Há quase 10 anos que o Ocidente não via um título da série principal de Dragon Quest (Builders e Monsters não contam!). Apesar de o 11º título da série ter saído em 2018, os fãs da Nintendo esperavam ansiosamente pela versão para a Switch, anunciada ainda antes de a consola sequer sair e ter nome. Finalmente, depois de muito tempo de espera, chegou-nos às mãos a versão definitiva de Dragon Quest XI: Echoes of an Elusive Age. A expectativa é muita. Mas será que o jogo se irá aguentar no hardware da Switch? Será que teremos em mãos um dos melhores RPG’s até então do catálogo da Switch?
À semelhança de Final Fantasy, Dragon Quest tem-se mantido firme como uma das franquias que definem o género dos JRPG’s. É um género que tem sido extremamente prolífero ao longo dos anos, com uns títulos melhores e outros piores, como é comum em qualquer tipo de jogo. Apesar de alguns lançamentos mais espaçados, Dragon Quest tem afirmado a sua presença, quer através de jogos principais da série, quer através de spin-offs. Até para os que não são fãs é difícil ignorar a existência deste gigante. Numa série tão longa, é fácil começar a ver alguma estagnação, falta de inovação. É fácil encontrar isso mesmo entre JRPG’s que não pertencem à mesma série, partilhando mecânicas, tropes e lugares-comuns. Mas também se costuma dizer que em equipa que ganha não se mexe e Dragon Quest consegue provar como levar a sério essa máxima, mas com qualidade.
Ao pegarem em Dragon Quest XI, é fácil acharem que têm em mãos um jogo datado. Uma das grandes novidades que irá agradar aos mais nostálgicos é a possibilidade de poder jogar o jogo todo em modo 2D (ou clássico), simulando a experiência original dos primeiros títulos da série. Mesmo com um visual retro, as mecânicas permanecem idênticas. E ainda assim, o jogo consegue dar a impressão de ser algo novo, fresco e extremamente coeso, conseguindo agradar não só aos velhos fãs da série, como àqueles que nunca pegaram num Dragon Quest, ou até mesmo num JRPG.
Se nunca jogaram Dragon Quest e têm medo de se sentirem perdidos na narrativa, nada temam. À semelhança dos anteriores títulos, a história é isolada. O jogador assume o papel de um protagonista silencioso, com um passado misterioso e cujo destino deverá ser desvendado através de uma aventura épica pelas terras de Erdrea. Como seria de esperar, encontrarão várias personagens pelo caminho, incluindo alguns companheiros de viagem bem coloridos. Apesar da simplicidade de uma história que já ouvimos dezenas de vezes, DQ XI consegue a proeza de manter um excelente ritmo no desenrolar da mesma. Existem algumas side quests e sempre uma história a desvendar nas cidades que vamos visitando, mas nunca é o suficiente para fazer com o que o jogador se distraia ou perca o foco na história principal.
Devo admitir que sou péssima neste aspeto, sou daquelas pessoas que adora um Quest Journal recheado de coisas para fazer, de modo a ir quebrando o ritmo do jogo. Mas, como referi, DQ XI consegue fazer com que nunca sintamos a necessidade de procurar outra coisa para fazer, que não a narrativa principal. Os cenários entre cidades são vastos q.b., cheios de monstros para combater e recursos para descobrir, fazendo com que rapidamente se apercebam de que passaram horas desde que começaram a jogar – e nem deram pelo tempo passar.
Um dos problemas que acaba por ser uma praga em qualquer RPG, são eventualmente os companheiros um pouco irritantes. Podemos adorar uns e relegar outros à eterna prateleira de party members que não usamos, porque estes simplesmente nos irritam de mais. Em DQ XI, todos os membros da nossa troupe são essenciais e quando me vi forçada a escolher pela primeira vez entre vários elementos, rapidamente senti falta do elemento que escolhi pôr de parte – ainda que em cutscenes e durante a história lhes seja dada atenção. Considerando que num RPG, passamos grande parte do tempo acompanhados por estas personagens, é de extrema importância que o jogador consiga criar uma ligação com as mesmas.
Quanto ao combate, como já referi, esperem tudo aquilo que é bem típico de um JRPG. O combate é por turnos, tomando partido dos variados ataques, feitiços, habilidades e itens de cada personagem. No entanto, têm sempre a opção de atribuírem tácticas a cada uma das personagens do vosso grupo. O que é que isto quer dizer? Bem, na sua essência significa que podem deixar o controlo de determinadas personagens entregue à AI ou, caso prefiram, podem assumir as rédeas de todas as personagens e de todas as decisões. Devo admitir que no grindzinho básico me deu jeito deixar algumas personagens entregues à AI, funcionando da perfeição. Por exemplo, uma das minhas personagens ficou com o papel de curandeira e nunca em momento algum me tive de preocupar na micro-gestão envolvida em curar as restantes personagens. Apenas me senti mais preocupada quando estava a combater com monstros mais fortes ou bosses. Apesar de a AI funcionar bem, creio que isto também diz muito da dificuldade do jogo.
