Destroy All Humans é um franchise sui generis, um jogo em que assumimos o papel de um vilão alienígena cujo objetivo passa exatamente por aquilo a que o título se propõe – destruir a humanidade. Após um remake do primeiro título, não é surpreendente que a sequela tenha recebido o mesmo tratamento através das mãos da Black Forest Games.
É importante notar que o jogo original é da era da Playstation 2, de 2006. Apesar de poder ser considerado um clássico (será?), normalmente remakes deste tipo de títulos tentam pelo menos apelar não só aos fãs do original, mas também ao público mais moderno que está habituado a outro tipo de mecânicas e melhoras de qualidade de vida. No entanto, apesar da roupagem nova, é claro que Destroy All Humans 2 continua um velho jarreta lá bem no fundo, com demasiadas piadas envolvendo hippies.
Esta sequela passa-se 10 anos depois do original, em 1969. Apesar de assumirmos o papel de Crypto, o maléfico alienígena que não tem problemas em aniquilar pessoas, os vilões são outros – neste caso, o KGB. Por isso sim, preparem-se para russos estereotipados a rodos, bem como variadas outras nacionalidades/personagens. Não sei o que esperava honestamente, considerando o foco na comédia e a altura em que o jogo saiu, mas os diálogos e missões são uma sucessão de piadas sem grande piada, em que temos de constantemente estar-nos a lembrar que era uma altura diferente. Entre referências aos anos 60 e piadas que esticam um bocadinho a corda do bom gosto, o próprio estúdio teve bem noção daquilo em que estava a trabalhar e adicionaram um aviso no início do jogo. A experiência está intacta, para o bem e para o mal, e a vossa diversão poderá ou não depender das vossas “sensibilidades cómicas”. Podemos atribuir um sem número de justificativas mas o que é certo é que dificilmente estes jogos seriam feitos hoje, da forma como foram escritos originalmente.
Mesmo contextualizando tudo isto, é importante perceber, será que a jogabilidade se aguenta face à altura em que foi lançado? Honestamente, sim e não. A estrutura do jogo é baseada em missões, num mundo sandbox, em que os jogadores têm rédea livre para espalhar o caos que quiserem – até darem demasiado nas vistas e serem atacados pelos agentes do KGB ou pela polícia. A estrutura do jogo é bem básica pelos standards atuais, tornando-se rapidamente repetitivo. Parece existir uma preocupação pela preservação da estrutura original mas amigos, é um remake! Porque não melhorar a experiência, pelo menos?
Mesmo com a quantidade de armas e habilidades que vão desbloqueando, não é suficiente para quebrar a monotonia. É certo que certos elementos trazem alguma diversidade e diversão momentânea e não vou negar que é divertido espalhar o caos e o terror pela cidade, saltando de corpo em corpo (body snatching!), manipulando os humanos e atirando-os pelo ar mas a novidade rapidamente se esgota, com o game loop a repetir-se sempre da mesma forma, ou com missões furtivas ou com total destruição, mas sem aproveitar o cenário e época em que o jogo se insere. É uma oportunidade perdida considerando que estamos a falar de uma remake e este purismo de se querer manter a experiência original é aqui desnecessário.
Onde o jogo efetivamente brilha é na parte gráfica, que me parece ser onde foi tido mais cuidado neste remake. É notória a melhoria face à versão original, com os cenários extremamente coloridos, tendo sido adoptado um visual muito cartoony (que já advinha do original), mas com muito mais detalhe ao nível das texturas e modelos. O mesmo não se pode dizer dos NPC’s, que rapidamente começamos a perceber que são clonados e com modelos repetidos, bem como as animações um pouco toscas.
Destroy All Humans 2: Reprobed é a pura definição de um “produto do seu tempo”. Seria mais benevolente se estivéssemos a falar de um remaster, como tem sido amiúde com jogos mais antigos, mas tendo sido reconstruído, existia a possibilidade de explorarem exatamente o mesmo jogo, adaptando a experiência para um público mais moderno, tentando manter a experiência o mais genuína possível para os fãs do original. Como está, parece apenas preocupar-se com os fãs, não passando de um produto feito para apelar à nostalgia de alguns, uma oportunidade perdida de providenciar uma experiência divertida com um conceito divertido e original.
Opinião Final:
Destroy All Humans 2: Reprobred é daqueles títulos em que olhamos e pensamos “mas porquê”, com este sentimento a intensificar-se depois de o jogarmos. Com um humor tão datado com a sua jogabilidade e estrutura, é difícil justificar onde está a diversão nesta experiência. Um remake competente no que toca à sua atualização gráfica e preservação da experiência original, mas com pouco mais para oferecer, muitos menos a quem nunca jogou.
Do que gostamos:
- É sempre bom ver um clássico PS2 repescado;
- Update gráfico mantem o espírito do original.
Do que não gostamos:
- Jogabilidade datada e sem grandes melhorias para diversificar uma experiência repetitiva;
- Humor duvidoso e ofensivo, principalmente considerando o panorama atual, sem qualquer tentativa de retificar as piores partes.
Nota: 6/10
Análise efetuada com um código Xbox One X|S cedido gentilmente pela distribuidora.