Assassin’s Creed Origins foi lançado em outubro de 2017 com uma missão extremamente difícil: apagar da mente dos jogadores as inseguranças e dúvidas em relação à franquia após lançamentos anuais com uma qualidade muito aquém do esperado. Para felicidade da Ubisoft e dos próprios jogadores, Origins foi um grande sucesso de vendas e de crítica e trouxe a redenção da franquia, além do reconhecimento da Ubisoft de que realmente esta precisa de um espaço de tempo entre os lançamentos.
Eis que chegamos a outubro de 2018 com a Ubisoft em parte a ir contra essa perceção, ao lançar Assassin’s Creed Odyssey, jogo que segundo a empresa foi desenvolvido em paralelo com Origins, pela Ubisoft Quebec. Contudo, este novo jogo traz uma missão ainda mais complexa para a empresa: aprimorar as mecânicas do seu antecessor e provar ao público que não estamos diante de um novo erro com um lançamento anual. Será que Assassin’s Creed Odyssey de facto conseguirá superar este desafio ao trilhar um novo caminho para a franquia, ou é apenas uma extensão de qualidade duvidosa do seu antecessor?
Assassin’s Creed Odyssey leva os jogadores até 400 anos antes dos eventos que decorrem em Origins, com o seu grande gancho narrativo a focar-se na lança do grande guerreiro espartano, Leónidas e nos seus descendentes. O jogador então assumirá a personalidade de um Misthios (Mercenário), que terá que lidar com o seu passado, o confronto constante entre Esparta e Atenas e um arco de história que irá combinar um passado ainda mais distante e um futuro que nós jogadores conhecemos, mas que está ainda muito distante para a personagem.
E aqui surge a primeira e talvez a principal e mais marcante diferença em comparação com os jogos anteriores, o jogador irá assumir o papel de um de dois Misthios, ou seja, logo ao iniciar o jogo já seremos confrontados com uma grande escolha, jogar na pele de Alexios ou Kassandra. Esta escolha não irá influenciar muito a história, mas em alguns diálogos, porém, é notável a diferença na personalidade de ambos, com Kassandra a ser uma personagem muito mais carismática, enquanto Alexios é uma personagem mais fechada no seu mundo e em parte até deslocada daquela história.
Outra mudança na franquia também implica uma escolha inicial do jogador: desfrutar desta jornada através do Modo Guiado ou Exploração. O primeiro traz um sistema mais tradicional da franquia, onde ao iniciar uma missão, um marcador e objetivo aparece automaticamente no mapa, indicando exatamente onde o jogador deverá ir para dar continuidade àquela missão. Já o Modo Exploração, como o próprio nome indica, é um sistema mais voltado para aqueles que querem realmente explorar este mundo, sendo assim, após receber uma missão, o jogador terá determinadas informações sobre o seu alvo, ou local, e deverá investigar para só assim surgir um marcador e objetivo concretos.
Essa exploração ainda ganha um adicional de complexidade, já que algumas missões terão informações mais limitadas, enquanto outras a quantidade de informação previa que o jogador terá, vai depender das informações que conseguirá através do dialogo com determinado personagem. Esse modo traz uma maior dinâmica ao jogo, a proporcionar um maior senso de exploração e imersão dentro desse universo. Além disso, a própria Ubisoft, define este modo como “A forma como Assassin’s Creed Odyssey deve ser desfrutado”.
Mas, antes de entrar na história e outros elementos do jogo, vale a pena tirar o elefante da sala e dizer que estamos diante de um jogo muito mais próximo de The Witcher 3: Wild Hunt do que qualquer outro jogo da franquia. A adição de elementos e mecânicas de RPG em Assassin’s Creed Origins já tinha deixado muitos fãs dos primeiros títulos da franquia com algumas dúvidas em relação à direção em que Assassin’s Creed estava a caminhar, e em Odyssey fica bem claro que o género RPG será o futuro para a franquia, assim como que terá inspiração em jogos dentro desse mesmo género. Por isso, se esperam um jogo focado em assassinatos, stealth e missões sem camadas, talvez este não seja um jogo para vocês.
