Deep Sky Derelicts: Definitive Edition – Análise

Deep Sky Derelicts foi lançado para PC ainda em acesso antecipado em novembro de 2017 e, apesar de um lançamento que não alcançou um grande público, o jogo causou um impacto considerável, principalmente entre os fãs de RPGs mais clássicos, combinando elementos de RPG por turnos com combates de cartas e uma clara inspiração em Darkest Dungeon.

Eis que, em abril de 2020, o jogo finalmente chegou às consolas nas sua edição definitiva (PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch), pelas mãos da Snowhound Games e da 1C Entertainment. Mas será que todos estes elementos combinados podem realmente produzir um jogo capaz de unir os jogadores mais casuais àqueles apaixonados pelo género?

Em princípio essa é até uma pergunta com uma resposta simples: sim, o jogo tem essa capacidade naquilo que propõe. No entanto, basta alguns minutos para perceber que ser fã casual de RPG talvez não seja suficiente para se apaixonar e continuar a jogar até ao final Deep Sky Derelicts, e que apesar das similaridades com Darkest Dungeon, estamos perante um jogo com uma identidade muito própria. Este é por isso um título que tanto pode trazer diversão para aqueles que desejam algo simples, como entregar um jogo extremamente complexo para aqueles que desejam realmente mergulhar a fundo nas suas mecânicas.

A história é relativamente simples e definitivamente não é o ponto forte do jogo como um todo. O enredo decorre num futuro distópico onde a humanidade explorou boa parte da galáxia, a sociedade acabou por ser dividida entre aqueles que nasceram nos Mirror Worlds, lugares onde os recursos são abundantes e estão relativamente protegidos de todas as ameaças externas, e aqueles que nasceram fora desse universo e precisam por vezes de recorrer a métodos desumanos para sobreviver. Eis que, então, o vice-governador de um desses mundos oferece um contrato que permite às nossas personagens viverem num desses Mirror Worlds. Para que tal se cumpra, contudo, será necessário encontrar uma nave lendária que esconde grandes segredos – e, como seria previsível, não somos os únicos que foram contratados com essa missão.

Logo de início será dada a opção ao jogador de escolher o nome, classe e personalidade das três personagens iniciais, sendo que a escolha de classe poderá facilitar ou dificultar ligeiramente a experiência dos jogadores num momento inicial. Tal, no entanto, não é algo com que se precisarão de preocupar tanto assim já que não irá afetar em grande medida a experiência, uma vez que à medida que o jogo avança poderão ampliar as habilidades da vossa personagem. Aquele mercenário que no início era basicamente um “tank” ao longo do jogo poderá também utilizar explosivos e equipamentos tecnológicos que permitirão ataques em área devastadores.

E é justamente nesse ampliar de habilidades que as coisas começam a ficar mais complexas, já que Deep Sky Derelicts não oferece uma evolução de personagens clássica, em que os jogadores melhoram atributos em específico. Em momento algum, no entanto, se devem preocupar apenas com os atributos de cada personagem, pois como referido no início desta análise, o jogo também contém elementos de combate com cartas, que serão extremamente importantes.

Os jogadores terão à sua disposição um deck de cartas que será definido pela combinação das habilidades de cada classe, sendo essas habilidades evoluídas à medida que cada personagem e os equipamentos que utilizam vão subindo de nível. Cada arma, armadura e acessório oferecem um bónus especifico como, por exemplo, um aumento no ataque daquela personagem, para além de um número e variedade específicos de cartas que terão de combinar para criar o vosso deck. Cada carta também tem efeitos únicos durante o combate.

Ou seja, é perfeitamente possível jogar e desfrutar da experiência ao escolher armas, armaduras e equipamentos específicos que vão ao encontro do estilo de combate de cada jogador, porém aqueles que se dedicarem mais a fundo ao jogo, terão de gerir constantemente os atributos das suas personagens e quais recursos vão utilizar.Não será nada incomum, por exemplo, que um equipamento mais fraco resulte numa excelente opção em alguns combates, já oferece uma quantidade de cartas e efeitos importantes. Além disso, Deep Sky Derelicts não tem limitação de ataque, pelo que ao contrário de um jogo de RPG medieval onde cada personagem possui, por exemplo, uma quantidade limitada de mana e consequentemente utilização de magia, Deep Sky Derelicts permite ao jogador realizar aquele mesmo ataque infinitas vezes. Para tal é apenas necessário que a carta após ser jogada e regresse ao seu deck, apareça novamente na mão do jogador. Assim sendo, um equipamento que ofereça várias copias daquela mesma carta também aumenta a probabilidade do jogador ter sempre uma cópia dela na sua mão.

Esta mecânica de gestão de armas, armaduras e equipamentos torna cada exploração e combate extremamente importantes, assim como a gestão do deck em algo de bastante dinâmico. Incentiva, ainda, o jogador a estar constantemente a experimentar e  criar o seu próprio estilo de combate com cada personagem, sendo que por vezes a jogada de uma personagem poderá complementar a de outra.

Num primeiro momento o jogador terá algumas naves por explorar, sendo que cada uma delas terá a função de uma dungeon, com salas, NPCs, inimigos e recompensas. Porém, novamente Deep Sky Derelicts mostra que está disposto a levar a experiência um pouco mais além, já que o elemento mais importante de todo o jogo será a quantidade de energia disponível.

