
Lançado a 14 de agosto de 2025, Drag x Drive é um exclusivo da Nintendo Switch 2 que procura explorar, de forma criativa e até audaciosa, as novas possibilidades introduzidas pelos Joy-Con 2. À primeira vista, o jogo apresenta-se como uma proposta interessante: um híbrido entre basquetebol futurista com combate em cadeiras de rodas, inserido num ambiente de arenas tecnológicas e repleto de ação rápida. É uma mistura improvável — e por isso mesmo intrigante — entre desporto e arcada, que tenta redefinir o conceito de “killer app” de consola.
Porém, sob essa camada de inovação técnica e de energia visual, Drag x Drive revela-se um produto de ambição desequilibrada. Um curioso jogo que diverte nos primeiros minutos, mas que infelizmente, com o tempo, começa a deixar transparecer limitações estruturais, misturada com bastante repetição e uma falta de substância que o impedem de atingir o estatuto de clássico.
A ideia central de Drag x Drive assenta numa reinterpretação estilizada do basquetebol em cadeira de rodas. Cada jogador controla um atleta equipado com uma cadeira de rodas futurista, dotada de propulsores e com a capacidade de realizar saltos acrobáticos. O campo mistura elementos de uma arena de desporto tradicional com rampas, half-pipes e outros obstáculos inspirados em jogos de desportos radicais, o que cria uma atmosfera de constante movimento.
A criatividade com a marca Nintendo está presente em Drag x Drive.
A intenção é certamente meritória. Ao optar por um tema raramente explorado no mundo dos videojogos — o desporto adaptado — o jogo poderia ter sido uma ponte entre acessibilidade e o mundo dos videojogos. No entanto, Drag x Drive nunca assume plenamente essa identidade. Queremos com isto dizer que a Nintendo, em vez de desenvolver e se entregar em pleno a um discurso inclusivo ou realista sobre o desporto adaptado, em cadeira de rodas, opta por um tom de ficção futurista, afastando-se de qualquer ligação concreta com a realidade. Realidade que aliás, existe – o basquetebol adaptado em cadeira de rodas é um desporto – embora sem os propulsores e o equipamento catita. O resultado é um produto visualmente apelativo, mas conceptualmente ambíguo — não se percebe se quer ser uma homenagem ou apenas uma curiosidade estética.
O grande argumento do jogo é o sistema de controlo que toma partido do modo rato dos Joy-Con 2. Assim, cada comando é colocado sobre uma superfície lisa, de ambos os lados (ou à frente) do jogador e é movido como um rato de computador simulando o movimento de deslocação das rodas numa cadeira de rodas. Como cada Joy-Con 2 corresponde a uma roda do veículo, o jogador deve deslizar ambos os comandos em simultâneo para avançar, mover apenas um para virar e efetuar gestos verticais (a la Wiimote) para lançar a bola ao cesto. É um sistema engenhoso e à primeira vista bastante empolgante — uma forma de transformar o próprio movimento físico do jogador num prolongamento direto da ação digital.
Nos primeiros minutos, a sensação é refrescante. Há uma tangibilidade rara, uma ligação entre corpo e jogo que nos transporta para eras do passado em que a Nintendo explorava controlos por movimento com a Wii. Por momentos voltamos a 2006, com uma execução dos controlos tecnicamente precisa, quase perfeita, uma resposta dos sensores rápida, com um bom nível de feedback. No entanto, o entusiasmo inicial dá rapidamente lugar a um certo desconforto. Em primeiro lugar, o sistema é fisicamente exigente – a sério! Manter os braços em movimento constante, controlar a direção da cadeira com gestos independentes e ainda encontrar o equilíbrio para lançar a bola ao cesto requer coordenação e resistência. Após meia hora de jogo, se tanto, o cansaço é evidente.
Os primeiros momentos em que começamos a jogar são um regresso ao passado – aos dias da Wii – da Nintendo no inicio deste século.
Drag x Drive é um título fortemente centrado na vertente multijogador. O modo principal é o 3 vs. 3 online, complementado por alguns minijogos e desafios diários. Há um sistema de rankings e estatísticas, bem como a possibilidade de partidas locais sem fios, introduzida numa atualização posterior. Mas a curva de aprendizagem é desigual, levando os jogadores habituados a controlos convencionais a sentir frustração durante as primeiras sessões – um sentimento familiar de décadas passadas com a batalha entre jogadores hardcore vs. casual representados pelas consolas tradicionais PS3 e X360 vs. a Wii. A grande diferença (para além da idade do autor) é que a contrário da Wii Sports (ou o congénere recente Nintendo Switch Sports) é difícil entrar na onda do jogo de modo a jogar decentemente. Dominar o movimento simultâneo das duas rodas e o timing do lançamento requer prática, e o jogo não oferece um tutorial particularmente acessível.
