Sou uma pessoa muito fácil de agradar no que toca a jogos, levantando por vezes demasiado as minhas expectativas, mesmo antes de os jogar. Até posso torcer o nariz à ideia inicial, mas basta mostrarem-me um Pikachu fofinho, que depois desafia as expectativas e fala com voz de homem de barba rija, que eu fico logo de sobrolho levantado a pensar “Eh lecas, isto parece diferente e tal, quero”. Por isso, fiquei logo de antenas no ar quando Detective Pikachu foi anunciado – principalmente com o rumor de que poderia ser Danny DeVito a dar voz à titular criatura. Foi uma sensação imediata de “não sabia que queria isto na minha vida”, até o descobrir.
Lançado bem antes de Pokémon Let’s Go, Detective Pikachu adotou como sua casa a Nintendo 3DS, dando um aconchego aos fãs que ansiosamente esperavam um novo Pokémon na Nintendo Switch. Mas Detective Pikachu não é só um spin-off para entreter os fãs, é todo um mundo que a The Pokémon Company quer que seja explorado não só neste jogo, mas também na adaptação live-action para cinema que irá estrear em 2019 (e em potenciais sequelas).
Não contem nem com Ryan Reynolds (a voz do filme), nem tão pouco com Danny DeVito (no seguimento dos rumores). Ainda assim, Detective Pikachu tenta manter a inspiração noir (mas numa onda mais leve), com o seu Pikachu com uma voz carregada que apenas poderia ser atingida através de um cocktail explosivo de muitos charutos e muito café.
No entanto, a nossa personagem principal e jogável não é Pikachu. O jogador assume o papel de Tim Goodman, um rapaz aparentemente normal, mas que encontra um Pikachu cujo discurso vai muito além do “Pika Pika” do costume. No entanto, parece que só Tim consegue compreender este Pikachu… e ambos formam de imediato uma equipa quando se veem arrastados para o meio de um roubo de um colar por um Pokémon, partindo para aventuras em que terão de deslindar vários casos. Afinal de contas, o pai de Tim era um detective privado, tendo acabado por desaparecer, e a cidade está repleta de mistérios que não se resolvem sozinhos…
A jogabilidade é simples e baseia-se num tipo de investigação que já vimos noutros jogos. Tim terá de falar com testemunhas, vítimas ou até suspeitos – é de relembrar que apenas ele entende o que Pikachu diz. Por sua vez, este dá uma ajuda a falar com os diversos Pokémon que coabitam com os humanos por toda a cidade, dando uma outra perspectiva aos casos. A investigação passa também por vasculharem os diversos cenários em busca de pistas, que vos ajudam a deslindar os casos e assim descobrir mais uma ponta do grande mistério. O ecrã inferior da 3DS é aproveitado para incluir os menus – onde podem encontrar a Case List e as Case Notes, certificando-se de que assim nunca estarão perdidos no meio de um caso, nem no grande esquema de tudo.
Quando já tiverem pistas suficientes, o grande Detective Pikachu desafia-vos a resolver o caso e aí terão de se certificar de que se lembram bem de tudo aquilo que descobriram até então. Pode parecer fácil, mas irão ver que é mais do que normal esquecerem-se de um ou outro detalhe e porem-se a escolher as respostas através de puro instinto. Apesar de o jogo ter nove capítulos, com diferentes áreas para explorar, a jogabilidade acaba por se resumir muito sempre ao mesmo. Falar com pessoas, procurar pistas no cenário, falar de novo com pessoas e Pokémon – e chegar a uma resolução final com Pikachu. Este tipo de repetição não me incomoda – acaba por me relembrar um pouco Ace Attorney, série da qual sou assumidamente fã -, mas apesar da pequena componente de exploração que existe em alguns dos cenários e capítulos, é impossível fugir à sensação de linearidade devido ao baixo desafio que o jogo apresenta.
Um dos piores pecados de Detective Pikachu é mesmo esse – é um jogo extremamente fácil, com uma história simples e um pouco mais direcionada para um público mais jovem. Não existem consequências reais para uma decisão errada, não existe qualquer tipo de receio em falhar – Pikachu nunca nos deixa de dar a mão, na verdade. Apesar de querer ver a resolução do enredo, muitas das vezes dei por mim a perder o interesse e a ficar impaciente com os diálogos. Não quero com isto dizer que a escrita é má, de todo, mas seria bom ver um pouco mais de desafio em toda a componente de investigação, ainda que a história se mantivesse inalterada. Ou seja, algo que agarrasse o jogador, que o levasse a querer deslindar cada um dos casos. Neste tipo de investigações, grande parte da diversão é descobrir as pequenas pontas que compõem todo o novelo do mistério, mas de um modo que faça com que o jogador tenha algum sentimento de conquista. Detective Pikachu é tão linear e fácil, sem grande margem para erros, que nunca existe um verdadeiro sentimento de vitória, aquele “ah-ha!” que poderia facilmente ser o catalisador de uma motivação maior para avançar com o jogo.
O que salva Detective Pikachu é definitivamente o seu grande coração, que é grande o suficiente para carregar o jogo às costas. Como já referi, o enredo por vezes parece mais apropriado para uma série para o público mais jovem, mas as personagens e mesmo os momentos de humor que vão ser protagonizados pelo pequeno Detective Pikachu (e o seu chapéu!) vão arrancando uns quantos sorrisos aqui e ali. A experiência por si só já é curta e seria óptimo ver este jogo não numa 3DS, mas sim numa Switch – dando a oportunidade de partilhar a experiência em família, quase como se tivessem a possibilidade de participar num episódio de uma série animada, mas sendo os protagonistas.
No fim, acho que Detective Pikachu agradará a muita gente. É um jogo fofo, diferente daquilo a que Pokémon nos habituou, e com uma história com pés e cabeça. Poderá não agradar a gregos e a troianos, poderá não me ter encantado por completo, mas será uma excelente opção para os fãs mais jovens. Apesar de não ter ficado totalmente convencida, esta é uma abordagem que gostaria muito de ver explorada mais a fundo. As bases estão todas lá… e decerto que todos gostariam de acompanhar o Detective Pikachu em mais uma chávena de café e mais uma investigação.
Opinião Final:
Detective Pikachu é um título que se foca no seu adorável personagem, Pikachu, mas com um twist. Um detective à moda antiga, com um amor especial por café, leva a nossa personagem por diversas investigações, na esperança de resolver um grande mistério. Apesar de no fundo ser um jogo relativamente linear e com uma dificuldade reduzida, o enredo remete para uma série de desenhos animados de Sábado de manhã – invocando um pouco de nostalgia e também criando a porta perfeita de entrada para os fãs mais jovens. Os mais velhos ficarão encantados com o charme das personagens e principalmente de Pikachu – mas no fundo, no fundo, gostaríamos de ver todo o potencial de Detective Pikachu explorado ao máximo.
Do que gostamos:
- Detective Pikachu, com a sua voz de homem de meia-idade, é só a melhor personagem de sempre;
- Introdução de um diferente tipo de jogo ao mundo de Pokémon;
- Potencial para sequelas extremamente interessantes.
Do que não gostamos:
- Linearidade e dificuldade baixa… é impossível falhar neste jogo!
Nota: 7,5/10