Ao entrar numa nave, será apresentado ao jogador um mapa com quadrados a representar cada sala daquela nave. O jogador terá então a opção de se mover ou scannear o seu redor para revelar novas salas. Cada ação dessas terá um custo e quanto maior a distância entre o ponto em que se encontram e aquele para onde se querem dirigir, maior será o custo de energia para se moverem. Para além do mais, o mapa estará repleto de armadilhas e alguns inimigos estarão em constante movimento pelas salas, sendo algumas vezes impossível evitar o combate.

Para além da movimentação e reconhecimento da nave, a energia também será importante na quantidade de ar que cada personagem possui, e cada turno do combate consome ainda uma determinada quantidade de energia. Tal aumenta a complexidade do jogo, já que será fundamental a qualquer momento gerir a quantidade de energia, já que sem energia as personagens não poderão combater contra ninguém. Estas podem mesmo estar demasiado longe da nave e não terem energia suficiente para regressar à mesma e escapar daquele lugar antes de ficarem sem ar, o que resultará numa morte imediata.

Para além de inimigos humanos, sendo que alguns serão justamente mercenários enviados com a mesma missão que o jogador, também será possível combater contra insetos, alienígenas e até robôs. Cada inimigo exigirá do jogador uma abordagem diferente e poderá causar efeitos negativos específicos durante o combate, sofrendo estes diferentes quantidades de dano com base no tipo de ataque recebido.

Ao terminarem de explorar uma nave, se a energia estiver próxima de se esgotar, ou mesmo se as personagens estiverem demasiado fracas, o mais indicado será regressar à Estação (Station) que funciona basicamente como uma zona segura. Aqui poderão recuperar a saúde das personagens na clínica médica, recrutar outros mercenários, realizar melhorias como ampliar o alcance do scanaumentar a quantidade de energia disponível, ou mesmo vender as armas, armaduras e equipamentos obtidos durante as missões.

O jogo também oferece missões secundarias, que serão igualmente importantes para evoluir o nível das personagens, obter novas armas, armaduras e equipamentos e, consequentemente cartas melhores. Estas permitem-nos ainda descobrir mais sobre este universo e os seus habitantes com informações recolhidas através de diálogos.

Graficamente o jogo é claramente inspirado numa banda desenhada, com uma arte que oferece um bom nível de detalhe, mas sem animações complexas. Ao invés disso, todas as ações de combate são apresentadas no formato de quadros estáticos com o movimento feito pela personagem e a respetiva quantidade de dano causado. A própria escolha da palete de cores aumenta a imersão no jogo, já que o estúdio optou por cores mais frias e escuras, aumentando assim a sensação de ambientes melancólicos, pobres e com tecnologia industrial.

A banda sonora do jogo serve muito como um pano de fundo com pequenas alterações entre os momentos de exploração e combate. Sendo assim, não pode ser levada muito em consideração nesta análise, já que, no que toca aos efeitos sonoros, até os diálogos são apresentados simplesmente em formato de texto. Quanto à línguas disponíveis, infelizmente o jogo não possui opção em português, encontrando-se apenas traduzido em Inglês, Russo, Francês, Alemão, Espanhol, Polaco e Chinês.

Opinião Final:

Em conclusão, Deep Sky Derelicts: Definitive Edition é um jogo muito indicado para quem procura um RPG por turnos que vá de encontro a muito daquilo que outros jogos já tentaram, embora com elementos muito próprios e uma complexidade que pode por vezes assustar até o mais experiente jogador do género. Aqueles que arriscarem, no entanto, encontrarão aqui uma experiência muito única com um jogo que oferece um sistema de combate que utiliza de maneira primorosa um sistema de cartas que vai levar os jogadores a experimentar e experimentar até que encontre o seu deck ideal. Infelizmente, também é um jogo que poderá afastar os jogadores mais casuais pela ausência de um tutorial realmente intuitivo, pelo facto de possuir uma banda sonora “pobre”, e por nos dar uma certa sensação de repetição. Em especial, no entanto, os jogadores mais casuais podem aqui encontrar uma complexidade amarga caso queiram se aventurar mais a fundo no sistema de combate do mesmo.

Vale a pena aqui destacar que Deep Sky Derelicts: Definitive Edition traz consigo, para além do jogo base, dois pacotes de expansão que adicionam mais recursos, melhorias para as personagens, missões, inimigos, cenários e muito mais. Além disso, mesmo após terminar o Modo Estória, os jogadores poderão aventurar-se pelo Modo Arena, onde vão enfrentar hordas de inimigos em sequência, utilizando o deck construído durante a campanha.

Do que gostamos:

  • Sistema de combate atrativo, que combina vários elementos de RPGs e de card games;
  • Evolução das personagens, o que permite ampliar ainda mais as suas habilidades;
  • As versões para as consolas já incluem as expansões, que trazem muitos elementos novos ao jogo, ajudando a reduzir uma sensação de repetição;
  • Apesar de por vezes trazer uma complexidade amarga, ainda consegue em diversos momentos manter um equilíbrio favorável a jogadores mais hardcore e a jogadores mais casuais;
  • Sistema gráfico que lembra uma banda-desenhada;
  • Longevidade variável, mas sempre a oferecer longas horas de jogo;
  • Modo Arena.

Do que não gostamos: 

  • A exploração pode tornar-se cansativa e repetitiva após um determinado período de tempo;
  • Banda sonora “pobre” e repetitiva;
  • Ausência de tradução para Português;
  • Tutorial pouco intuitivo;
  • A sua complexidade pode afastar jogadores que não tenham tanta paciência para uma curva de aprendizagem tão longa;

 

Nota: 7.5/10

 

Jogo analisado através de uma cópia da versão Xbox One, gentilmente cedida pela 1C Entertainment.