A maneira mais simples de marcar essa diferença, é dizer que independente de se escolher Alexios ou Kassandra, o protagonista em momento algum da sua história utilizará uma lâmina oculta (hidden blade). Isso pode causar alguma confusão aos jogadores, afinal, este sempre foi um dos principais elementos de destaque da franquia. Esta omissão, contudo, compreende-se facilmente se nos recordarmos do que foi dito no início da análise: Odyssey tem início 400 anos antes dos acontecimentos de Origins, onde vimos o primeiro protótipo da lâmina oculta, o surgimento dos primeiros Assassinos e a ascensão do Templários. Assim sendo, esta seria uma arma que não faria sentido estar presente no jogo, contudo, apesar de se dar uma maior liberdade aos jogadores na maneira como podem abordar cada combate, os assassinatos furtivos ainda estão presentes e a lâmina oculta foi substituída justamente pela lança quebrada de Leónidas (que iremos descobrir durante a aventura como se quebrou).
Outra diferença em relação a outros jogos da franquia Assassin’s Creed, é que Odyssey traz um cenário muito mais horizontal do que vertical, justamente para permitir ao jogador assumir outras abordagens para além dos assassinos através de pontos altos. Neste sentido, com esta alteração vêm pontos positivos e negativos, principalmente comparando com Assassin’s Creed Origins. O lado negativo é que aquilo que já se deixava adivinhar através dos trailers, revelou-se ser de facto o caso na versão final do jogo: muita da ambientação e edificações do Origins foram basicamente copiados para Odyssey, apenas com variações de cores ou com mudanças muito pontuais. Tal não será certamente algo suficiente para estragar a experiência dos jogadores, mas é inevitável comparar. Mas, por outro lado, vale mencionar que estas edificações iguais têm uma explicação plausível por de trás, já que apesar de Origins ter como ambientação o Egito Antigo, durante toda a narrativa somos confrontados com a forte influência grega e romana no local.
Contudo, e como foi dito, nem tudo é mau. Um dos pontos mais negativos de Origins, em relação à sua ambientação, era a sua densidade naturalmente reduzida, com grandes e longas regiões desérticas e com pouca civilização e construções. Já em Odyssey temos todo o esplendor, exagero e densidade populacional das cidades gregas. Apesar de este ainda trazer regiões maioritariamente dominadas por animais, o jogo em momento algum nos faz esquecer de que estamos diante de uma das civilizações mais conhecidas e expansionistas da história. Sendo assim, é possível dizer sem medo de exageros, que dificilmente o jogador conseguirá andar 200 metros sem encontrar pessoas ou sinais de que estiveram ali, seja através de acampamentos, fortificações ou até mesmo simples carroças partidas em pedaços após um possível ataque de animais a mercadores que se aventuraram entre cidades.
Todos estes elementos deixam ainda mais claro que estamos diante de um RPG, já que não apenas a história da personagem, mas mesmo a do próprio universo é contada através desses elementos pontuais, então encontrando um cavalo morto ao lado de um carroça, é possível concluir que predadores andam por aquela região. Isto não apenas amplia a imersão do jogador, como também traz uma dinâmica ainda maior este universo. Não será por exemplo difícil serem confrontados durante uma viagem pelas estradas com soldados espartanos ou atenienses a serem atacados por ursos ou mesmo animais herbívoros a fugirem após a chegada de um predador, o que oferece assim aos jogadores um mundo vivo e que segue o seu rumo natural mesmo sem a interferência direta do protagonista.
Agora que já foi possível tirar o elefante do meio da sala e deixar bem claro que não estamos diante de um jogo aos moldes dos antigos, é possível explorar um pouco mais a história. Independentemente de quem escolherem para iniciar esta jornada, tanto Alexios quanto Kassandra têm três arcos bem demarcados de história. O primeiro arco será focado nos acontecimentos do passado da personagem e da busca pela sua família, que se vai densificando ao longo de todo o jogo; o segundo arco tem como destaque o Culto do Cosmos, um grupo que será apresentado próximo da metade do jogo e que tem uma grande influência na história do universo de Odyssey e na própria vida do (a) protagonista; já o terceiro arco já é mais complicado de explicar, pois é um momento que todo jogador que se aventurou por esta jornada deve desfrutar sem spoilers, mas é possível dizer que possui relação com a Primeira Civilização e elementos místicos.
