Quando vi que a Remedy tinha um jogo novo, fiquei com as antenas no ar, apesar de não ter acompanhado muito Control. Despistada como sou, só me apercebi da existência do jogo quase em cima da sua data de lançamento. Ainda assim, tinha a expectativa média-alta: após ter jogado Max Payne e Alan Wake (sim, esquivei-me a Quantum Break), esperava mais um título original, diferente, com a personalidade muito própria que a Remedy parece sempre imputar aos seus jogos.
Assim que iniciei o jogo, vi-me largada num mundo estranho, sem qualquer explicação ou introdução. Fui de imediato colocada no lugar de Jesse Faden – a nossa personagem principal – a entrar no edifício governamental do FBC, o Federal Bureau of Control. Aqui não há nada de mão beijada e Control afirma-se logo desde o início como uma experiência bem diferente. Se Alan Wake evocava Twin Peaks, Control é essencialmente o que esperava que saísse de um filme de ficção cientifica feito por David Lynch (não vamos falar de Dune).
A sede do FBC situa-se num edifício misterioso, conhecido como Oldest House – aparentemente um edifício normal, mas que no seu interior é um espaço infinito em constante mutação. Jesse chega à Oldest House em busca de respostas ao desaparecimento do seu irmão, Dylan, acompanhada de uma entidade desconhecida, com quem comunica na sua cabeça. Ao tomar posse da Service Weapon (uma arma sobrenatural), Jesse torna-se a nova Directora do FBC, o qual se vê assolado por uma ameaça apenas conhecida como Hiss, que invadiu e alterou a realidade dentro da Oldest House, possuindo agentes do FBC que atacam os restantes humanos sem qualquer hesitação. Durante o jogo irão encontrar diversas instâncias da influência do Hiss, desde humanos suspensos no ar a murmurarem cânticos sinistros, a inimigos deformados pela influência do Hiss, passando por salas e departamentos cuja estrutura arquitetónica foi alterada e deturpada.
Control é, na sua essência, à semelhança da Oldest House, uma caixinha de surpresas. É compreensível que esperem um simples jogo de ação na terceira pessoa, mas à medida que vamos avançando na história e vamos descobrindo o potencial de Jesse, Control revela-se como algo bem diferente.
Como já referi, a sua base centra-se num típico jogo de ação na terceira pessoa mas com toques de metroidvania. A Oldest House é um complexo enorme que vão poder explorar à medida que vão descobrindo os segredos do Federal Bureau of Control. Ao início, Jesse tem apenas um acesso restrito ao mesmo, mas à medida que a vossa permissão vai aumentando, poderão voltar atrás para abrir salas antes inacessíveis, bem como fazerem missões secundárias. Infelizmente, o mapa de Control não é muito bem conseguido, fazendo com que em alguns momentos me sentisse mais perdida do que se não tivesse qualquer mapa. Ao explorarem, encontrarão diversos documentos, que podem e devem ler, uma vez que ajudam à criação do mundo e lore de Control. À medida que vamos lendo os documentos (entre pequenos relatos de clubes literários até documentos confidenciais sobre as atividades do Federal Bureau of Control), é claro o amor e cuidado que a Remedy teve na criação deste mundo. E se estiverem atentos, ainda descobrirão alguns easter eggs.
Como referido, Jesse tem acesso a uma Service Weapon – que é basicamente uma arma de fogo, com várias versões – e eventualmente irá adquirindo poderes bem similares a um jedi. Desde o início que irão reparar que os objetos em Control são bem leves, caindo ao chão com um simples toque. Causou-me estranheza, até finalmente adquirir um poder que me permite pegar em tudo e mais alguma coisa para atirar aos inimigos. E se vos faltarem mesas, cadeiras ou extintores, não se preocupem que Jesse pode sempre arrancar bocados do chão ou da parede. Para além da já mencionada Service Weapon o sistema de combate é ainda acompanhado por um poderoso ataque corpo a corpo. À medida que vão avançando no jogo, vão adquirindo mais habilidades para vos ajudar no combate.