DQ XI nâo é de extremos. Não precisam de andar a fazer grind durante horas para conseguir avançar no jogo, mas também não convém descurar e simplesmente passar a correr toda a bicharada que encontram. DQ XI obriga assim a que o jogador tenha uma experiência mais equilibrada, apesar de os jogadores mais veteranos poderem discordar e achar um pouco fácil de mais. Para dar uma mãozinha no combate, eventualmente as nossas personagens (depois de muita porrada) podem ficar Pep – em que uma luz azul surge à sua volta, permitindo que executem ataques ou habilidades especiais, que por vezes exigem que duas personagens estejam Pep. Os seus ataques e defesa aumentam também, adicionando assim mais uma camadazinha de complexidade às características de combate de cada uma.
Por falar em habilidades, como seria de esperar, ao ganharem experiência e aumentarem de nível ganham pontos que podem depois utilizar para adquirir habilidades. Cada personagem tem uma espécie de skill tree, dividida em categorias (relacionadas com a sua classe e armas que podem utilizar). Para ajudar à personalização da vossa equipa, não podem esquecer a escolha do equipamento certo. Podem adquirir armas e armadura não só em masmorras, como comprá-las e, melhor ainda, forjá-las. Como já referi, podem ir apanhando recursos que depois usarão para criar o vosso próprio equipamento. Através de algo chamado de Fun Size Forge, acedem a uma espécie de mini jogo de ferreiro em que, se forem bem-sucedidos, poderão criar armaduras, armas e outros artefactos com características cada vez melhores.
Como já referi, uma das grandes adições à versão Switch de DQ XI é a adição de um modo 2D. Não necessitam de começar um jogo novo para aceder a esta versão, podendo alternar entre modos sempre que quiserem nas igrejas (onde podem também gravar o jogo). De todo o modo, no decorrer da história serão introduzidos a este modo, através de uns bicharocos chamados Tockles – que vos levarão ao seu mundo, onde poderão visitar os mundos de outros Dragon Quests (sempre em 2D). Admito que me deu uma grande grande vontade de ver um port/remake de Chrono Trigger nesta base de 2D/3D… O jogo em 2D, apesar de partilhar as mecânicas da versão 3D, foi criado em tal detalhe que quase que nos obriga a querer jogar o jogo todo de novo, só para não perder esta experiência.
Sim, porque não vão de todo querer perder também as paisagens em 3D. Sem entrar em rodeios, DQ XI é um jogo absolutamente lindo e não precisam de ter receio de jogar a versão Switch. Felizmente, nunca me apercebi de problemas técnicos durante o jogo (quer em versão portátil, quer em docked), mesmo quando existiam várias coisas a acontecer ao mesmo tempo. As paisagens são deslumbrantes, a natureza que rodeia as cidades que visitamos também e a atenção ao detalhe não foi descurada. As personagens têm o estilo muito próprio de Akira Toriyama, dando não só personalidade ao mundo de Dragon Quest, bem como distinguindo DQ XI dos inúmeros JRPG’s que permeiam o mundo dos videojogos. O estilo artístico foi perfeitamente traduzido para o belíssimo mundo 3D de DQ XI e é um absoluto mimo perdermos-nos nesta realidade.
Um dos pontos negativos apontados pelos fãs à versão PlayStation 4 era a banda sonora, com uma qualidade que não fazia de todo jus à grandiosidade do jogo. A Square Enix ouviu os jogadores e desta vez temos uma versão em que toda a banda sonora é tocada integralmente por uma orquestra – e o resultado é absolutamente deslumbrante. A adicionar a isto, tenho a destacar o excelente trabalho de localização que foi feito neste jogo – desde a própria tradução dos textos, com pequenas expressões e toques que mais do que uma vez me arrancaram um sorriso, até à própria atuação dos atores. DQ XI é um excelente exemplo de tradução e localização de uma obra extensa com imensa personalidade. Nada é descurado e é triste por vezes termos jogos em que as traduções parecem ser um pormenor secundário. Em Dragon Quest XI os textos e vozes são tratados como a parte importante e integrante do jogo que são e garanto-vos que em momento algum vão ter vontade de trocar as vozes para as originais. Ok, se calhar numa segunda volta em 2D.
Opinião Final:
Dragon Quest XI: Echoes of an Elusive Age S é um clássico moderno que é sem dúvida um título obrigatório para qualquer dono de uma Nintendo Switch. É um JRPG à moda antiga que não inventa muito, mas que faz aquilo que os fãs adoram tanto, e que facilmente encantará novos fãs. É não só um dos melhores JRPG’s do ano, como um dos melhores do catálogo da consola híbrida da Nintendo.
Do que gostamos:
- Possibilidade de mudar entre modo 2D e modo 3D, são quase dois jogos diferentes!
- Gráficos modernos e brilhantes aliados a um estilo artístico clássico e familiar;
- Localização brilhante.
Do que não gostamos:
- Hum… nada?
Nota: 10/10