Paralelamente a tudo isto, estamos em meio da Guerra do Peloponeso (região que hoje compõe a maior parte do território turco), em 431 AC, numa Grécia clássica que é também o berço da civilização moderna, com grandes filósofos, guerreiros e figuras históricas que muitos apenas conheceram através das aulas de História. Apesar de não trazer 100% de fidelidade histórica, afinal muitas desses personagens nunca interagiram na realidade com o nosso (a) protagonista, a Ubisoft teve um grande cuidado de não destruir as suas bases históricas, então ao encontrar, por exemplo, Heródoto, que inclusive tem grande presença na nossa jornada, ele deixará bem claro porque ficou conhecido como um grande geógrafo e historiador, ao mesmo tempo, que serve de guia tanto para o jogador, como para o/a nosso/a protagonista. Outras figuras históricas como Hipócrates, Aristófanes, Eurípides, Alcibíades e muitos outros também marcam presença durante o jogo, com especial destaquepara o próprio Alcibiades, que quando aparece entra facilmente para a lista de personagens épicos da franquia, principalmente pelas suas linhas de diálogo e peculiaridades.
Apesar de estar no meio de uma guerra entre Esparta e Atenas, Kassandra ou Alexios inicialmente não terá escolher um lado (mas ainda assim, terá que fazer essa escolha em determinado momento), com diversas missões a serem dadas ao jogador por soldados tanto espartanos, como atenienses. Além disso, ao reduzir a influência de um dos lados numa cidade-estado, seja matando o líder dessa região, seja queimando os recursos ou seja limpando fortificações, será possível iniciar as Batalhas de Conquista, que consistem em escolher lutar por Esparta ou Atenas num combate massivo com centenas de soldados no campo de batalha e onde o objetivo do jogador é derrotar o máximo de soldados adversários, e assim levar o exército escolhido à vitória na batalha. Ao sair vencedor, o jogador receberá como recompensa experiência, dracmas (moeda do jogo) e pelo menos uma peça de equipamento de nível épico (caso escolham lutar pelo exército inimigo daquela cidade-estado irão receber duas peças de equipamento ao invés de apenas uma).
Assassin’s Creed Odyssey é o jogo com maior complexidade narrativa da franquia, já que apesar de nem sempre ser possível notar uma influência clara na história, cada diálogo, cada escolha e até mesmo cada abordagem a uma determinada situação poderá gerar influências a curto, médio ou longo prazo. Para deixar um pouco mais claro como isto funciona, vou utilizar dois exemplos com base em missões do jogo. Numa determinada missão, somos confrontados com um roubo numa casa e temos que descobrir quem foi o responsável pelo mesmo, e o NPC pede-nos que conversemos com o seu escravo para descobrir mais informações sobre o roubo. Durante o diálogo, o escravo explica-nos que está quase a receber a liberdade, da qual tem receio por nunca ter conhecido outra vida que não a de escravo, e pede-nos para mentir e, ao recuperar os itens roubados, dizer ao seu senhor que ajudou no roubo, para assim se manter como escravo. Cabe ao jogador mentir para “beneficiar”o escravo ou dizer a verdade. Outro momento em que é possível notar esta influência é numa missão onde temos de ir atrás de uma determinada personagem (não posso mencionar quem é, pois, é um spoiler da história) e ela encontra-se numa Casa de Líder com diversos soldados espalhados pelo local, e a depender da maneira como lidarem com esses soldados, essa personagem poderá ou não voltar a aparecer mais tarde no jogo.
Assim, o jogo mesmo em situações simples apresenta ao jogador diversas camadas de história que culminam em 9 finais alternativos que o jogo traz. Este foi um dos benefícios que a mudança de um jogo de ação/aventura para um RPG trouxe à franquia, já que agora as missões não se limitam tanto a eliminar um alvo ou segui-lo, sendo que a sobrevivência de vários alvos irá depender da escolha direta ou mesmo indireta dos jogadores. Por falar em morte, esta não chega a ser um elemento frequente e extremamente gráfico, mas até pela ambientação de uma guerra, Odyssey é facilmente o jogo mais violento da franquia, com, por exemplo, um diálogo a ser interrompido logo no início do jogo, com uma lança a atravessar a boca de um NPC.
E este aspeto leva-nos a uma outra melhoria em comparação com Origins. A movimentação e animações do/a protagonista foram melhoradas, então seja simplesmente a subir até um local alto para sincronizar, ou num combate, Kassandra/Alexios irá mover-se de maneira diferente, seja a subir com maior fluidez e naturalidade em locais altos, seja com mais variações de movimentação durante o combate, dependendo da arma e habilidade escolhidas. Uma espada, por exemplo, tem variações mais focadas em movimentos pendulares e rápidos, enquanto que uma lança é ideal para aqueles que procuram um combate a média distância e com golpes de penetração, embora se perca em precisão.
