnke, com elementos visuais como por exemplo, animações, fotos da época, desenhos e recriação dos eventos com atores reais. A série tem como showrunner Glen Morgan (Ficheiros Secretos;A Quinta Dimensão) e possui duas temporadas com 6 episódios cada.
Não vou explorar cada episódio até porque iria gastar imenso tempo, mas para deixar uma leve prévia do que esperar, posso dizer que o primeiro episódio tem como foco a dificuldade com que os médicos antigamente tinham para declarar a morte de alguém, afinal, não haviam equipamentos e tecnologia tão precisos como hoje em dia, então, era comum que pessoas simplesmente despertassem a caminho do cemitério ou mesmo fossem enterradas ainda vivas. E o episódio explora esses casos, as diferentes soluções que criaram para evitar isso, as influências disso na ficção e até como isso influência ainda hoje a nossa sociedade.
Infelizmente a série foi cancelada em julho de 2019, mas vale muito a pena ver os 12 episódios disponíveis e caso goste começar a consumir o podcast. Inclusive, para aqueles que não tem muito familiaridade com o inglês, existe um podcast brasileiro chamado Mundo Freak Confidencial, que faz um trabalho muito semelhante e que já possui mais de 270 episódios.