Tudo isto resulta em batalhas frenéticas e caóticas que terminam num cenário de total destruição, com as salas viradas do avesso e bocados de parede arrancados. Jesse pode agachar-se atrás de objetos, mas Control dispensou um sistema de cover para obrigar o jogador a estar sempre em constante movimento. O que em papel parece ser demasiado caótico, resulta numa experiência de jogo desafiadora, mas bastante satisfatória. Apesar do caos das batalhas, nunca, em momento algum, me senti perdida ou desorientada, sendo sempre muito fácil de perceber o que estamos a fazer – mesmo com inúmeros inimigos à nossa volta e bocados de escritório a voar.
Os poderes de Jesse podem ser melhorados através de uma simples skill tree – pouco complexa, mas que também não o precisa de ser – e através de mods que podem ser apanhados ou fabricados. No entanto, nunca senti grande necessidade de criar mods porque a quantidade que é dada pelos inimigos é gigante, estando constantemente a ter de limpar o inventário. Os mods podem também ser associados às várias versões da Service Weapon – juntamente com upgrades – permitindo ao jogador personalizar Jesse à sua medida, ainda que de modo superficial.
Apesar dos poderes de Jesse, podem preparar-se para morrer algumas vezes, principalmente contra alguns bosses. E aqui entram duas coisas que infelizmente me irritaram em Control. Os tempos de loading são gigantes, dando tempo de ir beber uma aguinha ou buscar um petisco nos entretantos. Isto aplica-se também ao Fast Travel, quando queremos simplesmente mudar de área. A aliar-se a esta inconveniência, temos o posicionamento dos checkpoints. Os pontos de Fast Travel são chamados de Control Points, que podem e devem ser ativados à medida que vão sendo descobertos. Nestes Control Points podem fazer Fast Travel, conforme já referido, bem como fazer upgrades, aceitar objetivos secundários, cujas recompensas são mods, ou até mudar a roupa de Jesse. Estes Control Points também funcionam como uma espécie de checkpoints quando morrem, o que se torna um pouco inconveniente em algumas situações. Em mais de uma vez me vi a braços com bosses desafiantes que estavam um pouco longe do Control Point mais próximo. Quando morria, tinha que fazer todo o caminho novamente até ao boss, adicionando uma seca totalmente desnecessária ao processo de tentar uma e outra vez.
Já que estamos a falar de pontos negativos, posso já referir mais uma coisa. Control é um jogo lindo, gráficos decentes, mas meu Deus, tantas quebras de frame rate. Mesmo depois de um patch, os slow downs são constantes e o jogo engasga-se bastante após loadings e quando existem muitos inimigos no cenário. É certo que em nenhum momento isto me prejudicou a nível do combate – não morri à conta de quebras de frame rate -, mas é incómodo e denota uma falta de optimização técnica que acaba por ser uma componente bem negativa numa experiência largamente positiva.
Apesar dos problemas referidos, Control é um jogo excelente. O seu enredo, mundo e experiência de jogo deixam-me com uma expectativa bem alta no que toca aos futuros projetos da Remedy (uma sequela de Alan Wake, por favor!). Os pontos negativos, bem como os problemas técnicos, não são algo que esperaria de uma produtora experiente, mas tenho esperança que futuros patches melhorem a experiência e tornem Control naquilo que merece ser.
Opinião Final:
Control prova que a Remedy está vivinha e de boa saúde, dando uma experiência aos jogadores totalmente única. A jogabilidade é excelente e das mais divertidas que já pude experienciar recentemente e o enredo agarra o jogador, obrigando-o a não largar o jogo até o terminar. É um jogo do qual não esperava mundos e fundos, mas que se revelou uma grande surpresa, sendo um dos meus favoritos deste ano.
Do que gostamos:
- Enredo excelente com desempenho igualmente excelente por parte dos atores;
- Jogabilidade extremamente divertida e coesa;
- Possibilidade de destruir tudo e mais alguma coisa no cenário!
Do que não gostamos:
- Mapa incómodo e pouco útil;
- Constantes quebras de frame rate;
- Tempos de loading extremamente longos.
Nota: 8,5/10