Por se tratar de um jogo com elementos de RPG, os bónus de item voltam a marcar presença, e desta vez com ainda mais importância, já que o jogador terá que se preocupar em fazer boas combinações de armadura e armas para beneficiar o seu estilo de jogo, podendo escolher equipamentos do tipo Caçador, que beneficiam mais o dano com arco; do tipo Guerreiro, úteis no combate corpo-a-corpo; ou do tipo Assassino que facilita às eliminações furtivas, que podem aniquilar um alvo imediatamente, ou, em alternativa, se o dano que podem provocar for demasiado baixo, ferir o adversário, tendo depois de se continuar o combate sem o fator stealth, e muitas vezes em confrontos com diversos inimigos ao mesmo tempo. Além destes bónus de item, agora é possível, ao se ir a um ferreiro, entalhar bónus específicos nas armas (esta funcionalidade será mais explorada num artigo que será publicado ainda esta semana), o que é mais um ponto a que terão de estar atentos, pois poderão acabar por atribuir a uma arma um elemento que não irá beneficiar o vosso estilo de jogo.
Haverá ainda conjuntos de armaduras lendárias, que, ao jogador utilizar as cinco peças (Cabeça, Tronco, Cintura, Braços e Pernas) lhe conferirá bónus únicos, como recuperação de vida, bónus de assassinato e muito mais. Uma excelente adição ao jogo, já que incentiva ainda mais os jogadores a procurarem por essas peças em diversos locais do jogo, ou derrotando inimigos poderosos, como os mercenários, que regressam em Odyssey, depois de terem sido introduzidos em Origins, ainda mais impiedosos e perseguindo o jogador até mesmo aos locais mais isolados do mapa. Estes mercenários são apresentados através de um menu muito semelhante ao de Shadow of Mordor e Shadow of War, onde vemos a sua aparência, características e fraquezas. Ao contrário destes jogos, contudo, ser derrotado por estes mercenários apenas significa a morte, não há sistema Nemesis ou algo parecido aqui.
Algo que ainda precisa de ser melhorado é justamente a IA dos inimigos, já que nem sempre estes possuem um comportamento muito inteligente e natural em combate, com situações onde basicamente num combate direto com vários inimigos, um ocasionalmente irá esperar pelo ataque do outro, ou, ao serem atacados com uma seta enquanto estão a cavalo, ao invés de responderem como em Origins, onde também disparavam com os arcos e muitas vezes até dificultavam os combates, optam por simplesmente descer e vir numa linha reta até nós, tornando-se assim em alvos fáceis. Também não será incomum inimigos ficarem travados até em pedras, ou, ao tentarem fugir, ou confrontarem-nos, passarem por cima de uma fogueira e começarem a sofrer dano de fogo, facilitando assim o nosso trabalho. Tais situações já eram algo de frequente em Origins, mas em parte ficou ainda pior em Odyssey.
Apesar de claramente ter sofrido mudanças drásticas no seu estilo, para se aproximar ao máximo de um RPG e principalmente ter ampliado elementos apresentados em Assassin’s Creed Origins, este problema com a IA deve-se principalmente ao facto de ainda se sentir que a Ubisoft não está 100% confiante em transformar a franquia num RPG mais tático e encadeado, sendo o resultado um jogo que perdeu muita da prioridade dada ao stealth e assassinatos pelos anteriores títulos da série que lhe dá nome, mas que ainda deseja manter uma grande liberdade e rapidez na sua movimentação, o que resulta em inimigos a terem um comportamento muito mais suicida do que tático, e muitas vezes a atuarem em combate de uma forma muito individualista, ao invés de funcionarem como que se membros de uma colmeia se tratassem, como é clássico em praticamente todos os RPGs que seguem uma linha mais tradicional, de tal modo que até mesmo ficou imortalizado nas histórias e lendas espartanas.
Em compensação, no combate naval a IA dos inimigos está melhor trabalhada. Ainda há alguns elementos que poderiam ser melhorados, como, por exemplo, um comportamento diferente quando enfrentamos navios isolados ou em grupos, mas ainda assim é possível notar que há um esforço maior para fazer estes confrontos aproximarem-se de um combate mais tático, com os navios principalmente em grupo a representarem uma grande ameaça, já que o jogador irá precisar de estar constantemente atento a ameaças vindas de todas as direções, já que enquanto um dispara, o outro pode vir em direção ao nosso navio para o abalroar. Ao derrotar um navio, o jogador poderá escolher entre disparar para o destruir e saquear os seus espólios, abalroá-lo para assim conseguir os seus recursos (a melhor opção para a maioria dos navios), ou iniciar uma abordagem, em que os navios ficam lado a lado e o jogador poderá invadir e eliminar todos os seus tripulantes e saquear os seus tesouros, que é a opção mais adequada para encontros com navios especiais.
