Beautiful Desolation – Análise

Nos últimos anos temos assistido a um revitalizar da estética retro nos videojogos, o que se tem refletido numa miríade de jogos que visam replicar o aspeto dos títulos de 16-bits dos anos 90. Costuma-se dizer que a moda é cíclica e esperamos que o mesmo se repita no que toca aos videojogos. Pelo menos Beautiful Desolation parece querer dizer-nos que sim, ao apresentar-se com um visual que imediatamente nos remete para os jogos de PC do final dos anos 90.

Ao descobrir Beautiful Desolation, fiquei deslumbrada com a quantidade de memórias que uma mera cutscene conseguiu evocar. Existe um aspeto muito próprio das cutscenes de jogos da era já mencionada, aquele aspeto desfocado de CRT, aquele ar cinematográfico muito próprio e que só aqueles fins de 90’s conseguiram produzir. Beautiful Desolation consegue replicar isso e muito mais, fazendo imediatamente lembrar Fallout assim que começamos o jogo propriamente dito, com o seu ponto de vista isométrico.

No entanto, desengane-se quem acha que aqui temos uma sequela espiritual. Apesar de Beautiful Desolation se passar num mundo pós-apocalíptico, é na sua essência uma aventura gráfica, com elementos que remetem mais para os point and click de tempos idos do que propriamente para um RPG como Fallout.

O mundo viu chegar The Penrose, uma estranha estrutura aparentemente alienígena. Os seus benefícios foram muitos, nomeadamente no avanço tecnológico que esta ofereceu à humanidade. Antes do apocalipse, Mark Leslie decide explorar a estrutura com o seu irmão, mas o helicóptero onde viajavam sofre um acidente e Mark acorda num futuro estranho, onde aparentemente a nova tecnologia fez com que a humanidade entrasse num ciclo de autodestruição. Um tempo em que a sobrevivência é o único propósito de todos.

A natureza reclama o seu lugar.

Beautiful Desolation foi desenvolvido pela The Brotherhood, tendo sido lançado inicialmente para PC no início de 2020. No PC, Beautiful Desolation apresenta-se em toda a sua glória de point and click, em que utilizamos maioritariamente o rato para controlar a nossa personagem e interagir com o mundo. Não é totalmente impossível traduzir este tipo de jogo para uma consola, existem variados jogos que já foram bem sucedidos nesta tarefa, inclusive na Nintendo Switch.

Mas… controlar Beautiful Desolation na Switch é, infelizmente, uma tarefa árdua e penosa que acabou por matar todo o desejo que eu tinha de explorar o mundo do jogo. Antes de mais nada, é de referir que joguei este título numa Switch Lite, cujo ecrã é mais pequeno do que uma Switch normal em modo portátil. E meu Deus, o quanto me ressenti. Uma das primeiras dificuldades é efetivamente o tamanho de tudo em Beautiful Desolation. Apesar de existir uma opção para aumentar o tipo de letra, o texto continua diminuto mesmo na opção maior. A indicação dos botões no HUD é tão pequena que na maioria das vezes tinha de ir por tentativa e erro, não conseguindo perceber se era um X, um A ou o que seja.

A dor apenas continuou quando fui obrigada a explorar um mapa um pouco maior. Beautiful Desolation não foi feito originalmente com os controlos de um comando em mente e isso nota-se e sente-se. Paredes invisíveis sem sentido são criadas para dar algum tipo de delimitação, o que faz com que movimentar a nossa personagem pelo mundo seja estranho e desconfortável. Os caminhos não são claros e só de pensar em fazer backtracking, encolho-me no meu lugar. Aquilo que deveria ser uma tarefa prazerosa, de descoberta e aventura, torna-se numa luta contra o próprio jogo para que o mesmo faça o que queremos.

Eu só estava à procura da casa-de-banho…

O mundo é bizarro, bem como as personagens que o habitam. É fácil partilhar de um sentimento de estranheza juntamente com Mark, uma vez que o mundo facilmente nos transmite isso. As paisagens naturais mesclam-se com cenários áridos e edificações degradadas, que nos relembram dos tempos áureos da humanidade. A vontade de explorar e de descobrir mais é imensa, mas é difícil não sentir as pernas cortadas pelos problemas já acima descritos, que, infelizmente, se acabam por sobrepor a qualquer curiosidade e vontade de avançar que o jogador tenha.

Conforme já referido, a jogabilidade de Beautiful Desolation é comparável às aventuras gráficas dos anos 90, recorrendo à exploração, diálogo com as personagens e obtenção de itens que nos permitam avançar com a nossa demanda. Como seria de esperar, existem variados puzzles espalhados pelo mundo e o desenvolver da história irá depender da resolução destes. Ou seja, o básico dos básicos para este género de jogo. No entanto, uma boa aventura gráfica deverá atingir um ponto de equilíbrio bem delicado, balançando entre um desafio palpável e pistas (óbvias ou não) que permitam ao jogador deduzir o que fazer a seguir, num belo de um momento ah-ha! Infelizmente, Beautiful Desolation por vezes deixou-me a cabeça tão árida como o seu mundo, acabando por resolver alguns dos problemas apenas por tentativa e erro, sem uma clara direção de para onde ir a seguir.

O mundo de Beautiful Desolation tem tanto de familiar como de alienígena.

Dificuldade num jogo destes é perfeitamente legítima e até bem-vinda, mas quando existem tantos problemas no que toca à mais básica das mecânicas que é movimentar a nossa personagem, a frustração começa a surgir e a vontade de avançar com a história a desaparecer.

Honestamente, é pena que Beautiful Desolation seja deitado abaixo com estes problemas, pelo menos na Switch. O jogo tem tanta coisa boa, banda sonora de Mick Gordon (de Doom e Wolfenstein: The New Order), diálogos com voz na sua totalidade, com atuações por parte de atores sul-africanos (que fazem um óptimo trabalho, já agora), uma história e um mundo intrigante. Se puderem, joguem Beautiful Desolation, é um daqueles jogos que se pode destacar com muitos pontos positivos. Mas façam-no num PC, uma vez que este port faz com que o jogo fique bem aquém do seu potencial.

Opinião final:

Apesar de poder ser categorizado como um revitalizar dos jogos do fim dos 90’s, Beautiful Desolation consegue aguentar-se bem na sua diferença e destacar-se numa época em que as aventuras gráficas já não têm tanto destaque. Infelizmente, o lançamento na Nintendo Switch sofre com dificuldades técnicas e um port pobre que faz com que seja muito difícil ter a motivação para sequer querer descobrir o mundo de Beautiful Desolation.

Do que gostamos:

  • Mundo sci-fi e lore bem construídos e atrativos;
  • História intrigante;
  • Atuações bastante competentes dos atores de voz (principalmente considerando que todas as personagens têm voz).

Do que não gostamos:

  • Controlos e jogabilidade de point and click pessimamente adaptados à Switch;
  • Visualmente não está de todo adaptado a ser jogado num ecrã pequeno.

Nota: 6/10