Dragon Quest Builders foi uma surpresa muito agradável. Peguei no jogo sem esperar grande coisa, naqueles momentos em que queremos jogar algo, mas não sabemos bem o quê. Vi-me repentinamente agarrada àquele mundo, sem conseguir largar a Switch – tinha de construir só mais uma coisa!
O primeiro Builders não estava livre dos seus problemas, sofrendo de alguma repetitividade e eventual distanciamento das restantes personagens, devido aos constantes resets que a narrativa parecia sofrer. A Square Enix pareceu aprender com estes erros, e o que nos apresenta em Builders 2 é uma versão infinitamente melhorada, explorando o seu potencial em pleno.
O jogo começa com a nossa personagem – após uma breve criação da mesma – num navio repleto de monstros que se auto-intitulam “Children of Hargon”. A construção é um pecado, uma ofensa e altamente ilegal, fazendo com que a nossa personagem – cuja habilidade com um martelo é imensa – seja uma fora da lei do pior. No entanto, os monstros são assim a modos que hipócritas, obrigando a nossa personagem a construir e reparar várias coisas no navio, até que uma tempestade o atinge. A nossa personagem sobrevive, mas acorda numa ilha deserta, juntamente com outras duas personagens, começando assim a aventura.
Uma das principais diferenças que notei entre os dois títulos da saga Builders foi sem dúvida ao nível da história. É óbvio que não devemos aqui esperar uma grande narrativa, mas o fio condutor é mais forte e a ligação às personagens que vamos encontrando também. Anteriormente, conhecíamos algumas personagens, fazíamos algumas tarefas até terminar o capítulo e nunca mais nos preocupávamos com elas. Aqui, existe uma maior continuidade. Passando a explicar, basicamente em Builders 2 iremos explorar diversas ilhas e localizações, quer seja para obtermos recursos, quer para conhecer outras personagens e lhes prestarmos auxílio.
As Children of Hargon, sendo contra a construção, dificultam a vida de todos – até de meros agricultores que do nada se vêm sem meios de subsistência. Após conseguirmos ajudar as personagens, podemos aceitar que estas viajem connosco para a ilha deserta – a Isle of Awakening. Assim, ao longo do jogo, vamos criando ligações, ajudando e aceitando ajuda de diversas personagens que adoptam um papel mais ativo, face à passividade das personagens do jogo anterior. Isto ajuda a tornar o mundo mais vivo, sendo um absoluto prazer ver as personagens a acompanhar-nos a darmos nova vida à ilha, criando oásis e rios, natureza e edifícios que ajudem os habitantes a subsistirem, certificando-se ainda de que os campos agrícolas estão bem cuidados e regados.
As personagens são mais ativas, dando-nos por vezes tarefas – à laia de side quests – bem como ajudando-nos a construir. É possível criarmos uma planta, que por sua vez é construída pelos nossos amigos, desde que nos certifiquemos de que os materiais necessários estão à sua disposição. São pequenos toques como este que fazem com que nos importemos com o mundo de Dragon Quest Builders 2. Sim, é importante derrotar os monstros, é importante salvar a natureza e ajudar as personagens que vamos conhecendo pelo caminho, bem como as cidades que vamos construindo para os nossos amigos.
Dragon Quest Builders 2 foca-se muito mais na exploração, com diversas ilhas por descobrir, cada uma mais vasta que a outra. E aqui entra imediatamente um dos grandes problemas que tinha com o primeiro Builders – o mapa e o fast travel. O mapa do primeiro jogo era, a bem dizer, inútil. Esse elemento foi bastante melhorado neste título, fazendo com que seja muito mais fácil o jogador se conseguir orientar. Outra mecânica introduzida foi a adição de pontos espalhados no mapa que, quando ativados, permitem fazer fast travel. Tudo isto faz com que a exploração seja aprazível, ao contrário de no primeiro Builders, em que a única opção era retornarmos à base, obrigando a um backtracking gigante caso tivéssemos o azar de morrer ou ficar sem comida. Outra das melhorias que faz com que a jogabilidade seja mais fluida é o facto de que as ferramentas e as armas já não se partem com o uso. Anteriormente tínhamos de andar munidos de três martelos e três espadas, só por precaução. Isso aqui já não acontece, o que permite que o jogador se foque em coisas mais importantes.
Por falar em armas, o combate está decididamente melhor, mas continua a não ser estelar. Afinal, isto é Dragon Quest Builders e a nossa personagem é construtora, deixando a destruição para outros. Vamos aprendendo alguns novos ataques ao longo do jogo (pouca coisa) e os combos que podemos fazer com o nosso companheiro, Malroth, são bem satisfatórios, mas o combate não é de todo o foco do jogo e isso é notório. A Square Enix trouxe a equipa da Omega Force (de Dinasty Warriors) para dar uns toques ao combate, e, como já referi, nota-se melhorias. Não esperem encontrar aqui, no entanto, um desafio enorme ou todo um sistema híper mega complexo. Estamos aqui para construir coisas, pessoal.
Graficamente, Dragon Quest Builders 2 é um mimo. Os ambientes são coloridos e as personagens são terrivelmente adoráveis, mantendo a mesma linha estética do primeiro jogo. No entanto, o jogo peca na performance. Ao início, joguei bastante em modo portátil e não notei nada de estranho. Quando finalmente já tinha a minha ilha bem compostinha, lá me lembrei de jogar em modo docked e foi aí que percebi que efetivamente haviam alguns problemas. As quebras de FPS’s são recorrentes, quando se está a passar muita coisa no ecrã, e principalmente quando chegamos a um ponto em que a nossa ilha está repleta de construções megalómanas.
Adicionalmente, o jogo possui ainda um modo multiplayer, cujo foco é principalmente na partilha das criações dos jogadores, dando ainda mais motivos para que estes deem largas à imaginação.
Em suma, Dragon Quest Builders 2 é tudo aquilo que o primeiro fez de bom, e muito mais. Para aqueles que acham que não passa de uma espécie de Minecraft, desenganem-se. Dragon Quest Builders 2 tem um charme muito próprio, sendo um dos títulos de peso do catálogo da Switch.
Opinião Final:
Dragon Quest Builders 2 é uma sequela excelente, expandindo sobre um título que podia facilmente ter ficado esquecido como um mero clone. É uma experiência imensamente divertida – ainda que sofrendo um pouco tecnicamente – que dá rédea livre à imaginação de todos os jogadores, quer sejam fãs de Dragon Quest, ou não.
Do que gostamos:
- Melhorias face aos aspetos mais fracos do primeiro Builders;
- Possibilidade de construir e melhorar toda uma ilha inteira;
- Melhorias ao mapa e sistema de fast travel.
Do que não gostamos:
- Quebras de framerate quando existem muitas coisas a acontecer ao mesmo tempo.
Nota: 9/10