
Todos conhecem a história mítica da torre de Babel, que terá supostamente levado à criação das várias línguas humanas e à divisão reinante entre todos nós desde então na Babilónia. Ball x Pit, jogo produzido por Kenny Sun e publicado pela Devolver Digital, pega nesse mito e imagina em vez de Babilónia uma “Bolabilónia”, em que a torre de Babel é destruída por um meteorito enorme com uma forma esférica.
Cabe-nos a nós reconstruir esta localidade e explorar o fosso (o Pit no nome do jogo) de forma a recuperar o antigo esplendor da que será agora a Nova Bolabilónia. Neste fosso iremos encontrar monstros prontos a travar a nossa incursão. Estes têm uma base de apoio paralelepipédica e fazem imediatamente lembrar as peças que devem ser destruídas no jogo Breakout da velha Atari e os seus derivados. Para os derrotar teremos de dispor de ataques em forma de bolas que são arremessadas e ressaltam de um lado para o outro do ecrã, com vários poderes diferentes, e que podem ser combinadas em fusões e evoluções cada vez mais robustas à medida que avançamos no jogo.
Vou ilustrar estas mecânicas com um exemplo. Começamos o nosso jogo com a personagem Warrior, que é resistente mas fica mais lento enquanto dispara e traz consigo a bola Bleed, uma bola pesada e lenta, mas que causa bastante dano aos inimigos e que lhes causa o efeito bleed, deixando-os com stack que os faz ficar cada vez mais danificados. Esta pode ser evoluída até nível 3. Assim que esta chega a nível 3, pode ser combinada com outra bola também a nível 3, como a Spider para criar a bola Leech, uma evolução que junta as habilidades das duas, mas que também traz algo de novo. Esta evolução começa a nível 1 e poderá ser ela própria evoluída até nível 3. Em vez de criarem uma evolução, podem simplesmente fundir bolas diferentes que não tenham uma evolução correspondente (só uma vez por cada par de bolas). Por exemplo, Bleed não tem evolução quando combinada com Freeze, mas podem fazer a fusão Bleed x Freeze. Após completarmos o primeiro nível, ou pelo menos até certo ponto, iremos desbloquear o Itchy Fingers, o qual ao contrário do Warrior vem com a bola Fire, e que dispara rapidamente e se desloca tão rápido enquanto dispara como enquanto está parado.
Aliadas às características específicas de cada personagem, assim como das combinações interessantes que é possível fazer entre as várias bolas, há ainda armas passivas que modificam o comportamento das nossas bolas e que vamos desbloqueando à medida que vamos jogando. No início do jogo podemos ter tanto até três bolas, como até três armas passivas, mas à medida que o jogo avança, podemos desbloquear mais espaços para armas passivas e bolas. Tal acaba por resultar em estágios com bolas por todo o lado em movimentos caóticos que nos fazem lembrar jogos como Vampire Survivors, pelos melhores motivos possíveis.
Os níveis de Ball x Pit, na sua cronometragem normal, têm uma duração de cerca de 15 minutos, embora possam também acabá-los em modo ‘Fast’, o que representa um maior desafio não só aos vossos reflexos e capacidade de pensamento rápido, mas também em si por os monstros se deslocarem até vós de forma mais rápida. À medida que percorrem cada nível várias vezes, vão descobrindo blueprints que consistem em planos de construção para novos tipos de edifícios à superfície. Neste patamar de Bolabilónia, irão assim gerir e construir a vossa versão da nova cidade, gerindo os recursos de ouro, trigo, pedra e madeira, assim como desbloqueando novas personagens, aumentando as estatísticas das várias personagens, conseguindo novos bónus para as mesmas, etc. Cria-se um loop viciante entre explorar o grande fosso e voltar para a base para gerir Bolabilónia de forma a melhorar as nossas personagens ou aumentar o nosso leque de escolhas para mais uma vez voltarmos ao fosso. Quando damos por nós, passaram-se horas desde que pegamos no comando para começar a jogar.
Existe uma boa variedade de recursos e edifícios a gerir à superfície, assim como de personagens para escolher na nossa exploração do fosso. No que toca à exploração do fosso, as personagens apresentam uma grande variação em termos de jogabilidade entre si. Aqui não quero entrar em detalhes, mas desenganem-se se pensam que as variações serão tão comuns como aquela que acabei de ilustrar entre Warrior e Itchy Fingers.
O jogo também contém uma boa quantidade de níveis por explorar, e dado que o mesmo vos motiva a completarem os mesmos com as várias personagens, têm aqui uma ótima relação entre número de horas de jogo e preço. Completei todos os níveis com todas as personagens na cronometragem normal e desbloqueei todas as entradas na Enciclopédia. Tal levou-me cerca de 38 horas de jogo. Ainda poderia jogar versões mais difíceis dos níveis, jogar as versões ‘Fast’, melhorar e otimizar a minha base, etc. Mas para um jogo que custa 14.99€, este é já um excelente número de horas. E, talvez mais importante que isso: é um jogo em que essas horas passaram a voar e em que as mesmas não se sentiram como filler.
Finalmente, há que saudar a apresentação audiovisual do jogo. O género musical de Ball x Pit não vai muito de encontro ao meu gosto pessoal, mas consigo reconhecer como traz uma apresentação descontraída para esta experiência. Já a nível gráfico, Ball x Pit, enquadra-se entre outros jogos indie que é bem-sucedido na sua aposta em pixel-art.
Como pontos um pouco menos positivos, mas que não são de todo muito impactantes, temos que o jogo começa talvez um pouco lento, demorando até que o seu ciclo se torne tão vertiginoso como o de jogos como Vampire Survivors. O segundo ponto é que embora seja de louvar a variedade de personagens disponíveis, existe talvez alguma falta de equilíbrio entre as mesmas. Algumas são bem mais acessíveis do que outras, e algumas delas não são própriamente divertidas.
Opinião Final:
Ball x Pit é mais uma revelação indie. Inspirado tematicamente por jogos como Breakout, e indo buscar o loop viciante de jogos como Vampire Survivors, este é um jogo em que poderão facilmente perder todo um serão num piscar de olhos. No entanto, terá sempre valido bastante a pena. Trazendo consigo uma míriade de combinações de bolas, passivas e personagens, permitindo um sem número de estratégias, este é um dos melhores roguelites e jogos indie dos últimos anos.
Do que gostamos:
- Loop entre explorar o fosso e gerir Bolabilónia;
- Variedade de personagens;
- Combinações possíveis entre bolas, personagens, e passivas;
- Pixel arte assenta que nem uma luva neste título;
- Forma como aborda o mito da torre de Babel;
- Caos no ecrã ao estilo de jogos como Vampire Survivors;
- Vontade de jogar “só mais uma run“.
Do que não gostamos:
- Um pouco lento de início;
- Algumas personagens não estão tão bem equilibradas ou são tão divertidas de jogar como outras.
Nota: 9/10
Análise efetuada com um código Nintendo Switch cedido gentilmente pela distribuidora.