Ainda dentro dos elementos navais, o jogador, ao encontrar um inimigo poderoso, ao invés de o matar poderá nocauteá-lo, seja através de setas, habilidades ou mesmo através de um golpe stealth para o naucautear por trás e recrutá-lo para o seu navio como um Tenente Especial. Estes tenentes trazem consigo também bónus específicos para os navios, como maior vigor dos remadores, ou aumento no dano das setas. Algo interessante destes tenentes especiais, é que as suas habilidades e armas em combate são trazidas também após serem recrutados, ou seja, um mercenário ou soldado recrutado que possui, por exemplo, uma espada com elemento de fogo, ao iniciar uma abordagem causará dano de fogo ao inimigo que estiver a lutar, o que torna sempre interessante conhecer também o estilo de combate e arma que determinado inimigo utiliza antes de o recrutar.
O incentivo à exploração marítima também é bem notável, com o jogador a ter à sua disposição o maior mapa da franquia, e, assim como em terra, no mar também vale a pena explorar cada local, pois nunca se sabe que segredos cada um poderá estar a esconder. Este ponto, à semelhança dos bónus auferidos às armas pelos ferreiros, irá ser discutido em maior detalhe num artigo em separado.
A árvore de habilidades também está de regresso ao jogo, só que, ao contrario de Origins, em que à medida que se avançava nas árvores, a quantidade de pontos exigida era maior, a progressão na árvore de habilidades está agora dependente da própria historia, nível da personagem e o quanto a lança foi melhorada. Sendo assim, cada habilidade irá exigir apenas um ponto de habilidade, não estando contudo todas disponíveis desde o início. Este novo sistema funciona muito melhor com o jogo e permite aos jogadores definirem melhor o seu estilo de combate e em que se desejam focar. No entanto, vale a pena destacar que provavelmente também será em relação às habilidades que muitos fãs dos Assassin’s Creed anteriores a Origins vão ficar incomodados, já que existem habilidades que fogem um pouco do estilo mais realista apresentado na franquia, com a presença até de uma habilidade onde o jogador poderá arremessar a Lança de Leónidas à distância, praticamente teletransportar-se até ao inimigo com o tempo parado e encadear assim assassinatos múltiplos.
O jogo traz uma boa longevidade. É possível concluir a história com entre 30-40 horas de jogo, mas este período limita-se apenas à sua história principal e algumas missões secundárias importantes. Caso o jogador queira expandir essa experiência e desfrutar do jogo na sua plenitude, poderá ultrapassar facilmente as 100 horas de jogo.
Como já se tornou quase numa tradição na franquia, Assassin’s Creed Odyssey tem alguns bugs que vão gerar algum incomodo aos jogadores. Durante o nosso gameplay foi possível notar NPCs a suicidarem-se em fogueiras, inimigos a tentarem subir numa pedra e ficarem presos, e até mesmo a Kassandra (personagem escolhida para a nossa aventura) a ficar presa num navio naufragado e apenas sobreviver graças a um bónus único de uma arma e um ponto de viagem rápida próximo. Apesar disso, a Ubisoft já se mostrou ciente de grande parte dos bugs e frequentemente o jogo tem recebido e continuará a receber atualizações.
O áudio do jogo também merece um destaque nesta análise. A banda sonora em si não é tão presente, sendo possível ouvir algumas músicas instrumentais e bem parecidas com músicas de The Witcher 3 durante a exploração, o que não é necessariamente negativo, uma vez que um dos pontos mais positivos do jogo da CD Projekt RED é justamente a sua banda sonora. O destaque, contudo, vai mesmo para uma tecnologia introduzida neste jogo chamada Sound Matching.
Apesar de não ser totalmente inovador, com outros jogos a beneficiarem de tecnologias semelhantes (o próprio The Witcher 3), esta nova tecnologia foi especialmente desenvolvida pela Ubisoft e tem como objetivo trazer uma maior naturalidade na sincronia labial das personagens em outras línguas para além do inglês, ou seja, independentemente do idioma escolhido para o áudio do jogo, todas as personagens irão movimentar os seus lábios de maneira muito mais realista, evitando assim aquele clássico problema da animação de uma personagem desenvolvido num idioma específico e que apenas recebeu uma dobragem que muitas vezes não é feita de maneira adequada. A Ubisoft promete que esta é uma tecnologia em evolução, e que portanto trará resultados ainda mais satisfatórios com o passar do tempo e em novos projetos.
