Emio – The Smiling Man: Famicom Detective Club – Análise

Lembram-se daquele burburinho quando os Famicom Detective Club finalmente chegaram ao Ocidente? Eu lembro-me bem. Foi como se um pedaço da história da Nintendo tivesse sido desenterrado, com todo o charme vintage dos anos 80 mas numa consola moderna – na Switch, que é praticamente feita à medida para novelas gráficas. Ainda assim, confesso que na altura deixei passar ao lado. O formato digital exclusivo não ajudou e, apesar de adorar Ace Attorney, nunca cheguei a espreitar esses clássicos. Mea culpa.

Avançamos no tempo e, de repente, Emio – The Smiling Man é anunciado com uma campanha de marketing misteriosa q.b., a deixar toda a gente a coçar a cabeça. Seria a Nintendo a aventurar-se num território mais maduro e sombrio? Um exclusivo de terror a sério? Ou só uma colaboração bizarra com algum estúdio obscuro? No fim, não era nenhuma dessas coisas. Era simplesmente o próximo capítulo – o terceiro, para sermos mais precisos – da saga Famicom Detective Club.

A investigação é o foco de Emio.

Em Emio, voltamos à Agência de Detetives Utsugi para investigar um novo caso macabro, daqueles que pedem uma chávena de chá bem quente e a manta preferida. Tudo começa com o assassinato de uma jovem de 14 anos, mas rapidamente percebemos que o caso tem ecos de um outro, com quase duas décadas. Três adolescentes, um assassino misterioso com um saco de papel na cabeça e um sorriso sinistro desenhado. Dá para imaginar o tom, certo? Lenda urbana à mistura, um toque de true crime e aquele desconforto que se instala quando sabemos que estamos a lidar com monstros mais humanos do que gostávamos de admitir.

Até aqui, tudo ótimo. A premissa é intrigante, o ambiente é pesado mas cativante, e o elenco de personagens tem aquela mistura de caricatura e ambiguidade moral que tão bem resulta em histórias de mistério. O problema, infelizmente, começa quando pegamos no comando.

O tom é obscuro e opressivo.

Se nunca jogaram os anteriores, fica já o aviso: Emio não se livrou das amarras das suas origens Famicom. E quando digo isso, não falo de charme retro – falo de mecânicas que parecem presas no tempo. A estrutura é quase dolorosamente rígida. Andamos de cenário em cenário, fazemos perguntas, examinamos objetos… e depois ficamos ali, presos, a clicar nas mesmas opções repetidamente até o jogo decidir que “pronto, agora podes avançar”. Parece um puzzle invisível, onde o desafio não está na dedução, mas na tentativa e erro. E isso, num jogo de investigação, é simplesmente frustrante.

E nem vale a pena dizer que “é assim porque é um remake de algo antigo” – Emio é novo. É uma entrada moderna, sem limitações técnicas, e podia (devia!) ter aprendido com os avanços que o género teve nos últimos anos. Se Ace Attorney já nos ensinou que a progressão pode ser intuitiva e recompensadora, aqui parece que estamos a tropeçar às cegas num quarto escuro.

Ainda assim, há momentos que brilham. O sistema de revisão de pistas ao final do dia, com a equipa toda a reunir-se para fazer o ponto da situação, é um toque inteligente. Dá humanidade aos detetives e equilibra o tom sombrio com alguma camaradagem reconfortante. E sim, a narrativa continua a ser o grande trunfo de Emio. Os temas são pesados, as emoções reais, e a escrita tem momentos de puro impacto, mesmo envolta no estilo visual animado da série.

Mas nem tudo são rosas. A tradução deixa a desejar – há frases que soam estranhas, diálogos que perdem força e, honestamente, alguns estereótipos de género que já mereciam reforma. Ainda estamos a resumir personagens femininas à sua aparência? Mesmo quando são investigadoras competentes? Nintendo, por favor.

No fim do dia, Emio – The Smiling Man deixa-me dividida. Gosto da história. Gosto do tom. Gosto da ousadia em explorar temas mais adultos. Mas custa-me ver um jogo com tanto potencial a ser travado por mecânicas desinspiradas. A base está lá, sólida e cheia de possibilidades. Só falta mesmo dar o passo seguinte – ler a sala, perceber o que os jogadores esperam hoje de uma visual novel, e deixar que Famicom Detective Club evolua com confiança e frescura.

Porque se é para continuar a série, então que seja com coragem e visão. E menos cliques aleatórios, por favor.

Opinião Final:

Emio poderia ser um passo em frente de uma franquia madura, mas acaba por se fazer sentir como um retrocesso. Os seus pontos fracos acabam por se sobrepor ao resto, principalmente no que toca a uma jogabilidade frustrante e é difícil não sentir uma igual frustração com a visão de aquilo que Emio poderia ser, mas fica aquém.

Do que gostamos:

  • Premissa e história madura;
  • Os visuais;

Do que não gostamos:

  • Os controlos arcaicos;
  • Jogabilidade obtusa.

Nota: 7/10

Análise efetuada com um código Nintendo Switch cedido gentilmente pela distribuidora.