Para partidas ocasionais com amigos, o jogo funciona bem. É imediato, fácil de iniciar, e as rondas são curtas o suficiente para manter o ritmo. Contudo, o problema surge quando se joga a solo: Drag x Drive praticamente não oferece um modo de campanha ou qualquer narrativa. O modo “treino” é rudimentar e serve apenas para experimentar os controlos. A ausência de progressão significativa — desbloqueáveis, níveis, personagens, personalização — faz com que o jogo se esgote depressa.
Além disso, o sistema impõe restrições práticas. É necessário jogar sobre uma superfície estável, idealmente uma mesa lisa e ampla, o que inviabiliza o uso da consola em modo portátil — ironicamente, uma das principais características de qualquer consola da família Nintendo Switch. Jogar no sofá ou em viagem é praticamente impossível. O jogo, que à partida deveria ilustrar a versatilidade da consola, acaba por demonstrar as suas limitações físicas.
Visualmente, Drag x Drive apresenta um estilo marcadamente arcada, com cores vivas, efeitos luminosos e arenas que combinam estruturas metálicas, hologramas e superfícies translúcidas. O impacto inicial é positivo — há brilho, há velocidade, há um certo charme retrofuturista que remete para o espírito dos jogos de salão dos anos 90.
Contudo, essa impressão inicial dissipa-se com o tempo. As arenas são poucas e, apesar da variedade de luzes e ângulos de câmara, a falta de diversidade temática torna-se evidente. As mesmas rampas, os mesmos painéis e as mesmas animações repetem-se incessantemente. Em termos técnicos, o jogo corre de forma estável, com uma taxa de fps consistente, mas a direção artística não se destaca tornando-se bastante repetitiva e aborrecida.
Drag x Drive tem bastante potencial, mas não o utiliza ao máximo!
A banda sonora é funcional, mas esquecível. A música que acompanha a ação baseia-se em faixas eletrónicas genéricas que acompanham o ritmo do jogo sem grande inspiração. Os efeitos sonoros — impactos, apitos, saltos, colisões — cumprem o mínimo necessário, mas nunca impressionam. Há aqui uma clara ausência de identidade sonora, algo que pesa na experiência global: Drag x Drive é visualmente e auditivamente competente, mas nunca vai além disso.
Há um paradoxo curioso em Drag x Drive. Por um lado, o tema — basquetebol em cadeira de rodas — sugere uma abertura ao público com mobilidade reduzida e uma mensagem de inclusão. Por outro, a mecânica de jogo é, ironicamente, inacessível para muitos desses jogadores. O sistema de controlo exige coordenação fina, força e amplitude de movimento nos braços, o que pode excluir precisamente o público que o jogo poderia celebrar.
O problema é que, enquanto demonstração, o jogo cumpre o seu papel — mostra as novas capacidades dos Joy-Con 2 —, mas como jogo propriamente dito, oferece pouco mais. O conteúdo limitado, a curva de aprendizagem irregular e o cansaço físico reduzem o replay value. O preço acessível atenua parte da crítica, mas não compensa a sensação de que se trata de uma experiência curta e descartável.
Para quem procura algo diferente e tem curiosidade em testar as novas funcionalidades da consola, Drag x Drive pode ser uma opção divertida por algumas horas. No entanto, para quem procura profundidade, progressão e durabilidade, o jogo deixa muito a desejar.
Opinião Final:
Drag x Drive é um jogo que parece viver do seu próprio conceito. É criativo, ousado e tecnicamente curioso, mas falha em quase tudo o que diz respeito à longevidade e à consistência. A sua maior força – o sistema de controlo inovador – é também a sua maior fraqueza, ao tornar a experiência fisicamente exigente e logisticamente limitada.
Do que gostamos:
- Visualmente agradável;
- Experiência que impressiona pela novidade dos controlos;
- Um vislumbre do que o novo hardware pode oferecer.
Do que não gostamos:
- Sem identidade própria;
- Estrutura de jogo não é suficiente robusta para sustentar o entusiasmo inicial.
Nota: 7/10
Análise efetuada com um código Nintendo Switch 2 cedido gentilmente pela distribuidora.