Por falar nisso, o jogo possui tanto legendas quanto dobragem em português do Brasil, o que facilita a compreensão e até a imersão dos jogadores de países lusófonos. Pessoalmente, até por ter escolhido a Kassandra para a minha campanha principal, gostei mais da dobragem feita por Letícia Quinto, porém, ainda assim a dobragem feita por Raphael Rossato tem a sua qualidade.
Para finalizar, o jogo traz novamente um sistema de microtransações e loot boxes. No caso das microtransações, o jogador poderá obter equipamentos, espadas, skins de montaria especiais e até pacotes de recursos e bónus ao gastar Créditos Helix. Já as loot boxes estão ligeiramente menos “nocivas” em comparação com Origins, com o jogador agora a ter a opção de através de Fragmentos de Oricalco distribuídos pelo mapa, ou obtidos através de missões com tempo limitado, comprar equipamentos especiais ou arriscar obter qualquer item de maneira aleatória. Ainda é algo incómodo e pouco justo, já que incentiva o jogador a gastar dinheiro real, mas pelo menos tratam-se apenas de itens cosméticos.
Opinião Final:
Apesar de “Odisseia” de ter a sua origem num poema do século VIII a.C com o rei de Ítaca, Odysseus (também conhecido por Ulisses), também tem como significado simplificado uma longa viagem marcada por reviravoltas, conquistas e perigos, e a Ubisoft não poderia ter escolhido um melhor nome para este seu novo jogo do que Assassin’s Creed Odyssey, pois estamos realmente diante (narrativamente) de uma longa jornada cheia de reviravoltas, consequências e conquistas que por vezes terão um sabor extremamente amargo e com muitos, mas muitos perigos. Este é também um jogo que foge muito aos moldes tradicionais da série para apresentar aos jogadores algo totalmente diferente, ao aprimorar aquilo que já tinha sido apresentado no seu antecessor, mas também a explorar outros elementos que até agora tinham sido temporariamente esquecidos, ou nunca antes explorados dentro da franquia. O jogo ainda traz algumas referências a franquias da Ubisoft, e os jogadores mais curiosos e atentos vão notar possíveis referencias a um novo Assassin’s Creed, num dos períodos mais pedidos por todos os jogadores.
Assassin’s Creed Odyssey tem claras inspirações em The Witcher 3: Wild Hunt, desde a sua banda sonora, até elementos da sua história, mas não estamos, contudo, diante de uma cópia de baixa qualidade daquele que é considerado por muitos como o melhor RPG desta geração. Estamos sim diante de um jogo que foi buscar inspirações àquele que é reconhecidamente um dos melhores jogos já desenvolvidos na história dos videojogos, mas que ainda assim manteve o seu estilo próprio, no melhor e no pior. Para além disso, há que dar os parabéns à Ubisoft por ter colocado nas mãos dos jogadores a escolha de desfrutar desta Odisseia na pele de um homem ou de uma mulher, e todos os elementos que essa escolha traz como a própria opção de romance que é totalmente indiferente em relação ao género da personagem escolhida.
Do que gostamos:
- História bem construída e com uma grande complexidade;
- Opção de escolher o género do/a protagonista;
- Opções de diálogo e ações com consequências;
- Tecnologia de sincronia labial;
- Mudanças na árvore de habilidades;
- O regresso dos combates e explorações navais;
- Um vasto, denso e extremamente vivo mundo a ser explorado;
- Banda Sonora;
- Evolução dos elementos de RPG;
- Apesar de apenas disponível em PT-BR, a dobragem ficou excelente, principalmente no caso de Kassandra.
Do que não gostamos:
- Griding por vezes desnecessário e que quebra o ritmo do jogo;
- IA dos inimigos ainda precisa de ser amplamente melhorada;
- Apesar de uma evolução clara nas mecânicas e elementos de RPG, ainda há espaço para melhorias, principalmente a nível dos inimigos;
- Pouca interação e conteúdo fora do Animus;
- Algumas missões que não possuem relação com a história do/a protagonista acabam por se tornar demasiado repetitivas.
Nota: 9/10
Jogo analisado através de uma cópia da versão PlayStation 4 gentilmente cedida pela Ubisoft.